domingo, 14 de março de 2021

GOVERNO DOS SEM CARÁTER

GOVERNO DOS SEM CARÁTER

O povo brasileiro precisa se inspirar nos povos irmãos do Paraguai e da Bolívia: não é possível que os mais elevados salários deste país, cínica e acintosamente, prevariquem, deem mau exemplo no cumprimento das medidas restritivas e, pior, atrapalhem o combate à infestação pelo novo coronavírus e a assistência às dezenas de milhares de vítimas da covid-19.

É o verdadeiro governo dos “sem”... Sem caráter, sem vergonha, sem empatia, sem solidariedade, sem sensibilidade, sem respeito, sem urbanidade, sem civilidade, sem moral, sem civismo e sem lei. E o pior que os falsos moralistas, os “defensores da moral e dos bons costumes”, foram os responsáveis por esta trágica e surreal situação.

O Brasil é o único país do mundo a ter, em pleno terceiro milênio, no mais alto cargo da República um indivíduo que, ao lado de seus filhos (igualmente beneficiários do erário, pois todos são ocupantes de cargos eletivos muito bem remunerados), além de profanar a sagrada memória de quase três centenas de milhares de vítimas por sua prevaricação e deliberada omissão, age com escárnio e ultraje diante da dor e apreensão de familiares e amigos que tentam desesperadamente um leito clínico ou de UTI para socorrer seus entes queridos...

Por muito menos, o povo paraguaio protagonizou esta semana manifestações massivas na capital, Assunção, e nas maiores cidades do Paraguai para exigir a renúncia do governo todo, de cabo a rabo: presidente, vice e ministros. O povo boliviano não fez diferente durante o desgoverno da autoproclamada presidenta Jeanine Áñez Chávez, enfrentando cães adestrados (na acepção da palavra, e no figurando também, estes últimos armados pela quadrilha que se diz seguidora do tal mito, que não passa de uma farsa, entre os quais um traficante brasileiro já identificado pelas autoridades judiciais bolivianas). Se isto fosse pouco, há pouco mais de 70 anos, precisamente em 1947, o presidente boliviano Gualberto Villarroel teve o palácio presidencial tomado por insurreição popular - cidadãos enfurecidos atearam fogo e lincharam o presidente, militar, e penduraram seu corpo no primeiro poste próximo à ‘Plaza Murillo’ (daí por que desde então o nome é ‘Palacio Quemado’).

Esse palerma covarde deve agradecer que por estas plagas não há essa tradição. Até em reconhecimento à generosidade e parcimônia do povo brasileiro deveria mostrar um pingo de sensatez e respeito pela sociedade brasileira, ainda que ele e sua ‘dinastia’ trapo não escondam a índole servil à hegemonia branca, “de olhos azuis”: sem titubeio, todos eles ficam de quatro, iguais cãezinhos (com o sincero pedido de perdão aos caninos) adestrados diante do amo, toda vez que estão nos Estados Unidos ou Israel. Quando o psicopata Donald Trump ainda era inquilino da Casa Branca, tanto o pai quanto os filhos deram vexame em manifestações despudoradas de subserviência. Da mesma forma, em Israel aquele desequilibrado que se diz parlamentar (sem altura nem preparo para o exercício do cargo) obedecia ao cumprimento das normas de biossegurança, estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), as mesmas, aliás, que no Brasil fazem questão de descumprir e ridicularizar.

Já passou da hora de impetrar uma série de processos por crime de lesa humanidade e de lesa pátria pela sucessão de atos flagrantemente contrários aos interesses nacionais e do povo brasileiro (inclusive das populações originárias). Além do genocídio cometido, por ação ou omissão deliberada, contra as populações indígenas e tradicionais (antes e durante a pandemia), há inúmeros atos de flexibilização de portarias da área ambiental, fundiária, mineradora e indígena que contribuíram para diversas tragédias e os incêndios criminosos nos diversos biomas existentes em território brasileiro, como a Amazônia, Pantanal, Cerrado, Mata Atlântica, Pampas e Caatinga.

Também, não é mera coincidência o ódio dessa quadrilha pela esquerda, sobretudo PT, PCdoB e PSOL, cuja vereadora carioca, a saudosa Marielle Franco, foi assassinada por milicianos que têm no mito uma referência orgástica. E escolheram um pseudomilitante do PSOL para a farsa da fakeada. O partido escolhido para galgar o poder (porque é isso o que ele quer, não simplesmente a presidência, e os canalhas que o apoiaram, inclusive o justiceiro Moro, sabiam disso) tem em sua sigla quase todas as letras do PSOL.

Salta aos olhos, inclusive, essa misoginia extremada. Talvez Freud explicasse, pois não passa despercebida essa predileção por homens ‘bombados’ em seu entorno, enquanto agridem despudoradamente mulheres, sem maiores razões (aliás, irracionalmente). O que dizer, então, da relação de amor e ódio com suas correligionárias parlamentares, as quais todas já foram objeto de escárnio dos membros da ‘dinastia’ trapo...

Paremos de hipocrisia, do clássico ‘faz de conta’: estes prevaricadores, que induzem os seguidores descerebrados ao suicídio em massa (mas também ao genocídio de centenas de milhares de vítimas por conta da proliferação descontrolada do vírus), têm que ser punidos de acordo com a lei. Sabemos que, a ‘mão invisível do mercado’ patrocinou o golpe a partir de 2016: a) por meio do pool de empresas de mídia, encabeçado pela falida Abril dos Civita, da falimentar Globo dos Marinho, da tremebunda Folha dos Frias e do instável Estadão dos Mesquita; b) da matilha de doninhas domesticadas pelo Departamento de Justiça dos EUA, que no Brasil atende pelo nome de “trepanação leva jeito”, verdadeira quadrilha de agentes do Estado que cometeram diversos crimes, desde prevaricação até crimes de lesa pátria; c) o consórcio BBB (o agronegócio, golpista por natureza, aliado a ‘pastores’ fundamentalistas neopentecostais, donos da ‘teologia da prosperidade’, e a outra parte do lumpesinato, constituída de milicianos, grileiros, garimpeiros, ‘síndicos’, ‘provedores’, ‘bicheiros’, sonegadores, contrabandistas e traficantes), hoje seu bastião, sem o qual não ficaria sequer um minuto como inquilino do cobiçado palácio projetado pelo grande e memorável comunista Oscar Niemayer; d) o cartel dos bancos privados e corporações transnacionais, encabeçadas pelas petroleiras, de olho no Pré-Sal, Aquífero Guarani, Amazônia Azul e nos biomas Amazônia, Pantanal, Cerrado, Pampas, Caatinga e Chaco; e) o G-7, preocupados com a iminente consolidação do BRICS (bloco formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), sobretudo depois que ao Brasil, no governo de Dilma Rousseff, cabia a implantação do Banco do BRICS, para eles uma ‘séria ameaça’ aos seus inconfessáveis interesses, e, f) fascistas e nazistas de todo o mundo, em crise de abstinência... de dinheiro - não conheço um fascista declarado, todos eles narcisos, que não se jactem de sua ‘inteligência’ (remota, porque sempre há ‘superiores’ a dar-lhes suporte intelectual, pois poucos, pouquíssimos, são afeitos à leitura, ao estudo), pois, se nossa ‘grande’ imprensa desse liberdade aos bons profissionais que têm, teria sido possível, durante a catarse lasciva do ‘ponha-se de quatro’, digo, do ‘vem pra rua’, flagrar velhotes paramilitares chilenos, argentinos e até alguns bolivianos e paraguaios do tempo dos facínoras Banzer e Stroessner, exibindo seu uísque 30 anos, ‘para dar apoio moral aos patriotas (sic) do Brasil’.

Para concluir, não é demais relembrar o velho ditado popular muito citado no Pantanal: “Feio é roubar e não conseguir carregar.” Em outras palavras, a incompetência dos golpistas de 2016 fez com que todo o ardil para fazer o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão surreal de Lula deu, no jargão da direita, “pt” (“perda total”): golpistas mais ousados, valendo-se da expertise acumulada dos tempos coloniais, imperiais, da Velha República, Estado Novo e regime de 1964, souberam encilhar o cavalo do golpe no trote, no galope, e, com chicote e sabre não mão, apearam os ‘democratas’ arrependidos. Incompetente, o pivô do golpe de 2016, Aécio Neves, com seus cúmplices (porque golpistas têm que ter nome e sobrenome registrados para a História: Michel Temer, Romero Jucá, Eduardo Cunha, Álvaro Dias, Cristóvão Buarque, Roberto Freire, Sérgio Moro, Daltan Dallagnol e as famílias Civita, Marinho, Frias e Mesquita), fincou a adaga na garganta da República e a fez sangrar, mas quem a ‘carregou’ foi a besta do apocalipse com sua horda de bestas feras ensandecidas, que nos levam, a passos largos, rumo ao precipício...

Ironia da História, e quem viver verá: o líder do proletariado ressurge ainda mais forte, e até a burguesia inteligente fará com que seja ele, Lula, o candidato que enxotará todo o manicômio para fora do Planalto. Parodiando o milenar Esopo, em uma das fábulas a ele atribuídas, “quando a ilusão adormece a razão, a realidade frustra o coração”. Ainda há tempo, e vem dos Andes o grande exemplo, mais uma vez, do povo boliviano: a golpista Jeanine Áñez Chávez, flagrada dentro de uma cama box, e uma parte de seus comparsas já começam a cumprir as suas penas por terrorismo e crime de traição, de acordo com a legislação do país. E diferentemente do que disse o garoto de recados de Maurício Macri, que atende pelo sugestivo nome de Ariel Palacios, há uma dezena de provas contra ela e seus ministros, inclusive três massacres devidamente constatados por observadores da ONU e OEA, as mesmas que haviam chancelado o pretexto para o golpe policial-militar.

E nós, algum dia veremos os verdadeiros bandidos, aqueles com ‘pedigree’, cumprindo penas de acordo com a lei? Já vimos a farsa, com Lula no calabouço, sob os holofotes e humilhações de toda índole, mas a verdade está vindo à tona. Insisto: será que teremos a honra e a satisfação de vermos os verdadeiros meliantes atrás das grades, entre eles os mandantes e protetores dos assassinos da Vereadora Marielle Franco? A partir de então, tenhamos certeza, o Brasil voltará a ser reconhecido como potência mundial da paz e da justiça social, condição da qual jamais deveria ter se afastado.

Ahmad Schabib Hany

2 comentários:

Ana Silva disse...

Lucidez na análise; coerência no apontamento de rumos; paixão na luta. Parabéns pelo texto, Schabib.

O caminho se faz ao caminhar disse...

Obrigado, de coração, querida Ana!
De fato, não dá para esperar mais: estamos à beira do precipício, e se não houver mobilização à altura da gravidade da realidade que está a desabar sobre nós, teremos falhado com as próximas gerações, a quem o mundo pertence de fato e de direito...
Grande abraço!