Decorridos quinze anos de longas discussões
relativas à implantação de uma termelétrica em Corumbá, movida a gás natural (e
que deu o que deu), agora Ladário é a bola da vez, conforme convocação de
reunião pública a ser realizada em Ladário, quinta-feira, dia 1o. de dezembro,
às 19 horas, no Clube Marisco.
Apesar da convocação ter chegado em cima da hora, é
necessária a presença de pessoas com um mínimo de intervenção qualificada, de
modo a permitir um detalhamento maior dos impactos socioambientais na região,
coração do Pantanal. Mas todo cuidado é pouco. Até porque muito curiosa a
realização dessa reunião num espaço militar quando há espaços como a sede da
Câmara Municipal de Ladário para reuniões públicas dessa natureza (basta dizer
que a maioria das conferências municipais daquele município se realizou na
Câmara).
Sabemos da intolerância semeada nos últimos três
anos (a partir de 2013, de modo a sedimentar condições políticas e
psicossociais para o golpe midiático-parlamentar empreendido), o que requer
agir com muita habilidade e cautela, para o não fortalecimento do discurso
ufano-desenvolvimentista recorrente, e muito utilizado pelos grupos econômicos
e políticos que atuam nos bastidores (inclusive os "amigos do
Delcídio", agora, mais que nunca, aliados dos grupos instalados no núcleo
de poder do governo pós-neoliberal vigente), os mesmos que venderam ilusões
como os tais pólos minero-siderúrgico e gás-químico em Corumbá, que nunca
saíram do papel (e dos palanques) por total inconsistência técnica e econômica.
É fundamental saber qual o grupo empreendedor, qual
a sua experiência no negócio, qual o montante a ser financiado pelo BNDES e
qual percentual no custo total do empreendimento, mas, sobretudo, qual a
tecnologia adotada (no caso das anteriores, tanto em Corumbá, como Campo Grande
e inclusive Puerto Suárez -- no governo neoliberal de Gonzalo Sánchez de
Lozada, anterior ao Evo Morales --, a adoção de tecnologia obsoleta
inviabilizou o projeto, sobretudo por razões econômicas, pois os custos eram
absurdamente anacrônicos).
Por outro lado, é preciso saber como funcionará a
usina, quais serão seus resíduos (líquidos, sólidos e gasosos) e qual a sua
quantidade diária e onde serão despejados (local e em que condições de
segurança ambiental e de saúde dos trabalhadores e da comunidade do entorno),
qual a temperatura média atingida pela usina, qual o plano de evacuação em caso
de emergência, qual o projeto de desenvolvimento a que vinculada a usina (se
gás-químico, minero-siderúrgico, industrial etc), qual o número de empregos
diretos e indiretos a serem gerados pelo projeto e qual o perfil do trabalhador
a ser contratado (nível de escolaridade, formação técnica, qual a percentual de
trabalhadores da região e seus respectivos salários), qual o cronograma de
execução da obra, qual o cronograma de funcionamento da usina e de absorção da
mão de obra local, entre outras questões a serem depreendidas durante a reunião
pública.
Divulgue, articule, informe e desmistifique. O
melhor exemplo de "projeto desenvolvimentista" mentiroso, perdulário
e danoso para Ladário é o famigerado "pôlder" iniciado e abandonado
durante os anos de chumbo (entre 1973 e 1978, último ano de Mato Grosso uno),
região hoje conhecida como CODRASA (sigla da empresa contratada para a
dragagem, "Companhia de Dragagens S/A"), um verdadeiro poço sem fundo
que sugou milhões de dólares jamais vistos ou devolvidos aos cofres públicos.
Há, obviamente, dezenas de outros, como o PRODEPAN e o Programa BID Pantanal,
mas agora foquemos no projeto de termelétrica de Ladário e seus impactos
socioambientais e econômicos para a região.
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