terça-feira, 31 de outubro de 2023

DEIXEMOS DE HIPOCRISIA

Deixemos de hipocrisia

Evidências de que ratazanas do ‘centrão’, abutres do ‘mer(d)cado’ e hordas fascistas de pseudocristãos vêm insistindo na tentativa de tornar refém o Presidente Lula, no sórdido afã de impedi-lo de realizar seu ousado programa de reconstrução nacional e, no contexto mundial, consolidar o protagonismo do Brasil como potência de paz. A serviço de quem?

Cheiro de enxofre no ar. Sob a batuta do arremedo nordestino do canalha Eduardo Cunha, lá vêm bandos de ratazanas, sanguessugas e demais parasitas que infestam o palácio da democracia brasileira desde 1988 para emparedar o Presidente Lula. O sórdido propósito é, em conluio com abutres do ‘mer(d)cado’ e com hordas fascistas travestidas de ‘cristãs’, impedir o maior Estadista do século XXI de realizar seu ousado programa de reconstrução nacional para dar um fôlego ao altivo povo brasileiro e, no contexto mundial, consolidar o protagonismo do Brasil como potência de paz e de combate à fome e à desigualdade.

No transcurso do aniversário de primeiro ano da vitória da democracia sobre os fascistas e seus zangões peçonhentos, o Presidente Lula paga por ter-se sagrado vencedor legítimo em um processo eivado de tentativas golpistas de todo tipo: compra de votos abusando das instituições federais para beneficiar a dupla nefasta travestida do ‘pendor’ auriverde; o uso abusivo de robôs para disseminar fakenews acintosa e criminosamente como tática de intimidar e calar a oposição; recorrência excessiva do uso e abuso da máquina do governo federal para dar vantagem desproporcional ao medíocre e criminoso inominável, e desvio escancarado das prerrogativas e funções de titulares no topo da hierarquia federal para submetê-los aos caprichos das hordas fascistas, como o comando nacional da PRF para impedir eleitores do candidato opositor de vencer democraticamente as eleições gerais de 2022 e a liberação promíscua de benefícios sociais indiscriminadamente.

Neste primeiro ano, pasme o leitor, a transição não foi apenas de governo, mas de regime político: entre uma ditadura quase consumada (basta rever imagens do 7 de setembro de 2022 e do 8 de janeiro de 2023) a uma democracia forte mas dura e pesadamente atacada pelas mesmas oligarquias midiáticas cujos feudos são um verdadeiro atentado ao Estado Democrático de Direito. Além da intentona bizarra dos e das intestinos frouxos, para os/as quais ato de bravura se resume a defecar no gabinete do ministro da Corte Suprema, as inúmeras tentativas de desestabilizar política e economicamente as finanças públicas ao longo deste exercício fiscal, seja por meio do ‘mer(d)cado’ ou pelas ações canalhas das ratazanas que tomaram de assalto o Parlamento e vivem a achacar o Planalto, ora por cargos de primeiro e segundo escalões, ora por liberação de verbas que nem sempre chegam a quem deve chegar.

Foi para isso que depuseram a então Presidenta Dilma Rousseff? Uma comprovadamente mulher honesta injuriada, cujo ‘crime’ nunca existiu no arcabouço jurídico brasileiro: foi uma invencionice semântica para dar nome estonteante a um golpe cínico -- ‘pedalada fiscal’ (sic). Foi a fórmula encontrada para tomar de assalto os destinos de uma nação que finalmente dava início a uma nova fase de sua história, entupida de traições e de conspirações única e exclusivamente contra sua laboriosa, acolhedora e generosa população.

Aliás, é muita hipocrisia dos meios de comunicação -- dessa imprensa corporativa, muito bem apelidada de GAFE (Globo, Abril, Folha e Estadão), que cobre com o mesmo cinismo o extermínio de palestinos na faixa de Gaza, a quem apelida de terroristas porque seus amos e senhores assim determinam -- procurar ‘erros’ a Lula para justificar a rapinagem dos mesmos mercenários que, sob o criminoso comando de Eduardo Cunha, Michel Temer e o inominável (toc, toc, toc!), desfalcaram as reservas monetárias superavitárias do País tão logo a Presidenta Dilma Rousseff foi apeada do cargo e mudaram a política do pré-sal para entregá-lo às corporações petrolíferas concorrentes, as mesmas que promoveram (e lucraram com) a ‘primavera árabe’ (que não foi primavera e muito menos árabe) nos países do norte da África e do oeste da Ásia.

Pior: em 2016, primeiro ano do desgoverno golpista, criaram uma lei ‘descriminalizando’ o que haviam inventado como crime -- as tais ‘pedaladas fiscais’, que nunca existiram no ordenamento jurídico e muito menos na jurisprudência brasileira -- e assim o ‘brimo’ golpista, Michel Temer, teve permissão para, ao final daquele exercício fiscal, acumular um déficit vergonhoso de mais de 250 bilhões de reais! Se isso fosse pouco, no último ano do maldito desgoverno do inominável, o canalha recebeu das ratazanas apelidadas de ‘centrão’ autorização para desviar recursos para o que quisesse, o que gerou um déficit nunca antes visto na história republicana, de ‘apenas’ 730 bilhões de reais que, em vez de obras públicas ou programas de reparação da desigualdade social e geração de emprego e renda, foram pura farra financeira, para a compra de votos e a volúpia da ganância.

É cinismo puro vir com essa história de que ‘Lula deu com a língua nos dentes e causou a queda da bolsa de valores e a alta na cotação do dólar’ ao reconhecer que não atingirá a meta, pelo ritmo e má vontade com que o Congresso Nacional tem tramitado as reformas propostas para zerar o déficit fiscal em 2023. No tempo da famigerada Lílian Vite Fibe (digna colega do Alexandre Graxinha), que aderiu ao golpe quando achou que lhe era conveniente e hoje, tal qual a Abril e sua ‘Veja’, não passa de espectro do passado (na verdade, ninguém mais se lembra dela), era bem mais fácil fazer esse tipo de ‘cobertura’. Hoje, com tantos canais de Jornalistas de verdade na internet, o ‘monopólio da verdade’ acabou, para felicidade nossa. O Presidente Lula, depois de conversar com o Ministro Fernando Haddad, da Fazenda, deixou claro à população que não mais seria refém das ratazanas do ‘centrão’ e muito menos do nefasto ser deixado pelo inominável no Banco Central (BC), que logo haverá de se explicar por que granjeou lucros estratosféricos em suas contas offshore durante seu mandato ‘independente’ no BC.

Estadista de alto voo, o Presidente Lula é reconhecido internacionalmente por sua firmeza/capacidade de negociação. Negociador não entrega o jogo, pode até perder uma batalha, porque recua para avançar depois. As elites caducas e serviçais deste país-continente ficam enfurecidas com a capacidade de resistência e ousadia desse nordestino habilidoso. Até a quadrilha da ‘Leva Jeito’ saiu-se mal com ele, a despeito da ‘assessoria’ ilegal daquele pessoal do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que adestrou (tão limitados, precisaram de ‘treinamento’ para cometer ilicitudes mal executadas por serem incompetentes) esses seres recalcados, invejosos e que se prestaram a um serviço antinacional, crime pelo qual deverão pagar com alguns anos na cadeia. Como é? ‘Ninguém está acima da lei’, não é?

O problema é que esse acinte, essa arrogância cínica, vem de fora. Estados Unidos e a União Europeia dão, mais uma vez, o mau exemplo. Como ‘nossas’ elites vira-latas vivem a se espelhar nas metrópoles emboloradas que inspiram e assanham os mentecaptos, Lula se encontra patinando o tempo todo, inclusive em suas iniciativas de paz, seja na urgente aprovação de criação de corredores humanitários para mitigar o genocídio de inocentes em Gaza ou no cessar-fogo na Ucrânia pelo Conselho de Segurança da ONU, do qual o Brasil em outubro exerceu a presidência rotativa, mas foi sabotado pelas potências bélicas do ocidente, falsamente paladinos da ‘democracia’, da ‘paz’ e da ‘liberdade’.

Cheiro de fósforo branco, agente laranja, napalm... Hoje as tais ‘Forças de Defesa’ do Estado sionista usam armamento proibido, como o fósforo branco, contra a população civil de Gaza. É claro que têm o aval, o apoio, de todas as potências criminosas da OTAN. E a imprensa, conivente como sempre, não revela, não denuncia. Como fizeram em Sabra e Chatila, cujo principal cúmplice e proxeneta, general facínora Ariel Sharon não foi punido, mas premiado com o Nobel da Paz (dos túmulos, imagino!) na década seguinte.

Na Palestina, sobretudo em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém, “o poderoso senhor que na mochila carrega todo o cadáver da infância” (“Sabra e Chatila”, de Alberto Cortez, 1983). Não é de hoje, vem dos tempos de Deir Yassin (1947), Sabra e Chatila (1982) e Jerusalém (2005). É porque foram acostumados a ser tratados como se estivessem ‘acima da lei’. O ocidente traz o ranço das Cruzadas e da Inquisição, creem-se a encarnação da justiça (aí, nesse caso, em minúscula, por favor!) divina, e que podem, ao seu gosto e sabor, mudar as regras de tudo, como senhores do Olimpo, ou melhor, paladinos de ‘Grayskull’...

Gostem ou não, esses senhores haverão de se ver com a História em breve. Nesse ínterim, diante de si encontrarão ninguém menos que a República Popular da China como maior potência econômica a ditar as regras com seu protagonismo diplomático. Nesse contexto, o Brasil, graças a Lula e Dilma, tem um relevante papel a desempenhar, e quanto antes puder ser executado pelo Estadista que o povo brasileiro revelou para a humanidade será melhor para o Planeta, e sobretudo para a Nação, que precisa romper os grilhões que lhe colocaram nestes últimos sete nefastos anos em que títeres do grande ‘irmão’ do norte conspiraram contra a soberania nacional, popular e tecnocientífica.

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

"PALESTINA, PALESTINO, RESISTIR É O TEU DESTINO!"

‘Palestina, palestino, resistir é o teu destino’

A nabka -- tragédia, em árabe, que representa a diáspora imposta aos palestinos pelos colonizadores europeu no pós-holocausto dos nazifascistas -- mutilou milhões de pessoas em suas verdadeiras potencialidades, seja pela agressão assassina ou pela privação de sua condição de refugiado e ter que sobreviver. Afinal, quantos talentos brilhantes foram ceifados por causa da maldita cobiça do ocidente hipócrita, genocida e opressor?

Recorrentemente pegamos pessoas próximas reproduzindo, ainda que em tom de humor, a tal ‘superioridade’ europeia parida em território colonial -- na América, África, Ásia ou Oceania. Dias atrás um Amigo muito querido postou, na véspera de um clássico do futebol, quantos prêmios nóbeis seu país teria granjeado, ao passo que o Brasil ainda nenhum (na verdade, UM, se contarmos o caráter multinacional dos contemplados quando da entrega aos ‘boinas azuis’ da ONU em 1988).

Por trás, o velho preconceito colonialista, de que a miscigenação com os povos originários e os afrodescendentes, imaginem, foram os responsáveis por essa limitação (sic). A cínica e pretenciosa ‘superioridade’ europeia é a forma com a qual, desde os mais remotos tempos da nefasta colonização dos povos (e territórios) dos chamados ‘novo’ e ‘novíssimo’ mundos, as elites serviçais de seus amos e senhores coloniais esnobam seus povos sem atinar que as características aqui existentes são atributos, isto é, qualidades indissociáveis das amplas camadas das populações exploradas e oprimidas, não dos descendentes de pretensos ‘fidalgos’ (para não dizer outra coisa, isto sim, pois não passavam de súditos de quinta categoria em suas metrópoles, presidiários de seus reinos).

Confesso estar tomado de indignação tamanha a arrogância das malditas potências mundiais ante as atrocidades cometidas com requintes de crueldade em territórios árabes, sobretudo em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém, o pouco que resta da Palestina milenar. Mas não só: esses sórdidos ‘democratas’ (assassinos cínicos) impuseram o caos e a barbárie em nome de seus valores ‘democráticos’ peçonhentos no Sudão, Iêmen, Síria, Líbia, Iraque, Kuwait, Líbano, Argélia, Egito, Palestina etc, no caso em ordem cronológica regressiva -- desde a criminosa intervenção ‘libertadora’ ocidental no Sudão, Iêmen, Síria, Líbia, Iraque e Kuwait, até a tragédia decenal sofrida, respectivamente, no Líbano (entre 1974 e 1996), Argélia (1955-1963), o Egito (1947-1956) e a própria Palestina (1927-2023), entre outras nações árabes em seus frustrados.

A eternização precoce e inaceitável do Amigo-Irmão Jadallah Suleiman Safa, um notável ser humano, totalmente focado na emancipação do altivo e milenar Povo Palestino, me fez refletir sobre a injustiça cometida contra um povo indefeso e inofensivo. Antes da chegada de miseráveis europeus travestidos de vítimas (dos próprios europeus), entre fins do século XIX e início do século XX (dentro do plano de saquear o território, a história, a cultura e a vida daquele que, em diversas épocas da História acolheram seus confrades -- jamais conterrâneos, pois o fato de professar uma religião não lhe dá potestade, em hipótese alguma, a obter nacionalidade ou cidadania por imposição dos colonizadores), a Terra Santa, sempre cobiçada, era terra de promissão e de abundância.

Basta vermos relatos de expedições europeias, além de T. E. Lawrence (o facínora que, a serviço da Inglaterra, seduziu com suas mentiras líderes árabes com a falsa promessa de liberdade depois de derrotar o império turco otomano). Em Corumbá, cheguei de ler pelo menos dois livros da década de 1940, um em francês e outro em inglês -- um deles de uma senhora idosa síria de nome Ana Saad, Amiga de meu saudoso Pai (moradora numa casa próxima da esquina das ruas Treze de Junho e Antônio João, eternizada em 1972, cujo acervo bibliográfico era deslumbrante, pois o Esposo dela, havia muito tempo falecido, era um intelectual sírio que colaborava com o antigo semanário paulista ‘Al-Urubat’, que significa ‘O Arabismo’, fundado na década de 1930), e outro do querido e saudoso Amigo Soubhi Issa Ahmad, que o adquirira em sua primeira viagem ao Egito, logo depois do Terceiro Assalto (nome como os árabes chamam à famigerada Guerra dos Seis Dias, de junho de 1967), e que o dedicou a um de seus Filhos, creio que nos Estados Unidos.

É, para dizer o mínimo, criminoso ver crianças, adolescentes e jovens saudáveis e cheios de vida, talento, sonhos e determinação (aliás, muita determinação) impedidos de poder estudar o que quiserem, se formarem naquilo que sua vocação lhes oportunizar. Por quê? Porque a nefasta cobiça do colonialismo / imperialismo ocidental, em franca decadência, não querem que povos de cultura milenar comprovadamente intelectualizada, desafiadora e de bases sólidas, os eclipse em sua obtusa mediocridade. Eles não escondem o tráfico de crianças e adolescentes árabes levados para a Europa, ‘ocidentalizados’, como foi o caso de Steve Jobs, cuja origem era síria.

Só em Corumbá e Campo Grande, nas duas colônias palestinas, pude testemunhar meninas e meninos geniais, muito discretos (por pura timidez), assunto que já tinha conversado com o querido e agora saudoso Amigo-Irmão Jadallah Safa. No tempo da OLP (antes de 1989) havia um setor incumbido de proporcionar condições materiais às novas gerações, como política de preservação de seus talentos, até para evitar a ‘fuga de cérebros’, mas a controversa implantação da Autoridade Nacional Palestina tirou o foco desse importante eixo estratégico.

É hora, pois, que todos os cidadãos solidários à Causa Palestina se irmanem -- sobretudo os descendentes das 23 nações árabes, por uma questão de consciência e dever ético (eu, na verdade, não interrompi meus modestos projetos nesse sentido, na perspectiva dos ensinamentos de Herbert de Souza, Paulo Freire e Amílcar Cabral, graças à generosa Professora Doutora Cláudia Araújo de Lima, do CPAN/UFMS) -- para implementarmos o que com Jadallah Safa já vínhamos fazendo, e que precisa ser disseminado em todo o Mundo, porque o sionismo que não apenas se apossar do território da Palestina milenar, mas de sua História, de suas Culturas, de seu protagonismo cidadão ao longo da trajetória da humanidade.

Em sua homenagem, embora ainda não tenha conversado com os demais participantes de nossa modesta iniciativa (por conta das perdas deste fim de semana cancelamos nossas reuniões virtuais), e com a devida autorização da Família desse bravo ativista, daremos o seu nome, para que seu incansável empenho permaneça conosco e os contemporâneos que nunca o conheceram saibam que por trás de um ‘brimo’ que atende o balcão comercial há um cidadão, um ser humano iluminado, preocupado com a humanidade. Como disse meu saudoso Pai num artigo publicado no semanário ‘Tribuna Livre’, fundado pelo querido Professor Valmir Batista Corrêa, em 1987, parodiando Eduardo Galeano em ‘Veias abertas da América Latina’: “A Palestina para os sionistas? Não, a Palestina para a humanidade!”

Finalmente, enquanto houver um cidadão libertário no mundo; enquanto houver um árabe na face da Terra, imperialistas-colonialistas, tremei: haverá revolução! Em outras palavras (isso eu ouvi do Jadallah, a me contar de um ato de que participara em Santiago do Chile), “PALESTINA, PALESTINO, RESISTIR É O TEU DESTINO!”

Ahmad Schabib Hany

terça-feira, 24 de outubro de 2023

DONA MARIA TORRES TAQUES, SEMPRE NA MEMÓRIA E NO CORAÇÃO

Dona Maria Torres Taques, sempre na memória e no coração

Domingo, 22 de outubro, a Senhora Maria Torres Taques, se eternizou depois de uma nonagenária jornada de muita luta, amor e dignidade. De grande estatura ética e, sobretudo, humana, Dona Maria fez de sua existência honrada trincheira de cidadania e muita sobriedade, ‘sin perder la ternura jamás’.

O dia 22 de outubro foi fatídico em dose dupla, diria cavalar. Depois de ter sido impactado pela notícia da eternização do Companheiro Jadallah Safa, veio por meio da delicada (e bem redigida) mensagem de texto da Doutora Regina, Companheira de Vida do Jornalista Luiz Taques, a notícia da eternização da querida e agora saudosa Dona Maria Petrona Torres Taques, Mãe desse Amigo-Irmão de mais de quatro décadas.

Filha de um casal de integrantes da Coluna Prestes, Dona Maria nasceu na década de 1920 no município de Corumbá, então maior entreposto comercial de águas interiores deste país-continente. Viveu intensamente todo o século XX e com critério e sabedoria as duas décadas do século XXI. Espirituosa e dona de reflexões ímpares, cativava todo interlocutor com quem encontrava alguma via de comunicação.

Quando o Jornalista Luiz Carlos Prestes Filho esteve em Corumbá, em 1995, fazendo uma série de reportagens para a revista Manchete sobre os 50 anos da Coluna Prestes, liderada nos anos 1920 por seu lendário Pai, o Cavaleiro da Esperança, ficou encantado com a riqueza de detalhes com que Dona Maria narrou o que seus Pais lhe haviam contado desse emblemático momento da História (maiúscula, por favor, porque não só do Brasil, mas da humanidade, embora desde 1964 escamoteado pelos livros didáticos dominados pela historiografia oficiosa). Além de Luiz Taques e do Ednaldo, o Caçula, não sei se os outros Filhos e Filhas, Netos e Netas e Bisnetos e Bisnetas de Dona Maria conservam essa memória -- até como referência afetiva.

Conheci Dona Maria em meados da década de 1980 por meio de Luiz Taques, sem dúvida o seu maior fã. Não por acaso: o raro faro de repórter cidadão herdara da Mãe. Mais que fonte de ‘inspiração’, na verdade, reflexão, muita reflexão. Porque Dona Maria era uma verdadeira fonte de reflexão; sem exagero, e com o devido respeito, uma sacerdotisa do Oráculo de Delfos, na cosmovisão grega. Até seu caráter helênico tinha um encantador encontro com a ancestralidade greco-latina de seu dialogar. Confesso que não me atrevera a escrever sobre ela em Vida para não estremecer a Amizade (dessas com letra maiúscula) longeva, pois, resguardadas as devidas peculiaridades, ela e meu saudoso Pai tinham muito em comum, desde a paixão indisfarçável pelo saber.

Discretíssima. Não se permitia expor seus geniais critérios, profundos e abundantes. Toda vez que visitava Luiz Taques em Corumbá, as profundas e reflexivas palavras ficavam por conta dos diálogos com a querida Dona Maria, que com sensatez invejável e uso generoso de metáforas ensinava o segredo do bem viver e da comiseração em tempos de tirania, de intolerância. Católica devota de Nossa Senhora, sempre procurou compreender inúmeros amigos/as e familiares espíritas, evangélicos, umbandistas e até ateus -- sem preconceitos ou quaisquer escorregões de intolerância disfarçada.

Aliás, só o Taques para fazer uma perfeita descrição, inclusive física, de Dona Maria, em mais de uma obra sua. Não ousarei repeti-lo, e muito menos citá-lo. Isso ficará para a perspicácia de seu leitor, já identificado com sua discreta sutileza de filho devotado, mas sem pieguice. E a longevidade de Dona Maria tende a se replicar nesse Filho apaixonado, bem como de algumas de suas Filhas, igualmente dedicadas ao máximo de bem-estar da Mãe. O que é raríssimo hoje, pois a quase totalidade dos familiares tende a ‘despejar’ seus idosos em ‘clínicas de repouso’, nome para asilos que bem conhecemos, à exceção honrosa de alguns dignos de reconhecimento.

Em conversas esporádicas com os Filhos e Filhas de Dona Maria, nunca quis perguntar sobre a evidente severidade da Matriarca com sua prole. Meu Pai e minha Mãe, por dizer, o foram, sem nunca terem enveredado em excessos, ainda que, a depender da travessura, tenhamos na memória algumas cenas inevitáveis de seu rigor na preservação de princípios invioláveis. Eram tempos duros, em que qualquer fraqueza no exercício da autoridade materna / paterna era cobrado com rigor pela sociedade, sobretudo se a origem de classe social ou de nacionalidade estivesse em questão.

Viúva desde 1980 do Senhor Narciso Taques, taxista depois de aposentar-se do Ministério dos Transportes, Dona Maria incumbiu-se sozinha de concluir a formação de todos os Filhos e Filhas, que não lhe deram trabalho. Ela se sentia realizada com a sua prole heterogênea: cada Filho, cada Filha, escolheu seu porvir. Fazia gosto pela opção de cada Filho. E como se abateu quando um deles, por contaminação em transfusão de sangue contraíra hepatite C em tratamento hospitalar e não chegara aos 50 anos. Mãe presente. Avó presente. Bisa presente. Amiga presente. E conselheira. Pra ninguém botar defeito.

Não esqueço que, no dia em que acompanhei o féretro de minha saudosa Mãe, Dona Maria me segurou pela mão ao longo do percurso entre a capela e a necrópole, seu jeito ímpar de manifestar seu apoio, carinho maternal. Por ironia da Vida, não pude estar presente ao mesmo percurso no dia 23, pois, embora tivesse tentado chegar a tempo (a mensagem de texto fui receber em cima da hora e quando cheguei à capela da funerária o féretro já havia saído). Mas a nossa conexão com a sua Família, sobretudo com o Amigo Luiz Taques, está acima dessas adversidades. Até porque a magnanimidade de Dona Maria supera com fluidez e cordura os imprevistos da Vida.

Seu legado de empatia, comiseração, solidariedade e, sobretudo, participação permanece vívido e palpitante no conviver e viver dessa Família de pessoas iluminadas, generosas e compreensivas. Nossos profundos e sinceros sentimentos de toda a minha Família pela eternização de Dona Maria a toda a Família Torres Taques, por quem nosso carinho, admiração e amizade sincera se revigoram com o devir dos dias. Até sempre, Dona Maria, e obrigado por ter existido e generosamente nos ensinado o bem viver com comiseração!

Ahmad Schabib Hany

domingo, 22 de outubro de 2023

ATÉ SEMPRE, COMPANHEIRO JADALLAH SAFA!

Até sempre, Companheiro Jadallah Safa!

Depois de resistir por mais de dez dias a um AVC, o Amigo-Irmão Jadallah Safa se eternizou neste domingo, dia 22 de outubro, em São Paulo. Seu exemplo de incansável ativista da Causa Palestina permanece vivo entre nós, que tivemos o privilégio de conviver e aprender por quatro décadas com ele.

O Amigo-Irmão que despeço, incansável e exemplar ativista palestino Jadallah Safa, conheci na luta, na resistência, no inesgotável ativismo em que todo resistente se forja. Interrompera seus estudos universitários na Palestina porque os invasores, os que vivem a impostar a falsa verdade de que são eternas vítimas, não permitiam que palestino pudesse ter diploma universitário. Três anos mais jovem, que eu, havia pouco tempo chegado a Corumbá para sobreviver, como comerciante, dono da humilde Casa Laiali, senão me engano na rua XV de Novembro, entre a Treze de Delamare.

Lembro-me como hoje, precisamente quatro décadas atrás, na mobilização para observar o primeiro ano do Massacre de Sabra e Chatila, em que, como sempre, a hipocrisia israelense usou a insanidade odienta do militar libanês Ellie Hobeika, líder miliciano da Falange Libanesa, para executar, sob ordens e requintes de crueldade de Ariel Sharon, que mais tarde, em vez de punição, receberia Prêmio Nobel da Paz (sic). Era setembro de 1983, quando Corumbá realizara a terceira manifestação de solidariedade à Palestina.

Filha do saudoso Senhor Subhi Issa Ahmad, Amigo-Irmão de décadas de meu saudoso Pai, a hoje saudosa Abla e a sua Amiga Bassma Hussein eram as porta-vozes das mobilizações. Com a discrição e disciplina que lhe eram peculiares, Jadallah se revelara um grande articulador. Logo se tornou Amigo, desses com letra maiúscula. Fui-lhe apresentando as pessoas simpáticas à Causa Palestina, entre elas o então o Professor e Vereador Valmir Batista Corrêa (do PMDB), o Professor Gilberto Luiz Alves, o Professor Tito Carlos Machado de Oliveira, a artista plástica Marlene Terezinha Mourão (querida Peninha), a saudosa Professora Heloísa Helena da Costa Urt (a querida Helô), o Professor Maurício Lopo Vieira (então coordenador da Unidade Regional do Trabalho), o ferroviário Manoel do Carmo Vitório, o saudoso Professor e Vereador Fausto Matto Grosso (do PCB, de Campo Grande) e o também saudoso Manoel Sebastião da Costa Lima, então generoso proprietário da maior livraria da história de Mato Grosso do Sul, a emblemática Livraria Guató, em cuja edícula funcionava a sede do Centro de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais (CEPES).

A discrição e o rigor metódico eram a marca indelével desse incansável ativista. Sincera e honestamente, em 40 anos de Amizade e trabalhos incessantes, nunca o vi perder o foco e, sobretudo, a sobriedade. Um verdadeiro estoico em toda a sua generosa existência. Em minha estada em Corumbá, quando o conheci, era aprendiz de repórter num jornalão que associava palestino a ‘terrorista’. A família proprietária, três anos antes, se prestara ao papel de publicar uma foto do então Deputado Antônio Carlos de Oliveira (fundador do Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso do Sul) ao lado de Yasser Arafat, líder da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) usando um texto-legenda vergonhoso, em que insinuava que o idôneo e combativo parlamentar tivesse ‘vínculos espúrios’ com o ‘terrorismo internacional’.

Ainda vivíamos os derradeiros dias da ditadura, mas a política externa capitaneada pelo chanceler Saraiva Guerrero desvinculara o Brasil da melancólica condição de marionetes dos Estados Unidos e das potências ocidentais, em plena guerra fria. Aliás, mérito de seu antecessor, chanceler Azeredo da Silveira, escolhido pelo general-presidente Ernesto Geisel, com o firme propósito de deixar bem claro de que o Brasil não era ‘quintal dos Estados Unidos’, e assim o Brasil passou a se destacar no concerto das nações pela posição independente e defensor da autodeterminação dos povos e contra o colonialismo ainda vigente nos anos 1970.

Diferente da maioria dos jovens de sua idade, Jadallah lia compulsivamente. Como ler em português requeria muito cuidado (embora tivesse em casa um bom acervo bibliográfico, fazia questão de sublinhar parágrafos inteiros para ter convicção de que compreendera o texto corretamente), e nossas reuniões também tinham uma dose de didática. Generoso, ele também nos ensinava o árabe e o inglês, pois na Palestina se estuda também a língua do colonizador britânico. Ambidestro, escrevia simultaneamente em árabe com a mão esquerda e em inglês ou português com a mão direita. Uma inteligência a toda prova.

Morou oito anos em Corumbá. Nesse período, bastante fecundo por conta da Constituinte e das mobilizações decorrentes da construção do Estado Democrático de Direito, a Vida nos permitiu testemunhar inúmeras atividades no âmbito da defesa de direitos do Povo Palestino. No primeiro ano da Nova República, tivemos a sorte de conhecer Miguel Anacleto Junior, fundador e presidente do Instituto Brasileiro de Amizade e Solidariedade aos Povos (IBASP), com sede em Olinda (Pernambuco), por meio da querida Amiga Yone Ribeiro Orro, esposa do saudoso Deputado Roberto Moaccar Orro, de Aquidauana.

No entanto, sua atuação em Corumbá e região ficou marcada com a histórica realização por mais de 60 dias da I Mostra da Cultura Árabe-Palestina de Corumbá (Casa de Cultura Luiz de Albuquerque, ILA, de 30 de junho a 30 de setembro de 1987, com a importante colaboração da Professora Mestra Elenir de Mello Alves, biblioteconomista responsável da Biblioteca Pública Estadual Doutor Gabriel Vandoni de Barros). O evento contou com a visitação de mais de três mil pessoas e a presença do Secretário de Estado da Cultura, artista plástico Humberto Espíndola; do Diretor-executivo da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Cândido Alberto da Fonseca; do chefe do Escritório de Representação da Palestina no Brasil, Farid Sawan; do Prefeito Municipal de Corumbá, Dr. Hugo Silva da Costa; do Prefeito Municipal de Ladário, o saudoso Professor Nivaldo Ferreira da Silva; do ex-prefeito de Corumbá, o saudoso Dr. Fadah Scaff Gattass; do saudoso Deputado Armando Anache; do Vereador Valmir Corrêa, e do Presidente da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira de Corumbá Najeh Mustafá nos atos solenes de abertura e encerramento.

Por seu turno, outro momento emblemático foi o ato de lançamento do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino, no dia 27 de novembro de 1987 no antigo auditório do Centro Universitário de Corumbá (CEUC/UFMS), de que participaram o Secretário de Estado de Justiça, o saudoso Dr. Roberto Orro; a Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul, a saudosa Jornalista Margarida Marques; a representante do Grupo de Apoio ao Índio (GAIN-MS); o Diretor da Casa de Cultura Luiz de Albuquerque, saudoso Dr. Lécio Gomes de Souza; a Diretora do Centro Universitário de Corumbá, Professora Doutora Gisela Levatti Alexandre; a Biblioteconomista responsável da Biblioteca Pública Estadual Dr. Gabriel Vandoni de Barros, Professora Mestra Elenir de Mello Alves; o Historiador e Vereador Valmir Corrêa, um dos primeiros Professores Doutores em Mato Grosso do Sul; o saudoso Poeta Rubens de Castro, autor de ‘Flor dos Aguaçais’, membro da Academia Corumbaense de Letras que generosamente declamou o célebre poema ‘Sabra & Chatila’, de autoria do Poeta e Compositor argentino Alberto Cortés, em sua versão traduzida ao português para o evento, e os Amigos Professor Maurício Lopo Vieira e Manoel do Carmo Vitório, na época da Unidade Regional do Trabalho (URT), que integraram a primeira coordenação do referido Comitê de Solidariedade.

Ele é um dos milhões de Palestinos e de Palestinas espalhadas pelo Planeta. Não porque quisesse sair de seu país milenar, berço de culturas, protagonista de História. Foi expulso pelos invasores, europeus, que se apossaram de suas terras, suas casas e suas vidas. Já imaginaram uma pessoa com a inteligência e a capacidade do querido Jadallah o que não poderia ter sido? Mas foi impedido de fazer um curso universitário pelos que fingem ser vítimas, quando não passam de criminosos, em todos os sentidos. Foram os nazistas, na Europa, que lhes impuseram o holocausto, por que os Palestinos, por que os árabes, têm que pagar a conta, em piores condições? É porque naquela região há muita riqueza, e a cobiça tem nome e sobrenome, Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia?

Jadallah Safa, em toda a sua Vida honrada e de muita luta, foi um voluntário, pois nunca auferiu qualquer remuneração pelo que fez com denodo, desprendimento e convicção. De uma geração de resistentes palestinos em que a realização acontece pelo resultado do que faz, não de louvores ou de salamaleques, todos os seus trabalhos foram fruto de muita luta, esforço pessoal. Seu mais recente trabalho, a publicação do resgate biobibliográfico do Poeta e Jornalista Ghassan Kanafani (organizado por Yasser Farid Fayad), ativista de esquerda assassinado pelo Mossad em Beirute na década de 1970, corrobora a trajetória fecunda de Vida e de luta, sem holofotes ou frivolidades.

Sou testemunha privilegiado do valor desse grande ser humano, cuja falta fará, não só para a sua Família (deixa Esposa e Filhos/as em São Paulo), mas para a humanidade, logo nestes nada generosos tempos de individualismo e muita vaidade. Além do aprendizado, ganhei dele alguns livros ímpares como ele (o último, que chegou às minhas mãos pelas de seus Irmãos, é este sobre Kanafani), inúmeras horas de atividades inesquecíveis e, para quem não imaginava, deliciosos pratos palestinos que ele mesmo fazia em casa. Aos queridos Amigos-Irmãos Munther, Nasser e Dona Nelly, à Cunhada Jalila, aos Filhos, Primos, Sobrinhos e Sobrinhos-netos, meus profundos sentimentos. Até sempre, Companheiro Jadallah, e obrigado por ter existido!

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

‘Pelos poderes de Grayskull!’

‘Pelos poderes de Grayskull!’

JDAM ou GBU-43/B?

Prêmio Pulitzer em 1969, o veterano correspondente de guerra Seymur Hersh, segundo o Jornalista Leandro Demori (ex-The Intercept Brasil na ‘Vaza Jato’), há poucos dias havia antecipado a escolha do arsenal para a operação de extermínio de Gaza.

O repórter investigativo Leandro Demori (ex-editor do The Intercept Brasil no tempo da série de reportagens ‘Vaza Jato’, que desmascarou a farsa da Leva Jeito e toda a quadrilha da republiqueta de Curitiba), revela que o veterano Jornalista e correspondente de guerra Seymur Hersh (aquele que ganhou o cobiçado Pulitzer em 1969 com uma reveladora reportagem sobre o massacre de guerra de My Lai, Vietnã) alertara seus leitores sobre o uso, nas operações de devastação de Gaza, das temidas bombas JDAM, cuja versão mais moderna é GBU-43/B, conhecida como ‘a mãe de todas as bombas’).

Bastante meticuloso, como repórter investigativo, Demori não é categórico em “Ataque a hospital em Gaza: foi uma bomba JDAM?”, mas de uma prudência didática quando publica com exclusividade aos assinantes de seu canal ‘A Grande Guerra’ do excepcional serviço prestado, não só para o Jornalismo, mas para a História, pelo Jornalista Seymur Hersh em ‘O plano para eliminar o Hamas’, em tradução ao português. Talvez Hersh, como outros Jornalistas de sua estatura, não venha a ser contemplado com outro prêmio Pulitzer, até porque hoje a imprensa ocidental hegemônica virou um ‘puxadinho’ da Casa Branca, ou melhor, do Pentágono e de todos os palácios de seus aliados da União Europeia.

(Atrevi-me a pedir autorização ao canal de Leandro Demori para compartilhar o link dessa matéria reveladora, pelo que aguardo sinal verde para fazê-lo, até porque esse Jornalismo com letra maiúscula sobrevive a duras penas com doações dos seus leitores.)

Enquanto isso, a GAFE (Globo, Abril, Folha e Estadão) e seus satélites e similares (Record, SBT e Band) continuam ruminando mais uma fakenews lançada pelo serviço de propaganda sionista (cujo porta-voz havia anunciado que haviam brasileiros entre os reféns levados para troca por presos políticos palestinos), a de que o massacre de crianças e adolescentes no Hospital Batista de Al-Ahli, em Gaza, foi resultado de erro de atiradores palestinos ligados a outro grupo, a Jihad Islâmica, sem quaisquer provas, com o objetivo claro de se eximir da responsabilização por crime de guerra na sanguinária história militar do Estado sionista.

Cá pra nós, o que causa espanto é o cinismo com que a mídia corporativa, sobretudo os ‘jornalões’ que não se envergonham por sua cobertura panfletária daquilo que ousam chamar de ‘conflito Israel-Hamas’. Primeiro, como as cinicamente autodenominadas de forças de defesa do Estado sionista querem convencer a humanidade que uma das maiores potências militares do Planeta (senão a segunda maior, detentora de armas nucleares sem a devida autorização da Agência de Energia Nuclear da ONU) pode empreender uma guerra desproporcional com um grupo de combatentes (chamados de ‘terroristas’ sem qualquer critério reconhecido pela ONU, apenas para justificar sua obsessão) precária e moralmente armados? Isso não é guerra, porque é desproporcional: é massacre, genocídio.

É a tal ‘convicção’, mesmo sem provas, que fez escola até nas hostes do Ministério Público (caso Urinol e seu PowerPoint), Judiciário (caso ‘Marreco de Maringá’) e algumas polícias durante as jornadas de 2013 no Brasil e diversas partes do mundo. Lembra-se do pretexto para promover a segunda operação militar ‘Tempestade no Deserto’, depois do (auto?) atentado das Torres Gêmeas, em 2001, com o objetivo do insano George Átila Bush (filho) conseguir seu segundo mandato e poder destruir toda a infraestrutura (e violar a soberania nacional) do Iraque pela ‘convicção’ de que Saddam Hussein teria armas de destruição em massa (químicas e nucleares), as quais nunca foram achadas em seus arsenais.

Nessa mesma linha, Obama Bin Laden -- digo, Barak Obama --, depois da vergonhosa série de fakenews das ‘primaveras’ que nada tinham de árabes -- aliás, antiárabes --, e com o flagrante apoio do Mossad, de Israel (novidade?), enviou sua criminosa secretária de Estado, Hilary Clinton, à Líbia para insuflar as hordas criminosas daquele país e, assim, ‘pelos poderes de Grayskull, eu tenho a força’, assistir de modo desumano o linchamento transmitido ao vivo de Muammar Kadafi, que, tal como Saddam Hussein, era responsável pela estabilidade econômica, nível de renda e empregabilidade, com sistema público de saúde e previdência social, a quase toda a população da África e, inclusive, Oriente Médio.

Ou a crise humanitária pelo acentuado processo migratório rumo à Europa, posterior à destruição do Iraque (no Golfo) e da Líbia (no norte da África) terá sido mera coincidência? Não, é simples questão de causa e efeito. Tudo pela sórdida e nefasta cobiça (na verdade, ganância colonialista) pelo petróleo e demais recursos minerais de todos os países árabes, africanos e muçulmanos, caso do Irã e Azerbaijão. Como disse o insensato Joe Biden (que nada difere do palhaço Donald Trump na política exterior dos Estados Unidos), em 1986: “Se não houvesse Israel, teríamos que criar um Israel para poder defender os nossos interesses no Oriente Médio e assim alcançar os [criminosos] objetivos ‘humanitários’ [colonialistas] dos Estado Unidos.”

É o mesmo governo dos Estados Unidos, que procrastina decisões do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ante a tragédia humana da população de Gaza, ao pedir vistas ou ser o único a vetar cinicamente proposta de resolução que pretendia apenas um detalhado corredor humanitário para retirar os refugiados da Faixa de Gaza por meio do deserto do Sinai, na fronteira entre o Egito e o território avassalado do que restou da Palestina. De posse de toda a mídia corporativa mundial, depois Biden aparece como paladino da paz e diz ‘ter conseguido’ a abertura do posto de controle do títere que deixaram na presidência do Egito, um corrupto general, um tal Abdel Sissi, que, bem adestrado, só atende às ordens dos Estados Unidos e de Israel, seus amos e senhores.

A mesma GAFE dá destaque, como atitude magnânima, à ‘generosa’ decisão de Biden de flexibilizar ‘por seis meses’ o embargo econômico decidido há mais de uma década pelos Estados Unidos contra Nicolás Maduro (que impôs uma crise econômica sem precedentes ao povo venezuelano), como gesto de ‘reconhecimento’ à Venezuela de promover eleições que permitam que suas marionetes possam concorrer e voltar a submeter a maior potência petrolífera da América do Sul aos interesses inconfessáveis do ‘grande irmão do norte’. Bonzinho esse Biden, né? Não, não está de olho nas reservas naturais de todos os países ricos em matéria-prima, mas ‘pensando’ no futuro de suas populações, desde que não sejam malvados e atrapalhem a ‘boa-vontade’ (sic) do ‘Tio Sam’. Como sempre, bonzinho enquanto não atrapalharem seus nefastas intenções, ou melhor, maldita cobiça...

‘Pelos poderes de Grayskull, eu tenho a força!’

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Ato seguido de passeata inclui Corumbá entre cidades solidárias a Gaza

Ato seguido de passeata inclui Corumbá entre cidades solidárias a Gaza

Em concorrida passeata, vários segmentos sociais de Corumbá, além da comunidade árabe local, estiveram manifestando o seu desagravo e a sua solidariedade ao povo palestino.

Dia do Médico -- em que se homenageia o incansável profissional que vela pela saúde, sobretudo nestes preocupantes tempos de reincidência de casos de covid-19 e de negacionismo --, 18 de outubro de 2023 entra para a história de Corumbá como a data em que foi realizado com êxito o ato de desagravo e solidariedade à dignidade do resistente povo palestino, cuja primeira família a aportar em Corumbá (no então distrito de Ladário, município desde 1953) é a da saudosa e querida Heloísa Urt (a querida Helô), no ano de 1913, portanto, há 110 anos.

Precisamente Luiz Eduardo Urt era um entre as mais de duas centenas de cidadãos que foram hipotecar seu apoio solidário à Palestina, em especial à população de Gaza (uma das áreas do território milenar que ainda resistem, ao lado da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, às atrocidades sionistas em sua ilógica política de ‘limpeza étnica’, extermínio indisfarçável, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia), que na véspera foi alvo de mais um massacre, desta vez no Hospital Batista Al-Ahli, na cidade de Gaza, em que pereceram aproximadamente 500 crianças e adolescentes, entre internados e abrigados para se proteger dos bombardeios israelenses.

Um misto de indignação e esperança tomava conta do ânimo das pessoas, entre elas a Senhora Hairie Hamie, imigrante libanesa, matriarca da família do médico Riad Hamie. Uma incansável participante de mobilizações de solidariedade ao povo palestino desde a década de 1980, Dona Hairie sempre somou sua convicção de árabe consciente ao apoio à nação árabe irmã da Palestina. Para ela (e a maioria dos participantes do ato de desagravo à dignidade do povo palestino, vítima não só de atrocidades como de uma avassaladora campanha de fakenews desde antes da criação, em 1948, do Estado sionista, sempre com o aval das potências militares do ocidente), a paz duradoura no Oriente Médio será conquistada mediante a reparação dos limites históricos do território palestino.

O renomado odontólogo Zacaria Omar, premiado duas vezes em âmbito nacional por seu pioneiro trabalho de implantação da política de saúde bucal no município de Corumbá, representou no ato o presidente da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira, Munther Safa, que se encontra em São Paulo para acompanhar a evolução do quadro clínico do irmão, o incansável ativista palestino Jadallah Safa, que se recupera de uma cirurgia para retirada de coágulo do cérebro em razão de um AVC sofrido após falar durante ato de solidariedade na capital paulista. Em companhia dos Pais Yahya e Dona Sabiha, de sua Companheira Nahla e do casal de filhos, Zacaria explicou didaticamente por que a necessidade da reparação à dignidade e à saúde física dos milhões de palestinos de dentro e de fora da Palestina ocupada, reduzida a verdadeira colônia de potências ocidentais.

Filho do imigrante libanês Hamad Haymour, o radialista Adnan Haymou emprestou sua voz impactante e sua sensibilidade singular para o gesto solidário do povo cosmopolita do Coração do Pantanal e da América do Sul. Veterano homem da radiofonia e dos esportes, ficou sensibilizado ao ouvir os participantes entoarem consignas como “Palestina Livre” e “Palestina, palestino, resistir é o teu destino!”, embora há quatro décadas conduz quase todas as manifestações de solidariedade ao povo palestino em Corumbá. Disse estar surpreso com a manifestação espontânea da maioria de professores, estudantes e pesquisadores de diferentes áreas que não pouparam fôlego, apesar do calor, para deixar patente sua solidariedade em especial à população de Gaza, alvo da maior atrocidade dos últimos quarenta anos.

O reconhecido pesquisador e docente universitário Doutor Alberto Feiden, há décadas em Corumbá, onde tem atuado em interfaces sociais com projetos de agricultura familiar e de agroecologia, fez uma fala didática. Ele demonstrou as reiteradas violações de direitos humanos e convenções internacionais por sucessivos governos formados por descendentes de vítimas do holocausto cometido por nazistas na Europa. Ao lembrar da ascendência alemã e sua confissão religiosa luterana, afirmou que em sua família há também judeus, mas que não consegue compreender como sobreviventes dos horrores do nazismo possam hoje cometer atrocidades comparadas com a de seus algozes, tendo deixado clara sua repulsa a todo tipo de extremismo religioso, seja ele judeu, muçulmano ou evangélico, como tem ocorrido no Brasil nos últimos anos.

A professora Simone Yara, atualmente membro da direção do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Corumbá (SIMTED), comentou estar perplexa pela atitude das potências militares e econômicas mundiais, indiferentes à tragédia humana em Gaza, e que o veto da representante dos Estados Unidos à proposta de resolução no Conselho de Segurança da ONU, atualmente presidido pelo Brasil, demonstra o descaso com as verdadeiras causas do interminável conflito israelo-palestino. Lembrou a fala do Presidente Lula, de que são crianças, adolescentes, jovens, mulheres e idosos os que pagam pela insanidade da guerra e que essa demora só aumenta o sofrimento e a perda de vidas humanas numa das regiões mais convulsionadas do Planeta nos últimos 75 anos.

A professora Maria Inês Arruda, diretora do Departamento de Aposentados do SIMTED, e seu Companheiro, Paulo de Carvalho, participaram ativamente da manifestação, bem como o presidente do Partido dos Trabalhadores, Weberton Sudário, acompanhado da Companheira e de seu filho. O presidente do PCdoB, Luiggi Amarílio, participou com uma delegação de seu partido e da federação de que integra. O veterano ativista político e indígena Anísio Guató participou representando o PSOL, partido ao qual está filiado desde a sua fundação. Há poucos dias, o PT, o PCdoB e o PSOL emitiram uma nota conjunta em que repudiaram as distorções feitas em editorial pelo jornal ‘O Estado de S. Paulo’. Na década de 1930, antes da deflagração da Segunda Guerra Mundial, fazia apologia a Hitler em suas agressões aos judeus e militantes comunistas, como consta de foto de uma edição que tem circulado nos últimos dias.

O prefeito Marcelo Iunes (PSDB), em viagem, deixou mensagem para a comunidade e os participantes, tendo sido representado pelo secretário municipal de Governo, Luiz Antônio Pardal (PSDB). A ex-secretária municipal Glaucia Iunes (PDT) participou do ato ao lado de correligionários. Estiveram presentes também vereadores, entre eles Nélson Dib Junior (MDB), Allex Prado Della (Republicanos), Roberto Gomes Façanha (MDB), Alexandre do Carmo Vasconcellos (PSD) e Samyr Sadiq Ramunieh (MDB), todos de Corumbá. De Ladário, o secretário de Infraestrutura, Luiz Eduardo Urt, foi o único a assinar a lista de presença. Em nome dos deputados Zeca do PT e Vander Loubet, que enviaram mensagem, o veterano ativista político e cultural Arturo Castedo Ardaya marcou presença colaborando na organização da passeata.

A Guarda Civil Municipal, a Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetrat), a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros Militar e a Polícia Federal estiveram presentes a fim de assegurar ordem e, sobretudo, integridade física aos participantes, de diferentes faixas etárias e segmentos sociais. Diversos profissionais da imprensa fizeram questão de prestar sua contribuição, generosa e solicitamente. Felizmente, não houve registro de qualquer intercorrência, como foi, ao final, observado por Adnan, quando agradeceu a todas as instituições e autoridades que não envidaram esforços e presença efetiva para conferir dignidade à manifestação. As entidades membros do Comitê Corumbá Pela Paz agradecem com penhor e consideram a participação como emblemática por entender que o atual contexto internacional, dominado por fakenews e disseminação de ódio e intolerância, causa certa preocupação no dia a dia de todos os países.

Corumbá e Ladário marcam, mais uma vez, com cosmopolitismo e galhardia, sua inserção nas mobilizações em prol do desagravo e da solidariedade ao povo palestino, imerso em tragédia sem previsão de cessar-fogo. Verdadeiro paraíso na Terra, o torrão pantaneiro coroa sua história de cidadania, hospitalidade e generosidade com sua acolhedora e afetuosa idiossincrasia, única e cativante. Obrigados, Corumbá e Ladário! Obrigados, Mato Grosso do Sul! Obrigados, Brasil, terra de oportunidades e benevolência!

Ahmad Schabib Hany

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

JADALLAH SAFA, ATIVISTA PALESTINO, RECUPERA-SE DE CIRURGIA EM SÃO PAULO

Jadallah Safa, ativista palestino, recupera-se de cirurgia em São Paulo

O ativista palestino residente em São Paulo foi submetido a uma delicada cirurgia de retirada de coágulo no cérebro depois de sofrer AVC hemorrágico. Seu quadro é considerado estável e a previsão é de que seu quadro se defina em 72 horas.

O ativista palestino Jadallah Safa sofreu, nesta quinta-feira à tarde na Santa Casa de São Paulo, cirurgia para retirada de coágulo no cérebro depois de sofrer um AVC hemorrágico durante o ato público realizado em solidariedade ao povo palestino na capital paulista. Seu quadro é considerado estável e deverá passar, no Centro de Terapia Intensiva da Santa Casa, por 72 horas de observação, sedado, e por nova tomografia para avaliar seu quadro clínico, aparentemente bom para quem enfrentou um pico de hipertensão arterial.

Jadallah, irmão do atual presidente da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira de Corumbá, Munther Safa, e do comerciante Nasser Safa, há mais de quarenta anos dedicado à causa palestina (desde o tempo em que morava e trabalhava em Corumbá, na década de 1980), estava fazendo a sua intervenção na ordem de fala do ato público, quando começou a se sentir mal, sendo socorrido por um amigo, Nohmen Ismaili, que se encontrava próximo a ele. Imediatamente, recorreu a médicos presentes à concentração, que, ao perceber o pico de hipertensão arterial, chamaram o SAMU, mas pela demora, acabaram por levá-lo em carro particular a um pronto-socorro das imediações.

Confirmado o AVC hemorrágico, foi internado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, tendo sido submetido a uma primeira tomografia nesta quarta-feira, dia 12 de outubro, e mais tarde sendo levado ao centro cirúrgico da Santa Casa. A cirurgia foi concluída às 18 horas, considerada bem-sucedida, tendo sido agendada outra tomografia para esta sexta-feira, dia 13 de outubro. Nessa oportunidade será avaliada, em profundidade, a extensão do problema causado pelo AVC e qual tratamento a ser seguido para reverter as eventuais sequelas do pico agudo de hipertensão.

Munther Safa já se encontra na capital paulista e está acompanhando, ao lado da esposa de Jadallah, a evolução do quadro. Segundo ele, em mensagem à família e à comunidade, o médico deu um panorama bastante otimista e ele, conhecendo a capacidade de luta do Irmão, pede para que Amigos e Amigas, familiares e pessoas de boa vontade façam uma corrente de orações e pensamento positivo para que logo possa retomar suas atividades.

Nely Safa, irmã de Jadallah, Munther e Nasser, também comerciante, repete o pedido do irmão e lembra que esse ativista incansável, durante o tempo em que morou e trabalhou em Corumbá, realizou os maiores eventos em toda a história da comunidade local, entre eles, a I Mostra da Cultura Árabe-Palestina de Corumbá (entre 30 de junho e 30 de setembro de 1987, na Biblioteca Pública Estadual Doutor Gabriel Vandoni de Barros, Casa de Cultura Luiz de Albuquerque, ILA, com a presença do secretário de Estado da Cultura, Humberto Espíndola, e do Diretor-executivo da Fundação de Cultura de Mato Grosso de Sul, Cândido Alberto da Fonseca, com o fundamental apoio técnico da Professora Mestre Elenir de Mello Alves, na época biblioteconomista responsável pela biblioteca do ILA).

Ahmad Schabib Hany

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

DATA VÊNIA, DOUTOR ULYSSES!

Data vênia, Doutor Ulysses!

12 de outubro de 1992. Depois de liderar o impeachment do fascistoide que, com trapaças, venceu as primeiras eleições pós-1964, verme que se dizia caçador de marajás (ou seria maracujás?), o Doutor Ulysses da Silveira Guimarães desaparece no mar ao sofrer um acidente fatal com Dona Mora, sua eterna Companheira; o grande Severo Fagundes Gomes, democrata a toda prova; Dona Henriqueta, Companheira do ex-senador, e o piloto Jorge Comemorato, cujos corpos foram resgatados do mar.

Passaram-se 31 anos do acidente que curiosa e inexplicavelmente surrupiou a existência protetora do Estado Democrático de Direito em 1992 do Deputado Ulysses da Silveira Guimarães, depois de ter liderado a mobilização popular pelo impeachment da segunda maior farsa (a primeira foi Jânio, e a terceira o inominável, e agora inelegível). Estadista por excelência, e por isso odiado pelas elites canhestras deste país-continente, o Doutor Ulysses, ou Senhor Democracia, foi o responsável pela transição inabalável para instalar a Democracia plena no Brasil, sob todo tipo de pressão e difamações. 

Nós, que tivemos a sorte de tê-lo bem próximo de nós em 1982 (eleição do Doutor Wilson Barbosa Martins para governador), 1983 (campanha das Diretas-Já), 1984 (campanha no Colégio Eleitoral Tancredo Presidente) e 1989 (campanha presidencial Ulysses Presidente, em sua vinda a Corumbá no primeiro-turno), podemos dizer que se tratava de um homem sincero e totalmente despido de ambições pessoais. O projeto de construir a Democracia a qualquer custo, assegurar a Soberania Popular e Nacional e romper com a dependência com o FMI (Fundo Monetário Internacional) era sua maior obsessão.

Quando se comemoram os 35 anos da Constituição Federal, a Constituição Cidadã, neste 5 de outubro de 2023, temos que fazer a devida homenagem à honrada memória do Doutor Ulysses Guimarães, cuja ausência do panorama político nacional tem prejudicado muito a garantia da defesa dos interesses maiores da população brasileira, como no caso das perversidades promovidas pelos ratos do baixo clero que também atendem pelo apelido de centrão, além das hordas de hienas famintas constituídas de fascistas declarados e que haverão de responder pelos crimes de lesa-humanidade tão logo chegar a sua hora.

O texto a seguir, postado em 2018, é uma modesta homenagem ao grande brasileiro que nos ensinou tanto em tão pouco tempo. Esta homenagem ocorre três dias depois da eternização de outro grande brasileiro, Dom Mauro Morelli, Arcebispo de Nova Iguaçu e São João de Meriti (Baixada Fluminense), ex-presidente do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar), por meio do qual deu suporte institucional à Campanha Contra a Fome, como foi conhecida popularmente a Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida (ou, simplesmente, Ação da Cidadania) no Governo Itamar Franco, com a bela participação do Sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, inspirador e grande mobilizador da campanha em todo o Brasil, eternizado no mesmo período de Darcy Ribeiro e Paulo Freire, todos eles de saudosa memória.

DATA VÊNIA, DOUTOR ULYSSES! 

Ainda que o presidente nanico da mais alta corte da Justiça brasileira tenha apequenado o Estado Democrático de Direito e, mais uma vez, permitido que a Constituição Federal de 1988 fosse mais uma vez estuprada, reverberam em nossas consciências os brados do maior democrata que esta nação testemunhou, no exato momento em que a Constituição Cidadã era promulgada, e cuja síntese é esta: “A sociedade foi Rubem Paiva, não os facínoras que o mataram...”

Perdoe-os, Doutor Ulysses. Eles não sabem o que fazem... Os dois últimos presidentes do STF preferiram estar ao lado dos facínoras que mataram Rubem Paiva, não há dúvida. Mas temos ainda brasileiros da magnitude de Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. Apenas, mas temos. Porque não se apequenam. Porque não têm medo da farda. Não têm medo do coturno. Não têm medo de tanques. Como o povo brasileiro, que, quando se cansar de toda essa farsa, não temerá cercos, cercas, baionetas, cassetetes, bombas de efeito moral ou balas de borracha, e até as reais.

O Doutor Ulysses, aquele mesmo senhor que ousou ser anticandidato em 1973, em pleno período sombrio da ditadura de Emílio Garrastazu Médici, tendo como mote uma estrofe de Fernando Pessoa, “navegar é preciso, viver não é preciso”. O mesmo que, em 1989, com a lealdade que lhe era peculiar, apoiou o candidato metalúrgico contra o caçador de maracujás, digo, marajás (mas onde estão os marajás neste país cujas elites padecem de complexo de vira-latas?), depois de ter sido vítima da deslealdade daqueles que se locupletaram da democracia recém-conquistada. Pois é, mesmo humilhado por uma inexpressiva votação em sua última eleição parlamentar, em 1990, teve a altivez de encabeçar o movimento dos caras pintadas e apoiar o necessário processo de impeachment contra Collor, a segunda grande farsa (a primeira havia sido Jânio, e a terceira é Bolsonaro).

Se fizermos memória e relembrarmos as ironias do mequetrefe pena de aluguel, sabujo de última da famiglia proprietária da maior máquina de propaganda cuja concessão deveria ter sido cassada pelos desserviços cometidos contra a nação, Alexandre Garcia, quando o nomeou de “tetrapresidente” com o único afã de desmoralizá-lo, eis que o veterano político jamais caíra nas graças desses meliantes serviçais do império. E qual não foi a satisfação com que cobriram o (sic) “desaparecimento” de seu corpo nas águas do Oceano Atlântico, em 12 de outubro de 1992, dias depois do impeachment de Collor, o candidato daquela família nefasta?

Pois bem, para o(a)s pouco(a)s que leem nestes tempos de analfabetismo cerebral (não mais funcional, pois são os/as portadores/as de “diplomas” os/as que mais têm dificuldade de depreender o que têm diante de si), deixo a íntegra do pronunciamento de Ulysses Guimarães no ato solene de promulgação da Constituição Federal de 1988, como um réquiem para nossa finada Democracia, pelos que deveriam protegê-la, preservá-la e fazer valer. Mas, como dizia Millôr Fernandes, naqueles anos de chumbo e gemidos: “‘Em terra de cegos, quem tem um olho é rei.’ Mas que tinha os dois jaz a sete palmos.”

“Senhoras e senhores Constituintes, minhas senhoras e meus senhores! Dois de fevereiro de 1987. Ecoam nesta sala as reivindicações das ruas. A nação quer mudar, a nação deve mudar, a nação vai mudar. São palavras constantes do discurso de posse como presidente da Assembleia Nacional Constituinte. Hoje, cinco de outubro de 1988, no que tange à Constituição, a nação mudou. A Constituição mudou na sua elaboração, mudou na definição dos Poderes, mudou restaurando a Federação, mudou quando quer mudar o homem cidadão, e é só cidadão quem ganha suficiente salário, lê e escreve, mora, tem hospital e remédio, lazer quando descansa, num país de trinta milhões, quatrocentos e trinta e um mil analfabetos, afrontosos vinte e cinco por cento da população, cabe advertir: a cidadania começa com o analfabeto. Chegamos, esperamos a Constituição, como vigia espera a aurora.”

“A nação nos mandou executar um serviço: nós o fizemos com amor, aplicação e sem medo. A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim; divergir, sim; descumprir, jamais; afrontá-la, nunca! Traidor da Constituição é traidor da Pátria! Conhecemos o caminho maldito: rasgar a própria Constituição, trancar as portas do Parlamento, cercear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, para o exílio, para o cemitério.”

“Quando, após anos de lutas e sacrifícios, promulgamos o Estatuto do homem, da liberdade, da democracia, bradamos por imposição de sua honra: temos ódio à ditadura -- ódio e nojo! --, amaldiçoamos a tirania, onde quer que ela desgrace homens e nações, principalmente na América Latina! Foi a audácia inovadora a arquitetura da Constituinte, recusando anteprojeto forâneo ou de elaboração interna. O enorme esforço é dimensionado pelas 61.020 emendas, além de 122 emendas populares, algumas com mais de um milhão de assinaturas, que foram elaboradas, publicadas, distribuídas, relatadas e votadas, do longo trajeto das subcomissões à redação final.”

“A participação foi também pela presença, pois diariamente cerca de 10 mil postulantes franquearam livremente as onze entradas do enorme complexo arquitetônico do parlamento à procura dos gabinetes, comissões, galeria, salões... Há, portanto, representativo e oxigenado sopro de gente, de rua, de praça, de favela, de fábrica, de trabalhadores, de cozinheiras, de menores carentes, de índios, de posseiros, de empresários, de estudantes, de aposentados, de servidores civis e militares, atestando a contemporaneidade e autenticidade social do texto que ora passa a vigorar...”

“Como caramujo, guardará para sempre nas costas o bramido das ondas de sofrimento, esperança, reivindicações de onde proveio. Nós, os legisladores, ampliamos nossos deveres, teremos de honrá-los. A Nação repudia a preguiça, a negligência, a inépcia. Soma-se à nossa atividade ordinária, bastante dilatada, a edição de 56 leis complementares e 314 leis ordinárias. Não esquecemos de que na ausência da lei complementar os cidadãos poderão ter o provimento suplementar pelo mandado de injunção. Tem significado de diagnóstico, a constituição terá largado o exercício da democracia em representativa além de participativa -- é o clarim da soberania popular indireta, tocando no umbral da Constituição, para ordenar o campo das necessidades sociais.”

O povo passou a ter a iniciativa de leis. Mais do que isso, o povo é um superlegislador, habilitado a rejeitar pelo referendo projetos aprovados pelo parlamento. A vida pública brasileira será também fiscalizada pelos cidadãos, do presidente da república ao prefeito, do senador ao vereador. A moral é o cerne da pátria. A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune toma nas mãos de demagogos que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam! Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública.”

“Não é a Constituição perfeita: se fosse perfeita, seria irreformável. Ela própria, com humildade e realismo, admite ser reformada, remendada, até por maioria mais acessível, dentro de cinco anos. Não é a Constituição perfeita, mas será útil, pioneira, desbravadora: será luz, ainda que de lamparina, na noite dos desgraçados...”

“É caminhando que se abrem os caminhos! Ela vai caminhar e abri-los. Será redentor o caminho que penetrar nos bolsões sujos, escuros, ignorados da miséria! A sociedade sempre acaba vencendo, mesmo ante a inércia ou antagonismo do Estado. O Estado era Tordesilhas. Rebelada, a sociedade empurrou as fronteiras do Brasil, criando uma das maiores geografias do mundo. O Estado, encarnado na metrópole, resignara-se ante a invasão holandesa no Nordeste. A sociedade restaurou nossa integridade territorial com a insurreição nativa de Tabocas e Guararapes, sob a liderança de André Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e João Fernandes Vieira, que cunhou a frase da preeminência da sociedade sobre o Estado: "Desobedecer El-Rey para servir a El-Rey." O Estado capitulou na entrega do Acre, a sociedade retomou com as foices, os machados e os punhos de Plácido de Castro e dos seus seringueiros.”

“O Estado prendeu e exilou, a sociedade, com Teotônio Vilella, pela anistia libertou e repatriou. A sociedade foi Rubem Paiva, não os facínoras que o mataram... Foi a sociedade mobilizada nos colossais comícios das Diretas Já e pela transição e pela mudança derrotou o Estado usurpador. Termino com as palavras com que comecei esta fala: a nação quer mudar, a nação deve mudar, a nação vai mudar! A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade política da sociedade rumo à mudança... Que a promulgação seja o nosso grito: mudar para vencer! Muda, Brasil!...”

Data vênia, Doutor Ulysses!

Ahmad Schabib Hany

NA MEMÓRIA E NO CORAÇÃO: SEU JORGE KATURCHI, O JOVEM DE 95 ANOS

Na memória e no coração: Seu Jorge Katurchi, o jovem de 95 anos

Neste 11 de outubro transcorre o 97º aniversário natalício do querido Amigo-Irmão-Companheiro carinhosamente chamado de Seu Jorge Katurchi, que no último dia de janeiro deste ano se eternizou, depois do agravamento de sua saúde, apesar da fortaleza que sempre foi.

Neste dia 11 de outubro de 2023, transcorre o 97º aniversário natalício do querido Amigo-Irmão-Companheiro carinhosamente chamado de Seu Jorge Katurchi, que no último dia de janeiro deste ano se eternizou, depois de sofrer com o agravamento de seu quadro de saúde, apesar da fortaleza que sempre foi. Ainda que vivamos este momento de consternação e angústia com o drama da população palestina, sobretudo na Faixa de Gaza, reduzida a verdadeiro campo de extermínio, desde cedo lembramos com saudade e profundo carinho da sempre iluminada presença do Senhor Jorge José Katurchi, um cidadão a toda prova, apaixonado por Corumbá e seu hospitaleiro e cosmopolita povo. Foi com essa identidade comum que fortalecemos nossa Amizade (com letra maiúscula) desde o início da década de 1990, que nos últimos tempos não conseguíamos ficar muito tempo sem trocar longamente, nem que fosse ao telefone, ideias, opiniões e, sobretudo, "planos para o futuro", sempre na luta por um mundo melhor.

Em sua homenagem, republico o texto com que o saudamos em Vida, há dois anos, quando de seu aniversário de 95 anos, observando que nosso encontro pessoal (aliás, familiar, pois estavam conosco Solange, Omar e Sofia) derradeiro ocorreu há precisamente um ano, quando comemorava seus 96 de intensa e alegre existência iluminada entre nós. Não esqueço de seu carinhoso abraço (acompanhado de beijo fraternal, bem ao estilo árabe) com que se despediu de nós.

A toda a sua querida e sempre lembrada Família, em particular à Doutora Tereza Katurchi Exner (com o Doutor Walter Exner e estimadas Filhas), ao igualmente querido José Eduardo Maldonado Katurchi (com o estimado José Katurchi, o querido Zequinha e Família) e o meu querido Professor há cinco décadas, Irmão de Seu Jorge, Doutor Luiz Carlos Katurchi (com seus Filho e Filha), nossos fraternais e vívidas saudações afetuosas, sempre com a iluminada Presença da querida Dona Anna Thereza, Dona Rosa Maria e os Patriarcas Seu José e Dona Amélia, na memória e no coração.

 

SEU JORGE KATURCHI, O JOVEM DE 95 ANOS

Do alto de seus 95 anos de muito trabalho, convicções sólidas, conquistas, alegrias, tristezas e perdas pessoais, o Patriarca da Família Katurchi nos ensina a conexão com a realidade. Neste dia 11 celebra seu aniversário com muita lucidez e sensibilidade.

O Senhor Jorge José Katurchi celebra no mesmo dia da divisão de Mato Grosso e criação de Mato Grosso do Sul seus 95 anos, com lucidez invejável e sensibilidade incontida. Ele costuma se justificar a todo interlocutor que o flagra com os olhos marejados: “Desculpe meu jeito, mas é que sou chorão mesmo...”

Seu Jorge aportou em Corumbá aos 5 anos de idade, na companhia de Dona Amelia Abraham Katurchi, sua saudosa Mãe, e Dona Rosa Maria Katurchi, sua Irmã mais velha, ao encontro de Seu José Katurchi, o Pai, que se instalara no à época próspero entreposto comercial que ligava a América do Sul ao Mundo já com a célebre grife Casa Katurchi, que chegou aos 90 anos de atividades ininterruptas no coração do quadrilátero central de Corumbá, e cujo encerramento ocorreu no mesmo ano em que o saudoso Mário Márcio Maldonado Katurchi, o filho do meio, se eternizou.

Cidadão a toda prova, apaixonado por Corumbá desde tenra juventude: depois de ter feito o serviço militar em sua terra, a Argentina, onde recebera propostas tentadoras, irrecusáveis, para permanecer por lá, estava convencido de que há, sim, paraíso na Terra, e para lá teria que retornar. E foi logo premiado com sua cara metade, a querida e saudosa Dona Anna Thereza de Copacabana Rondon Maldonado Katurchi, Companheira de Vida, de sonhos e de luta, Mãe de seus três Filhos - José Eduardo, Mário Márcio e a Doutora Tereza Cristina - e parceira incondicional em suas iniciativas cidadãs, que se eternizou em 2017.

Aluno do Colégio Salesiano de Santa Teresa, Seu Jorge foi contemporâneo de diversos homens públicos, de diferentes posições políticas e ideológicas: os saudosos Armando Anache, Eldo Delvizio, Walmir Provenzano, Ney Philbois e José Mirha, entre tantos não menos importantes e igualmente Amigos. Interessante é que, apelidado de Perón por causa da simpatia pelo caudilho argentino (ainda que no Brasil fosse declarado apoiador da UDN do Brigadeiro Eduardo Gomes), Seu Jorge nunca discriminou amizades de todo o gradiente político, de dentro e fora do Brasil.

Ele conta que, recém-casado, encontrava-se em Cáceres, terra-natal de Dona Anna Thereza, quando encontrou o Doutor José Mirha, seu velho contemporâneo de Santa Teresa. Não pensou duas vezes para chamá-lo pelo apelido, “Zé Borracha”. Baixinho, o velho Amigo pediu para que guardasse o apelido, pois em Cáceres ele era Promotor de Justiça. Nada que tivesse abalado a velha Amizade que atravessou décadas e que toda vez que o Doutor José Mirha estava de férias aproveitava de visitá-lo e dar boas gargalhadas.

Quando o regime de 1964 se abateu sobre a vida nacional, o Promotor José Mirha e outros simpatizantes da esquerda da época se viram em apuros. Diplomaticamente, bem ao seu estilo discreto mas efetivo, Seu Jorge encontrou interlocutores que ouviram as oportunas ponderações dele em defesa dessas pessoas de bem, punidas apenas por terem ideais diferentes dos novos detentores do poder. Foi também o que aconteceu com o emblemático advogado, Doutor Amorésio de Oliveira, quando esteve detido por algum tempo assim que a ‘redentora’ foi instalada no país.

Seu Jorge sempre soube lidar com polidez e gentileza as diferenças. Lembra com riqueza de detalhes do inesquecível Professor Fragoso, de Matemática. Amigo de sua Família, não deixava de frequentar a casa de Seu José e Dona Amélia. Irmão do lendário dirigente comunista Apolônio de Carvalho, o Professor Fragoso era muito culto e respeitador das ideias liberais de Seu Jorge, tanto que nunca o convidou a qualquer reunião ou atividade de sua organização. Como com os anteriores, em 1964 ofereceu ajuda para poupá-lo de maiores constrangimentos.

Amigo do engenheiro Pedro Pedrossian desde os tempos em que trabalhara na Noroeste do Brasil e periodicamente visitava sua residência, Seu Jorge também tinha relações de Amizade com a Família do Doutor Wilson Barbosa Martins, cassado pelo regime de 1964, e que diversas vezes visitou ao longo de sua Vida, antes e depois do período em que teve seus direitos políticos cassados. Tanto com Pedrossian como com o Doutor Wilson soube manter uma relação de respeito e, sobretudo, de defesa dos interesses de Corumbá, tanto que toda vez em que a cidade era objeto de alguma obra ou questão, recebia emissário do governo para ouvir seu parecer.

Quando o Pacto Pela Cidadania foi constituído, em 1994 (final do governo derradeiro de Pedro Pedrossian), Seu Jorge Katurchi desempenhou um papel estratégico na articulação com as autoridades do estado. A pedido de Dom José Alves da Costa e do Padre Pasquale Forin, Seu Jorge se incumbiu dos contatos preliminares, o mesmo tendo feito quando do agendamento da caravana do Pacto em Campo Grande, já no último governo do Doutor Wilson Barbosa Martins, cuja secretária particular era a Dona Neusa Chacha, esposa do Professor João Jorge Chacha, ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, primo de Seu Jorge. Humilde e discreto, manteve os contatos com prudência e zelo, mas em Campo Grande foi centro das atenções na longa agenda cumprida na capital.

Da mesma forma, quando o governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, exerceu seus dois mandatos, Seu Jorge recebia com primazia determinadas informações de interesse da região, em especial de Corumbá. Entre as inúmeras, de cujas reivindicações foi porta-voz, o financiamento da construção do Cristo Rei do Pantanal, por Dona Izulina Gomes Xavier. Como o Pacto Pela Cidadania é um espaço público e não tem personalidade jurídica constituída (CNPJ), o presidente do Lions Clube de Corumbá, o saudoso Carlos Alberto Machado, foi o gestor dos recursos enviados pelo estado. Porém e lamentavelmente, da placa não consta o nome de Seu Jorge, incansável e maior articulador dessa iniciativa.

Mas como presidente desse mesmo clube de serviços, uma década antes, e tendo como seu secretário o saudoso Professor Sérgio Freire, Seu Jorge Katurchi foi contemplado com um diploma que é um verdadeiro prêmio de reconhecimento internacional: o de “Presidente Cem por Cento”, obtido num certame entre todos os Lions sediados em países de língua portuguesa, fato que muito o lisonjeia. Como democrata, compartilha a honra ao mérito com todos os membros de sua diretoria, cujos nomes não esquece. Uma memória privilegiada.

Aliás, u’a memória fotográfica, do alto de seus 95 anos, celebrados no mês em que a Constituição Federal de 1988 foi promulgada (dia 5) e que hoje chega aos 33 anos; que o memorável democrata que dirigiu a Assembleia Constituinte, Doutor Ulysses Guimarães, fazia aniversário (dia 6); que o grande estadista brasileiro do século XXI, Luiz Inácio Lula da Silva, faz aniversário (dia 6); que o nosso saudoso Amigo, o Padre Ernesto Sassida, comemorava seu aniversário, no Dia dos Professores e Professoras (dia 15), neste País-continente que tem na Educação o passaporte para a emancipação de seu laborioso Povo hospitaleiro, que acolheu sua Família de imigrantes, como a minha Família, cujo saudoso e querido Patriarca, Mahoma Hossen Schabib, também celebrava seu aniversário (dia 1º).

Com a habilidade de um diplomata e a argúcia de um político veterano, Seu Jorge tem sido um baluarte das grandes causas de Corumbá e do Pantanal. No entanto, costuma agir com discrição, razão pela qual tem sido vítima de uma invisibilidade injusta. Não que ele precise de holofotes, mas perante a história e o domínio público as louváveis iniciativas por ele protagonizadas têm que ser registradas e reconhecidas. Lembrando que sem ter sido, ao longo de sua Vida, detentor de cargo público. É justo e necessário que isso seja feito. Afinal, trata-se de um jovem de 95 anos, e com muita conexão com a realidade.

Parabéns, Seu Jorge Katurchi! Vida longa e muita saúde, que, como nunca, precisamos de sua lucidez e cosmopolitismo para assegurar um porvir alvissareiro para as gerações futuras de corumbaenses e ladarenses, natos ou por opção (como o Senhor), ávidos por horizontes largos e majestosos como o Rio Paraguai, mais uma vítima da usura, cobiça e insensatez sem limites.

Ahmad Schabib Hany

Prezado amigo Schabib,

Ao término da leitura de seu maravilhoso texto, meus olhos fizeram água.
O amigo descreveu, com a elegância de suas letras, uma trajetória de honradez e ética que sempre caracterizou a vida do nosso pai, Jorge José Katurchi, e que é a nossa maior herança.

Muito, muito obrigada.

Abraços para o amigo e toda a sua querida família.

Estimada Doutora Tereza,

É uma honra privar da Amizade sincera e vibrante do grande Amigo que é Seu Jorge Katurchi (e de sua querida Família), de modo que receber mensagem da Filha que é o amálgama de um Amor emblemático e perene do Casal, que não só se completou como multiplicou a generosidade e a retidão de caráter, é um alento nestes sombrios e mesquinhos tempos.

Tomei a liberdade de dizer, dias atrás, a Seu Jorge que precisamos nos cuidar para comemorarmos os seus 100 anos, uma festa digna de um Cidadão à frente de seu tempo. Sua lucidez, conexão com a realidade e vontade de viver são o segredo de sua juventude vigorosa e salutar.

Nossa Família, sobretudo as Crianças, são seus fãs, ao extremo de chamá-lo de "Você" com a maior desenvoltura, tamanha a Amizade entre eles. Isso me entusiasma e me conforta: o entusiasmo é por conta dessa verdade; o conforto se deve à imprevisibilidade destes angustiantes momentos vividos no País, cujo Povo laborioso e hospitaleiro é a maior vítima.

A nossa esperança são as pessoas que, como Seu Jorge, têm a capacidade transformadora e a eterna chama juvenil que não cessa jamais na certeza de colher as conquistas merecidas.

Grande abraço a toda a sua querida Família!

Ahmad Schabib Hany