Márcio Nunes Pereira presente!
Diretor
do combativo Diário
de Corumbá, Márcio se eternizou
precocemente. Jornalista com raro faro de repórter, não parecia ser patrão, mas
um humilde colega que aparentava deixar-se levar pelos critérios de seus jovens
colaboradores.
Nascido no
Dia dos Reis Magos, o saudoso Márcio Nunes Pereira era Filho do Jornalista
Carlos Paulo Pereira -- que, depois de ter trabalhado por décadas a fio como
redator-chefe do O Momento, matutino
conservador ligado à UDN (União Democrática Nacional), decidiu fundar o Diário de Corumbá --, e Irmão caçula de
pelo menos três Jornalistas, desses que nos sentimos obrigados a grafá-los com
letra maiúscula: Ronei, Carlos Paulo Junior e Valdir.
Tive o
privilégio de conhecê-lo ainda adolescente, pois meu saudoso Pai era Amigo do
igualmente saudoso Pai dele e, lembro-me como se fosse hoje, desde 1970
costumava levar seus manuscritos em espanhol à Redação, então localizada à rua
Antônio João, ao lado do Café São Paulo, da Família Darmanceff. A propósito da
eternização de Gamal Abdel Nasser, em 28 de setembro de 1970, meu Pai fez um
memorável artigo, quando o acompanhei até o jornal e vi o jovem Márcio
trabalhando na gráfica do jornal.
Assim como
Márcio, o Diário de Corumbá também
‘nasceu’ no Dia dos Reis Magos, mas 14 anos depois. O Caçula de Seu Carlos
Paulo já era adolescente quando o matutino foi para as ruas pelas mãos de um
numeroso grupo de jornaleiros experientes, que antes de sair do prédio recebiam
uma ‘resenha’ da edição, com destaque para a manchete da edição, o tema da
crônica de ‘Tia Fifina’ (heterônimo do fundador e primeiro diretor do jornal)
e, obviamente, as notícias policiais, que ajudavam muito nas vendas.
No período
em que o fundador dirigiu o Diário de
Corumbá o jornal tinha característica bem cosmopolita: de ascendência
portuguesa, o Seu Carlos Paulo se iniciou na imprensa cuiabana, onde trabalhou
por muitos anos. Ainda jovem foi contatado por um dos donos de O Momento, razão pela qual se mudou para
Corumbá, tendo assumido a chefia de redação do mais conservador dos jornais
corumbaenses, até ter condições de fundar o seu próprio jornal e dar a linha
editorial pluralista e inovadora, que os Filhos seguiram.
Por isso costumo
dizer que o primeiro jornal corumbaense a publicar artigos em espanhol foi o Diário de Corumbá. Havia ao ano pelo
menos duas edições bilingues (português-espanhol), uma no dia 27 de maio (Dia
de la Madre, na Bolívia, em homenagem às Mães que protagonizaram a primeira
gesta libertária contra os colonizadores espanhóis, por essa razão não há
cidade importante boliviana que não tenha uma rua ou avenida “Las Heroínas” ou
“Heroínas de la Coronilla”) e a outra no dia 6 de agosto (Día de la Patria, em
homenagem à Proclamação da Independência, em 1825).
Somente
depois da eternização de meu Irmão Mohamed, em 1974, meu Pai me deu a oportunidade
de traduzir seus artigos, bem como às minhas Irmãs. Meu Pai era um homem à
frente de seu tempo e se identificara muito com o Seu Carlos Paulo Pereira, que
como patriarca de uma prole fazia com que seus Filhos se iniciassem no ofício,
sempre com humildade, sem qualquer privilégio em relação aos trabalhadores do
jornal.
Como bem me
lembrou nestes dias o querido Amigo-Irmão Edson Moraes, em 1975, ano em que
nossa Amizade se iniciou, o Diário de
Corumbá era, além de uma Redação de jornal, um ponto de encontro de jovens
desassossegados, no dizer do eterno Fernando Pessoa. Por isso também uma escola
de Jornalismo, num tempo em que Mato Grosso não tinha nenhum curso de
Comunicação Social para a formação profissional de inúmeros jovens ávidos por
ingressar no ofício por meio da academia.
Em Mato
Grosso do Sul isso foi acontecer em 1989, graças à luta do Sindjor/MS (Sindicato
dos Jornalistas Profissionais) -- entre eles o incansável Edson Moraes, ao lado
de nosso conterrâneo Luiz Taques, Luiz Gonzaga Bezerra, Ivan Pacca, Edson
Silva, Flávio Teixeira, Mário Ramires, Márcio Licerre, Dante Filho e com a
participação indispensável de grandes Jornalistas mulheres, como Margarida
Marques, Lúcia da Silva Santos, Maria Cristina Ataíde, Margarida Galeano, Kátia
Seleguim, Ecilda Stefanello, Sueli Bacha, Marília Leite, Rosa Bezerra, Neusa
Santana e Cristina Pacca --, que desde sua fundação, em 1980, levantou essa
bandeira e não arredou pé para que a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul) oferecesse com primazia, por ser na época a única pública.
Não tive
oportunidade de ler a íntegra da História do Curso de Jornalismo da UFMS, mas é
imprescindível dar os créditos ao então presidente do Sindjor/MS, Jornalista
Edson Silva (um de seus primeiros docentes), com o efetivo protagonismo do
saudoso Professor Jair Madureira, reitor da UFMS, e de seu chefe de gabinete, o
também saudoso Professor Octaviano Gonçalves da Silveira Junior. Sua
articulação se iniciou em Corumbá, durante a realização do VI SEPE (Seminário
de Ensino, Pesquisa e Extensão), sob a coordenação colegiada dos Professores
Gilberto Luiz Alves, Valmir Batista Corrêa, Arnaldo Yoso Sakamoto, Gisela
Levatti Alexandre, Edy Assis de Barros e Lúcia Salsa Corrêa. O evento na época
foi comparado por um diretor do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico) a uma “mini-SBPC” pela abrangência de temas tratados,
conforme então a imprensa (Diário de
Corumbá, Jornal da Manhã e Correio do Estado) registrou.
Tal como seu diretor derradeiro, o Diário de Corumbá é referência
insuspeita para quem quiser pesquisar em jornais o período de 1969 a 2005,
sobretudo entre 1984 e 1997, pois Márcio Nunes Pereira praticamente refundou o
jornal, resgatando a linha editorial que o fundador tinha adotado. Não se pode
escrever sobre a Corumbá do século XX sem buscar em hemerotecas públicas e
particulares exemplares das edições memoráveis sob a digna e corajosa direção
do Filho caçula do Jornalista Carlos Paulo Pereira. Não por acaso o Professor
Valmir Batista Corrêa, Historiador (com letra maiúscula) responsável pela
sistematização da historiografia de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e,
especialmente, Corumbá e Ladário, ao lado de sua Companheira de Vida, a
Historiadora Lúcia Salsa Corrêa, tem muitas obras referenciadas no jornal que
traz abaixo de seu título “Um jornal se mede pelas verdades que diz”.
Neste Dia dos Reis Magos celebremos,
pois, a presença iluminada do grande Jornalista e verdadeiro Amigo-Irmão Márcio
Nunes Pereira, cuja eternização deixou uma lacuna no Jornalismo Investigativo,
sobretudo, por meio de seu modesto mas gigante Diário de Corumbá. Dona Margareth Mattas Pereira e Paulo Mattas
Pereira, o querido Paulinho, o Filho do casal, recebam o fraternal abraço neste
emblemático dia, que jamais passará despercebido.
Ahmad Schabib Hany
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