quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

É VIDA DE GADO? GADO É QUE NÃO É! (Estela Scandola)

É vida de gado? Gado é que não é!

Eh, oh, oh, vida de gado
Povo marcado, eh!
Povo feliz!

Um dos equívocos político, simbólico e de falta de estudo da psicologia das massas foi designar o povo da ultra-direita, defensores da necropolítica de ser “GADO”.

https://valor.globo.com/politica/noticia/2022/11/02/manifestaes-em-frente-a-quartis-so-da-esfera-da-segurana-pblica-diz-fonte-militar.ghtml

NÃO O SÃO!

Os primeiros que iniciaram a denominação o fizeram a partir de parte da letra e voz dos Ramalhos

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal

Letra feita em 1979, auge da ditadura e das resistências, com certeza o Zé quis falar do povo que seguia a labuta com uma falsa normalidade que estavam nas rádias e nos jornais. E agora o que ouvem e vêem é das redes sociais em que as rádias e os jornais são dominados pelo próprio povo dos de cima. Mas não quaisquer seres dos de cima, mas é dos de cima que gosta do cheiro de morte dos de baixo. Seria gado esse povo? NÃÃÃÃÃOOOOOO!

Oh, boi!
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber

Oh, boi!!!! É também uma vaca que percebe, reconhece que caminha e trabalha e não se vê nos projetos do futuro! E, TEM CONSCIÊNCIA que dá muito mais do que recebe. Sabe da exploração capitalista, sabe da venda da força de trabalho e portanto, tem consciência da classe que “dispõe da força” e os outros dos instrumentos de produção.

https://valor.globo.com/politica/noticia/2022/11/02/manifestaes-em-frente-a-quartis-so-da-esfera-da-segurana-pblica-diz-fonte-militar.ghtml

E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer

Teria o Zé a iluminação de falar do povo que segue em frente, demonstrando coragem mesmo com sentimentos tão difíceis? Acho mesmo que ele falava do esperançar freiriano que vislumbrava um mundo diferente em meio à desgraceira. E, numa análise marxista fala da crise permanente do capitalismo, a ferrugem que lhe come.

Mas o intrigante mesmo é

Eh, oh, oh, vida de gado
Povo marcado, eh!
Povo feliz!

A vida de gado é a vida que os dominantes esperam que seja a vida dos de baixo, como diria o Florestan Fernandes. MAS NÃO É GADO.

Fonte: BCC 12 de Janeiro

O povo marcado pelo capitalismo é para nascer, trabalhar e morrer na mesma condição, ou seja, marcados a ferro, dominados pelo arame farpado, colocados no brete para servir à civilização capitalista e enviado, com raras exceções, ao setor de matança dos frigoríficos.

E aí é que a música traz a condição humana. Mesmo considerado gado, tem consciência da exploração e É FELIZ! Não alegria insconciente, mas da alegria do viver apesar do sofrer e saber do sofrer.

Nem quero falar do Audoux Huxley que li lá quando tinha uns 25 anos ou do Boetie… ambos falando da felicidade sendo proporcionada pelos governos para dominar o povo… EU SEI, MAS QUERO FALAR DA ALEGRIA REVOLUCIONÁRIA!

A alegria como sentimento revolucionário não é do gado, É DE GENTE! Desculpem-me os mal humorados que escondem a alegria… mas a alegria é alegremente alegrante da revolução…

E, esse grupo minoritário, mas não pequeno, é cheio de gente TRISTE E RAIVOSA que é dos de cima que se engordou com gentes do meio e dos de baixo. Tem sentimentos e atitudes de gentes que querem a morte da classe trabalhadora que é feliz, odeiam os que tem consciência da exploração e quer direitos, desprezam os alegres e saltitantes que choram e cantam seus mortos… sobretudo são perversos com os demais humanos que não sejam eles, NÃO PODE SER CHAMADO DE GADO!

https://www.dn.pt/internacional/manifestantes-bolsonaristas-invadem-congresso-e-seguem-para-o-palacio-do-planalto-15621352.html

E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
É o Brasil!

Esses seres humanos que abriram mão de parte da sua humanidade, que não se permitem ser solidários, fraternos, amorosos, utópicos…. vivenciam o seu lado mais boi que é a força bruta, a irracionalidade, o coice, a dureza das relações… e se não forem bois e vacas de raça ou reprodutores valiosos, irão para o brete ou ficarão nos currais à espera do abate.

Ficarão demorados ali à beira da estrada da história e nem vão ser felizes. Suas consciências não lhes permitirão alegria e dança. Como diz Paulinho, a consciência dói e, então, como não aprenderam a viver alegria e dor juntas e seguir a vida, vão ser triste com o passado como verdade.

Eh, oh, oh, vida de gado
Povo marcado, eh!
Povo feliz!

Eh, ohohohoh, vida de gado,

Povo marcado eh… é povo feliz!

Que a gente não deixe que os sentimento dos de lá contaminem os de cá!

ohhhhhhh, povo feliz!

Estela Márcia Rondina Scandola, 60 anos de direito aos afetos e dengos

Zé Ramalho – Admirável Gado Novo


https://vidamulherida.wordpress.com/2023/01/12/e-vida-de-gado-gado-e-que-nao-e/

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