A tragédia vivida pelo povo Yanomami, cujas
crianças lembram o estado em que se encontrava a população infantil de Biafra
na década de 1960, é a prova de mais um crime de lesa-humanidade e de lesa-pátria
cometido por ‘homens de bem’, ‘cristãos’, ‘patriotas’, ‘defensores da moral e
dos bons costumes’ do inominável.
A tragédia Yanomami é caso pensado
Os crimes de lesa-humanidade e de lesa-pátria, cometidos pelos
representantes de ‘patriotas’, ‘cristãos’, ‘homens de bem’ (bens?) e ‘defensores
da moral de dos bons costumes’, ocorreram às vistas de altos funcionários e ministros
do inominável que agiram de modo inverso ao institucional ou se omitiram
deliberadamente, num gesto de total desumanidade e de irresponsabilidade
social.
Apoiadores e apoiadoras de movimentos como o ‘Endireita
Brasil’, ‘Vem Pra Rua’ e MBL, entre tantos outros, imaginariam um dia que o apoio
ao inominável poderia causar-lhes constrangimento, vergonha e até arrependimento?
Cá pra nós, causa-lhes mesmo?
Qualquer pessoa minimamente sensata, cristã de
verdade e sinceramente comprometida com os valores civilizatórios sabe que a
tragédia dos Yanomami, hoje chamada de ‘crise humanitária’, é expressão cabal
da necropolítica (política de morte) e da ideologia do ódio que o inominável
potencializou durante seu nefasto período de desgoverno, com o obsessivo afã de
disseminar sua doutrina satânica de promover o fascismo, a supremacia branca, a
‘lei do mais forte’, o crime organizado, as milícias, o racismo, a misoginia, a
homofobia, a lgbtqia+fobia, o cinismo (em vez de civismo), a fome das
populações em situação de vulnerabilidade social, econômica, cultural, educativa
e sanitária no Brasil.
É de causar um misto de perplexidade, dor, vergonha
e indignação ante a tragédia, em pleno 2023, dos Yanomami. As cenas nos remetem
às traumáticas e revoltantes imagens de fins da década de 1960 da população do
Biafra, região do sudeste da Nigéria, em que os Ibos eram maioria no país e como
tática de guerra o governo nigeriano e seus aliados realizaram política de
extermínio por meio da fome, da morte e do enfraquecimento das políticas de
saúde. Tanto a Nigéria de 1967-71 como o Brasil de 2019-23 são vergonhoso
cenário em que as crianças foram alvo da pior perversidade imaginável, que nos
remete aos nefastos tempos do nazifascismo.
É que, a bem da verdade, a chamada ‘grande imprensa’
(aquela mesma que apoiou os golpes de 1964 e de 2016 e que, como a FSP, teve o
cinismo de estampar fotomontagem fascistoide para ilustrar a chamada de capa
dias depois dos atos terroristas de janeiro de 2023) faz questão de ‘virar a
página’ de todo assunto que não interessa aos seus amos e senhores do império.
Biafra, região sudeste da então recém independente República da Nigéria (ex-colônia
da Grã-Bretanha, ou Reino Unido), foi insuflada por multinacionais do petróleo
para se separar, recorrendo aos velhos métodos de ‘dividir para reinar’. Essa
guerra fratricida, além de instigar o ódio entre as diferentes etnias africanas
que, após séculos de exploração, genocídio e desagregação-desestruturação
populacional (inclusive mercantil, com o comércio de escravizados), começavam
um tempo de descolonização, causou a tragédia humanitária, em que milhares de
crianças foram condenadas à morte por inanição e não assistência alimentar, sanitária
e social.
Por meio de um querido Amigo-Irmão que não posso
citar, tive acesso a uma elucidativa matéria do Jornalista João de Lira
Cavalcante Neto (renomado Escritor, detentor de quatro Jabuti, o maior, prêmio
literário brasileiro), que assina Lira Neto, em que provou que o inominável,
desde 1993, tem a mefistofélica obsessão de aniquilar os Yanomami e fazer de
suas terras novas ‘serras peladas’, como a ditadura fez com a original, e que
só rendeu dinheiro aos tubarões e seus feitores e parasitas, pois para os
trabalhadores do garimpo só deu desgraça, doença e tragédia. Já em seu primeiro
ano de deputado do baixíssimo clero, o inominável ganhou notoriedade por um
projeto bizarro, de apenas dois artigos, um tornando sem efeito o decreto de
Collor que criara em 1992 a Reserva Yanomami e o segundo revogando as
disposições em contrário.
Lira Neto, na matéria “Como B... planejou extinguir
a reserva Yanomami”, demonstra a formação do inominável (se é que assim podemos
chamar, pois se revelou ao longo de sua funesta existência sem qualquer
formação) ser antidemocrática: meses antes da apresentação do bizarro projeto,
estivera em Santa Maria (a mesma cidade universitária que tristemente entrou
para a história pela tragédia da Boate Kiss, que nesta semana completou dez
anos), para defender o fechamento do Congresso Nacional e a instalação de uma
ditadura como a do igualmente insano Alberto Fujimori no Peru, este país que até
hoje amarga a sua maldita herança, encontrando-se em clima de guerra civil.
Nessa ilustrativa e didática matéria, Lira Neto
resgata uma fala bastante reveladora do inominável, requentada pelo filho
décadas depois: “Para acabar com a crise brasileira, basta apenas três
batalhões da infantaria.” E, mesmo tendo sido arquivado seu bizarro projeto,
conseguiu, graças à visibilidade obtida por suas bravatas, ser o terceiro mais
votado em sua reeleição, em 1996. E quando se iniciaram os trabalhos dessa legislatura,
não só conseguiu desarquivar seu projeto bisonho como conseguiu que tramitasse
em regime de urgência, obviamente para retribuir pelo apoio das quadrilhas
organizadas que desde sempre atuam nos garimpos que devastam os biomas
brasileiros.
Desse jeito foi ganhando projeção e adesões entre
os recalcados de todos os matizes, entre os delinquentes de todos os segmentos,
entre os canalhas de todas as estirpes. Só que não contava com a oposição, que
se mobilizou e, por meio do deputado Fernando Gabeira, na época no Partido
Verde, teve sua obsessão mais uma vez frustrada: Gabeira comparou a disputa
entre os fora de lei de toda natureza (como grileiros, madeireiros, garimpeiros,
contrabandistas e traficantes) e a população Yanomami ao conflito entre sionistas
e palestinos, para abortar o insólito despropósito da tramitação em regime de
urgência de uma questão complexa e delicada como aquela. Com o apoio de Almino
Afonso, então deputado pelo Partido Socialista Brasileiro (o mesmo do
Vice-presidente Geraldo Alckmin e do Ministro Flávio Dino, da Justiça, o terror
das hordas meliantes do inominável), mais uma vez o projeto vai para o lixo, de
onde nunca deveria ter saído.
Lira Neto revela, ainda, a profunda desfaçatez do
inominável, ao ver o bizarro projeto mais uma vez derrotado e declara na
Câmara, em abril de 1998: “A cavalaria brasileira foi muito incompetente.
Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no
passado e hoje em dia não tem esse problema no país.” É assim como o nefasto ‘mito’
de ‘cristãos’, ‘patriotas’, ‘homens de bem’ e ‘defensores da moral e dos bons
costumes’ manifesta a sua sincera visão de mundo, à luz, ou melhor, sob a
sombria perspectiva de quem só enxerga a ganância, a exploração, a usura e a
opressão como o caminho daquilo que ele entende por ‘progresso’.
É importante o registro de Lira Neto ao endosso do
almiraneco Bento Albuquerque e do juizeco golpista Sérgio Moro, então sinistro
da ‘Justissa’ do inominável, ao decreto que o capeta editou quando toma de
assalto os destinos da nação. Chamado pela oposição de ‘Decreto do Genocídio’,
a iniciativa pretendia autorizar o garimpo e o agro negócio em áreas indígenas.
A mobilização da sociedade, com apoio de organizações multilaterais, acabou
sepultando de vez mais essa bizarra iniciativa. Não sem antes fazer, em terras
Yanomami, motociata em vez de ver pessoalmente o que ocorria com as crianças e
os jovens Yanomami. Isso sem falar que o cartão corporativo, aquele que o inominável
queria manter em sigilo de 100 anos, registrasse um gasto escandaloso para as
orgias e masturbações com suas hordas ensandecidas.
Tão logo o Governo de Reconstrução Nacional assumiu,
vêm as tragédias à tona. E com elas fatos revoltantes: o dinheiro previsto no
Orçamento da União para a assistência e promoção às populações indígenas (algo
como 1 bilhão e 350 mil reais) foi cinicamente desviado para duas fundações
ligadas às igrejas dos mercadores da fé, em vez de ser destinado ao atendimento
das populações que hoje vemos em crise humanitária. Ainda pior: o desgoverno do
‘passa boi, passa boiada’ fez vistas grossas às grilagens de terra das reservas
indígenas, permitiu que quadrilhas de garimpeiros, madeireiros, traficantes e
contrabandistas, ‘criadores’ de gado e ‘plantadores’ de soja e assemelhados não
só matassem servidores honrados como Bruno Pereira e Jornalistas de verdade
como Dom Philips, como devastassem as florestas nativas, aniquilassem formas de
vidas que ainda a ciência não catalogou e poluíssem rios e terras com mercúrio
e agrotóxicos em áreas que ainda não haviam sido defloradas pela cobiça e usura
dos ‘homens de bem’ (bens?).
Lembram-se daqueles generecos recalcados e
enrustidos como Pazzuelo, Heleno, Villas-Boas, Mourão et caterva? Ah, sim! Eles
também haverão de ser ver com Dona Justa,
ah se vão! Em outros tempos seus ídolos foram poupados, por descuido, agora, no
entanto, saberão eles que patriotismo não rima com bandidagem, prevaricação,
golpismo e tantas outras canalhices que causam vergonha e revolta ante a
tragédia humana que, dia após dia, vem à tona. Como, nos idos de 1970, o
compositor e poeta Luis Rico disse: “A pátria não está nas promessas que nunca
cumpri. / Consciência de homens que nunca juraram verdade. / A pátria está em curumins
que vagam por mundos alheios, / famintos de beijos, / e não são como aqueles
que nasceram para fazer maldade. / A pátria está nas mãos calejadas de mulheres
e homens mineiros, / que mostram sendas, que são os primeiros / que morrem por
outros, levando uma cruz / levando uma cruz.” (La Patria, Luis Rico, 1969.)
Uma cruz. Mas cuidado com os seus ancestrais, que
eles voltam aos milhões, e levam para o lixo da História todos aqueles que
cobiçaram a Mãe Terra, os que esquartejaram, mutilaram, sacrificaram e
torturaram de alguma maneira seus curumins. Ainda bem que, ironicamente, temos
um estadista estigmatizado por ser ‘de esquerda’ para literalmente endireitar o
Brasil, isto é, colocar o Brasil no rumo, em seu lugar no Mundo e na História.
Ahmad Schabib Hany