Fome, mais uma herança maldita do delirante
A fome que voltou ao cotidiano brasileiro não é
fruto do acaso: é consequência das prioridades do delirante, que privilegiou
ricos, sonegadores, fora de lei e milicianos que vivem da tragédia dos mais
vulneráveis. Ou alguém tem dúvida de que a prioridade, desde o primeiro dia de
seu mandato, foi o caos, o desmonte do Estado, o descrédito sistemático da
normalidade democrática?
Não é preciso ser nenhum especialista para
perceber, a olho nu, os gritantes indicadores sociais que envergonham o Brasil.
Um delirante cuja ‘agenda’ é a promoção do caos, a difusão do ódio, a negação
das eleições livres, o desmonte das instituições de proteção democrática,
ambiental, social, racial, de gênero, de classes e de etnias, não fez
absolutamente nada para fortalecer as políticas públicas de reparação social e
promoção da igualdade em todas as dimensões. É a verdadeira razão de ser do
golpe contra Dilma Rousseff em 2016 e a prisão ilegal de Lula em 2018: os abastados
se sentiram de alguma forma ‘ameaçados’ pela ascensão econômica, ainda que
tímida, das classes C, D e E, e se somaram aos fora de lei e ‘viúvos’ da
ditadura para ‘estancar a sangria’. E deu no que deu...
Tanto é verdade que, da maneira mais cínica e
sórdida, a menos de 100 dias das eleições gerais, estupra a lei e, recorrendo à
moeda de compra do centrão, consegue aprovar a medida provisória do estado de
emergência para implantar um conjunto de programas sociais por apenas quatro
meses, quando poderia ter feito da maneira mais republicana, ao longo dos quase
anos de desgoverno e de atentados ao Estado Democrático de Direito -- mas não
fez: preferiu sentir nos glúteos as coxas fedorentas do dono da Havan, seu parceiro
e com quem andou trocando muita arminha nos últimos anos...
Como o que interessa é o triste retorno do Brasil
ao mapa da fome, não trataremos da sórdida encenação diante do concerto das
nações (afinal, os embaixadores representam a comunidade internacional) em que
atenta contra a Democracia, contra o Estado de Direito, cujo sistema eleitoral
e o Poder Judiciário são partes indissociáveis e contra os quais não se pode
disseminar descrédito impunemente. É caso de camisa de força ou prisão sumária,
até porque o Estado são as instituições, não os delírios de um perdedor
confesso, delirante contumaz.
Os que têm hoje mais de 50 anos se lembram da
grande avalanche solidária que moveu a Nação depois do impeachment de Collor --
início do governo de Itamar Franco, um vice-presidente decente que em nada se
compara ao ‘brimo’ golpista Michel Temer. Cinco anos depois da promulgação da
Constituição de 1988, a Ação da Cidadania promoveu em todo o Brasil, entre 1993
e 2003, a Campanha contra a Fome (originariamente Ação da Cidadania contra a
Fome, a Miséria e pela Vida). Quando Lula se elegeu em 2002, ele instituiu o
Brasil sem Fome, que deu origem ao conjunto de políticas que vão desde o Bolsa
Família a todos os programas de inclusão e reparação social, racial, esportiva,
estudantil e cultural instituídos paulatinamente ao longo de 14 anos de
governos petistas.
Inspirada no corajoso plano do sociólogo Herbert de
Souza (Betinho) e com o apoio incondicional de Dom Mauro Morelli, Bispo Emérito
de Duque de Caxias e São João do Meriti (Baixada Fluminense), voluntários de
todo o Brasil se mobilizaram e em menos de um ano haviam realizado algo inédito
no País: o tripé da esperança, que foram: a) Censo da Fome; b) mapeamento das
iniciativas de enfrentamento à fome, e c) localização de pontos de potenciais
provedores de donativos (pessoas físicas, empresas e instituições). Itamar,
diferente do inominável obstinado em promover o caos e levar a desgraça que
invadiu o Planalto, deu todo o apoio institucional, sem usar politicamente o
movimento.
Quando se é democrático por convicção -- e não por
conveniência --, não é preciso dar um ‘balão’ no ordenamento jurídico para, de
afogadilho, torrar a ‘bagatela’ de 41,2 bilhões de reais em pouco mais de
quatro meses, até o dia 31 de dezembro de 2022. Por uma só razão: o maior
salário da República não quer perder o emprego pelos próximos quatro anos e,
obsessivo pelo ‘poder’ como é, atropela tudo e todos para que a vontade dele
seja feita, a ferro e fogo... Exatamente ao contrário do que fizeram Itamar,
Lula e Dilma, que aos poucos foram construindo a rede de proteção social por
meio de políticas públicas que consolidaram o Estado Democrático de Direito e
tiraram o Brasil do mapa da fome, que só retornou pela ausência de políticas
promovidas pelos cretinos que se passam por cristãos, mas querem ‘armar’ em vez
de amar...
Em sã consciência, o que fez este ser bizarro,
destituído de empatia, solidariedade e um pingo de humildade, em quase quatro
anos de mandato que não contribuiu para elevar a qualidade de vida de amplas
camadas da população? Preferiu ficar falando para o seu ‘curralzinho’, para as
hordas de fanáticos e fora de lei, para atentar contra o Estado de Direito,
para assanhar o que há de pior na alma das pessoas, para levar a discórdia, a
desdita, a mentira, o desdém, a afronta... Menos governar, pelo que é pago sobeja
e rigorosamente, de acordo com o que determina o arcabouço jurídico que ele
vive a afrontar.
Recordando as sábias palavras de Ulysses Guimarães
na sessão de promulgação da Carta Constitucional de 5 de outubro de 1988: “A
Constituição não é certamente perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a
reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais.
Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o
caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento,
garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o
cemitério. Quando após tantos anos de lutas e sacrifícios promulgamos o
Estatuto do Homem e da Liberdade e da Democracia bradamos por imposição de sua
honra. Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. ... A sociedade é Rubens Paiva, não
os facínoras que o mataram. Foi a sociedade mobilizada nos colossais comícios
das Diretas Já que pela transição e pela mudança derrotou o Estado usurpador.”
O delirante ousa atropelar o Estado de Direito para
erigir o projeto fascista sobre os seus escombros. Não conseguirá. O fim está
ante o próprio desditado, maldito como seu amo e senhor, a exalar enxofre.
Basta: enquanto houver dignidade e altivez, jamais haverá oportunidade para
facínora delirante, serviçal mefistofélico. A história consignará e o povo
resistirá. Seu destino é o lixo da história como todo remanescente da escória.
Ahmad Schabib Hany
2 comentários:
Tenho pensado que quando se mata a forme do desejo de justiça, a fome que procura comida para o corpo torna-se mero acontecimento dos desgraçados
Amigo Schabib, nada melhor do que poder ler um artigo seu, quando se perde o sono por preocupação, com as atitudes de um "maníaco desesperado", e pela ausência de quem viveu 50 anos ao meu lado, lutando pela democracia. Somos pela PAZ, somos contra armas de fogo, somos pelo estado de direito, mas depois deste desgoverno, jogamos fora anos de luta, em troca da fome e da violência. Que dias melhores apontem para uma saída sem derramamento de sangue, e que "estômagos vazios" deixem de tirar o sono de 35 milhões de brasileiros. Bom descanso à você, nosso irmão de luta e de sangue. Meus avós vieram do Oriente Médio, como seus antecedentes, fugindo de guerras. E agora? Voltamos à estaca zero, ou precisamos da mesma coragem deles para sobreviver? Grande abraço, amigo Schabib. Maria Augusta
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