Estado de desespero
Estado de emergência, não: estado de desespero.
Passaram quase quatro anos promovendo algazarras e se esqueceram de trabalhar,
e no final do mandato se deram conta do estrago. Mas os sábios ancestrais
ensinam que com transtornados não se mexe, pois se corre o risco de levar a
pior...
Desespero, e não emergência. Essa é a razão real da
acentuada série de atropelos legais que vêm se sucedendo nas últimas semanas. O
semblante do cínico senador que, em vez do relatório sobre a PEC do teto do
ICMS, apresentou a tal PEC do estado de emergência reflete o desespero das
saúvas do centrão que, seguindo sua vocação desde os tempos de Pedro Álvares
Cabral, tem no próprio bolso o órgão mais sensível, ameaçado de vez pelas
perspectivas eleitorais.
Passaram quase quatro anos em algazarras,
provocações, ‘motociatas’, manifestações misóginas e racistas, instigando o que
há de pior no âmago das pessoas... Confundiram, acintosamente, o exercício constitucional
do principal cargo na República com o ‘poder’ que eles tanto cobiçam, mas que
nos dias atuais isso não mais existe. Todo fascista tem a mesma característica psicótica,
pois é portador de recalques nunca tratados, jamais curados...
É de causar, no mínimo, perplexidade ver os mesmos
que debochavam das pessoas que se cuidavam durante o período mais crítico da
pandemia (e eram ofendidos pelo maior salário da República) a posar hoje de ‘empáticos’,
isto é, detentores de uma ‘inocente’ e ‘espontânea’ empatia, para justificar
uma PEC (projeto de Emenda Constitucional) que torra acintosa e criminosamente
a ‘bagatela’ de 41 bilhões de reais a menos de 100 dias das eleições. Cinismo
puro, próprio dos desatinados que atentam contra os destinos deste
país-continente...
Para cada real cortado do orçamento da Educação,
Saúde e Ciência e Tecnologia, dez reais são desperdiçados com a compra de
parlamentares via ‘emendas secretas’ e a nada republicana maneira de governar
para os ‘amigos’ (sic), como diversos
escândalos já nos deixaram incrédulos, tendo sido o do MEC o pior deles (mas
não esqueçamos as compras criminosas na Saúde de Pazuello e acertinhos nada
ortodoxos no tempo de Ricardo Sales, aquele da aula como deixar passar a
boiada).
Na verdade, do estado de delírio em que viviam -- na
acintosa promiscuidade institucional desde a posse -- ao estado de desespero em
que se encontram depois de que o choque da realidade, dura realidade, os tomou
em cheio, a obsessão que conduz a sua esquizofrenia consuetudinária é capaz
disso e de ‘otras cositas más’. Todo cuidado é pouco, veja-se o acontecido com
Dom Philips e Bruno Pereira, com Dorothy Stang, com Chico Mendes, com Marçal de
Souza...
O mesmo estado em que Marçal de Souza conquistou a
humanidade e, contra a sua vontade, ceifou-lhe o porvir em 1983 é palco da mais
recente tragédia que enluta o povo Guarani Kaiowá. O desatino que campeia solto
em Brasília estendeu suas ondas de torpor e insanidade e, em atropelo aos mais
comezinhos procedimentos preconizados pelo Estado Democrático de Direito, além
de pelo menos um morto, foram feridos, inclusive a bala, idosos, adolescentes,
crianças, mulheres e demais integrantes da comunidade Guarani Kaiowá de
Amambai, ao sul de Mato Grosso do Sul. Matança que entra para a história como Massacre
de Guapoy, conforme denúncia do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), órgão
da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e que já enviou petição
aos órgãos de Direitos Humanos da ONU e OEA.
E, a propósito, onde estava a Funai, que não se
manifesta até o momento sobre um assunto tão impactante? Todos sabem em Mato
Grosso do Sul -- é de conhecimento público a disputa dessas terras em Amambai
--, que quando Pedro Pedrossian era governador e Fernando Collor presidente
(pouco antes do impeachment), os gestores (nacional e regional) da Funai ‘negociaram’
com fazendeiros da região uma entrega ilegal, que não passou pelas vias
oficiais, de terras Guarani Kaiowá, exatamente onde ocorreu a balaceira semana
passada, que tirou a Vida de Vito Fernandes, 41 anos, mas que desta vez não
ficará impune...
Como sempre, três dias depois do funeral do Guarani
Kaiowá que teve a Vida ceifada sem direito a defesa, como que esses povos
originários não tivessem direito a reivindicar por seus direitos (reconhecidos
em 1915), aparece aquele cara que fede enxofre para comemorar mais uma
tragédia. Toma cuidado, peste, que praga dos povos originários não poupou nem
os imperadores da Espanha e de Portugal, ainda mais um impostor tresloucado que
alardeia ter um conchavo com o peçonhento lá debaixo...
Ahmad Schabib Hany
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