sexta-feira, 1 de julho de 2022

ESTADO DE DESESPERO

Estado de desespero

Estado de emergência, não: estado de desespero. Passaram quase quatro anos promovendo algazarras e se esqueceram de trabalhar, e no final do mandato se deram conta do estrago. Mas os sábios ancestrais ensinam que com transtornados não se mexe, pois se corre o risco de levar a pior...

Desespero, e não emergência. Essa é a razão real da acentuada série de atropelos legais que vêm se sucedendo nas últimas semanas. O semblante do cínico senador que, em vez do relatório sobre a PEC do teto do ICMS, apresentou a tal PEC do estado de emergência reflete o desespero das saúvas do centrão que, seguindo sua vocação desde os tempos de Pedro Álvares Cabral, tem no próprio bolso o órgão mais sensível, ameaçado de vez pelas perspectivas eleitorais.

Passaram quase quatro anos em algazarras, provocações, ‘motociatas’, manifestações misóginas e racistas, instigando o que há de pior no âmago das pessoas... Confundiram, acintosamente, o exercício constitucional do principal cargo na República com o ‘poder’ que eles tanto cobiçam, mas que nos dias atuais isso não mais existe. Todo fascista tem a mesma característica psicótica, pois é portador de recalques nunca tratados, jamais curados...

É de causar, no mínimo, perplexidade ver os mesmos que debochavam das pessoas que se cuidavam durante o período mais crítico da pandemia (e eram ofendidos pelo maior salário da República) a posar hoje de ‘empáticos’, isto é, detentores de uma ‘inocente’ e ‘espontânea’ empatia, para justificar uma PEC (projeto de Emenda Constitucional) que torra acintosa e criminosamente a ‘bagatela’ de 41 bilhões de reais a menos de 100 dias das eleições. Cinismo puro, próprio dos desatinados que atentam contra os destinos deste país-continente...

Para cada real cortado do orçamento da Educação, Saúde e Ciência e Tecnologia, dez reais são desperdiçados com a compra de parlamentares via ‘emendas secretas’ e a nada republicana maneira de governar para os ‘amigos’ (sic), como diversos escândalos já nos deixaram incrédulos, tendo sido o do MEC o pior deles (mas não esqueçamos as compras criminosas na Saúde de Pazuello e acertinhos nada ortodoxos no tempo de Ricardo Sales, aquele da aula como deixar passar a boiada).

Na verdade, do estado de delírio em que viviam -- na acintosa promiscuidade institucional desde a posse -- ao estado de desespero em que se encontram depois de que o choque da realidade, dura realidade, os tomou em cheio, a obsessão que conduz a sua esquizofrenia consuetudinária é capaz disso e de ‘otras cositas más’. Todo cuidado é pouco, veja-se o acontecido com Dom Philips e Bruno Pereira, com Dorothy Stang, com Chico Mendes, com Marçal de Souza...

O mesmo estado em que Marçal de Souza conquistou a humanidade e, contra a sua vontade, ceifou-lhe o porvir em 1983 é palco da mais recente tragédia que enluta o povo Guarani Kaiowá. O desatino que campeia solto em Brasília estendeu suas ondas de torpor e insanidade e, em atropelo aos mais comezinhos procedimentos preconizados pelo Estado Democrático de Direito, além de pelo menos um morto, foram feridos, inclusive a bala, idosos, adolescentes, crianças, mulheres e demais integrantes da comunidade Guarani Kaiowá de Amambai, ao sul de Mato Grosso do Sul. Matança que entra para a história como Massacre de Guapoy, conforme denúncia do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), órgão da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e que já enviou petição aos órgãos de Direitos Humanos da ONU e OEA.

E, a propósito, onde estava a Funai, que não se manifesta até o momento sobre um assunto tão impactante? Todos sabem em Mato Grosso do Sul -- é de conhecimento público a disputa dessas terras em Amambai --, que quando Pedro Pedrossian era governador e Fernando Collor presidente (pouco antes do impeachment), os gestores (nacional e regional) da Funai ‘negociaram’ com fazendeiros da região uma entrega ilegal, que não passou pelas vias oficiais, de terras Guarani Kaiowá, exatamente onde ocorreu a balaceira semana passada, que tirou a Vida de Vito Fernandes, 41 anos, mas que desta vez não ficará impune...

Como sempre, três dias depois do funeral do Guarani Kaiowá que teve a Vida ceifada sem direito a defesa, como que esses povos originários não tivessem direito a reivindicar por seus direitos (reconhecidos em 1915), aparece aquele cara que fede enxofre para comemorar mais uma tragédia. Toma cuidado, peste, que praga dos povos originários não poupou nem os imperadores da Espanha e de Portugal, ainda mais um impostor tresloucado que alardeia ter um conchavo com o peçonhento lá debaixo...

Ahmad Schabib Hany

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