sexta-feira, 29 de julho de 2022

"Aposto que você nem sabia do namoro dela com um ex-combatente da Guerra do Chaco"


DOLORES E A DIGNIDADE DAS MARIAS

Dolores e a dignidade das Marias

Dolores é a protagonista do mais recente livro de Luiz Taques, que aborda com pioneirismo em nossa literatura a Guerra do Chaco, em que a Bolívia e o Paraguai se envolveram em uma verdadeira carnificina para saciar a cobiça de grandes petroleiras (e por trás o Brasil e a Argentina) pouco antes da Segunda Guerra Mundial.

Premiado Jornalista e reconhecido escritor, Luiz Taques lança em Corumbá, dia 6 de agosto, seu mais recente livro -- “Aposto que você nem sabia do namoro dela com um ex-combatente da Guerra do Chaco” --, com o apoio cultural do ativista Arturo Castedo Ardaya. A escolha do Dia da Independência boliviana (e do local, a emblemática Feira BrasBol) não é mero acaso: o último conflito bélico na região platina da América do Sul foi uma verdadeira carnificina entre a Bolívia e o Paraguai, para saciar a cobiça das petroleiras Standard Oil e Shell (e por trás Brasil e Argentina), pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial.

A protagonista da obra literária é Dolores, cuja dignidade de mulher proletária é narrada ao longo da novela, num estilo instigante, de um sugestivo diálogo (ou monólogo?) com o filho dela, nada atento às qualidades de mãe solo, vítima da misoginia que atenta contra os valores civilizatórios nestes nada generosos tempos de intolerância e negacionismo. O autor, no percurso de sua trajetória literária marcada pela originalidade, pioneirismo e refinado estilo, não só produziu uma obra de ficção consistente, mas, sobretudo, um sensível resgate humanístico de preceitos inestimáveis que nos blindam da barbárie -- esta que teima em afrontar nosso porvir.

Embora não se trate de uma obra historiográfica, Taques faz aportes relevantes ao resgatar depoimentos de contemporâneos do conflito, como o do jornalista, escritor e intelectual boliviano Augusto Céspedes (“Sangre de mestizos”, “Metal del diablo”, “El presidente colgado” e “Crónicas heroicas de una guerra estúpida”, como correspondente de guerra do diário “El Universal”) e faça uma referência não casual ao emblemático escritor, intelectual e político paraguaio Domingo Laino, perseguido durante décadas pela ditadura sanguinária de Alfredo Stroessner.

O livro é uma edição bilíngue (português-espanhol) da Editora Maria Petrona, .que abre perspectivas para a integração literária na América Latina. E traz uma temática pioneira: pela primeira vez a literatura brasileira aborda um tema muito caro para as populações boliviana e paraguaia, pois, mais que disputa territorial, se tratou de um genocídio de elevado impacto para dois dos países mais saqueados da América do Sul. No campo da história, aliás, Júlio José Chiavenatto, injustamente invisibilizado nas últimas décadas, já havia o tratado em fins da década de 1970, em “A Guerra do Chaco (Leia-se petróleo)”, da Editora Brasiliense -- em que completou a trilogia com “Genocídio Americano (A Guerra do Paraguai)” e “Bolívia: Com a pólvora na boca”.

Luiz Taques, além de renomado Jornalista (duas vezes premiado por reportagens em que denunciou a exploração do trabalho infantil nas carvoarias de Mato Grosso do Sul, tanto pela Federação Nacional dos Jornalistas, como pelo Instituto Vladimir Herzog de Direitos Humanos), é um escritor com bibliografia sólida: “Zé Vida de Barraca”, “O casamento vai acabar com o poeta”, Bebinho, “Mamadinho e o Velório de Bafo de Alho”, “Crônica de uma grande farsa” (em coautoria com o Jornalista José Maschio), “Madá”, “Pedro”, “Um rio, uma guerra”, “Mulas”, “Tereza é meu nome” e “Boa hora para lembrar de Vivi Bandoleiro”.

É, pois, com Dolores que o leitor se reencontrará com o instigante universo literário de Luiz Taques, cujos livros -- embora não lhe agrade o comentário -- estão predestinados a atravessar séculos, por conta da qualidade literária, do estilo peculiar e da capacidade de descrever com fidelidade o tempo e a sociedade presente, ou melhor, em que foram escritos, criados, lapidados, com afinco, candura e originalidade. E que viva Dolores, que, igual a “Maria Maria” de Milton Nascimento e Fernando Brant, “É um dom, uma certa magia / Uma força que nos alerta / Uma mulher que merece viver e amar / Como outra qualquer do Planeta”.

Ahmad Schabib Hany

sábado, 23 de julho de 2022

PÉSSIMO EXEMPLO

Péssimo exemplo

Como é possível posar de moralista quando se é exemplo de amoral, e como ser patriota quando o povo está entregue à própria sorte, a soberania nacional aos abutres do mercado e o Estado Democrático de Direito aos ‘viúvos’ da ditadura de 1964?

Desde antes de 2019 o detentor do mais cobiçado cargo da República tem feito uma série de atos nada recomendáveis a um dignitário. A liturgia do cargo, isto é, o protocolo é de extremo rigor, podendo chegar à deposição do cargo por inobservância de questões aparentemente irrelevantes. Como a que levou ao impeachment fraudulento de Dilma Rousseff, por supostas ‘pedaladas fiscais’, uma figura jurídica heterodoxa, própria da invencionice golpista do centrão, o mesmo que hoje dá apoio ao atual inquilino do Planalto.

Quando se pensa na República é imprescindível nos remetermos ao tempo em que Pedro de Alcântara (o futuro Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal) era príncipe herdeiro por conta do retorno de D. João VI a Portugal. O próprio rei de Portugal havia deixado um conselheiro influente, de sua confiança, chamado José Bonifácio de Andrada e Silva, que tinha um irmão tão ardiloso quanto ele, Antônio Carlos de Andrada e Silva (a quem é atribuída a nefasta consigna das elites brasileiras, “façamos a revolução antes que o povo a faça”, que parece uma sina para este país-continente).

E que é, mesmo, o ‘patriarca da Independência’? Precisamente o conselheiro deixado por João VI para orientar o príncipe herdeiro, supostamente de sua maior confiança. Só que não. Representante das oligarquias brasileiras, feitas à base das mordomias e benesses dos membros da corte portuguesa no Brasil, José Bonifácio (e Antônio Carlos por trás) se incumbiu de realizar a ruptura dos elos entre a metrópole e a colônia. Assim -- sem qualquer pudor ou comedimento --, a 7 de setembro de 1822, o jovem aspirante a imperador era induzido a celebrar a cobiçada emancipação das exuberantes e generosas terras colonizadas pelos lusitanos desde o século XVI.

À luz dos ensinamentos do positivismo, aquela corrente de pensamento fundada pelo filósofo francês August Comte, o Império do Brasil foi constituído como um regime monárquico absolutista. Até por influência de José Bonifácio, o jovem monarca Pedro I fazia questão de exercer o chamado Poder Moderador, ele pessoalmente. Resultado: a primeira Constituição brasileira levou anos para ser outorgada (sim, outorgada; porque o imperador foi quem impôs a sua íntegra, de modo que promulgada somente a Carta Constitucional de 1945 é que seria, a refletir os anseios da população).

Não demorou muito para que os brasileiros organizassem o Partido Brasileiro, contra os membros do Partido Português, além de uma série de movimentos ‘nativistas’ (na verdade, movimentos emancipadores), contrários à hegemonia dos ex-colonizadores num país recém-independizado. O pior é que a repressão aos nacionalistas era tão severa quanto a dos funestos tempos da colonização, como quando a Conjuração Mineira foi desbaratada e seus dirigentes severamente punidos, tendo Joaquim José da Silva Xavier enforcado, esquartejado e partes de seu corpo salgadas e expostas em diferentes locais de Vila Rica, local do movimento contra os abusos dos membros da corte.

Até Cuiabá participou das rebeliões contra os abusos do Império recém-implantado, com os mesmos vícios, aliás, do antigo regime. Acontece que a família real e a ex-metrópole eram as mesmas, tanto é que Pedro I abdicou em favor de seu filho ainda criança, que pouco tempo depois, antes de completar os seis anos, foi entronizado como Pedro II, e ponto final. Nem a escravidão havia sido abolida até então, e muito menos os privilégios conferidos aos portugueses, que se impunham contra os súditos brasileiros sem qualquer temor ou discrição.

A sorte, mera sorte, é que, ao contrário de Pedro I, o segundo e último imperador era um homem de ciências e de letras, dentro do figurino positivista. Tão logo assumiu sua condição de príncipe regente, ainda menor de idade, foi logo criando o Colégio Pedro II e, na edícula do palácio imperial, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), cujos estatutos, elaborados pelo próprio imperador, davam total poder ao monarca, que também era responsável por financiar o que deveria ter sido a primeira Universidade brasileira (até porque ela somente apareceu quase um século depois, nos anos 1920). Ao contrário dos países vizinhos, todos eles Repúblicas, como uma cláusula pétrea constava do documento constitutivo do IHGB que o Brasil era um país monárquico, católico, branco e de valores solidamente positivistas.

No entanto, só depois da conflagração da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai é que as forças armadas foram profissionalizadas, as fronteiras demarcadas e o Estado propriamente nacional passou a ser concretizado com a emissão de documentos como o de reservista. Como a Igreja e o Estado somente iriam ser separados depois da Revolução de 1930 (aquela que entregou o poder a Getúlio Vargas), eram as paróquias espalhadas pelo território nacional as que se encarregavam de emitir a certidão de batismo, de casamento e de óbito. Somente com Getúlio, ainda que sendo ditador, é que foram instituídos documentos de caráter nacional, como a Carteira de Trabalho e o Cadastro de Identificação de Contribuintes (CIC, depois CPF), 100 anos depois de proclamada a Independência do Brasil.

Em resumo, apesar de estarmos comemorando este ano -- daqui a menos de dois meses, em 7 de setembro de 2022 --, o Bicentenário da Independência, tivemos somente 50 anos de vida democrática (entre 1945 e 1964, e entre 1985 e 2016), ainda assim, com algumas turbulências, como as que precederam o suicídio de Getúlio em 1954, o golpe de 1964 contra João Goulart e os tumultos desestabilizadores contra Dilma entre 2013 e 2016 e a obsessiva perseguição lavajatista de Moro e Dallagnol contra Lula para impedir a sua virtual eleição em 2018. A rigor, nem 50 anos de vida plenamente democrática em 200 anos de vida independente.

De que maneira, então, poderíamos esperar de um quase desertor da caserna um gesto republicano, quando nem como parlamentar, em seus mais de 28 anos de parasitismo congressual, conseguiu inspirar seus pares a uma cruzada cívica? Pelo contrário, houve, sim, o protagonismo de vários atos em que obscenidades foram vociferadas em meio a ofensas nada republicanas. A história é um dos melhores instrumentos de análise e de avaliação da qualidade da democracia de qualquer país, sobretudo à luz dos valores civilizatórios, republicanos e democráticos.

Que neste ano da celebração do Bicentenário da Soberania Brasileira o povo expresse sua vontade soberana nas urnas e que a esperança renasça em todos os corações. Feliz Nova República, em consonância com os anseios da maioria do Povo, como a Democracia preconiza e consigna. Parabéns, Povo Brasileiro, laborioso, acolhedor e hospitaleiro!

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 22 de julho de 2022

MAIS MENTIROSO QUE O CAPIROTO

Mais mentiroso que o capiroto

O inominado é tão mentiroso que nem ele mesmo acredita em si mesmo. Tudo que fez em toda a sua recalcada existência foi ao avesso, só para negar, tanto que não consegue caminhar para a frente...

Se o ilustre leitor pensou que se tratasse de Donald Trump, enganou-se redondamente. Trata-se do delirante, o inominável, aquele mentiroso contumaz que passou a vida toda a mentir que nem ele consegue acreditar em si mesmo. O mais curioso é que seres iguais a ele também lhe fazem coro, pela simples razão de não acreditarem em si mesmos, mas precisam fazer de conta de que acreditam em algo -- então, nada melhor que seja alguém igual a eles, como todo narcisista recalcado.

Os colegas dos tempos da caserna costumam dizer que ele amarelava depois de algum blefe ou ato atabalhoado. É o que ficou constatado no famigerado processo apensado na justiça militar por tentativa de sabotagem de uma adutora importante da cidade do Rio de Janeiro, na década de 1980. Negou tudo o que fez publicar na revista Veja, que já não era a mesma dos tempos do grande Jornalista Mino Carta, seu fundador e primeiro diretor de redação. O fato é que acabou beneficiado por um ato de benevolência do então ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves, escolhido por ninguém menos que o primeiro presidente civil pós-1964, o Doutor Tancredo Neves, que acabou não conseguindo tomar posse e deixando o mandato para o vice, José Sarney.

Não são poucas as explosões pirotécnicas do então obscuro parlamentar que passou 28 anos na Câmara dos Deputados sem apresentar um projeto digno de estadista para quem foi guindado à Presidência da República sem dispor da mínima qualificação para receber o maior salário do primeiro escalão. Sua única habilidade, constatada ao longo dos quase quatro anos perdidos no comando da oitava economia do planeta, é divulgar fake news, promover o desmonte das instituições de Estado, desperdiçar o patrimônio pecuniário, natural e cultural do Brasil, propalar o caos e a conduta ‘fora da casinha’, quando a liturgia do cargo requer comportamento impecável, todo ele dentro do protocolo.

Às vezes chegamos ao cúmulo da incredulidade ao vermos a, digamos, desenvoltura com que protagoniza os mais bizarros atos, de fazer inveja aos mais geniais dramaturgos do século XX, como Dias Gomes e seu Odorico Paraguaçu. Foi o que com perplexidade a comunidade internacional assistiu na sexta-feira passada, quando se deu ao desplante de manifestar impropérios contra o Superior Tribunal Eleitoral (TSE), uma das mais sólidas instituições democráticas da República e seu sistema de votação e escrutínio, que foi responsável, aliás, por tê-lo diplomado em 2018, quando ele não passava de um azarão.

O inominável deve achar-se muito inteligente. Só que não. Além de cometer atos lesivos à administração pública, ele atenta contra os mais comezinhos direitos da população ao ter desperdiçado bilhões de reais com políticas patéticas de desmonte dos principais órgãos gestores de políticas públicas caras para o Estado Democrático de Direito, como Saúde, Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, Assistência Social, Promoção da Igualdade Racial, Meio Ambiente, Reforma Agrária, demarcação de terras indígenas etc. E não há dinheiro do ‘orçamento secreto’ e da medida provisória da gastança de 41,2 bilhões de reais capaz de reverter a queda vertiginosa de sua popularidade ante a volta da fome e do desemprego, mais duas de suas heranças malditas.

E se tudo isso não bastasse, as hordas fora de lei que atiçam seu ego recalcado vivem a cometer crimes, pela sensação de impunidade por ele acenada -- recorrência de crimes medonhos como o que atentou contra a Vida de Marcelo Arruda, dirigente petista de Foz do Iguaçu (PR), ou que atingiu a dignidade do Padre Júlio Lancellotti, de São Paulo, criminosamente envolvido em uma farsa que o envolvia em ato de pedofilia que nunca existiu (como foi revelado na semana passada pela revista Piauí, fato pouco divulgado). Esse sórdido estratagema, retirado dos manuais fascistas de triste memória, evidencia o fato de ser mais mentiroso que o próprio capiroto.

Ele pode até entusiasmar inúmeros cristãos de boa-fé, mas o rastro de enxofre a exalar em seus nada inocentes propósitos, como o de armar criminosamente a população, lhe dificulta, senão impossibilita, a garantia de emprego pelos próximos quatro anos. Ação de causa e efeito, obviamente, de quem não tem demonstrado empatia, solidariedade e humildade durante o atual mandato, que entrará para a história pela sordidez e empáfia dele e de seus bizarros ministros, destituídos de amor ao próximo e de postura ética e republicana. Logo ele que foi guindado ao maior cargo da República na esteira de figuras carimbadas que ganharam notoriedade com movimentos como o ‘MBL’, ‘Vem Pra Rua’ et caterva, muitos deles envolvidos em tramas macabras como a que atingiu o Padre Júlio Lancellotti em São Paulo.

Ahmad Schabib Hany

segunda-feira, 18 de julho de 2022

FOME, MAIS UMA HERANÇA MALDITA DO DELIRANTE

Fome, mais uma herança maldita do delirante

A fome que voltou ao cotidiano brasileiro não é fruto do acaso: é consequência das prioridades do delirante, que privilegiou ricos, sonegadores, fora de lei e milicianos que vivem da tragédia dos mais vulneráveis. Ou alguém tem dúvida de que a prioridade, desde o primeiro dia de seu mandato, foi o caos, o desmonte do Estado, o descrédito sistemático da normalidade democrática?

Não é preciso ser nenhum especialista para perceber, a olho nu, os gritantes indicadores sociais que envergonham o Brasil. Um delirante cuja ‘agenda’ é a promoção do caos, a difusão do ódio, a negação das eleições livres, o desmonte das instituições de proteção democrática, ambiental, social, racial, de gênero, de classes e de etnias, não fez absolutamente nada para fortalecer as políticas públicas de reparação social e promoção da igualdade em todas as dimensões. É a verdadeira razão de ser do golpe contra Dilma Rousseff em 2016 e a prisão ilegal de Lula em 2018: os abastados se sentiram de alguma forma ‘ameaçados’ pela ascensão econômica, ainda que tímida, das classes C, D e E, e se somaram aos fora de lei e ‘viúvos’ da ditadura para ‘estancar a sangria’. E deu no que deu...

Tanto é verdade que, da maneira mais cínica e sórdida, a menos de 100 dias das eleições gerais, estupra a lei e, recorrendo à moeda de compra do centrão, consegue aprovar a medida provisória do estado de emergência para implantar um conjunto de programas sociais por apenas quatro meses, quando poderia ter feito da maneira mais republicana, ao longo dos quase anos de desgoverno e de atentados ao Estado Democrático de Direito -- mas não fez: preferiu sentir nos glúteos as coxas fedorentas do dono da Havan, seu parceiro e com quem andou trocando muita arminha nos últimos anos...

Como o que interessa é o triste retorno do Brasil ao mapa da fome, não trataremos da sórdida encenação diante do concerto das nações (afinal, os embaixadores representam a comunidade internacional) em que atenta contra a Democracia, contra o Estado de Direito, cujo sistema eleitoral e o Poder Judiciário são partes indissociáveis e contra os quais não se pode disseminar descrédito impunemente. É caso de camisa de força ou prisão sumária, até porque o Estado são as instituições, não os delírios de um perdedor confesso, delirante contumaz.

Os que têm hoje mais de 50 anos se lembram da grande avalanche solidária que moveu a Nação depois do impeachment de Collor -- início do governo de Itamar Franco, um vice-presidente decente que em nada se compara ao ‘brimo’ golpista Michel Temer. Cinco anos depois da promulgação da Constituição de 1988, a Ação da Cidadania promoveu em todo o Brasil, entre 1993 e 2003, a Campanha contra a Fome (originariamente Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida). Quando Lula se elegeu em 2002, ele instituiu o Brasil sem Fome, que deu origem ao conjunto de políticas que vão desde o Bolsa Família a todos os programas de inclusão e reparação social, racial, esportiva, estudantil e cultural instituídos paulatinamente ao longo de 14 anos de governos petistas.

Inspirada no corajoso plano do sociólogo Herbert de Souza (Betinho) e com o apoio incondicional de Dom Mauro Morelli, Bispo Emérito de Duque de Caxias e São João do Meriti (Baixada Fluminense), voluntários de todo o Brasil se mobilizaram e em menos de um ano haviam realizado algo inédito no País: o tripé da esperança, que foram: a) Censo da Fome; b) mapeamento das iniciativas de enfrentamento à fome, e c) localização de pontos de potenciais provedores de donativos (pessoas físicas, empresas e instituições). Itamar, diferente do inominável obstinado em promover o caos e levar a desgraça que invadiu o Planalto, deu todo o apoio institucional, sem usar politicamente o movimento.

Quando se é democrático por convicção -- e não por conveniência --, não é preciso dar um ‘balão’ no ordenamento jurídico para, de afogadilho, torrar a ‘bagatela’ de 41,2 bilhões de reais em pouco mais de quatro meses, até o dia 31 de dezembro de 2022. Por uma só razão: o maior salário da República não quer perder o emprego pelos próximos quatro anos e, obsessivo pelo ‘poder’ como é, atropela tudo e todos para que a vontade dele seja feita, a ferro e fogo... Exatamente ao contrário do que fizeram Itamar, Lula e Dilma, que aos poucos foram construindo a rede de proteção social por meio de políticas públicas que consolidaram o Estado Democrático de Direito e tiraram o Brasil do mapa da fome, que só retornou pela ausência de políticas promovidas pelos cretinos que se passam por cristãos, mas querem ‘armar’ em vez de amar...

Em sã consciência, o que fez este ser bizarro, destituído de empatia, solidariedade e um pingo de humildade, em quase quatro anos de mandato que não contribuiu para elevar a qualidade de vida de amplas camadas da população? Preferiu ficar falando para o seu ‘curralzinho’, para as hordas de fanáticos e fora de lei, para atentar contra o Estado de Direito, para assanhar o que há de pior na alma das pessoas, para levar a discórdia, a desdita, a mentira, o desdém, a afronta... Menos governar, pelo que é pago sobeja e rigorosamente, de acordo com o que determina o arcabouço jurídico que ele vive a afrontar.

Recordando as sábias palavras de Ulysses Guimarães na sessão de promulgação da Carta Constitucional de 5 de outubro de 1988: “A Constituição não é certamente perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. Quando após tantos anos de lutas e sacrifícios promulgamos o Estatuto do Homem e da Liberdade e da Democracia bradamos por imposição de sua honra. Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. ... A sociedade é Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram. Foi a sociedade mobilizada nos colossais comícios das Diretas Já que pela transição e pela mudança derrotou o Estado usurpador.”

O delirante ousa atropelar o Estado de Direito para erigir o projeto fascista sobre os seus escombros. Não conseguirá. O fim está ante o próprio desditado, maldito como seu amo e senhor, a exalar enxofre. Basta: enquanto houver dignidade e altivez, jamais haverá oportunidade para facínora delirante, serviçal mefistofélico. A história consignará e o povo resistirá. Seu destino é o lixo da história como todo remanescente da escória.

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 14 de julho de 2022

ALERTA MÁXIMO

Alerta máximo

A execução do dirigente petista de Foz do Iguaçu (PR), Marcelo Arruda, na sua festa de aniversário de 50 anos, escancara o alerta máximo para acionar TOLERÂNCIA ZERO com as hordas fascistas. As forças democráticas não podem pôr no mesmo nível as lideranças populares às dos facínoras teleguiados pelos viúvos da ditadura: é hora de ocupar as ruas e todos os espaços públicos na defesa intransigente do Estado Democrático de Direito e de levar às barras dos tribunais TODOS os que instigam a intolerância, sobretudo pelos canais clandestinos cujas mensagens têm sido vazadas.

Que o desespero da prole e dos agregados do inominável já transbordou seus microcéfalos ocos, isso não é mais novidade. No entanto, o sangue de Marcelo Arruda derramado em Foz de Iguaçu (PR) não pode permanecer impune. Que, a rigor, os pseudodemocratas que se passam por centristas ficam a pôr no mesmo nível vítima e algoz, quando quatro anos atrás estavam em conluio fazendo paródia com as hordas mefistofélicas que hoje ocupam o Planalto e de lá só sairão à força, como cada vez mais está claro.

Em vez de trabalhar, justificar os polpudos salários que auferem -- ou que fosse pelo falso patriotismo e falso moralismo --, ficam a proliferar e instigar o que as pessoas têm de pior em seu âmago. E o objetivo é claro: levar o medo, o pânico, o terror, como seus ídolos fizeram em Berlim, Roma, Lisboa, Madri, Assunção, Santiago, La Paz e Buenos Aires. A sua cartilha, batizada de Orvil (‘Livro’ às avessas), difundida nesses canais clandestinos, próprios dos covardes com DNA, não ensina: deforma, deturpa, entorpece. É assim como pretendem estuprar a Democracia, essa conquista sacrificada que o Povo levou 21 anos para revigorar, revitalizar, no coração do Brasil.

TOLERÂNCIA ZERO. Fascista não conhece outra voz de comando que não seja a pressão e, obviamente, a prisão. Borram-se totalmente quando se os chama à altura. Nunca respeitaram, e não respeitam o Estado Democrático de Direito. Seu perjúrio é parte de seu cínico proceder. Fingem que juram defender a Constituição, mas seus atos são claros e nítidos. Não creem, com sinceridade, na Democracia; não são seguidores dos valores democráticos e civilizatórios; não são sinceramente cristãos -- usam as igrejas do mesmo jeito que se servem das roupas, só aparências. É o que a História registrou desde os trágicos tempos de Hitler, Mussolini, Salazar, Franco, Stroessner, Pinochet, Banzer e Videla.

Causa indignação a atitude abjeta do maior salário da República, que atentou mais uma vez contra os mais comezinhos gestos de empatia e solidariedade: ousou usar de modo repugnante sua condição de dignitário para ultrajar a dignidade da família de Marcelo Arruda que, como toda família brasileira, tem entre seus membros ‘gregos e baianos’, isto é, pessoas simpatizantes de todas as correntes políticas existentes na atualidade. A canalhice, no entanto, é que, ao gravar a fala com irmãos da vítima de um fanático seu seguidor, agredindo a memória do falecido, não expressando qualquer solidariedade e fazendo juízo de valores inclusive sobre o ato de defesa da vítima, que interveio para poupar que fosse maior o número de vítimas fatais.

Além de insuflar fanáticos de todo tipo, esse indivíduo, evidentemente despreparado e desesperado, vive a justificar sua desqualificação sem respeitar a dor e o sofrimento das vítimas de suas hordas, e é incapaz de esboçar qualquer gesto de humildade, razão pela qual sua popularidade vive a ‘descer a ladeira’. Ou melhor, ‘descer a rampa’. Ou muda seu comportamento bizarro, ou terá que mudar de endereço, pois tanta desfaçatez não encontra ressonância na maioria da população deste país-continente. Um povo acolhedor e generoso, hospitaleiro e laborioso, cujo maior ‘pecado’ é confiar demais em quem não merece.

O fato é que os principais dirigentes das instituições do Estado Democrático de Direito são unânimes na defesa da normalidade democrática. Mas tudo isso não sensibilizou nem arrefeceu a soberba da besta-fera que exala enxofre e vive a esnobar seu conchavo com o peçonhento lá debaixo. Porque desde sempre ele é um serviçal mefistofélico. Outra não é a sua missão que não levar a dor, o luto e a desdita aos mais recônditos espaços do país que acolheu seus ancestrais quando refugiados das tragédias europeias, mas por cujo povo jamais soube guardar gratidão.

Passou da hora de ocupar as ruas, os espaços públicos, para levar essa indignação, esse grito contido, contra essa escalada de violência planejada, calculada. ‘Motociatas’, não: são mAtoqueiros em treinamento, prontos para aterrorizar a população. ‘Drones com estrume’, não: no momento que eles julgarem apropriado, serão, sim, drones com armas e gases letais. Não serão armas de CAC (caçadores, atiradores e colecionadores), mas de milicianos adestrados para levar o pânico e a submissão, como fazem com as favelas no Rio de Janeiro, e para livrá-los de qualquer punição, estarão os boletins de ocorrência à torta e à direita, formalizando furtos e roubos programados.

Ou a sociedade civil dá o basta já, ou as hordas assassinas se assanham ainda mais. Até porque elas desconhecem a História e atropelam sua própria sina. Só que a escória tende a retornar ao lugar de onde jamais deveriam ter saído. E voltarão, mais dia, menos dia. O lixo da História as espera, com a mesma avidez, a mesma cobiça, que elas têm pelo ‘poder’, por algo que só existe na cabeça de seus ‘líderes’, porque há mais de trinta anos tudo isso foi para o mesmo passado que levou as suas perversidades inomináveis.

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 8 de julho de 2022

DOM CLÁUDIO HUMMES, DISCRETO E ARTICULADO

Dom Cláudio Hummes, discreto e articulado

Dom Cláudio Hummes surge, discreto e articulado, em meados da década de 1970, quando era Bispo Diocesano de Santo André. Com ele, surgia também o novo sindicalismo brasileiro, distante dos ‘pelegos’ (como ‘Joaquinzão’, apoiado pelo PCB como estratégia de enfrentamento à ditadura). A maior expressão desse processo de empoderamento da classe trabalhadora se chama Lula.

Padre Franciscano ordenado em 1958, Dom Cláudio Hummes foi empossado em meados da década de 1970 na Diocese de Santo André da Borda do Campo, que, com São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, forma a região metropolitana de São Paulo, o Grande ABC (mais tarde acrescida de Diadema, ABCD). Região de trabalhadores vindos de todas as regiões do Brasil, a Diocese de Santo André, durante o período em que Dom Cláudio foi Bispo Diocesano, era uma usina de soluções sociais: Comissões Eclesiais de Base (CEBs), Comissões de Fábrica, Movimento Popular de Saúde (MOPS), Pastoral do Migrante, Pastoral da Juventude (PJ), Pastoral Operária, Pastoral do Menor (assim é que chamava, pois estávamos em plena ditadura, e o Estatuto da Criança e do Adolescente sequer ainda tinha sido discutido pela sociedade civil) etc.

Dom Cláudio, a despeito de seu jeito tímido, sempre se caracterizou pela determinação e galhardia. Não foram poucos os enfrentamentos com as tropas regulares e verdadeiras hordas de milicianos que mandavam e matavam noite e dia, sob as ordens do temido Delegado Fleury, apoiado por empresários paulistas integrantes da OBAN (Operação Bandeirante), que incluía grandes grupos, entre eles o então Grupo Folhas, que edita a Folha de S.Paulo. Emblemático foi o acolhimento aos trabalhadores em greve no interior da Matriz de São Bernardo, enquanto as tropas do lado de fora circulavam ameaçadoras, feito uma matilha à espreita de suas presas.

A repressão sanguinária perpetrada entre os anos 1968 e 1971 pelas mãos assassinas de Sérgio Paranhos Fleury dizimou a resistência popular nessas congestionadas terras. No entanto, discreta e articuladamente, a Igreja desenvolvia um inesgotável trabalho junto às famílias trabalhadoras. Foi, aliás, assim como Luiz Inácio, o Presidente Lula, se politizou. Primeiro lendo a Bíblia, depois pondo em prática os seus ensinamentos, e dessa forma surge o líder sindical Lula que se transforma no estadista renomado mundo afora. Não por acaso, recalcados como Moro e Dallagnol, que precisam pagar por seus crimes, fizeram o que fizeram, seguindo a cartilha fascista...

Totalmente diferente de pastores como Milton Ribeiro, que rasgou sua biografia como reitor da Universidade Mackenzie de São Paulo, o saudoso Pastor Jaime Wright, também da Igreja Presbiteriana, não só lutou pelos direitos humanos, como enfrentou ativamente as forças da repressão. Ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, reuniu todos os casos de tortura cometidos até então pelo regime de 1964. Lá estava, discreto e articulado, Dom Cláudio, que em 1996 foi nomeado Arcebispo de Fortaleza, e em 1998 retorna para São Paulo como Arcebispo, e permanece até 2006. Fica no Vaticano como Prefeito da Congregação do Clero, por ato do Papa Bento XVI, até 2010, quando decide retornar para o Brasil, e é eleito pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) Presidente da Conferência Eclesial da Amazônia, sua última missão, tendo renunciado dois meses antes de sua eternização.

Na verdade, por pouco não foi Dom Claudio Hummes o brasileiro eleito Papa em 2005. A eleição do Cardeal Joseph Ratzinger causou surpresa, tanto que ele preferiu renunciar ao Pontificado anos depois. E o mais curioso, pelo que revelou o Papa Francisco: tão logo ele foi eleito em 2013, o bem articulado e cordial Cardeal Hummes lhe insistiu que “não esqueça dos pobres”, ainda na Capela Sistina. Sua fala o tocou tão fundo, que decidiu adotar seu Pontificado com o nome Francisco. Eis um brasileiro que precisa ser conhecido e reconhecido por seus patrícios: embora discreto, bem comprometido com a humanidade, tendo sido marcante em dois Conclaves, de 2005 e 2013, reconhecido como o principal articulador da eleição do Papa Francisco.

Com a mesma discrição que conduziu sua trajetória sacerdotal, Dom Cláudio Hummes se eterniza, porém, num momento em que seu papel de articulador é gritante. Talvez seja o desafio que exija da sociedade civil que ele tanto protegeu nos anos de chumbo, desta vez chamada a fazer a sua parte, indissociável da consolidação do Estado Democrático de Direito. Até sempre, Dom Cláudio Hummes!

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 1 de julho de 2022

ESTADO DE DESESPERO

Estado de desespero

Estado de emergência, não: estado de desespero. Passaram quase quatro anos promovendo algazarras e se esqueceram de trabalhar, e no final do mandato se deram conta do estrago. Mas os sábios ancestrais ensinam que com transtornados não se mexe, pois se corre o risco de levar a pior...

Desespero, e não emergência. Essa é a razão real da acentuada série de atropelos legais que vêm se sucedendo nas últimas semanas. O semblante do cínico senador que, em vez do relatório sobre a PEC do teto do ICMS, apresentou a tal PEC do estado de emergência reflete o desespero das saúvas do centrão que, seguindo sua vocação desde os tempos de Pedro Álvares Cabral, tem no próprio bolso o órgão mais sensível, ameaçado de vez pelas perspectivas eleitorais.

Passaram quase quatro anos em algazarras, provocações, ‘motociatas’, manifestações misóginas e racistas, instigando o que há de pior no âmago das pessoas... Confundiram, acintosamente, o exercício constitucional do principal cargo na República com o ‘poder’ que eles tanto cobiçam, mas que nos dias atuais isso não mais existe. Todo fascista tem a mesma característica psicótica, pois é portador de recalques nunca tratados, jamais curados...

É de causar, no mínimo, perplexidade ver os mesmos que debochavam das pessoas que se cuidavam durante o período mais crítico da pandemia (e eram ofendidos pelo maior salário da República) a posar hoje de ‘empáticos’, isto é, detentores de uma ‘inocente’ e ‘espontânea’ empatia, para justificar uma PEC (projeto de Emenda Constitucional) que torra acintosa e criminosamente a ‘bagatela’ de 41 bilhões de reais a menos de 100 dias das eleições. Cinismo puro, próprio dos desatinados que atentam contra os destinos deste país-continente...

Para cada real cortado do orçamento da Educação, Saúde e Ciência e Tecnologia, dez reais são desperdiçados com a compra de parlamentares via ‘emendas secretas’ e a nada republicana maneira de governar para os ‘amigos’ (sic), como diversos escândalos já nos deixaram incrédulos, tendo sido o do MEC o pior deles (mas não esqueçamos as compras criminosas na Saúde de Pazuello e acertinhos nada ortodoxos no tempo de Ricardo Sales, aquele da aula como deixar passar a boiada).

Na verdade, do estado de delírio em que viviam -- na acintosa promiscuidade institucional desde a posse -- ao estado de desespero em que se encontram depois de que o choque da realidade, dura realidade, os tomou em cheio, a obsessão que conduz a sua esquizofrenia consuetudinária é capaz disso e de ‘otras cositas más’. Todo cuidado é pouco, veja-se o acontecido com Dom Philips e Bruno Pereira, com Dorothy Stang, com Chico Mendes, com Marçal de Souza...

O mesmo estado em que Marçal de Souza conquistou a humanidade e, contra a sua vontade, ceifou-lhe o porvir em 1983 é palco da mais recente tragédia que enluta o povo Guarani Kaiowá. O desatino que campeia solto em Brasília estendeu suas ondas de torpor e insanidade e, em atropelo aos mais comezinhos procedimentos preconizados pelo Estado Democrático de Direito, além de pelo menos um morto, foram feridos, inclusive a bala, idosos, adolescentes, crianças, mulheres e demais integrantes da comunidade Guarani Kaiowá de Amambai, ao sul de Mato Grosso do Sul. Matança que entra para a história como Massacre de Guapoy, conforme denúncia do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), órgão da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e que já enviou petição aos órgãos de Direitos Humanos da ONU e OEA.

E, a propósito, onde estava a Funai, que não se manifesta até o momento sobre um assunto tão impactante? Todos sabem em Mato Grosso do Sul -- é de conhecimento público a disputa dessas terras em Amambai --, que quando Pedro Pedrossian era governador e Fernando Collor presidente (pouco antes do impeachment), os gestores (nacional e regional) da Funai ‘negociaram’ com fazendeiros da região uma entrega ilegal, que não passou pelas vias oficiais, de terras Guarani Kaiowá, exatamente onde ocorreu a balaceira semana passada, que tirou a Vida de Vito Fernandes, 41 anos, mas que desta vez não ficará impune...

Como sempre, três dias depois do funeral do Guarani Kaiowá que teve a Vida ceifada sem direito a defesa, como que esses povos originários não tivessem direito a reivindicar por seus direitos (reconhecidos em 1915), aparece aquele cara que fede enxofre para comemorar mais uma tragédia. Toma cuidado, peste, que praga dos povos originários não poupou nem os imperadores da Espanha e de Portugal, ainda mais um impostor tresloucado que alardeia ter um conchavo com o peçonhento lá debaixo...

Ahmad Schabib Hany