sexta-feira, 29 de julho de 2022
DOLORES E A DIGNIDADE DAS MARIAS
Dolores e a dignidade das Marias
Dolores é a protagonista do mais recente livro de
Luiz Taques, que aborda com pioneirismo em nossa literatura a Guerra do Chaco,
em que a Bolívia e o Paraguai se envolveram em uma verdadeira carnificina para
saciar a cobiça de grandes petroleiras (e por trás o Brasil e a Argentina)
pouco antes da Segunda Guerra Mundial.
Premiado Jornalista e reconhecido escritor, Luiz
Taques lança em Corumbá, dia 6 de agosto, seu mais recente livro -- “Aposto que
você nem sabia do namoro dela com um ex-combatente da Guerra do Chaco” --, com
o apoio cultural do ativista Arturo Castedo Ardaya. A escolha do Dia da Independência
boliviana (e do local, a emblemática Feira BrasBol) não é mero acaso: o último
conflito bélico na região platina da América do Sul foi uma verdadeira
carnificina entre a Bolívia e o Paraguai, para saciar a cobiça das petroleiras Standard
Oil e Shell (e por trás Brasil e Argentina), pouco antes da eclosão da Segunda
Guerra Mundial.
A protagonista da obra literária é Dolores, cuja
dignidade de mulher proletária é narrada ao longo da novela, num estilo instigante,
de um sugestivo diálogo (ou monólogo?) com o filho dela, nada atento às
qualidades de mãe solo, vítima da misoginia que atenta contra os valores
civilizatórios nestes nada generosos tempos de intolerância e negacionismo. O
autor, no percurso de sua trajetória literária marcada pela originalidade,
pioneirismo e refinado estilo, não só produziu uma obra de ficção consistente,
mas, sobretudo, um sensível resgate humanístico de preceitos inestimáveis que
nos blindam da barbárie -- esta que teima em afrontar nosso porvir.
Embora não se trate de uma obra historiográfica,
Taques faz aportes relevantes ao resgatar depoimentos de contemporâneos do
conflito, como o do jornalista, escritor e intelectual boliviano Augusto
Céspedes (“Sangre de mestizos”, “Metal del diablo”, “El presidente colgado” e “Crónicas
heroicas de una guerra estúpida”, como correspondente de guerra do diário “El Universal”)
e faça uma referência não casual ao emblemático escritor, intelectual e político
paraguaio Domingo Laino, perseguido durante décadas pela ditadura sanguinária
de Alfredo Stroessner.
O livro é uma edição bilíngue (português-espanhol) da
Editora Maria Petrona, .que abre perspectivas para a integração literária na
América Latina. E traz uma temática pioneira: pela primeira vez a literatura
brasileira aborda um tema muito caro para as populações boliviana e paraguaia,
pois, mais que disputa territorial, se tratou de um genocídio de elevado
impacto para dois dos países mais saqueados da América do Sul. No campo da
história, aliás, Júlio José Chiavenatto, injustamente invisibilizado nas
últimas décadas, já havia o tratado em fins da década de 1970, em “A Guerra do
Chaco (Leia-se petróleo)”, da Editora Brasiliense -- em que completou a trilogia
com “Genocídio Americano (A Guerra do Paraguai)” e “Bolívia: Com a pólvora na
boca”.
Luiz Taques, além de renomado Jornalista (duas
vezes premiado por reportagens em que denunciou a exploração do trabalho
infantil nas carvoarias de Mato Grosso do Sul, tanto pela Federação Nacional
dos Jornalistas, como pelo Instituto Vladimir Herzog de Direitos Humanos), é um
escritor com bibliografia sólida: “Zé Vida de Barraca”, “O casamento vai acabar
com o poeta”, Bebinho, “Mamadinho e o Velório de Bafo de Alho”, “Crônica de uma
grande farsa” (em coautoria com o Jornalista José Maschio), “Madá”, “Pedro”, “Um
rio, uma guerra”, “Mulas”, “Tereza é meu nome” e “Boa hora para lembrar de Vivi
Bandoleiro”.
É, pois, com Dolores que o leitor se reencontrará
com o instigante universo literário de Luiz Taques, cujos livros -- embora não
lhe agrade o comentário -- estão predestinados a atravessar séculos, por conta
da qualidade literária, do estilo peculiar e da capacidade de descrever com
fidelidade o tempo e a sociedade presente, ou melhor, em que foram escritos,
criados, lapidados, com afinco, candura e originalidade. E que viva Dolores,
que, igual a “Maria Maria” de Milton Nascimento e Fernando Brant, “É um dom,
uma certa magia / Uma força que nos alerta / Uma mulher que merece viver e amar
/ Como outra qualquer do Planeta”.
Ahmad Schabib Hany
sábado, 23 de julho de 2022
PÉSSIMO EXEMPLO
Péssimo exemplo
Como é possível posar de moralista quando se é
exemplo de amoral, e como ser patriota quando o povo está entregue à própria
sorte, a soberania nacional aos abutres do mercado e o Estado Democrático de
Direito aos ‘viúvos’ da ditadura de 1964?
Desde antes de 2019 o detentor do mais cobiçado
cargo da República tem feito uma série de atos nada recomendáveis a um
dignitário. A liturgia do cargo, isto é, o protocolo é de extremo rigor,
podendo chegar à deposição do cargo por inobservância de questões aparentemente
irrelevantes. Como a que levou ao impeachment fraudulento de Dilma Rousseff,
por supostas ‘pedaladas fiscais’, uma figura jurídica heterodoxa, própria da
invencionice golpista do centrão, o mesmo que hoje dá apoio ao atual inquilino
do Planalto.
Quando se pensa na República é imprescindível nos
remetermos ao tempo em que Pedro de Alcântara (o futuro Pedro I do Brasil e
Pedro IV de Portugal) era príncipe herdeiro por conta do retorno de D. João VI
a Portugal. O próprio rei de Portugal havia deixado um conselheiro influente,
de sua confiança, chamado José Bonifácio de Andrada e Silva, que tinha um irmão
tão ardiloso quanto ele, Antônio Carlos de Andrada e Silva (a quem é atribuída
a nefasta consigna das elites brasileiras, “façamos a revolução antes que o
povo a faça”, que parece uma sina para este país-continente).
E que é, mesmo, o ‘patriarca da Independência’?
Precisamente o conselheiro deixado por João VI para orientar o príncipe
herdeiro, supostamente de sua maior confiança. Só que não. Representante das
oligarquias brasileiras, feitas à base das mordomias e benesses dos membros da
corte portuguesa no Brasil, José Bonifácio (e Antônio Carlos por trás) se
incumbiu de realizar a ruptura dos elos entre a metrópole e a colônia. Assim --
sem qualquer pudor ou comedimento --, a 7 de setembro de 1822, o jovem
aspirante a imperador era induzido a celebrar a cobiçada emancipação das
exuberantes e generosas terras colonizadas pelos lusitanos desde o século XVI.
À luz dos ensinamentos do positivismo, aquela
corrente de pensamento fundada pelo filósofo francês August Comte, o Império do
Brasil foi constituído como um regime monárquico absolutista. Até por
influência de José Bonifácio, o jovem monarca Pedro I fazia questão de exercer
o chamado Poder Moderador, ele pessoalmente. Resultado: a primeira Constituição
brasileira levou anos para ser outorgada (sim, outorgada; porque o imperador
foi quem impôs a sua íntegra, de modo que promulgada somente a Carta
Constitucional de 1945 é que seria, a refletir os anseios da população).
Não demorou muito para que os brasileiros
organizassem o Partido Brasileiro, contra os membros do Partido Português, além
de uma série de movimentos ‘nativistas’ (na verdade, movimentos emancipadores),
contrários à hegemonia dos ex-colonizadores num país recém-independizado. O pior
é que a repressão aos nacionalistas era tão severa quanto a dos funestos tempos
da colonização, como quando a Conjuração Mineira foi desbaratada e seus
dirigentes severamente punidos, tendo Joaquim José da Silva Xavier enforcado,
esquartejado e partes de seu corpo salgadas e expostas em diferentes locais de
Vila Rica, local do movimento contra os abusos dos membros da corte.
Até Cuiabá participou das rebeliões contra os
abusos do Império recém-implantado, com os mesmos vícios, aliás, do antigo
regime. Acontece que a família real e a ex-metrópole eram as mesmas, tanto é
que Pedro I abdicou em favor de seu filho ainda criança, que pouco tempo
depois, antes de completar os seis anos, foi entronizado como Pedro II, e ponto
final. Nem a escravidão havia sido abolida até então, e muito menos os
privilégios conferidos aos portugueses, que se impunham contra os súditos
brasileiros sem qualquer temor ou discrição.
A sorte, mera sorte, é que, ao contrário de Pedro
I, o segundo e último imperador era um homem de ciências e de letras, dentro do
figurino positivista. Tão logo assumiu sua condição de príncipe regente, ainda
menor de idade, foi logo criando o Colégio Pedro II e, na edícula do palácio
imperial, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), cujos
estatutos, elaborados pelo próprio imperador, davam total poder ao monarca, que
também era responsável por financiar o que deveria ter sido a primeira
Universidade brasileira (até porque ela somente apareceu quase um século
depois, nos anos 1920). Ao contrário dos países vizinhos, todos eles
Repúblicas, como uma cláusula pétrea constava do documento constitutivo do IHGB
que o Brasil era um país monárquico, católico, branco e de valores solidamente
positivistas.
No entanto, só depois da conflagração da Guerra da
Tríplice Aliança contra o Paraguai é que as forças armadas foram
profissionalizadas, as fronteiras demarcadas e o Estado propriamente nacional
passou a ser concretizado com a emissão de documentos como o de reservista.
Como a Igreja e o Estado somente iriam ser separados depois da Revolução de
1930 (aquela que entregou o poder a Getúlio Vargas), eram as paróquias
espalhadas pelo território nacional as que se encarregavam de emitir a certidão
de batismo, de casamento e de óbito. Somente com Getúlio, ainda que sendo
ditador, é que foram instituídos documentos de caráter nacional, como a
Carteira de Trabalho e o Cadastro de Identificação de Contribuintes (CIC,
depois CPF), 100 anos depois de proclamada a Independência do Brasil.
Em resumo, apesar de estarmos comemorando este ano
-- daqui a menos de dois meses, em 7 de setembro de 2022 --, o Bicentenário da
Independência, tivemos somente 50 anos de vida democrática (entre 1945 e 1964,
e entre 1985 e 2016), ainda assim, com algumas turbulências, como as que
precederam o suicídio de Getúlio em 1954, o golpe de 1964 contra João Goulart e
os tumultos desestabilizadores contra Dilma entre 2013 e 2016 e a obsessiva
perseguição lavajatista de Moro e Dallagnol contra Lula para impedir a sua
virtual eleição em 2018. A rigor, nem 50 anos de vida plenamente democrática em
200 anos de vida independente.
De que maneira, então, poderíamos esperar de um
quase desertor da caserna um gesto republicano, quando nem como parlamentar, em
seus mais de 28 anos de parasitismo congressual, conseguiu inspirar seus pares
a uma cruzada cívica? Pelo contrário, houve, sim, o protagonismo de vários atos
em que obscenidades foram vociferadas em meio a ofensas nada republicanas. A
história é um dos melhores instrumentos de análise e de avaliação da qualidade
da democracia de qualquer país, sobretudo à luz dos valores civilizatórios,
republicanos e democráticos.
Que neste ano da celebração do Bicentenário da
Soberania Brasileira o povo expresse sua vontade soberana nas urnas e que a
esperança renasça em todos os corações. Feliz Nova República, em consonância
com os anseios da maioria do Povo, como a Democracia preconiza e consigna.
Parabéns, Povo Brasileiro, laborioso, acolhedor e hospitaleiro!
Ahmad Schabib Hany
sexta-feira, 22 de julho de 2022
MAIS MENTIROSO QUE O CAPIROTO
Mais mentiroso que o capiroto
O inominado é tão mentiroso que nem ele mesmo
acredita em si mesmo. Tudo que fez em toda a sua recalcada existência foi ao
avesso, só para negar, tanto que não consegue caminhar para a frente...
Se o ilustre leitor pensou que se tratasse de
Donald Trump, enganou-se redondamente. Trata-se do delirante, o inominável, aquele
mentiroso contumaz que passou a vida toda a mentir que nem ele consegue
acreditar em si mesmo. O mais curioso é que seres iguais a ele também lhe fazem
coro, pela simples razão de não acreditarem em si mesmos, mas precisam fazer de
conta de que acreditam em algo -- então, nada melhor que seja alguém igual a
eles, como todo narcisista recalcado.
Os colegas dos tempos da caserna costumam dizer que
ele amarelava depois de algum blefe ou ato atabalhoado. É o que ficou
constatado no famigerado processo apensado na justiça militar por tentativa de
sabotagem de uma adutora importante da cidade do Rio de Janeiro, na década de
1980. Negou tudo o que fez publicar na revista Veja, que já não era a mesma dos tempos do grande Jornalista Mino
Carta, seu fundador e primeiro diretor de redação. O fato é que acabou
beneficiado por um ato de benevolência do então ministro do Exército, general
Leônidas Pires Gonçalves, escolhido por ninguém menos que o primeiro presidente
civil pós-1964, o Doutor Tancredo Neves, que acabou não conseguindo tomar posse
e deixando o mandato para o vice, José Sarney.
Não são poucas as explosões pirotécnicas do então
obscuro parlamentar que passou 28 anos na Câmara dos Deputados sem apresentar
um projeto digno de estadista para quem foi guindado à Presidência da República
sem dispor da mínima qualificação para receber o maior salário do primeiro
escalão. Sua única habilidade, constatada ao longo dos quase quatro anos perdidos
no comando da oitava economia do planeta, é divulgar fake news, promover o desmonte das instituições de Estado,
desperdiçar o patrimônio pecuniário, natural e cultural do Brasil, propalar o
caos e a conduta ‘fora da casinha’, quando a liturgia do cargo requer
comportamento impecável, todo ele dentro do protocolo.
Às vezes chegamos ao cúmulo da incredulidade ao
vermos a, digamos, desenvoltura com que protagoniza os mais bizarros atos, de
fazer inveja aos mais geniais dramaturgos do século XX, como Dias Gomes e seu
Odorico Paraguaçu. Foi o que com perplexidade a comunidade internacional
assistiu na sexta-feira passada, quando se deu ao desplante de manifestar
impropérios contra o Superior Tribunal Eleitoral (TSE), uma das mais sólidas
instituições democráticas da República e seu sistema de votação e escrutínio,
que foi responsável, aliás, por tê-lo diplomado em 2018, quando ele não passava
de um azarão.
O inominável deve achar-se muito inteligente. Só
que não. Além de cometer atos lesivos à administração pública, ele atenta
contra os mais comezinhos direitos da população ao ter desperdiçado bilhões de
reais com políticas patéticas de desmonte dos principais órgãos gestores de
políticas públicas caras para o Estado Democrático de Direito, como Saúde,
Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, Assistência Social, Promoção da
Igualdade Racial, Meio Ambiente, Reforma Agrária, demarcação de terras
indígenas etc. E não há dinheiro do ‘orçamento secreto’ e da medida provisória
da gastança de 41,2 bilhões de reais capaz de reverter a queda vertiginosa de
sua popularidade ante a volta da fome e do desemprego, mais duas de suas heranças
malditas.
E se tudo isso não bastasse, as hordas fora de lei
que atiçam seu ego recalcado vivem a cometer crimes, pela sensação de
impunidade por ele acenada -- recorrência de crimes medonhos como o que atentou
contra a Vida de Marcelo Arruda, dirigente petista de Foz do Iguaçu (PR), ou
que atingiu a dignidade do Padre Júlio Lancellotti, de São Paulo,
criminosamente envolvido em uma farsa que o envolvia em ato de pedofilia que
nunca existiu (como foi revelado na semana passada pela revista Piauí, fato pouco divulgado). Esse
sórdido estratagema, retirado dos manuais fascistas de triste memória,
evidencia o fato de ser mais mentiroso que o próprio capiroto.
Ele pode até entusiasmar inúmeros cristãos de
boa-fé, mas o rastro de enxofre a exalar em seus nada inocentes propósitos,
como o de armar criminosamente a população, lhe dificulta, senão impossibilita,
a garantia de emprego pelos próximos quatro anos. Ação de causa e efeito,
obviamente, de quem não tem demonstrado empatia, solidariedade e humildade
durante o atual mandato, que entrará para a história pela sordidez e empáfia
dele e de seus bizarros ministros, destituídos de amor ao próximo e de postura
ética e republicana. Logo ele que foi guindado ao maior cargo da República na
esteira de figuras carimbadas que ganharam notoriedade com movimentos como o ‘MBL’,
‘Vem Pra Rua’ et caterva, muitos deles envolvidos em tramas macabras como a que
atingiu o Padre Júlio Lancellotti em São Paulo.
Ahmad Schabib Hany
segunda-feira, 18 de julho de 2022
FOME, MAIS UMA HERANÇA MALDITA DO DELIRANTE
Fome, mais uma herança maldita do delirante
A fome que voltou ao cotidiano brasileiro não é
fruto do acaso: é consequência das prioridades do delirante, que privilegiou
ricos, sonegadores, fora de lei e milicianos que vivem da tragédia dos mais
vulneráveis. Ou alguém tem dúvida de que a prioridade, desde o primeiro dia de
seu mandato, foi o caos, o desmonte do Estado, o descrédito sistemático da
normalidade democrática?
Não é preciso ser nenhum especialista para
perceber, a olho nu, os gritantes indicadores sociais que envergonham o Brasil.
Um delirante cuja ‘agenda’ é a promoção do caos, a difusão do ódio, a negação
das eleições livres, o desmonte das instituições de proteção democrática,
ambiental, social, racial, de gênero, de classes e de etnias, não fez
absolutamente nada para fortalecer as políticas públicas de reparação social e
promoção da igualdade em todas as dimensões. É a verdadeira razão de ser do
golpe contra Dilma Rousseff em 2016 e a prisão ilegal de Lula em 2018: os abastados
se sentiram de alguma forma ‘ameaçados’ pela ascensão econômica, ainda que
tímida, das classes C, D e E, e se somaram aos fora de lei e ‘viúvos’ da
ditadura para ‘estancar a sangria’. E deu no que deu...
Tanto é verdade que, da maneira mais cínica e
sórdida, a menos de 100 dias das eleições gerais, estupra a lei e, recorrendo à
moeda de compra do centrão, consegue aprovar a medida provisória do estado de
emergência para implantar um conjunto de programas sociais por apenas quatro
meses, quando poderia ter feito da maneira mais republicana, ao longo dos quase
anos de desgoverno e de atentados ao Estado Democrático de Direito -- mas não
fez: preferiu sentir nos glúteos as coxas fedorentas do dono da Havan, seu parceiro
e com quem andou trocando muita arminha nos últimos anos...
Como o que interessa é o triste retorno do Brasil
ao mapa da fome, não trataremos da sórdida encenação diante do concerto das
nações (afinal, os embaixadores representam a comunidade internacional) em que
atenta contra a Democracia, contra o Estado de Direito, cujo sistema eleitoral
e o Poder Judiciário são partes indissociáveis e contra os quais não se pode
disseminar descrédito impunemente. É caso de camisa de força ou prisão sumária,
até porque o Estado são as instituições, não os delírios de um perdedor
confesso, delirante contumaz.
Os que têm hoje mais de 50 anos se lembram da
grande avalanche solidária que moveu a Nação depois do impeachment de Collor --
início do governo de Itamar Franco, um vice-presidente decente que em nada se
compara ao ‘brimo’ golpista Michel Temer. Cinco anos depois da promulgação da
Constituição de 1988, a Ação da Cidadania promoveu em todo o Brasil, entre 1993
e 2003, a Campanha contra a Fome (originariamente Ação da Cidadania contra a
Fome, a Miséria e pela Vida). Quando Lula se elegeu em 2002, ele instituiu o
Brasil sem Fome, que deu origem ao conjunto de políticas que vão desde o Bolsa
Família a todos os programas de inclusão e reparação social, racial, esportiva,
estudantil e cultural instituídos paulatinamente ao longo de 14 anos de
governos petistas.
Inspirada no corajoso plano do sociólogo Herbert de
Souza (Betinho) e com o apoio incondicional de Dom Mauro Morelli, Bispo Emérito
de Duque de Caxias e São João do Meriti (Baixada Fluminense), voluntários de
todo o Brasil se mobilizaram e em menos de um ano haviam realizado algo inédito
no País: o tripé da esperança, que foram: a) Censo da Fome; b) mapeamento das
iniciativas de enfrentamento à fome, e c) localização de pontos de potenciais
provedores de donativos (pessoas físicas, empresas e instituições). Itamar,
diferente do inominável obstinado em promover o caos e levar a desgraça que
invadiu o Planalto, deu todo o apoio institucional, sem usar politicamente o
movimento.
Quando se é democrático por convicção -- e não por
conveniência --, não é preciso dar um ‘balão’ no ordenamento jurídico para, de
afogadilho, torrar a ‘bagatela’ de 41,2 bilhões de reais em pouco mais de
quatro meses, até o dia 31 de dezembro de 2022. Por uma só razão: o maior
salário da República não quer perder o emprego pelos próximos quatro anos e,
obsessivo pelo ‘poder’ como é, atropela tudo e todos para que a vontade dele
seja feita, a ferro e fogo... Exatamente ao contrário do que fizeram Itamar,
Lula e Dilma, que aos poucos foram construindo a rede de proteção social por
meio de políticas públicas que consolidaram o Estado Democrático de Direito e
tiraram o Brasil do mapa da fome, que só retornou pela ausência de políticas
promovidas pelos cretinos que se passam por cristãos, mas querem ‘armar’ em vez
de amar...
Em sã consciência, o que fez este ser bizarro,
destituído de empatia, solidariedade e um pingo de humildade, em quase quatro
anos de mandato que não contribuiu para elevar a qualidade de vida de amplas
camadas da população? Preferiu ficar falando para o seu ‘curralzinho’, para as
hordas de fanáticos e fora de lei, para atentar contra o Estado de Direito,
para assanhar o que há de pior na alma das pessoas, para levar a discórdia, a
desdita, a mentira, o desdém, a afronta... Menos governar, pelo que é pago sobeja
e rigorosamente, de acordo com o que determina o arcabouço jurídico que ele
vive a afrontar.
Recordando as sábias palavras de Ulysses Guimarães
na sessão de promulgação da Carta Constitucional de 5 de outubro de 1988: “A
Constituição não é certamente perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a
reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais.
Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o
caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento,
garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o
cemitério. Quando após tantos anos de lutas e sacrifícios promulgamos o
Estatuto do Homem e da Liberdade e da Democracia bradamos por imposição de sua
honra. Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. ... A sociedade é Rubens Paiva, não
os facínoras que o mataram. Foi a sociedade mobilizada nos colossais comícios
das Diretas Já que pela transição e pela mudança derrotou o Estado usurpador.”
O delirante ousa atropelar o Estado de Direito para
erigir o projeto fascista sobre os seus escombros. Não conseguirá. O fim está
ante o próprio desditado, maldito como seu amo e senhor, a exalar enxofre.
Basta: enquanto houver dignidade e altivez, jamais haverá oportunidade para
facínora delirante, serviçal mefistofélico. A história consignará e o povo
resistirá. Seu destino é o lixo da história como todo remanescente da escória.
Ahmad Schabib Hany
quinta-feira, 14 de julho de 2022
ALERTA MÁXIMO
Alerta máximo
A execução do dirigente petista de Foz do Iguaçu
(PR), Marcelo Arruda, na sua festa de aniversário de 50 anos, escancara o
alerta máximo para acionar TOLERÂNCIA ZERO com as hordas fascistas. As forças
democráticas não podem pôr no mesmo nível as lideranças populares às dos
facínoras teleguiados pelos viúvos da ditadura: é hora de ocupar as ruas e
todos os espaços públicos na defesa intransigente do Estado Democrático de
Direito e de levar às barras dos tribunais TODOS os que instigam a intolerância,
sobretudo pelos canais clandestinos cujas mensagens têm sido vazadas.
Que o desespero da prole e dos agregados do
inominável já transbordou seus microcéfalos ocos, isso não é mais novidade. No
entanto, o sangue de Marcelo Arruda derramado em Foz de Iguaçu (PR) não pode
permanecer impune. Que, a rigor, os pseudodemocratas que se passam por
centristas ficam a pôr no mesmo nível vítima e algoz, quando quatro anos atrás
estavam em conluio fazendo paródia com as hordas mefistofélicas que hoje ocupam
o Planalto e de lá só sairão à força, como cada vez mais está claro.
Em vez de trabalhar, justificar os polpudos
salários que auferem -- ou que fosse pelo falso patriotismo e falso moralismo
--, ficam a proliferar e instigar o que as pessoas têm de pior em seu âmago. E
o objetivo é claro: levar o medo, o pânico, o terror, como seus ídolos fizeram
em Berlim, Roma, Lisboa, Madri, Assunção, Santiago, La Paz e Buenos Aires. A
sua cartilha, batizada de Orvil (‘Livro’ às avessas), difundida nesses canais clandestinos,
próprios dos covardes com DNA, não ensina: deforma, deturpa, entorpece. É assim
como pretendem estuprar a Democracia, essa conquista sacrificada que o Povo
levou 21 anos para revigorar, revitalizar, no coração do Brasil.
TOLERÂNCIA ZERO. Fascista não conhece outra voz de
comando que não seja a pressão e, obviamente, a prisão. Borram-se totalmente
quando se os chama à altura. Nunca respeitaram, e não respeitam o Estado
Democrático de Direito. Seu perjúrio é parte de seu cínico proceder. Fingem que
juram defender a Constituição, mas seus atos são claros e nítidos. Não creem,
com sinceridade, na Democracia; não são seguidores dos valores democráticos e
civilizatórios; não são sinceramente cristãos -- usam as igrejas do mesmo jeito
que se servem das roupas, só aparências. É o que a História registrou desde os
trágicos tempos de Hitler, Mussolini, Salazar, Franco, Stroessner, Pinochet,
Banzer e Videla.
Causa indignação a atitude abjeta do maior salário
da República, que atentou mais uma vez contra os mais comezinhos gestos de
empatia e solidariedade: ousou usar de modo repugnante sua condição de
dignitário para ultrajar a dignidade da família de Marcelo Arruda que, como
toda família brasileira, tem entre seus membros ‘gregos e baianos’, isto é,
pessoas simpatizantes de todas as correntes políticas existentes na atualidade.
A canalhice, no entanto, é que, ao gravar a fala com irmãos da vítima de um
fanático seu seguidor, agredindo a memória do falecido, não expressando
qualquer solidariedade e fazendo juízo de valores inclusive sobre o ato de
defesa da vítima, que interveio para poupar que fosse maior o número de vítimas
fatais.
Além de insuflar fanáticos de todo tipo, esse
indivíduo, evidentemente despreparado e desesperado, vive a justificar sua
desqualificação sem respeitar a dor e o sofrimento das vítimas de suas hordas,
e é incapaz de esboçar qualquer gesto de humildade, razão pela qual sua
popularidade vive a ‘descer a ladeira’. Ou melhor, ‘descer a rampa’. Ou muda
seu comportamento bizarro, ou terá que mudar de endereço, pois tanta desfaçatez
não encontra ressonância na maioria da população deste país-continente. Um povo
acolhedor e generoso, hospitaleiro e laborioso, cujo maior ‘pecado’ é confiar
demais em quem não merece.
O fato é que os principais dirigentes das
instituições do Estado Democrático de Direito são unânimes na defesa da
normalidade democrática. Mas tudo isso não sensibilizou nem arrefeceu a soberba
da besta-fera que exala enxofre e vive a esnobar seu conchavo com o peçonhento
lá debaixo. Porque desde sempre ele é um serviçal mefistofélico. Outra não é a
sua missão que não levar a dor, o luto e a desdita aos mais recônditos espaços
do país que acolheu seus ancestrais quando refugiados das tragédias europeias,
mas por cujo povo jamais soube guardar gratidão.
Passou da hora de ocupar as ruas, os espaços
públicos, para levar essa indignação, esse grito contido, contra essa escalada
de violência planejada, calculada. ‘Motociatas’, não: são mAtoqueiros em
treinamento, prontos para aterrorizar a população. ‘Drones com estrume’, não: no
momento que eles julgarem apropriado, serão, sim, drones com armas e gases
letais. Não serão armas de CAC (caçadores, atiradores e colecionadores), mas de
milicianos adestrados para levar o pânico e a submissão, como fazem com as
favelas no Rio de Janeiro, e para livrá-los de qualquer punição, estarão os
boletins de ocorrência à torta e à direita, formalizando furtos e roubos
programados.
Ou a sociedade civil dá o basta já, ou as hordas
assassinas se assanham ainda mais. Até porque elas desconhecem a História e
atropelam sua própria sina. Só que a escória tende a retornar ao lugar de onde
jamais deveriam ter saído. E voltarão, mais dia, menos dia. O lixo da História
as espera, com a mesma avidez, a mesma cobiça, que elas têm pelo ‘poder’, por
algo que só existe na cabeça de seus ‘líderes’, porque há mais de trinta anos
tudo isso foi para o mesmo passado que levou as suas perversidades inomináveis.
Ahmad Schabib Hany
sexta-feira, 8 de julho de 2022
DOM CLÁUDIO HUMMES, DISCRETO E ARTICULADO
Dom Cláudio Hummes, discreto e articulado
Dom Cláudio Hummes surge, discreto e articulado, em
meados da década de 1970, quando era Bispo Diocesano de Santo André. Com ele,
surgia também o novo sindicalismo brasileiro, distante dos ‘pelegos’ (como ‘Joaquinzão’,
apoiado pelo PCB como estratégia de enfrentamento à ditadura). A maior
expressão desse processo de empoderamento da classe trabalhadora se chama Lula.
Padre Franciscano ordenado em 1958, Dom Cláudio
Hummes foi empossado em meados da década de 1970 na Diocese de Santo André da
Borda do Campo, que, com São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, forma a
região metropolitana de São Paulo, o Grande ABC (mais tarde acrescida de
Diadema, ABCD). Região de trabalhadores vindos de todas as regiões do Brasil, a
Diocese de Santo André, durante o período em que Dom Cláudio foi Bispo
Diocesano, era uma usina de soluções sociais: Comissões Eclesiais de Base (CEBs),
Comissões de Fábrica, Movimento Popular de Saúde (MOPS), Pastoral do Migrante,
Pastoral da Juventude (PJ), Pastoral Operária, Pastoral do Menor (assim é que
chamava, pois estávamos em plena ditadura, e o Estatuto da Criança e do
Adolescente sequer ainda tinha sido discutido pela sociedade civil) etc.
Dom Cláudio, a despeito de seu jeito tímido, sempre
se caracterizou pela determinação e galhardia. Não foram poucos os
enfrentamentos com as tropas regulares e verdadeiras hordas de milicianos que
mandavam e matavam noite e dia, sob as ordens do temido Delegado Fleury, apoiado
por empresários paulistas integrantes da OBAN (Operação Bandeirante), que
incluía grandes grupos, entre eles o então Grupo
Folhas, que edita a Folha de S.Paulo.
Emblemático foi o acolhimento aos trabalhadores em greve no interior da Matriz
de São Bernardo, enquanto as tropas do lado de fora circulavam ameaçadoras,
feito uma matilha à espreita de suas presas.
A repressão sanguinária perpetrada entre os anos
1968 e 1971 pelas mãos assassinas de Sérgio Paranhos Fleury dizimou a
resistência popular nessas congestionadas terras. No entanto, discreta e
articuladamente, a Igreja desenvolvia um inesgotável trabalho junto às famílias
trabalhadoras. Foi, aliás, assim como Luiz Inácio, o Presidente Lula, se
politizou. Primeiro lendo a Bíblia, depois pondo em prática os seus
ensinamentos, e dessa forma surge o líder sindical Lula que se transforma no
estadista renomado mundo afora. Não por acaso, recalcados como Moro e Dallagnol,
que precisam pagar por seus crimes, fizeram o que fizeram, seguindo a cartilha
fascista...
Totalmente diferente de pastores como Milton
Ribeiro, que rasgou sua biografia como reitor da Universidade Mackenzie de São
Paulo, o saudoso Pastor Jaime Wright, também da Igreja Presbiteriana, não só
lutou pelos direitos humanos, como enfrentou ativamente as forças da repressão.
Ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, reuniu
todos os casos de tortura cometidos até então pelo regime de 1964. Lá estava,
discreto e articulado, Dom Cláudio, que em 1996 foi nomeado Arcebispo de
Fortaleza, e em 1998 retorna para São Paulo como Arcebispo, e permanece até
2006. Fica no Vaticano como Prefeito da Congregação do Clero, por ato do Papa
Bento XVI, até 2010, quando decide retornar para o Brasil, e é eleito pela CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) Presidente da Conferência Eclesial
da Amazônia, sua última missão, tendo renunciado dois meses antes de sua
eternização.
Na verdade, por pouco não foi Dom Claudio Hummes o
brasileiro eleito Papa em 2005. A eleição do Cardeal Joseph Ratzinger causou
surpresa, tanto que ele preferiu renunciar ao Pontificado anos depois. E o mais
curioso, pelo que revelou o Papa Francisco: tão logo ele foi eleito em 2013, o
bem articulado e cordial Cardeal Hummes lhe insistiu que “não esqueça dos
pobres”, ainda na Capela Sistina. Sua fala o tocou tão fundo, que decidiu
adotar seu Pontificado com o nome Francisco. Eis um brasileiro que precisa ser conhecido
e reconhecido por seus patrícios: embora discreto, bem comprometido com a
humanidade, tendo sido marcante em dois Conclaves, de 2005 e 2013, reconhecido
como o principal articulador da eleição do Papa Francisco.
Com a mesma discrição que conduziu sua trajetória
sacerdotal, Dom Cláudio Hummes se eterniza, porém, num momento em que seu papel
de articulador é gritante. Talvez seja o desafio que exija da sociedade civil
que ele tanto protegeu nos anos de chumbo, desta vez chamada a fazer a sua
parte, indissociável da consolidação do Estado Democrático de Direito. Até
sempre, Dom Cláudio Hummes!
Ahmad Schabib Hany
sexta-feira, 1 de julho de 2022
ESTADO DE DESESPERO
Estado de desespero
Estado de emergência, não: estado de desespero.
Passaram quase quatro anos promovendo algazarras e se esqueceram de trabalhar,
e no final do mandato se deram conta do estrago. Mas os sábios ancestrais
ensinam que com transtornados não se mexe, pois se corre o risco de levar a
pior...
Desespero, e não emergência. Essa é a razão real da
acentuada série de atropelos legais que vêm se sucedendo nas últimas semanas. O
semblante do cínico senador que, em vez do relatório sobre a PEC do teto do
ICMS, apresentou a tal PEC do estado de emergência reflete o desespero das
saúvas do centrão que, seguindo sua vocação desde os tempos de Pedro Álvares
Cabral, tem no próprio bolso o órgão mais sensível, ameaçado de vez pelas
perspectivas eleitorais.
Passaram quase quatro anos em algazarras,
provocações, ‘motociatas’, manifestações misóginas e racistas, instigando o que
há de pior no âmago das pessoas... Confundiram, acintosamente, o exercício constitucional
do principal cargo na República com o ‘poder’ que eles tanto cobiçam, mas que
nos dias atuais isso não mais existe. Todo fascista tem a mesma característica psicótica,
pois é portador de recalques nunca tratados, jamais curados...
É de causar, no mínimo, perplexidade ver os mesmos
que debochavam das pessoas que se cuidavam durante o período mais crítico da
pandemia (e eram ofendidos pelo maior salário da República) a posar hoje de ‘empáticos’,
isto é, detentores de uma ‘inocente’ e ‘espontânea’ empatia, para justificar
uma PEC (projeto de Emenda Constitucional) que torra acintosa e criminosamente
a ‘bagatela’ de 41 bilhões de reais a menos de 100 dias das eleições. Cinismo
puro, próprio dos desatinados que atentam contra os destinos deste
país-continente...
Para cada real cortado do orçamento da Educação,
Saúde e Ciência e Tecnologia, dez reais são desperdiçados com a compra de
parlamentares via ‘emendas secretas’ e a nada republicana maneira de governar
para os ‘amigos’ (sic), como diversos
escândalos já nos deixaram incrédulos, tendo sido o do MEC o pior deles (mas
não esqueçamos as compras criminosas na Saúde de Pazuello e acertinhos nada
ortodoxos no tempo de Ricardo Sales, aquele da aula como deixar passar a
boiada).
Na verdade, do estado de delírio em que viviam -- na
acintosa promiscuidade institucional desde a posse -- ao estado de desespero em
que se encontram depois de que o choque da realidade, dura realidade, os tomou
em cheio, a obsessão que conduz a sua esquizofrenia consuetudinária é capaz
disso e de ‘otras cositas más’. Todo cuidado é pouco, veja-se o acontecido com
Dom Philips e Bruno Pereira, com Dorothy Stang, com Chico Mendes, com Marçal de
Souza...
O mesmo estado em que Marçal de Souza conquistou a
humanidade e, contra a sua vontade, ceifou-lhe o porvir em 1983 é palco da mais
recente tragédia que enluta o povo Guarani Kaiowá. O desatino que campeia solto
em Brasília estendeu suas ondas de torpor e insanidade e, em atropelo aos mais
comezinhos procedimentos preconizados pelo Estado Democrático de Direito, além
de pelo menos um morto, foram feridos, inclusive a bala, idosos, adolescentes,
crianças, mulheres e demais integrantes da comunidade Guarani Kaiowá de
Amambai, ao sul de Mato Grosso do Sul. Matança que entra para a história como Massacre
de Guapoy, conforme denúncia do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), órgão
da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e que já enviou petição
aos órgãos de Direitos Humanos da ONU e OEA.
E, a propósito, onde estava a Funai, que não se
manifesta até o momento sobre um assunto tão impactante? Todos sabem em Mato
Grosso do Sul -- é de conhecimento público a disputa dessas terras em Amambai
--, que quando Pedro Pedrossian era governador e Fernando Collor presidente
(pouco antes do impeachment), os gestores (nacional e regional) da Funai ‘negociaram’
com fazendeiros da região uma entrega ilegal, que não passou pelas vias
oficiais, de terras Guarani Kaiowá, exatamente onde ocorreu a balaceira semana
passada, que tirou a Vida de Vito Fernandes, 41 anos, mas que desta vez não
ficará impune...
Como sempre, três dias depois do funeral do Guarani
Kaiowá que teve a Vida ceifada sem direito a defesa, como que esses povos
originários não tivessem direito a reivindicar por seus direitos (reconhecidos
em 1915), aparece aquele cara que fede enxofre para comemorar mais uma
tragédia. Toma cuidado, peste, que praga dos povos originários não poupou nem
os imperadores da Espanha e de Portugal, ainda mais um impostor tresloucado que
alardeia ter um conchavo com o peçonhento lá debaixo...
Ahmad Schabib Hany