Mascarados
sem máscaras
As máscaras começam a cair,
como se em efeito dominó: Moro abandona Álvaro Dias e seu Podemos; ‘terceira
via’ constata a inconsistência de sua proposta; BolsoDória derrete depois de
polarizar com o tucanato-raiz; ACM Neto se mostra por inteiro e revela o
mistério da família Magalhães, e Bolsonaro muda tudo para tentar manter-se como
está.
Ainda não vivemos o reinado de Momo deste ano e,
mal finda o mês de março, o Brasil acorda de um pesadelo inusitado. Máscaras
caem feito chuva de papel e serpentina, ou melhor, como em efeito dominó.
O leitor, que não é bobo, já percebeu que não nos
referimos às abandonadas e ainda necessárias máscaras anticovid-19 e muito
menos às máscaras de carnaval. As máscaras que caem são das raposas políticas
que até pouco tempo se declaravam imaculadas, ou no mínimo diferentes dos políticos
convencionais.
Pior: embora a crônica política atribua ao mês de
agosto a temporada de azaração partidária no Brasil, sobretudo para o
situacionismo desde os tempos de Getúlio Vargas, Jânio Quadros e João Goulart,
cujo futuro político foi rifado pelas raposas de seu tempo, neste ano março ficou
com a sina de agosto.
Mal se filiou ao Podemos de Álvaro Dias, o ex-juiz
da Leva Jeito, Sérgio Moro, abandona seu mais ardente fã, defensor e
conterrâneo para surfar na onda da ‘terceira via’. Por sua vez, esta constata a
inconsistência de sua proposta ao ver quadros emblemáticos se desligando da
legenda que ainda insiste em sua viabilidade. E João Dória, o da alegórica
BolsoDória de 2018, vê derreter sua candidatura depois de travar aguerrida
queda de braço com o tucanato-raiz e perceber que não é tão consensual nem em
seu estado. Isso o falecido ex-governador tucano de primeira hora (e ex-comunista)
Alberto Goldman já antevira, em 2018, ao mais narciso da nova geração de
tucanos predadores.
Mas para ACM Neto a coisa está mais feia, pois a
longeva rede de conluios com que o avô se impôs perante as oligarquias baianas
no tempo da ditadura começa a minar, justo no momento em que mais precisa de
força política para fazer acordos que lhe assegurem um futuro diferente que o
de seu pai e tios, a geração perdida da família Magalhães. Eis que março, o mês
das abundâncias (e como nunca das tragédias sob as águas), começa a lembrar o
temido agosto para os situacionistas, sobretudo os mais próximos do ‘messias’ e
sua família, que deverão ter contra si ao longo da campanha, além de Lula,
ex-aliados como Moro, Dória, Álvaro Dias e Simone Tebet, entre muitos outros.
Ainda que Bolsonaro insista ser a expressão
política dos militares e ponha, em seu afã de se reeleger, outro general como
vice (aquele que como ministro da Defesa fez apologia ao golpe de 1964 antes de
se desincompatibilizar do cargo), ele e seu mandato são cada vez mais identificados
como do centrão, responsável pela sobrevivência política de seu governo. Mais
que crise de identidade, enfrenta internamente o risco de abandono de seu fiel
e tresloucado tripé BBB (bala-bíblia-boi). As últimas defecções, como a do
ex-ministro da Educação e do ex-presidente da Petrobras, são reveladoras.
Refém da sanha do centrão, o ‘mito’
vive seu ocaso extemporâneo, a nove meses do fim deste mandato. Essa
desconfortável realidade ficou exposta quando o novo partido ao qual está
filiado comprou as dores do ex-capitão, conseguiu uma censura via decisão judicial
e provocou uma contundente rejeição junto à juventude e ao meio artístico. Ainda
que possa dar alento à campanha para sua reeleição, a intensificação da ação
predadora do centrão sobre o erário brasileiro para reverter a tendência claudicante
do candidato à reeleição, segundo as diferentes pesquisas de intenção de votos,
tudo leva a um difícil êxito em segundo turno, nos mais diferentes cenários.
Diferente de 2018, quando o
discurso agressivo de candidato oposicionista e a ausência em quase todos os
debates entre os presidenciáveis foram determinantes, em 2022 ele deverá se reencontrar
com a temida realidade. Sem fakeada e disparadas de mensagens de fakenews, este ano sua campanha pela
reeleição está no fio da navalha. O fato de ter deixado todos os processos
judiciais ‘para depois’, as sentenças na véspera da campanha devem dificultar
ainda mais o futuro imediato. Até porque, como o texto bíblico diz, quem semeia
vento colhe tempestade.
Ahmad
Schabib Hany
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