segunda-feira, 7 de março de 2022

PROFESSOR VALMIR CORRÊA, PIONEIRO INCANSÁVEL DA PESQUISA


Professor Valmir Corrêa, pioneiro incansável da pesquisa

Do alto de seus 70 e alguns anos, o pioneiro da pesquisa histórica no sul de Mato Grosso, sempre em sintonia com sua competente Companheira -- Professora Lúcia Salsa Corrêa --, dá uma verdadeira Aula Magna na abertura das atividades presenciais do primeiro semestre letivo de 2022 do Mestrado em Comunicação da UFMS e revela o segredo de um grande apaixonado pela pesquisa e pela História.

Nesta véspera do Dia Internacional das Mulheres, o Professor Valmir Batista Corrêa, docente aposentado e incansável pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), foi o palestrante da Aula Magna do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFMS. Depois de quase dois anos de atividades remotas por causa da pandemia de covid-19, o Mestrado em Comunicação reinaugurou as atividades presenciais de 2022 com o relevante aporte de um dos pioneiros da pesquisa histórica no sul de Mato Grosso e, com a criação do novo estado, da também pioneira UFMS, decorrente da federalização da extinta Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT), da qual o prestigiado historiador é docente e pesquisador desde a juventude, assim que se graduou pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, quando o saudoso Professor Salomão Baruki saiu à procura de docentes para o recém-criado Instituto Superior de Pedagogia de Corumbá (depois Centro Pedagógico de Corumbá) e o Professor Maurício Tragtenberg, grande criador da Pedagogia Libertária, contatou um de seus melhores alunos, que não só aceitou o desafio, como casou-se e trouxe sua Companheira, a também Professora Doutora Lúcia Salsa Corrêa, para abrir os horizontes da História no coração do Pantanal e da América do Sul.

O então jovem docente e pesquisador, que não fazia ideia da localização de Corumbá, apaixonou-se à primeira vista pela terra de seus dois filhos, também cidadãos do mundo (um deles há décadas no Canadá). Não se arrepende de ter trocado a metrópole paulistana pela igualmente cosmopolita Corumbá de (suas) lutas e sonhos, cuja trajetória evolutiva estudou, analisou e ajudou a transformar como cidadão partícipe de seu tempo: foi vereador por dois mandatos, secretário municipal de Educação e Cultura, fundador e incentivador do Centro de Estudos Históricos Ricardo Franco, defensor de bibliotecas e hemerotecas corumbaenses e pioneiro na preservação do patrimônio histórico e arquitetônico do emblemático entreposto comercial platino.

Tive a honra e o privilégio de conhecer o Professor Valmir Corrêa quando ele empreendia sua luta solitária em defesa de importantes prédios históricos do centro de Corumbá, como o da Intendência Municipal, do Cine Santa Cruz e da Rádio Difusora Mato-grossense, no ano derradeiro do Mato Grosso uno, 1978. Aproveitando o aparente vazio de poder institucional (a Lei Complementar nº 31, de 11 de outubro de 1977, estimulou uma corrida dos atores sociais para a nova capital e o decorrente vácuo administrativo nas principais cidades do Pantanal, sobretudo Corumbá e Ladário, tradicionalmente ligadas a Cuiabá), investidores destituídos de visão histórica, avassalaram imóveis representativos do período áureo do comércio fluvial para literalmente pô-los abaixo e construir imóveis medíocres sem qualquer valor arquitetônico, em nome de um questionável progresso.

O à época pouco conhecido docente do então Centro Pedagógico de Corumbá conseguiu sensibilizar a juventude desassossegada, que passou a acompanhá-lo em sua inovadora luta por uma cidade esclarecida e convicta de seu valor cultural imensurável. Além de seus acadêmicos e alguns colegas da UEMT, o Professor Valmir passou a ser a expressão de cidadãos indignados com o descaso com o patrimônio histórico e cultural de um dos mais antigos centros urbanos de Mato Grosso. Não demorou muito, e o então prefeito nomeado Armando Anache o convidou para ser titular da Secretaria de Educação e Cultura, quando teve oportunidade de iniciar a execução dos projetos de tombamento do Casario do Porto e entorno, a implantação da oferta do espanhol como opção para língua estrangeira e os projetos de pesquisa sobre a cultura popular, entre eles o São João e o Siriri e Cururu (importante aporte da Professora Eunice Ajala Rocha, sua Amiga e orientanda, mais tarde titular na mesma pasta, por indicação sua ao então Prefeito, Doutor Fadah Scaff Gattass).

A despeito de abissal incompreensão -- em que não faltaram alcunhas e calúnias, como a de que ele era um dos "comunistas", ou "vermelhinhos", da UEMT/UFMS --, Valmir Corrêa ofereceu generosamente seus melhores dias para o reconhecimento do valor cultural de Corumbá e Ladário (e, por extensão, de todo o Mato Grosso, e depois Mato Grosso do Sul): em 1986, foi iniciado o processo de tombamento do Casario do Porto no âmbito do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) graças à justificativa histórica brilhantemente elaborada por ele, a Professora Lúcia e o igualmente competentíssimo Professor Gilberto Luiz Alves, em que o apoio do então Senador Wilson Barbosa Martins foi determinante.

Em mais de 50 anos de atividades ininterruptas, os Professores Valmir e Lúcia não apenas sistematizaram os estudos da História Regional, como contribuíram com dezenas de obras (muitas ainda inéditas) resultantes de anos de dedicação à pesquisa histórica e, sobretudo, à formação de novos pesquisadores e docentes da disciplina que é responsável pela compreensão do processo histórico de Corumbá e o sul de Mato Grosso, inclusive da história da imprensa da porção meridional do rico e até então pouco conhecido Mato Grosso. Pouco antes de se aposentarem como docentes da UFMS, não envidaram esforços para a implantação da Editora da UFMS, a edição de obras emblemáticas (entre as quais o Memorando de Manuel Cavassa, de 1995) e a criação da revista acadêmica Albuquerque, de cuja edição acompanhou até o número 11.

Do alto de seus setenta e alguns anos, esse jovem laborioso e incansável continua insistindo com sua determinada saga de tornar a pesquisa histórica e, sobretudo, a História Regional um instrumento de emancipação, um meio de empoderamento da população hospitaleira e acolhedora do coração do Pantanal e da América do Sul. A exemplo do querido Amigo Professor Gilberto Luiz Alves, torcemos para que os igualmente queridos Amigos Professores Lúcia e Valmir Corrêa concretizem seu projeto de perenizar o inesgotável e representativo acervo documental compilado/catalogado durante décadas de trabalho árduo e exaustivo em favor da iluminura de Corumbá, Mato Grosso e depois Mato Grosso do Sul.

Parabéns, Professor Valmir, por sua incansável labuta, muitas vezes incompreendida, mal-falada e depreciada por alguns recalcados, mas reconhecida e aplaudida pela sociedade civil organizada e, sobretudo, perante a História, sua razão de ser. Obrigado por seu exemplo e sua Amizade!

Ahmad Schabib Hany

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