Doutora Carime, uma estrela a brilhar
Aos 28 anos, Doutora Carime
Mustafá Moussa, jovem médica corumbaense, se eternizou em desastre rodoviário,
e a interrupção de sua jornada benfazeja comoveu até quem não a conhecia.
Perplexidade e muita dor. É o que causou o fatídico
desastre que interrompeu a Vida e a jornada benfazeja da Doutora Carime Mustafá
Moussa, jovem médica de 28 anos, que semeava conforto e amor em seu cotidiano e
detinha brilhante projeção profissional. Durante o período mais duro da
pandemia de covid-19, a Doutora Carime esteve na linha de frente da Santa Casa
de Corumbá, onde também deixou saudade entre colegas e pacientes.
Se
pessoas com as quais a Dra. Carime trabalhou (e até pessoas que não tiveram a
sorte de conhecê-la) se comoveram com sua trágica partida, não dá para imaginar
a dor da Família. Embora não haja palavras capazes de trazer qualquer conforto
nesta hora de intensa dor e saudade, somamos nossa solidariedade e os sinceros
sentimentos ao Pai, o engenheiro eletricista Mohamed Moussa, à Mãe, Dona Fátima
Mustafá Moussa, Irmãos, Tios e Primos da jovem médica que estampava em seu
semblante a realização pela escolha de um ofício sagrado, pois cuidar da Vida
das pessoas, sobretudo em tempos de pandemia, é próprio de quem tem muito amor
pelo próximo.
É comum vermos todo jovem profissional à procura
de novos horizontes, sobretudo na ânsia de atingir a excelência, uma
atualização na área de sua especialização. Longe de qualquer relação de causa e
efeito, mas até por essa tragédia me permito observar que as instituições
patronais deveriam ter uma política de atualização profissional permanente para
que a população de cidades como Corumbá não perdessem profissionais com um
futuro promissor. Não me parece plausível que um jovem profissional deva deixar
seu trabalho para fazer um curso e submeter-se a plantões extenuantes em
pequenas cidades do interior em que o deslocamento após o plantão é inevitável
e oferece riscos iminentes à própria existência do profissional.
Meu saudoso Pai era Amigo do Senhor Hussein Moussa
e de Dona Himdi, progenitores do engenheiro eletricista Mohamed Moussa, Pai da
Dra. Carime, imigrantes libaneses contemporâneos dele. Foi na década de 1980
que conheci os então jovens cônjuges e durante anos os via em companhia de seus
Pais. A dedicação aos estudos e o amor ao Povo hospitaleiro que acolheu sua
Família são marcas indeléveis desses imigrantes, que são gratos e reconhecem o
valor das oportunidades proporcionadas pelo Brasil.
Em 1987, quando participamos da organização da 1ª
Mostra da Cultura Árabe-Palestina de Corumbá (realizada pela biblioeconomista e
Professora Elenir Machado de Mello, gestora da Biblioteca Pública Estadual Dr.
Gabriel Vandoni de Barros, nas dependências da Casa de Cultura Luiz de
Albuquerque), o Senhor Hussein e Dona Himdi fizeram questão de emprestar alguns
instrumentos musicais e peças artísticas trazidas por eles do Líbano para
expô-las durante os quase três meses de mostra. Foi quando pude conhecer melhor
o casal de idosos, com quem, quando possível, conversávamos sobre o mundo árabe
e as suas imensuráveis riquezas, sobretudo sua cultura milenar.
Hoje, quando lamentamos a trágica partida precoce
de uma jovem Filha/Neta dedicada a salvar vidas e levar conforto a seus
semelhantes, queremos louvar a saudosa memória desses imigrantes que souberam
transmitir o amor ao conhecimento e ao Povo generoso que os acolheu décadas
atrás. Agora transformada em estrela, a Doutora Carime se eterniza ao lado dos
Avós que sabiamente escolheram o coração do Pantanal e da América do Sul para
louvar a Vida e a esperança por dias melhores para a humanidade.
Obrigado, Doutora Carime, por nos ensinar tanto em
tão pouco tempo de existência! Que a luz que acompanhou sua trajetória entre
nós continue a iluminar sua eterna existência, inclusive nos corações e almas
de sua querida e honrada Família!
Ahmad
Schabib Hany
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