REPUBLICAÇÃO EM HOMENAGEM AOS 51 ANOS DA ETERNIZAÇÃO DE GAMAL
ABDEL NASSER (1918 - 1970)
CINQUENTENÁRIO DE
FALECIMENTO DE
GAMAL ABDEL
NASSER (1918 - 1970)
Nesta
segunda-feira, dia 28 de setembro, transcorre o cinquentenário do súbito
falecimento (não esclarecido) do líder árabe Gamal Abdel Nasser, um dos
fundadores do Movimento dos Países Não Alinhados, ao lado de Broz Tito,
Jawaharlal Nehru e Sukarno.
Fundador
da Liga dos Estados Árabes e da República Árabe Unida (RAU), Nasser foi um
líder pan-arabista e terceiro-mundista que inspirou muitos líderes
latino-americanos entre as décadas de 1960 e 1970, entre os quais Velasco
Alvarado (no Peru) e João Goulart e Leonel Brizola (no Brasil), e por essa
razão foi combatido pelos Estados Unidos e seus serviçais pelo resto do mundo,
como Anwar Sadat e Hosni Mubarak.
Em
2014, graças à Amiga, Irmã, Companheira e Camarada Amyra El-Khalili, tive a
honra e o prazer de ter minha singela - e sincera - homenagem a esse
grande líder publicada no emblemático Pravda, versão que faço questão de
compartilhar com Vocês.
GAMAL
ABDEL NASSER (1918-1970)
Setembro de 1970. As ovações ao
tricampeonato da Seleção Canarinho ainda ecoavam pelos quatro cantos do país
enquanto eram sufocados os gemidos das masmorras, nos piores dias do regime de
1964 (entre 1968 e 1973). Na pacata Corumbá, o querido Amigo Orlando Bejarano
(cunhado do Professor Huguinho) e eu estávamos, na tarde do dia 28 (acredito
que uma terça-feira), estudando para uma prova de Inglês, ministrado pela
querida e competente Professora Suzana Maia, titular da disciplina no Ginásio
Industrial Dr. João Leite de Barros, quando meu saudoso Pai nos surpreendeu, em
indisfarçável estado de comoção, com a notícia do súbito falecimento do grande
líder pan-arabista Gamal Abdel Nasser, aos 52 anos, então presidente da
República Árabe Unida (nome do Egito durante pouco mais de uma década), vítima
de um infarto fulminante quando retornava do aeroporto internacional do Cairo,
depois de despedir as delegações de chefes de governos que participaram de um
encontro da Liga dos Estados Árabes na capital egípcia, na tentativa de
solucionar e apaziguar os ânimos dos líderes árabes revoltados pela repressão a
centenas de ativistas palestinos na Jordânia, massacre mais tarde conhecido por
Setembro Negro.
Não é demais lembrar que o Rei
Hussein, de uma suposta “dinastia hashemita”, da Jordânia, nunca passou de um
servil tirano, fantoche do Ocidente, entronizado por meio de um ardil do
império britânico, que ao abandonar o território da Transjordânia (antigo nome,
por conta do Rio Jordão, dos tempos bíblicos) deixou seus aliados tomando conta
da porção árabe da Palestina, ocupada desde 1948 pelos sionistas, que em maio
(dia 15) instalaram um governo para nunca mais deixar aquele território milenar
e espalhar seitas fundamentalistas com o afã de “igualar”, bem aos moldes
fascistas, os lados do conflito, um nefasto modo de justificar que a razão da
interminável questão israelo-árabe é religiosa. O mesmo, aliás, os
colonizadores fizeram no Egito, onde impuseram o Rei Faruk, deposto por Nasser
e demais jovens oficiais egípcios contrários à subserviência do títere com
máscara real, em 1956. Nada diferente foi no Marrocos, onde deixaram o Rei
Hassan como feitor; na Arábia Saudita, onde reina até hoje uma fictícia (e
medieval) “dinastia wahabita”, que por fazer o jogo dos “donos do mundo” de
hoje, Estados Unidos e Israel, não sofrem qualquer tipo de sanção pelas violações
sistemáticas dos direitos humanos, num regime tirânico, sanguinário e
intolerante com os que ousam defender princípios verdadeiramente democráticos
em seu território.
Mas, voltando à súbita (e suspeita)
morte de Nasser, o maior líder árabe dos últimos trezentos anos, os 22 países
árabes, a totalidade das nações asiáticas e africanas, todos os Estados
socialistas e boa parte das nações latino-americanas se uniram na dor, por
semanas a fio, fato comparado aos funerais de Jawaharlal Nehru, seis anos antes.
Depois da interminável despedida ao líder árabe, começaram a circular notícias,
nunca desmentidas, de que emissários da Irmandade Islâmica (com o apoio do
Mossad, o serviço secreto israelense), arqui-inimiga do presidente egípcio,
laico e anticlerical, teriam envenenado o incansável inimigo do invasores
ocidentais, a despeito das duas derrotas sofridas entre 1954 e 1967 contra o
Ocidente.
Ao contrário dos autoproclamados
líderes árabes de seu tempo, Nasser causava muita preocupação ao Ocidente
(sobretudo aos Estados Unidos e Israel) por ser um estadista laico e
pró-socialista, mas sem curvar-se aos ditames soviéticos - tanto que foi um dos fundadores do
Movimento dos Países Não Alinhados, ao lado de Broz Tito, Nehru e Zukarno - além de ter sido determinante na
criação da Organização da Unidade Africana e da Liga dos Estados Árabes,
enfraquecidas depois de sua morte prematura. Internamente, Nasser foi
responsável pela modernização do Egito, pela promulgação de uma Constituição
republicana democrática de forte perfil socialista (mas não estalinista), pela
construção de importantes obras de infraestrutura, como a represa de Assuã, em
seu tempo a maior do mundo (construída em cooperação com a União Soviética), e
a malha rodoferroviária que integra o território do Egito aos demais países do
Norte da África, cuja conclusão foi preterida por Anwar Sadat e Hosni Mubarak,
respectivamente, durante o longo período de arbítrio e entreguismo
protagonizado pelos dois fantoches ocidentais.
Gamal Abdel Nasser foi um generoso
estadista árabe que inspirou muitos líderes do então chamado Terceiro Mundo a
promover mudanças estruturais em seus respectivos países, além de ter
incentivado, em toda a África, as corajosas lutas pela emancipação do jugo
colonial europeu. Quarenta e quatro anos depois de sua morte (ainda não
esclarecida), reverenciar a sua digna memória é, acima de tudo, um gesto
libertário, um ato da saudável rebeldia disseminada nas duas décadas
posteriores ao pós-guerra de 1945, quando a humanidade com perplexidade
conheceu sem máscaras a intolerância e o ódio germinado na autoproclamada
“civilizada” Europa de todos os holocaustos, de todas as inquisições e de todas
as cruzadas. Mas como não há mal que dure cem anos, cá estamos a saudar o novo
amanhã junto às novas gerações...
Ahmad Schabib Hany
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