terça-feira, 14 de setembro de 2021

DE ‘MITO’ A MICO

DE ‘MITO’ A MICO

Oriundo do ‘baixo clero’ da Câmara, o ‘mito’ se derreteu como a cera de uma vela colocada ao lado de um fogaréu, tamanha a sua soberba. Nem a seus mais fiéis asseclas quis ouvir, para agradar os fanáticos e igualmente desajustados ‘conselheiros’ de dentro de sua própria ‘dinastia’: 01, 02 e 03...

Não tem jeito. Toda vez que um tiranete tem expostos os seus fétidos glúteos - suas libidinosas nádegas como o falso moralismo que vivem a regurgitar -, o povo dá aquela gostosa gargalhada debochada, com suas banguelas exuberantes, e fazem, com seus pés rachados, o motor da História andar...

Eis que o ‘mito’ não resistiu à sua índole mórbida e se despiu, achando que toda a população fosse atingir o orgástico ápice dos delirantes. Somente e apenas as suas hordas de hienas é que chegaram ao cume do delírio, molhando intempestivamente as calçolas, cometendo toda sorte de delitos, desvarios e deleites. Afinal, são ‘amigos do rei’ e, portanto, impunes - é como pensam.

Só que não. A maioria da população já se cansou dessa cantilena dos ensandecidos, dos ensimesmados, dos ‘bem nascidos’, dos milicianos, dos macabros matadores de aluguel, dos funestos mercadores da fé, dos garimpeiros, madeireiros, grileiros e jagunços sem Deus nem Lei. As hienas ficaram sozinhas em suas orgias sodomitas enquanto o povo vai se apercebendo de que nunca foi prioridade para o ‘posto Ipiranga’ de araque e muito menos para o ‘mito’ - eles não resistem e ficam de quatro para os banqueiros e grandes rentistas que vivem da especulação e da agiotagem.

Não fosse um ‘brimo’, mesmo golpista, Michel Miguel Temer Lulia, o cadafalso erguido pelo ‘mito’ contra si mesmo já teria engolido a parte superior do corpo que na maioria das pessoas costuma ser chamada de cabeça. Não saiu barato, não. Mais uma dívida a ser paga para o centrão. Pobre erário, como nunca foi dilapidado pela desfaçatez de quem se elegeu apontando o dedo contra os que mais elevaram as condições de vida da população, seja com políticas distributivas ou compensatórias - razão pela qual os/as ‘cançados/as’ [com ‘c’ cedilhado, por favor!] foram às ruas pedir o fim dessa heresia, pois ‘lugar do povão é na senzala, não nas universidades públicas e nos aeroportos’...

Sobre isso, Apparicio Torelly, o ‘Barão de Itararé’, já havia advertido: desde quando Antônio Carlos de Andrada e Silva [não o Magalhães, da Bahia], irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, revelou o ‘pulo do gato’ da política tupiniquim - “façamos a revolução antes que o povo a faça” -, os ‘acordões’, por cima, entre as elites, passaram a viger na ordem do dia, em que sempre os mesmos se dão sempre bem, e o povo continua na míngua. Foi por isso que, irreverente e criativo, Apparicio Torelly se autoproclamou “barão de uma batalha que nunca houve”.

E de ‘mito’ a mico foi um pulo. Aliás, um estalo de dedos. Como a soberba é capaz de cegar [muito cuidado ao digitar esta palavra, que pode virar um palavrão] um canalha que passou quase quatro décadas na Câmara Federal, à sombra do poder, em meio às piores ratazanas da politicalha, para surgir com efeitos especiais como salvador da pátria, remédio para todos os males. Enfim, o messias que foi sem nunca ter sido...

Analistas experientes atribuem ao ‘ministro Heleno’ de Temer, general Etchegoyen, a iniciativa de colocar o ex-vice golpista de Dilma para ‘apagar o incêndio’ causado pelo mico, digo, ‘mito’ no bozaço do Dia da Independência, ganhando status de ‘Golbery’ destes ignóbeis tempos. Uma tremenda injustiça com a memória do ideólogo de 1964, Golbery do Couto e Silva, que no final das contas acabou engolido pelo monstro que criou. Temer e Etchegoyen agiram em causa própria, como pivôs de um golpe mal feito e que pariu um monstro ainda maior que o de Golbery, 55 anos atrás, e que fugiu do controle de seus criadores...

O fato é que, além de pagar um mico histórico, o mico, digo, ‘mito’ vai ter que recorrer aos cofres públicos para quitar essa dívida com o centrão, pois os créditos vão para eles, que entendem da arte de comprar méritos quando não se os têm...

Por outro lado, fica estampado que se trata de uma continuidade do golpe midiático-parlamentar de 2016. Como aecinho [minúsculo, mesmo] foi incapaz de ‘roubar e carregar’ - como revidavam muitas crianças peraltas da década de 1960, “vergonha é roubar e não conseguir carregar” -, coube às hordas saídas da caixa de pandora a consolidação do golpe, só que também elas foram incapazes de concluir a tarefa, para decepção de Manhattan e do pessoal da Fiesp, que deixou a tão propalada nota pública para depois da intervenção de Temer. Coisa de ‘brimos’, como bem observou o Amigo Luiz Taques. Devemos reconhecer que Skaff e Temer são da mesma ascendência, o Líbano, do qual também Maluf e Kassab o são...

Mesmo que fanáticos delirantes pró-ditadura hostilizem seu mico, digo, ‘mito’ depois do vexame de 7 de setembro, o ex-capitão se sente ‘por cima’ (eu, particularmente, não sei por quê). Ele e seus sequazes acreditam que o estrupício não sofrerá qualquer sanção pelas patacoadas, e tudo seguirá ‘normal’ até o fim do mandato. Eu, modestamente, penso diferente. Passada a amarelada, ele voltará com mais sede ao pote, isto é, com mais contundência ao autogolpe. Trata-se de um desajustado, não há freios protocolares ou éticos, legais ou racionais, que inibam seu ímpeto insano.

A impunidade tem sido o refúgio de todos os ídolos da corja de fascistas que gravitam em volta do mico, digo, ‘mito’. Ele mesmo é um beneficiário de uma ‘quebrada de galho’ quando, em 1987, tentou realizar um ato de sabotagem (que na época se chamou de ‘ato de terrorismo’) de uma grande adutora do Rio de Janeiro. Graças à indulgência do general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército indicado pelo Presidente Tancredo Neves, ele se livrou da expulsão e teve chance de mudar de comportamento. Só que os fatos hoje provam que não fez por merecer, tantas as recaídas do energúmeno recalcitrante.

Não gostaria de desapontar os ilusos deste ‘acordão’, típico da terra de Apparicio Torelly, o memorável ‘Barão de Itararé’, de saudosa memória. Se ele estivesse entre nós, estaria se descabelando, no eterno A Manha, de tanta patacoada junta, ao lado do igualmente saudoso Sérgio Porto, isto é, Stanislaw Ponte Preta e seu Febeapá, o Festival de Besteiras que Assola o País. Não por acaso, os dois inspiradores da saudosíssima turma de O Pasquim, da inesquecível Editora Codecri (Comitê de Defesa do Crioléu), da República Democrática de Ipanema. Na falta de inteligência no centro do poder, sobra muita inteligência no meio do povão, como esses baluartes da consciência coletiva que abrem nossos horizontes, sobretudo em tempos sombrios e muito mesquinhos.

Ahmad Schabib Hany

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