quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

O OVO DA SERPENTE

 O OVO DA SERPENTE

A serpente do fascismo que escapou incólume à punição lícita e legal no governo de José Sarney, quando Leônidas Pires Gonçalves, então ministro do Exército da Nova República, poupou-lhe a honra, renasce como um ovo fétido, mas atraente, para uma elite de índole parasita e golpista desde os imemoráveis tempos coloniais.

Tamanha é a certeza da impunidade desses meliantes travestidos de patrioteiros, que com o maior acinte aquele que deveria inspirar compaixão - mas destila ódio e exala enxofre - debocha de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e, ao ser apoiado por um estúpido bravateiro, felizmente causa a reação do pleno da Alta Corte da República e, por unanimidade, é decretada a sua prisão (do bravateiro, não da serpente nem do entrevado).

Em qualquer outro país, servidor público - detentor de cargo eletivo ou de carreira seja civil ou da caserna -, conscientes de seu papel de cidadão, sabe que está subordinado à lei e que não pode alegar desconhecimento como álibi. Como, então, se explicam esses reiterados e compulsivos atos de deboche, ameaça, incitação e agressões de instituições emblemáticas para o pleno funcionamento do Estado Democrático de Direito.

Esse estúpido bravateiro que quando candidato, num ato orgástico, quebrou uma placa de homenagem póstuma à Vereadora Marielle Franco (assassinada por meliantes dessa mesma horda ainda impunes, sobretudo pela proximidade da familícia que integra a base de apoio ao mefistofélico que diz ser dignitário), é um dos porta-vozes da quadrilha fascista instalada no andar do gabinete do cargo mais importante da República.

A maior evidência desse fato é o apoio manifestado pelo ex-sinistro da (des)educação, Abraham Weintraub (criminosamente alçado à condição de representante do país em instituição multilateral em Nova York, para fugir ao processo similar pelos impropérios execrados em reunião de gabinete ministerial em abril de 2020. Em mensagem de rede social, Weintraub reitera suas convicções totalitárias, que não teve hombridade para defendê-las vis-a-vis (como soem agir os fascistas, que agem como camaleões, à tocaia, sem qualquer dignidade, honradez ou caráter).

A eleição de um psicopata só se explica elucidando os sucessivos estupros, digo, golpes de que a jovem República foi vítima por calhordas disfarçados de cristãos, patrioteiros e democratas. Na verdade, farscistas (misto de farsantes e fascistas), que vivem a mentir o tempo todo, ensinamento de Joseph Goebbels, a quem pedem bênçãos todos os dias...

A farsa eleitoral só foi usada para, uma vez “eleitos” esses facínoras de que o saudoso Doutor Ulysses Guimarães já batizara no memorável discurso do ato de promulgação da Constituição de 1988, qualquer ato de impedimento fosse transformado em tentativa de golpe (como, aliás, eles fizeram, conforme memórias recém-publicadas de um recalcado auriverde que deveria ser alvo de compaixão, mas provoca nojo, desprezo e repugnância toda vez que sai do ninho para onde deveria ter sido exumado).

Esses meliantes continuam a gestar as bases do fascismo que querem instalar, a toque de caixa, ante a impavidez da maioria da sociedade. Tal qual o livro do entrevado, as imbecilidades do bravateiro travestido de parlamentar e os decretos inconstitucionais flexibilizando a compra e posse de grande quantidade de armas e munições fazem parte de mesma estratégia da aparente inação no enfrentamento à pandemia e do inoperante programa “nacional” de vacinação: desacreditar as instituições democráticas e armar as hordas de facínoras para, desmontado o Estado, iniciar uma temporada de caça aos oposicionistas (sejam eles democratas, progressistas ou socialistas), como nos tempos de fétidos grupelhos paramilitares como o Esquadrão da Morte e da Scuderie Le Cocq, além da nefasta Oban (Operação Bandeirante).

Não há mais tempo a perder: ou setores sinceramente comprometidos com a Democracia e o Estado Democrático de Direito deixam suas vaidades e picuinhas de lado e, ombro a ombro, se irmanam em uma urgente estratégia comum de resistência para barrar agora o regime em gestação, ou as novas gerações pagarão caro (talvez com o próprio porvir) pelo obscurantismo e autoritarismo fascista pronto para esmagar os lampejos de racionalidade ainda renitentes.

A propósito, a CNBB e o CONIC já deram o primeiro passo, a sua contribuição oportuna e relevante, agora é hora da OAB, SBPC, ABI, FENAJ, IAB, centrais sindicais e movimentos populares fazerem jus à sua história honrada e de imediato se somarem à estratégia efetiva para barrar o fascismo em gestação.

O ovo da serpente eclodiu há muito tempo e a fétida serpente está pronta para dar o bote. Mais que soro antiofídico e tratamento homoterapêutico, trata-se da adoção de remédio previsto na Constituição de 1988, dentro da normalidade democrática, para desarticular a fera e os facínoras parasitas de seu entorno.

Ahmad Schabib Hany

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