DE SUCUPIRA/MACONDO PARA O MUNDO
Nem o saudoso Dias Gomes, genial criador de
Odorico Paraguaçu e sua inimitável Sucupira de O bem-amado, teria imaginado tamanho surrealismo...
Longe de ser algo cômico - pelo contrário, uma tragédia de doer -,
a realidade bizarra em que o Brasil está imerso desde abril de 2016 é um
lodaçal cada vez mais generalizado e de difícil superação, tamanho parasitismo
em seu entorno, de fazer inveja à criação do também saudoso Nobel de Literatura
Gabriel García Márquez, a sua Macondo de Cem anos de solidão.
Os
brasileiros e as brasileiras que hoje tiverem mais de 50 anos conhecem e têm
motivos de sobra para compreender por que esta realidade bizarra em nada deve
às geniais criações de dois imortais do século XX: o Nobel de Literatura
Gabriel García Márquez e sua magistral Macondo de Cem anos de solidão e o não menos notável e irreverente Dias Gomes
com a provocadora Sucupira de Odorico Paraguaçu, em O bem-amado.
Vamos
aproveitar que ainda não voltou o Departamento de Censura e Diversões Públicas,
a temida dona Censura, que castrou, silenciou e matou geniais criações de parte
dos anos de 1960 e 1980 e toda a década de 1970. Na maior cara de pau, obscurantistas
seguidores de Emílio Garrastazu Médici (que em nada deve a facínoras como Augusto
Pinochet, Alfredo Stroessner ou Antônio Salazar), com a certeza da impunidade e
proteção de figurões do Palácio do Planalto, preparam o terreno para dar o
enterrar a baioneta no coração da República e consolidar o golpe de 2016,
preparado por ineptos democratas de araque que foram passados para trás por uma
alcateia de cadelas fascistas no cio...
Aos
crédulos e crédulas de plantão: o golpe está em marcha, e celeremente. Só não
vê quem não quer... Enquanto pobres ilusos se jactam com as tímidas ações da
mais alta corte do Judiciário e umas cenas acanhadas de um Congresso
claudicante, fascistas e sequazes travestidos de patrioteiros já iniciaram a
contagem regressiva para o retorno ao infernal período das trevas. A sorte da
maioria dos desassossegados e desassossegadas já está lançada, é apenas questão
de tempo, e isso já se sabia desde o fatídico dia em que esse cruzamento de
parasita insaciável e serpente peçonhenta se declarou vencedor do sinistro
certame de cartas marcadas que selou o destino da soberania nacional e popular
neste país-continente.
As
gerações que tiveram a honra e o prazer de derrotar esses insanos nas décadas
de 1970 e 1980 em toda a América Latina e de lhes dar a dedada fatal com a
instauração do Estado Democrático de Direito têm clareza de que não se brinca
com a cadela no cio representada pelas hordas do fascismo. No entanto,
voluntaristas inconsequentes vêm se precipitando como suicidas com provocações
pueris e incendiárias, na ânsia de fazerem o que acham que é “resistência”.
Pura palhaçada, equívoco velhaco...
Ou
os que tiverem conhecimento, experiência e maturidade entram em cena, de modo
humilde mas eficaz, para o embate inadiável, ou será um processo autofágico,
suicida e vexatório para as forças democráticas, progressistas e socialistas.
Assim como a História, a Vida não tem ensaio nem “desfazer”.
Insisto:
não há lugar para aventuras de qualquer natureza, pois cada passo mal calculado
terá um custo elevado em vidas humanas e na preservação do pouco que ainda
resta do Estado Democrático de Direito.
E
não há como não levar em conta esta equação. Os delinquentes que estão na linha
de frente, em apoio incondicional e a serviço dos fascistas de plantão, têm a
vantagem da iniciativa. Seu recado, inclusive, foi dado no atentado contra a
saudosa Marielle Franco e seu motorista Anderson (reiterado pelo estúpido
bravateiro que está preso por ordem do Supremo Tribunal Federal, quando, em
campanha eleitoral, quebrou a placa de homenagem à vereadora, ao lado do então
juiz-candidato Wilson Witzel, hoje afastado do governo do Rio de Janeiro por
indícios de participação no roubo de dinheiro para o enfrentamento da pandemia).
Verdadeiros
meliantes, valem-se da impavidez de uma sociedade em estado de choque, pelas
ações por eles mesmos protagonizadas, ora pelas rajadas midiáticas de ódio a
toda prova, ora pelas ações intimidadoras impactantes pelos canalhas
executores, o tempo todo, sem qualquer comiseração.
Quem
tiver tido o cuidado de ler ou assistir a alguma das obras imortais desses
geniais autores ora mencionados saberá quais são as pistas propostas por eles,
até porque eram cidadãos conscientes de seu papel histórico, sempre à frente de
seu tempo. Mais que mera citação de dois grandes revolucionários, trata-se de
desassossegar aqueles que têm muito a contribuir mas que até agora não tomaram
alguma iniciativa, bem como alertar aos bem-intencionados e voluntaristas de
que brincar com fogo neste momento é fazer o jogo dos fascistas, que estão à
espreita, prontos para dar o bote.
Ahmad Schabib
Hany
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