domingo, 21 de fevereiro de 2021

DE SUCUPIRA/MACONDO PARA O MUNDO

DE SUCUPIRA/MACONDO PARA O MUNDO

Nem o saudoso Dias Gomes, genial criador de Odorico Paraguaçu e sua inimitável Sucupira de O bem-amado, teria imaginado tamanho surrealismo... Longe de ser algo cômico - pelo contrário, uma tragédia de doer -, a realidade bizarra em que o Brasil está imerso desde abril de 2016 é um lodaçal cada vez mais generalizado e de difícil superação, tamanho parasitismo em seu entorno, de fazer inveja à criação do também saudoso Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, a sua Macondo de Cem anos de solidão.

Os brasileiros e as brasileiras que hoje tiverem mais de 50 anos conhecem e têm motivos de sobra para compreender por que esta realidade bizarra em nada deve às geniais criações de dois imortais do século XX: o Nobel de Literatura Gabriel García Márquez e sua magistral Macondo de Cem anos de solidão e o não menos notável e irreverente Dias Gomes com a provocadora Sucupira de Odorico Paraguaçu, em O bem-amado.

Vamos aproveitar que ainda não voltou o Departamento de Censura e Diversões Públicas, a temida dona Censura, que castrou, silenciou e matou geniais criações de parte dos anos de 1960 e 1980 e toda a década de 1970. Na maior cara de pau, obscurantistas seguidores de Emílio Garrastazu Médici (que em nada deve a facínoras como Augusto Pinochet, Alfredo Stroessner ou Antônio Salazar), com a certeza da impunidade e proteção de figurões do Palácio do Planalto, preparam o terreno para dar o enterrar a baioneta no coração da República e consolidar o golpe de 2016, preparado por ineptos democratas de araque que foram passados para trás por uma alcateia de cadelas fascistas no cio...

Aos crédulos e crédulas de plantão: o golpe está em marcha, e celeremente. Só não vê quem não quer... Enquanto pobres ilusos se jactam com as tímidas ações da mais alta corte do Judiciário e umas cenas acanhadas de um Congresso claudicante, fascistas e sequazes travestidos de patrioteiros já iniciaram a contagem regressiva para o retorno ao infernal período das trevas. A sorte da maioria dos desassossegados e desassossegadas já está lançada, é apenas questão de tempo, e isso já se sabia desde o fatídico dia em que esse cruzamento de parasita insaciável e serpente peçonhenta se declarou vencedor do sinistro certame de cartas marcadas que selou o destino da soberania nacional e popular neste país-continente.

As gerações que tiveram a honra e o prazer de derrotar esses insanos nas décadas de 1970 e 1980 em toda a América Latina e de lhes dar a dedada fatal com a instauração do Estado Democrático de Direito têm clareza de que não se brinca com a cadela no cio representada pelas hordas do fascismo. No entanto, voluntaristas inconsequentes vêm se precipitando como suicidas com provocações pueris e incendiárias, na ânsia de fazerem o que acham que é “resistência”. Pura palhaçada, equívoco velhaco...

Ou os que tiverem conhecimento, experiência e maturidade entram em cena, de modo humilde mas eficaz, para o embate inadiável, ou será um processo autofágico, suicida e vexatório para as forças democráticas, progressistas e socialistas. Assim como a História, a Vida não tem ensaio nem “desfazer”.

Insisto: não há lugar para aventuras de qualquer natureza, pois cada passo mal calculado terá um custo elevado em vidas humanas e na preservação do pouco que ainda resta do Estado Democrático de Direito.

E não há como não levar em conta esta equação. Os delinquentes que estão na linha de frente, em apoio incondicional e a serviço dos fascistas de plantão, têm a vantagem da iniciativa. Seu recado, inclusive, foi dado no atentado contra a saudosa Marielle Franco e seu motorista Anderson (reiterado pelo estúpido bravateiro que está preso por ordem do Supremo Tribunal Federal, quando, em campanha eleitoral, quebrou a placa de homenagem à vereadora, ao lado do então juiz-candidato Wilson Witzel, hoje afastado do governo do Rio de Janeiro por indícios de participação no roubo de dinheiro para o enfrentamento da pandemia).

Verdadeiros meliantes, valem-se da impavidez de uma sociedade em estado de choque, pelas ações por eles mesmos protagonizadas, ora pelas rajadas midiáticas de ódio a toda prova, ora pelas ações intimidadoras impactantes pelos canalhas executores, o tempo todo, sem qualquer comiseração.

Quem tiver tido o cuidado de ler ou assistir a alguma das obras imortais desses geniais autores ora mencionados saberá quais são as pistas propostas por eles, até porque eram cidadãos conscientes de seu papel histórico, sempre à frente de seu tempo. Mais que mera citação de dois grandes revolucionários, trata-se de desassossegar aqueles que têm muito a contribuir mas que até agora não tomaram alguma iniciativa, bem como alertar aos bem-intencionados e voluntaristas de que brincar com fogo neste momento é fazer o jogo dos fascistas, que estão à espreita, prontos para dar o bote.

Ahmad Schabib Hany

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