A MENTIRA COMO POLÍTICA DE GOVERNO
Desde antes da campanha que elegeu os áulicos do
regime em gestão, a mentira tem sido a coluna dorsal (ideológica, até) dos ocupantes
do primeiro escalão do (des)governo. Seus líderes, aliás, não têm priorizado o
bem comum, mas apenas e tão somente os bens individuais de menos de 5% da
população.
As
pessoas que tiverem boa memória haverão de lembrar-se que já na campanha de
2018 a mentira fazia parte da estratégia que levou à vitória os áulicos que
passaram a povoar a esplanada de Brasília.
Antes
mesmo da célebre “fakeada” que poupou o medíocre candidato dos debates que o
teriam nocauteado no começo do primeiro turno, o uso sistemático de mensagens
mentirosas -
as tais “fake news” - foi recorrente e meticulosamente
planejado.
Mentiras
aparentemente pueris até verdadeiros atentados à dignidade de adversários,
desde então tratados como inimigos (próprios daqueles que, na falta de
argumento e propostas de governo, recorrem ao delírio e ao pânico dos
desavisados para angariar credibilidade e prestígio), tornaram 2018 o ano do
estupro à democracia.
O
uso das redes sociais foi, de longe, a principal trincheira de uma guerra
ideológica. A propaganda pela televisão, também ao estilo da guerra fria, com
uma voz grave como a utilizada nas campanhas imemoráveis dos anos 1960-1970,
não apenas deu o contorno subliminar castrense que avalizou um inepto quase desertor
como salvador da pátria, mas eixo-motriz de recursos nada ortodoxos, nas
democracias modernas, maquiados de patrioteiros.
Aliás,
o rótulo auriverde foi em parte responsável pelo triunfo de uma campanha
destituída de propostas, planos e projetos. Era o negacionismo e a orgástica
patriotada se misturando a uma perniciosa vontade de destruir tudo que pudesse
lembrar o período Lula-Dilma, que inegavelmente distribuiu oportunidades a
todos os segmentos sociais do país-continente que despertava para uma fase
soberana.
A
“aglomeração cívica” (ou, melhor, cínica!), quase um condomínio como o da
Barra, nunca apresentou qualquer esboço que pudesse ser chamado de plano
de governo. Apenas “fake news”, ofensas gratuitas e ameaças. Tanto que quando
chegou ao Planalto não tinha qualquer medida de impacto para “causar”, para
servir de divisor de águas.
Rótulos
à parte, por que Guedes, Moro e Malafaia passaram a integrar o condomínio
verde-amarelo? Qual é o traço de união entre essas personalidades aparentemente
tão díspares?
A
mentira. Cada qual em sua atividade, o abuso da mentira é uma característica
comum. O chefe, grande blefador, desde os tempos da caserna (e mais ainda em
sua obscura trajetória parlamentar de quase três décadas). O pinochetista e
banqueiro falido (e que também ajudou falir o Grupo Abril ao assumir o comando
da Abril Educação), engrupiu seu líder ao se apresentar como “posto Ipiranga” e
dizer que o mercado lhe daria apoio incondicional ao seu lado. O vaidoso e
medíocre juizeco provinciano que achou que podia enganar todo mundo, idem (só
se esqueceu de combinar com os seus perseguidos, muitos deles com grande respaldo
popular, como Lula). Talvez o mais habilidoso de todos, até por força da elevada
concorrência que hoje seu ofício encontra, seja o autoproclamado bispo neopentecostal,
do tipo “vende mas não entrega” (não precisou estar no ministério, tem vários
deles ao seu serviço).
O
grande problema que o mentiroso, de tanto mentir, acaba acreditando nas
próprias mentiras, aí vira refém de si mesmo. É o que passou a atrapalhar as
relações entre os “superministros” e seu chefe. Não que fossem incompetentes,
mas os problemas foram avolumando (os reais, em especial).
Aquele
que diz ser o dignitário queria que seu “posto Ipiranga”, seu juizeco-ministreco
e os demais ocupantes de cargos do primeiro escalão tirassem de suas cartolas a
panaceia milagrosa do Messias (sic),
e pronto, o Brasil verde-amarelo já estaria como por encanto nas prateleiras
dos supermercados, pronto para o consumo.
Para
muitos, são os aliados do mercado os que o mantém no palácio. Pode até ser. No
entanto, se pensarmos bem (e isso vale como autocrítica para os setores
progressistas), a oposição o tem ajudado com seu excesso de vaidade.
Principalmente do Ciro Gomes, muito ensimesmado, arrogante e contraditório. Mas
não é o único, logo aparecerão os outros, igualmente precipitados, sobretudo
num momento como este.
Se
algum parlamentar bem articulado tivesse a iniciativa de elaborar um projeto de
lei na Câmara dos Deputados tornando a mentira de agente do Estado crime
passível de sanção penal, não duvido que muitos integrantes desse (des)governo
iriam para o olho da rua, aliás, de onde saíram para chegar ao poder, sem
qualquer comedimento nem prudência.
Mais
que medida saneadora, trata-se de um mecanismo de defesa da democracia, pois é
recorrente o desejo dos mais poderosos de inaugurar um regime, sob a capa
auriverde e o manto da impunidade...
Ahmad Schabib
Hany
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