MARÍLIA, FILHA DA PROFESSORA EUNICE E EDU ROCHA, SE ETERNIZA
A Radialista Marília Rocha, Filha da Professora
Eunice Ajala Rocha e do Vereador Edu Rocha (assassinado covardemente em 1959), se
eterniza aos 74 anos, no interior de São Paulo. No início dos anos 1990 veio a
Corumbá para resgatar a produção acadêmica da Mãe, oportunidade em que fez
contato com os membros da Sociedade dos Amigos da Cultura.
Por
meio do Jornalista Luiz Taques, tomamos conhecimento de que a Radialista
Marília Rocha, Filha da Professora Eunice Ajala Rocha e do Vereador Edu Rocha
(assassinado em julho de 1959, depois de uma sessão da Câmara Municipal em que
denunciara o líder da máfia dos carros “rabos de peixe”), se eternizou, aos 74
anos, neste 19 de fevereiro, em decorrência de infecção generalizada, em
Peruíbe (SP).
Segundo
o Jornalista e Radialista Adolfo Rondon, Marília Rocha iniciou nos anos 1960
seu ofício de locução em Corumbá, na então Rádio Difusora Mato-grossense S/A (ZYA-2,
1490 KHz). Depois seguiu para São Paulo, tendo marcado época em grandes
emissoras, como a Rádio Mulher, pioneira nesse segmento.
Marília
Rocha esteve em meados da década de 1990 em Corumbá para resgatar a obra
acadêmica da Mãe, a Professora Eunice Ajala Rocha, aluna da primeira turma do
curso de História do à época CPC (Centro Pedagógico de Corumbá), então vinculado
à UEMT (Universidade Estadual de Mato Grosso). Sob orientação dos Professores
Valmir Batista Corrêa e da Professora Lúcia Salsa Corrêa, desenvolveu
importantes pesquisas sobre a contribuição dos afrodescendentes escravizados e
a cultura popular, como o resgate do siriri e do cururu, da viola de cocho e
das celebrações do São João na região de Corumbá e Ladário, tema de sua
dissertação de Mestrado. Docente da UFMS, Eunice caracterizou-se pelo empreendedorismo
e a inovação, tendo promovido um curso pioneiro de arquivo público, para o qual
vieram docentes da Universidade de São Paulo (USP), oportunidade em que criou
um núcleo de arquivo no então CEUC (Centro Universitário de Corumbá).
Em
uma de suas últimas estadas em Corumbá, Marília Rocha se encontrou com membros
da Sociedade dos Amigos da Cultura, quando expôs as razões de seu projeto. Ao
lado do escritor Augusto César Proença, que conhecera no tempo em que
trabalhava no rádio corumbaense, ela tentava publicar o legado da Professora
Eunice mediante patrocínio da Lei Rouannet de Incentivo à Cultura. Diante da
falta de apoio pelas autoridades da época, preferiu publicar por seus meios a
íntegra da dissertação de Mestrado de sua Mãe, hoje disponível graças a essa
sua iniciativa.
De
personalidade forte e convicções bem definidas, Marília herdou dos Pais o
caráter e a determinação, provavelmente o que a tenha afastado da sociedade em
que a hipocrisia e o mau-caratismo, sobretudo a partir do golpe de 1964,
passaram a reinar em sua cidade-natal. Além de ter perdido o Pai Edu Rocha na
infância, vítima de um atentado covarde quando denunciava o crime organizado
sob a proteção do mandonismo udenista (o líder local da UDN, Caribaldo Salles,
apesar das evidências de ter sido mandante do crime, ficou impune), viu a Mãe
ser a única condenada, pelo fato de simpatizantes do vereador assassinado terem
feito um panfleto em que questionavam a conduta do juiz do caso, conforme
denúncia de reportagem de capa da revista O
Cruzeiro da época.
Assim
como a Professora Eunice não pôde ver a memória do Vereador Edu Rocha ter sido
reparada, Marília Rocha se eterniza sem ter podido ver o reconhecimento, pelos
órgãos oficiais, das generosas contribuições a Corumbá e região de Eunice Ajala
Rocha como pesquisadora e gestora da Educação e Cultura, bem como de Edu Rocha
como paladino do combate à corrupção institucional vigente em seu tempo,
exatamente por aqueles que, cinco anos depois, promoveram um golpe de Estado em
nome da “moral e dos bons costumes”.
A
História, disciplina que a Professora Eunice escolheu não apenas por vocação,
costuma oferecer tribunais mais justos: sem o oportunismo imediatista ou as
odes desprezíveis, escancara de maneira límpida os interesses inconfessáveis
que os mandarins de plantão conseguem encobrir, geralmente ao custo de muito
sangue e medo. Passaram-se anos, décadas inclusive, mas não demorará o dia em
que a História, que amedronta meliantes de todos os tempos, traga a luz para
toda a população, a verdade que outrora foi silenciada com balas, injustiças,
intimidações, censura e opressão.
Nós,
que não tínhamos idade para conhecer pessoalmente Edu Rocha, podemos dizer que
a Vida nos presenteou pessoas como a querida e saudosa Professora Eunice Ajala
Rocha e a Radialista Marília Rocha, cuja memória honrada qualifica a
humanidade, sobretudo nestes dias funestos em que canalhas travestidos de
patrioteiros enxovalham a República e o Estado Democrático de Direito.
Ahmad Schabib
Hany