quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
domingo, 26 de dezembro de 2021
Cascatinha e Inhana - MPB Especial - 1973
sábado, 25 de dezembro de 2021
A Constituição da Cidadania | Documentário Completo no Cine TVT
Intervalos - Natal Branco (Manchete/24 de dezembro de 1991)
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
OS VENTOS QUE SOPRAM DOS ANDES
OS
VENTOS QUE SOPRAM DOS ANDES
Primeiro, o povo boliviano
sepultou a sanha golpista inspirada no ‘mito’ e seus ‘matoqueros’. Depois, no
Peru o povo disse não aos fantoches do império que vinham se revezando desde os
anos 1990. Agora é o Chile que dá o tom da virada. É chegado o fim do período
de servilismo aos interesses do ‘irmão do norte’, cuja avidez tem causado
miséria e morte nas nações latino-americanas.
Ao som de “El pueblo unido jamás será vencido” – hino
libertário de 1970, de autoria de Sergio Ortega, do grupo Quilapayún –,
multidões se regozijam com o resultado das urnas em todo o Chile neste domingo,
19 de dezembro. Ninguém menos que um jovem advogado de 35 anos chamado Gabriel
Boric derrotou o candidato pinochetista, do atual presidente Sebastián Piñera.
Diferente das enquetes que prognosticavam o
resultado do segundo turno presidencial, um tímido empate técnico com ligeira
vantagem para o candidato da nova esquerda chilena, Boric empreendeu uma
consistente derrota aos conservadores e neoliberais e à mídia empresarial ao
cravar mais de oito pontos percentuais sobre o adversário. Essa mesma imprensa
e seus aliados conservadores e neoliberais agora dizem que o candidato
recém-eleito não é necessariamente de ‘esquerda’...
O Chile e o Peru elegeram candidatos de esquerda
com uma agenda própria de suas realidades locais. O Chile, depois do sangrento
golpe de Augusto Pinochet, em setembro de 1973 contra o presidente Salvador
Allende, mudou por completo seu projeto de Estado com a adoção de uma agenda
conservadora, razão pela qual o presidente eleito terá que usar muita
habilidade para mudar isso por completo. O Peru, por seu turno, encontra-se
vivendo um dilema cruel: em meio à corrupção entranhada pelos sucessivos
governos fantoches com discurso neoliberal, as demandas populares estão represadas
desde os fins da década de 1980, quando Alberto Fujimori derrotou o candidato
apoiado pelo então presidente Alan García e, dois anos depois, fez um
autogolpe, assumindo, a partir de 1995, sua face mais fascista, uma ditadura
militar pró-Estados Unidos.
A situação na Bolívia e Argentina, onde há uma
base popular mais organizada por conta dos anos de governos populares com ampla
participação popular nesses países, golpistas da oposição recalcada insistem em
criar crises políticas para paralisar a economia do país. O efeito não está
sendo bem-sucedido, mas produz seus impactos perversos junto à faixa
populacional em situação de vulnerabilidade social e econômica. São pessoas
que, na Argentina com a política econômica neoliberal do Mauricinho Macri e na
Bolívia com a atuação corrupta e terrorista dos asseclas da pseudolíder Jeanine
Áñez, voltaram a viver em condições muito mais críticas que no tempo de
Cristina Kirchner e de Evo Morales.
Esses ventos que sopram da Cordilheira dos Andes
(afinal, se estende da Venezuela até o Canal de Beagle, fronteira entre
Argentina e Chile) inevitável e determinantemente deverão chegar ao extenso
território deste país-continente. À medida que a farsa do pseudocombate à
corrupção desmancha com o desmascaramento da ‘Leva Jeito’ e o derretimento das
mentiras do ‘mito’, aquele que foi sem nunca ter sido, define-se o tom das eleições
de 2022, em que o amor deverá vencer o ódio; a esperança vencer o medo; a
verdade vencer as fakenews, e a
democracia vencer o fascismo. Independentemente de qualquer opção partidária, o
mote deverá ser o do isolamento das hordas que elevam o nível de intolerância e
de confronto irracional desde que a caixa de Pandora foi aberta em 2016.
Obviamente, é preciso construir uma agenda que
inclua um conjunto de demandas que nestes cinco anos não foram atendidas pelos
mandarins de plantão, hoje coladinhos feito casalzinho de namorados dos anos
dourados: o falso democrata golpista com o falso mito igualmente golpista e
saudoso da (mal)ditadura. É a hora de atuação e articulação das forças
democráticas sinceramente comprometidas com o fortalecimento do Estado de
Direito e a restauração das condições de vida com dignidade da população que
hoje se encontra em situação de vulnerabilidade social e econômica.
Seja na Terra do Fogo ou no Pantanal
Mato-grossense, nos Andes bolivianos ou na Zona da Mata mineira, a democracia
precisa revigorar-se para incluir, acolher, nutrir e dar oportunidade aos sem
voz, sem vez e sem condições de vida digna. Portanto, nada como trazer para o
mundo real as questões do dia-a-dia da população, da cidadã e do cidadão
anônimo, para quem a Vida é uma luta incessante desde o dia em que cuja mãe
recebe a notícia de que está gestante e precisa trabalhar dobrado para dar à
luz seu rebento e poder prover seu porvir. Para tanto, recordando o atualíssimo
e grande Beto Guedes em seu icônico ‘Sal da Terra’, “um mais um é sempre mais
que dois”.
É assim como nos parece oportuno dar as
boas-vindas a 2022, nas encantadoras palavras do Poeta Mario Quintana: “São os
passos que fazem os caminhos...”
Ahmad
Schabib Hany
segunda-feira, 20 de dezembro de 2021
Bolsonaro cai no Funk e direita é quem Dança! O povo, sugado, também! Os...
BOLSONARO DENUNCIA O TERRÍVEL PLANO COMUNISTA PARA IMUNIZAR AS CRIANCINH...
domingo, 19 de dezembro de 2021
Diálogos por la democracia con John M. Ackerman y Álvaro García Linera
CRISTÃO OU CRETINÃO?
CRISTÃO
OU CRETINÃO?
Pela segunda vez, o Ministério
da Saúde demonstra pouco apreço pela Vida dos brasileiros, em especial a
população infantil. Primeiro foi no ano passado, quando protelou a compra de
vacinas para atender à sanha das hordas fundamentalistas anticientíficas. O
curioso é que nem depois da CPI da Pandemia o núcleo duro do Planalto se demove
de suas posições ditas ‘ideológicas’.
Qual é o nome da ‘ideologia’ que prega a negação
da ciência e o fetiche pela morte? O curioso é que se alardeiam cristãos, mas
as atitudes revelam uma postura tipicamente cínica, cretina, de necrofilia pura
(de afinidade pela morte). Na verdade, não isso não é atitude de cristão, mas
típico de cretinão...
Nem o momento natalino, de solidariedade e
empatia, tem sensibilizado os principais integrantes daquilo que deveria ser
governo. Deveria, mas não é: trata-se de um grupo, um ajuntamento, de
recalcados, de fora da lei, que, na ânsia de destruir o Estado Democrático de
Direito e tudo que foi possível construir desde a democratização do país, a
partir de 1985, levam a ferro e fogo um conjunto de aberrações como com elas
fossem solucionar os problemas da nação, que vêm do tempo da casa grande e
senzala, isto é, da época da colonização, com escravidão e saques (sem falar do
nepotismo atávico)...
Em vez de começar a implementar o Plano Nacional
de Imunização e incluir a população infantojuvenil a tempo de evitar o
agravamento no já delicado (e exausto) corpo médico assistencial do Sistema
Único de Saúde com uma possível nova onda da pandemia, como já ocorre nos
Estados Unidos e na Europa, o ministro da Saúde, pessoalmente, vem a público
questionar a necessidade de vacinar crianças da faixa etária de 5 a 11 anos, 11
meses e 29 dias com a vacina anticovid-19. Para agradar seu ‘chefe’ e as hordas
negacionistas que o apoiam, tem se valido dos mais absurdos subterfúgios com o
único afã de, cínica e impunemente, ‘empurrar com a barriga’ a urgente
imunização de nossos filhos e netos.
Além das ameaças acintosas aos técnicos da ANVISA
que participaram da aprovação da vacina para o público infantil (que, aliás,
merecem ter os seus nomes inscritos nos anais da História), os integrantes do
desgoverno fazem corpo mole para a urgente solução do Conecte-SUS, um
aplicativo para a obtenção do passaporte vacinal. A conversa de que houve ‘ação
de hackers’ para tirar a plataforma do Ministério da Saúde está cada dia mais
difícil de sustentar. Pelo simples fato de ter passado tanto tempo, mais de
três semanas, sem que o gestor da Saúde tivesse priorizado a reabilitação da
plataforma, até para assegurar o monitoramento da pandemia e do ritmo de
vacinação.
A certeza da impunidade é o que move esses seres
desalmados, cada vez mais ousados, mais cínicos. Confesso que em 62 anos de
existência nunca vi um ajuntamento de seres tão surreais, tão atrevidos,
capazes de atos insanos de fazer inveja a Hitler e Mussolini como estes. Não
conhecem empatia, sensibilidade, solidariedade ou caridade cristã. Que seres
são esses? Saídos de qual ventre? Por que tanta perversidade? Em qual livro
sagrado há tal doutrina, de adoração da morte e da indiferença ao sofrimento de
seu semelhante sem demonstrar qualquer cordura ou compaixão? Aliás, não
precisam blasfemar o tempo todo, atenham-se a tentar cumprir os Dez Mandamentos
(inclusive aquele que ensina a amar o seu próximo como a si mesmo)...
Mas vamos aos fatos: como, em sã consciência, um
médico que se graduou depois de seis ou mais anos numa faculdade de Medicina,
como o titular do Ministério da Saúde, pode se submeter aos desvarios de um despreparado,
desequilibrado e, sobretudo, insensível? Obcecado, desde que tomou posse, ‘só
pensa naquilo’: o poder, o poder, o poder... Pobre diabo! Toda a farsa que o elegeu
o deixou nu, com seus fétidos glúteos expostos, diante de sua obsessão e do
total despreparo para o exercício da principal função do Estado de Direito, que,
ao que tudo indica, vive a prevaricar, com escárnio e desfaçatez.
Que espécie de homens públicos compõe o que
deveria ser governo de uma das maiores potências continentais, que não cuida
das pessoas e crê que somos todos imbecis, a ponto de acreditarmos em farsas
sucessivas, em que o desprezo à Vida e aos mais caros valores construídos pela
Humanidade nos últimos cinco milênios tem sido a tônica de uma cantilena que se
converteu em uma tragédia anunciada? Até quando teremos que nos submeter a
essas verdadeiras provocações, de ver pessoas das mais diferentes idades (e
agora a população infantil) sob o risco de perder a Vida, que está acima de
qualquer direito, posto que se trata de princípio de direitos?
É preciso dizer que a História tem sido rigorosa
com esse tipo de seres. Nero, Hitler, Mussolini, Stroessner, Pinochet,
Videla... Não é outro o caminho que o retorno ao latão de lixo infestado de
chorume, do qual jamais deveriam ter saído para atentar contra a Vida e a
Democracia heroica e anonimamente construída com muito denodo e empatia. E não
é demais lembrar que todo apoiador é cúmplice e, senão perante a História, ante
a própria consciência terão que prestar contas. Mais cedo ou mais tarde. Quem
viver verá.
Ahmad
Schabib Hany
sábado, 18 de dezembro de 2021
13 DE DEZEMBRO DE 1968: O AVANÇO DAS TREVAS
13
DE DEZEMBRO DE 1968: O AVANÇO DAS TREVAS
A avidez com que a linha-dura
ia fechando o tempo, em fins de 1968, depois de apear o marechal Castelo Branco
do Planalto, e com ele o estrategista Golbery, já prenunciava o real desejo de
parte dos golpistas de 1964: tomar para si o controle total da condução
política deste país de dimensões continentais.
Sexta-feira, 13 de dezembro de 1968. Cinquenta e
três anos atrás, o tempo fechava no país de dimensões continentais cuja
democracia sempre foi motivo de admiração de todos os povos do à época chamado
de Terceiro Mundo (ou integrante do Movimento dos Países Não Alinhados, de cuja
formação original o líder árabe Gamal Abdel Nasser fazia parte). O Jornalista e
escritor Mohamed Heikal, Amigo e confidente de Nasser, fizera um artigo em que
revelava certa preocupação com o Brasil pós-1964.
Se, por um lado, Jânio Quadros, com sua política
externa autônoma (isto é, soberana, livre da influência do Departamento de
Estado dos Estados Unidos), chegou a ponto de condecorar um dos líderes da
Revolução Cubana, o médico guerrilheiro Ernesto Guevara de la Serna, o temido
Che, seu sucessor João Goulart não hesitou em promover a tão sonhada integração
latino-americana, a despeito das pressões das elites conservadoras, muito bem
articuladas com a Casa Branca, cujo ocupante passava a ser o facínora Lyndon
Johnson depois do assassinato nunca elucidado do primeiro (e único) presidente
católico, John Kennedy. Não é preciso ser analista internacional para
compreender que o motivo do assassinato de Kennedy (e depois do irmão, Robert,
já candidato em 1968) estava ligado aos interesses dos falcões do Pentágono e
da máfia cubana dos EUA.
Nunca é demais destacar a falta de tato dos
extremistas, sobretudo de direita, não só no Brasil, como em todo o mundo:
ainda que, habilmente, o marechal Castelo Branco tivesse saído de cena em meio
às disputas entre grupos castrenses, a afoita liderança da linha-dura não
queria deixar de marcar posse em sua conquista. Além de ter promovido uma caça
às bruxas no interior da caserna, perseguindo os militares institucionalistas e
os ligados à liderança moderada de Golbery, o setor extremista, representado
por figuras como Sylvio Frota, Hugo Abreu, Ednardo D’Ávila Mello e Orlando
Geisel (irmão de Ernesto Geisel, do grupo de Golbery e que durante o mandato de
Emílio Garrastazu Médici foi presidir a Petrobrás), sempre se destacou pelas
medidas extremadas e nem sempre acertadas.
Em nome da defesa da democracia, violentaram o
Estado de Direito. Assim foi outorgado o Ato Institucional nº 5 (AI-5), imposto
à Nação num momento em que a sociedade se apercebia de que o golpe de 1964 não
tinha sido para defender a democracia. O autoritarismo estava dando lugar à
ordem democrática emanada pela Constituição de 1946, fruto de uma Assembleia
Constituinte arejada e fortalecida pelos ensinamentos pós-1945. Se o
nazifascismo, então, havia deixado lições profundas, a doutrina da segurança
nacional emprenhada pela lógica da guerra-fria produziu um monstrengo que
roubou a concórdia, a harmonia e o bem-estar social nos anos subsequentes ao
golpe de 1964.
O discurso do ‘combate à corrupção’ deu lugar à
mais bizarra perseguição à ‘subversão’: na falta de uma agenda propositiva para
o país, o fascismo tupiniquim engendrou uma onda efêmera em que o fantasma do ‘perigo
vermelho’ estava na ordem do dia. Porém, essa narrativa não resistiu ao mandato
de Médici e, nos primeiros meses do mandato de Geisel a realidade já se impunha
e fazia com que o sóbrio general de ascendência alemã construísse uma agenda
mais aberta às demandas da sociedade, a despeito dos atos de sabotagem
orquestrados pelos sequazes da linha-dura do regime, que se recusavam a recuar,
ainda que milimetricamente, para assegurar uma transição menos vergonhosa às
instituições impregnadas de sangue no bojo de uma guerra suja e descabida contra
seus próprios concidadãos.
O descontentamento crescente da população
brasileira perante a avassaladora perda de direitos e a intensificação de
confrontos entre diferentes setores sociais decididos aos enfrentamentos
fizeram com que esse setor se arvorasse como a solução para uma crise
previsível de consequências inimagináveis. Deu no que deu, sem respaldo popular
e acuada, a liderança imposta pela linha-dura recorreu às medidas de força:
imposição do AI-5, contra a vontade de uma expressiva parcela de lideranças que
apoiavam o regime; fechamento e cassação dos principais líderes de oposição do
Congresso Nacional; fechamento e cassação de ministros do Supremo Tribunal
Federal; declaração de guerra contra opositores do regime, dentro da lógica da
guerra-fria; imposição de uma nova carta magna sem qualquer participação da
sociedade (com o nome de “Emenda Constitucional nº 1”), além das perdas de
prerrogativas constitucionais, como o habeas corpus e a inalienabilidade
domiciliar (a qualquer momento da noite e da madrugada guarnições militares
adentravam em todos os lares do país ‘à caça de subversivos’).
Como em toda Família de imigrantes, ainda mais
libaneses em que a leitura é rotineira, o meu saudoso Pai enviara, no sábado,
alguma Filha até Seu Ney Vianna (nessa época o Seu Natércio Pinheiro e Seu
Lindolpho Cunha ainda não haviam instalado as suas bancas de jornais e
revistas, nas esquinas da Frei Mariano com a Treze e a Antônio Maria com a Treze)
trazer exemplares de seus três jornais imprescindíveis em momentos críticos (só
não aceitava O Globo por considerá-lo
muito ‘oficioso’), nesta ordem: Folha de
S.Paulo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil. Não pude testemunhar
esse momento histórico em casa porque minha Irmã caçula e eu, assim que encerrava
o ano letivo, íamos passar as férias escolares (dezembro e janeiro) ao lado de
nossa Avó materna, Doña Guadalupe, em
Cochabamba, na Bolívia.
Meus saudosos Pais e meus Irmãos e Irmãs mais velhos,
em casa, incentivaram o olhar crítico, fosse por meio do rádio, de algumas
revistas (Realidade, Veja e Satiricón, de Buenos Aires), jornais alternativos (O Pasquim, Opinião, Movimento, Abertura Cultural, Leia Livros, Folha de Eva
e Presencia e Aquí, de La Paz) ou mesmo de fascículos de livros clássicos, que
tanto a Abril brasileira quanto a argentina editavam e eram de qualidade. As
famílias formadas por imigrantes contavam a seu favor a possibilidade do ‘olhar
de fora’, nem sempre visto com parcimônia pelas ditaduras latino-americanas.
Não por acaso, as estantes de meu saudoso Pai eram vasculhadas por horas
quando, durante as madrugadas, militares faziam blitze no interior de todas as
casas do centro de Corumbá.
Até por conta disso é que vejo com desconfiança o
discurso dos ‘órfãos’ e ‘viúvos’ da (mal)ditadura hoje se arvorando paladinos
da liberdade de expressão. Aliás, foi com tal discurso que empreenderam todos
os mais deslavados e cínicos atentados contra todos os direitos, fossem eles
individuais, sociais, coletivos, trabalhistas e difusos. Pior, contra a Vida,
que está acima dos direitos, por se tratar de princípio de direitos. Hoje, como
insólita estratégia de levar a perversa sanha fascista (ou melhor, nazifascista),
valem-se da pandemia para empreender suas mórbidas e funestas ações / omissões
na defesa dos interesses maiores da cidadania brasileira.
Que a sensatez vença a obsessão; o amor sincero, o
ódio, e a esperança o medo... Um Povo (com letra maiúscula) admirado por sua
hospitalidade e sua inesgotável capacidade de trabalhar (mais que a maioria dos
demais) tem honrados e dignos motivos para virar esta vergonhosa página da
história. Laborioso e generoso, o Brasil se reencontrará com a História e
retornará altivo e pujante ao concerto das Nações como potência de paz e de
enfrentamento à fome e à miséria. Feliz Natal, e que o Amor que inspira este
momento sagrado da cristandade renasça em todas as mentes e corações
sinceramente amantes da concórdia, da justiça social e da igualdade entre os
seres humanos.
Ahmad Schabib Hany
sexta-feira, 17 de dezembro de 2021
Bibliotequilla: René Bascopé Aspiazu
quinta-feira, 16 de dezembro de 2021
El jinete insomne: René Bascopé: "La guerrilla del Che generó una est...
MUNICIPALISTA CRUZENHO DENUNCIA CAMACHO
MUNICIPALISTA CRUZENHO DENUNCIA CAMACHO
Pedro Dorado, vice-presidente
da Associação de Municípios de Santa Cruz, denunciou Fernando Camacho por
agenda de “violência, racismo e discriminação”. Para o dirigente da AMDECRUZ, Camacho
tem que agir como governador de Santa Cruz, procurar a harmonia e o
desenvolvimento de todo o departamento cruzenho, em vez de promover o ódio e
ideias golpistas, indiferente ao drama do povo que vive do trabalho diuturno.
Em resposta à atitude inusitada de Luis Fernando
Camacho que, como governador de Santa Cruz, não foi participar da reunião do
Conselho Nacional de Autonomias – instância política conquistada pelos
departamentos junto ao governo da Bolívia há pouco mais de dez anos –, o vice-presidente
da Associação de Municípios de Santa Cruz, Pedro Damián Dorado, denunciou a
agenda política do ex-cívico, que prioriza “violência, racismo e discriminação”,
para acentuar o conflito regional entre ‘cambas’ e ‘colhas’.
Dirigente municipalista, Dorado é prefeito de San
Miguel e já foi ministro de Evo Morales e lembrou que a atitude de Camacho não
coaduna com seu cargo, de chefe do Executivo departamental de Santa Cruz, a
quem compete a promoção da pacificação política, concórdia e reaquecimento da
economia para fazer com que a Bolívia, sobretudo as camadas populares, volte a
crescer como antes do golpe de 2019 e da pandemia de covid-19. A falta de
experiência de Camacho, aliás, é flagrante, e usa o cargo apenas e tão somente
para o ativismo anti-MAS, cujas conquistas perante a população são evidentes.
Por outro lado, a agenda golpista vem se
esvaziando por si mesma. O ‘cabildo cívico nacional’, marcado para 13 de
dezembro em Potosi (capital de departamento homônimo) em defesa de Marco
Antonio Pumari (cívico condenado pela justiça), acabou esvaziado diante da
intransigência dos organizadores. Segundo fontes da AMDECRUZ, a indignação dos
dirigentes municipais decorre da obsessão de Camacho de sabotar o presidente
Luis Arce Catacora, eleito há um ano em primeiro turno para um mandato de cinco
anos em meio a outros seis candidatos, e usa o discurso regionalista para
insuflar o fanatismo da ‘nação camba’ e o ódio anti-andinos, responsáveis pelo
desenvolvimento de Santa Cruz de la Sierra (o próprio Camacho é filho de pai
colha, ex-jagunço de Hugo Banzer Suárez e de Luis García Meza, generais que
promoveram o narcotráfico).
O que ficou explícito no processo eleitoral, e a
oposição faz questão de ignorar acintosa e cinicamente, é a vontade popular de
permanecer com uma agenda inclusiva, aliás, a primeira desde a proclamação da
independência e criação da República, em 1825 (há quase 200 anos). Essa questão
foi lembrada pelo dirigente Dorado: todas as conquistas de autonomia municipal
e departamental são fruto das transformações promovidas pelo MAS durante o
primeiro mandato do ex-presidente Evo Morales Ayma, cujas reeleições foram
fruto de sua priorização dos interesses populares. Desde 2005, quando Evo
Morales se elegeu pela primeira vez, o discurso de fraude é recorrente pelos
opositores que não hesitaram em promover um golpe cívico-policial-militar em 19
de novembro de 2019.
O processo de desgaste de Fernando Camacho à
frente do governo departamental de Santa Cruz decorre dessa desarticulação com
o governo central. Como o Estado Plurinacional da Bolívia é um Estado unitário
desde sua independência (diferente do Brasil, que, pelas dimensões
continentais, optou pelo sistema federativo desde 1989, quando da proclamação
da República), foi com Evo Morales que foi conquistada certa autonomia administrativa,
por meio de eleição direta dos titulares e gestão de recursos próprios.
Seguidor incondicional do ‘mito’ brasileiro, de
quem se acha representante, Fernando ¡Qué Macho! Camacho é
um canastrão que nunca em sua existência parasitária administrou uma banca de
feira-livre quanto mais um complexo e extenso departamento como é Santa Cruz.
Desde que foi eleito, há quase seis meses, tem brincado de mocinho e bandido,
mas a população já se cansou dessa cantilena. Diferente do Brasil, bolivianos
já lincharam e imolaram um presidente, o major Gualberto Villarroel, cujo
corpo ficou pendurado no poste elétrico mais próximo do palácio presidencial,
que desde então se chama Palacio Quemado, para que
ninguém mais esqueça da ira do povo, capaz de fazer justiça com as próprias
mãos.
Ahmad
Schabib Hany
segunda-feira, 13 de dezembro de 2021
domingo, 12 de dezembro de 2021
GINÁSIO INDUSTRIAL DR. JOÃO LEITE DE BARROS
GINÁSIO
INDUSTRIAL DR. JOÃO LEITE DE BARROS
O Professor Elias Nemir era o
diretor e a Professora Mary Nachif a vice-diretora. Ao não receber autorização
da Delegacia Regional de Ensino, em 1973, para oferecer o científico aos
alunos, a ‘festa de formatura’ foi a grande despedida desse educandário com seu
pioneiro projeto de ginásio industrial, de 1962.
Quarenta e oito anos atrás, num 8 de dezembro
(sábado), no ginásio do Riachuelo Futebol Clube, fazíamos a nossa festa de
despedida do desde 1972 denominado primeiro grau. Sob o glamour de uma clássica
formatura, com direito a convite, missa e culto ecumênico, desde o dia 6 de
dezembro estávamos a postos, para, mais que comemorar a conclusão do antigo
ginásio, celebrar a nossa Amizade para o resto de nossas Vidas...
O diretor era o querido Professor Elias Francisco
Machado Nemir e a vice-diretora a também querida Professora Mary Calix Nachif,
tendo como antecessor o saudoso Professor José Eduardo Scaffa Chelotti, muito
dinâmico e generoso na direção da escola – aliás, construída em grande parte
pelos próprios alunos e alunas no horário destinado à disciplina de Educação
Física, como a quadra, a cantina e o modesto auditório. Além do Centro Cívico
(exigido pelo regime de 1964 a partir de 1972), tínhamos Clube de Leitura,
Clube de Ciências e Clube da Matemática, cuja dinâmica dependia da dedicação
dos alunos.
Como milhares de crianças, adolescentes, jovens e
adultos em Corumbá e Ladário, fui dos privilegiados a estudar em um projeto
vanguardista anterior ao regime de 1964. Em dezembro de 1969 fiz o Exame de
Admissão (era esse o nome oficial para ingressar no antigo ginásio, de acordo
com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1962) e, dez dias
depois, vi meu nome entre os aprovados para estudar no concorrido Ginásio
Industrial Dr. João Leite de Barros, cujo diretor, o saudoso Professor Chelotti,
na primeira semana de aulas recebia, um a um, todos os alunos como se fossem
únicos.
Não posso esquecer que meu ingresso ao Ginásio
Industrial foi por conta da qualidade do ensino da Escola Batista de Corumbá,
cuja regente, a querida Professora Irlene Maria dos Santos Bareiro (na época
noiva do Irmão de nosso colega e Amigo Roque Bareiro, aliás, que já celebraram
bodas de ouro), se dedicava a sanar todas as dúvidas que por ventura tivéssemos
acerca da gama de assuntos das seis disciplinas exigidas no concorrido exame
seletivo, incluindo a temida redação. Daí minha gratidão à Professora Irlene, à
Professora Dalva (diretora da Escola e Mãe do Arnon e da Manon) e ao saudoso
Pastor Cosmo Gomes de Souza (titular da Primeira Igreja Batista e depois colega
de meu saudoso Irmão Mohamed no curso de Psicologia no então CPC/UEMT), que nos
recebia recitando o versículo João 3:16, gravado até hoje em nossa memória.
Hoje é Escola Estadual Dr. João Leite de Barros,
cujo endereço, desde 1976, é outro: rua Cabral, 761, no centro de Corumbá. O
prédio, tombado pelo IPHAN, de autoria do genial arquiteto e humanista Oscar
Niemayer (feito antes de seu célebre projeto-piloto de Brasília), foi
inaugurado em 1951 para o Colégio Estadual Maria Leite (o memorável CEML),
atualmente em outro endereço, à rua Portocarrero, 94, centro – e o curioso é
que nesse período o vice-governador de Mato Grosso era o Dr. Cássio Leite de
Barros e o secretário de Educação e Cultura, o Dr. Salomão Baruki, dois
corumbaenses aguerridos. Mas não conseguiram impedir que fosse cometido esse
desatino contra dois educandários históricos, cada qual por suas razões
específicas.
Entre 1969 e 1973, o então Ginásio Industrial
(depois Escola Estadual, por força da Lei nº 5.692/1971) Dr. João Leite de
Barros se situava no mesmo terreno da atual Escola Estadual Dr. Gabriel Vandoni
de Barros (mas o acesso ao Ginásio Industrial era pela rua Nossa Senhora de
Fátima, que atravessa a avenida Nossa Senhora da Candelária, acesso do atual
Vandoni). Criado em 1962, o nome foi uma homenagem ao ex-deputado João Leite de
Barros, sendo sua sede provisória o prédio da Seleta Sociedade Caritativa e
Humanitária (SSCH), Quadro de Corumbá, na confluência da Silva Jardim e
Albuquerque, no entorno da Vila Mamona. Somente em 1967, sob a direção do
Professor Chelotti, é que o ‘Industrial’, como era carinhosamente chamado pela
comunidade, teve sua sede própria entregue, ainda que incompleta. Por isso a
comunidade escolar, inclusive alunos, precisou “pôr a mão na massa” para
melhorar as condições físicas da escola.
Corumbá, como todo o Brasil, vivia entre 1970 e 1973
o fechamento do regime de 1964. Eram perceptíveis, entretanto, os sobressaltos
decorrentes da inimaginável vitória acachapante dos candidatos do PSD e aliados
(trabalhistas, socialistas e até comunistas), em 1965, sobre os da UDN – em
Mato Grosso, a vitória de Pedro Pedrossian contra Lúdio Martins Coelho –, que
se revelaram determinantes para a saída do marechal Humberto Alencar Castello
Branco do Palácio do Planalto ao lado do ideólogo de 1964, general Golbery do
Couto e Silva e a sua substituição pelos generais da linha dura, entre eles
Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici. Os líderes civis de 1964,
entre eles Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, também saíram derrotados em seus
estados (da Guanabara e de Minas, onde os peessedistas Negrão de Lima e Israel
Pinheiro foram vitoriosos). Ainda que fraca, a oposição se articulou numa
frente ampla, logo reprimida pelos novos ocupantes dos principais cargos da
República, e nem as manifestações dos estudantes, intelectuais, artistas,
cientistas, advogados, trabalhadores sindicalizados e clérigos de diferentes
denominações religiosas os sensibilizavam.
Obviamente, o coração do Pantanal e da América do
Sul amargava um elevado preço não só político, mas econômico e social, pelos
cruentos tempos que desabavam sobre os horizontes do país. De principal centro
econômico do estado, em vinte e um anos (quando encerrara melancolicamente o regime),
o então entreposto comercial pujante e cosmopolita estava à deriva, sem rumos,
como o governo do estado recém-criado (sobretudo, por casuísmo político, pois o
partido de sustentação do regime, a ARENA, estava na iminência de perder a
confortável maioria nas duas casas do Congresso Nacional, e era necessário fazer,
a toque de caixa, alguns truques, como criar a figura do senador biônico,
indicado pela bancada majoritária nos estados, coincidentemente da ARENA, além
da fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, dois estados
tradicionalmente oposicionistas, e a divisão de Mato Grosso, estado
predominantemente governista, o que aumentaria significativamente o número de parlamentares
do partido situacionista).
A tradição política trabalhista da Corumbá
cosmopolita, responsável pela vitória pedrista em 1965, causou o isolamento
político e econômico da Cidade Branca. Além de eleger e reeleger o comerciário
Cecílio de Jesus Gaeta deputado estadual oposicionista (pero no mucho) durante todo o regime, o eleitorado de Corumbá foi
privado de eleger seu prefeito ao longo desse período, que, como Área de
Segurança Nacional (igual Ladário), tinha seu prefeito nomeado com base numa
lista tríplice pelo presidente da República. Mas o esvaziamento político ficou
muito mais perceptível depois da divisão do estado.
Muitos não entendem por que em Corumbá e Ladário
não há muita simpatia pelo estado de Mato Grosso do Sul, nascido para ser
modelo e que virou novelo em tempos da ditadura resultante do golpe de 1964.
Acontece que, com a divisão de Mato Grosso, além da divisão do Pantanal (que
trouxe muito prejuízo à população da região ao segmentar a ligação histórica e
econômica do bioma), as elites cuiabanas tinham fortes vínculos com o Pantanal
todo, o que Campo Grande não oferecia. Isso levou quase uma década para ser
notado pelo governo do novo estado, na verdade no segundo mandato do governador
Wilson Barbosa Martins, o primeiro a ser eleito pelo voto direto em 1982 (e
tornou a ser eleito de novo em 1994, novamente sucedendo Pedro Pedrossian).
Se o troca-troca de prédios históricos das Escolas
Maria Leite e João Leite de Barros, por si só, já antevissem, como premonição,
o desastre para a população pantaneira que foi a divisão de Mato Grosso e
criação de Mato Grosso do Sul, as primeiras décadas do novo estado não foram
suficientes para acolher com cordura e respeito os anseios centenários de
Corumbá e de Ladário, baluartes do progresso e da integração internacional do sul
de Mato Grosso e centro gerador de tributos para bancar a hipertrofiada máquina
estatal, em que as oligarquias, tanto nortistas como sulistas, mantinham seu clientelismo
atávico desde os tempos dos capitães-generais, ainda durante a colonização.
Enfim, tal qual o destino das escolas Maria Leite
e João Leite de Barros, os horizontes da laboriosa, hospitaleira e
culturalmente diversa população de Corumbá e Ladário foram preteridos (muitas
vezes até com acintoso deboche) pelos tecnocratas e políticos provincianos a
serviço das novas-velhas oligarquias sulistas. O imponente prédio do Maria
Leite, projetado por Oscar Niemayer, não mais faz parte da história daquela comunidade
(até porque ‘aquela comunidade’ perdeu sua identidade ou emigrou em busca de
novos horizontes), como também o emblemático projeto de Ginásio Industrial
deixou de existir em 1976, véspera da súbita e antidemocrática (porque
realizada sem consulta aos diversos segmentos populacionais) divisão do
Pantanal, e que coincide com a perda de identidade do João Leite de Barros,
hoje instalado em prédio que não lhe pertence historicamente, ainda que a
comunidade escolar do querido ‘JLB’ teime resistir, re-existir (até porque em
seu modesto prédio original foi construído o Vandoni)...
O centenário Maria Leite e o sexagenário João
Leite de Barros têm em comum muito mais que adversidades decorrentes da
perversidade das elites políticas regionais: têm a história, a trajetória de
centenas de milhares de outrora (e atuais e futuros) jovens em formação, muitos
dos quais possivelmente célebres ou competentes profissionais em cujo âmago
trazem a Vida de Professores e Professoras (com letras maiúsculas) que
dedicaram suas Vidas para forjar o caráter e formar a base científica e
humanística de cidadãos laboriosos e probos, desejosos de um porvir justo,
generoso e progressista para as sociedades humanas, a começar pela longeva
(milenar) sociedade corumbaense e ladarense.
Ahmad
Schabib Hany
quarta-feira, 8 de dezembro de 2021
Emel Mathlouthi - Naci en Palestina آمال مثلوثي
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
“E AO MAU SÓ O CARINHO O TORNA PURO E SINCERO...”
“E
AO MAU SÓ O CARINHO O TORNA PURO E SINCERO...”
“Y al malo solo el cariño lo vuelve puro y sincero…” Imortal compositora chilena, Violeta Parra compôs
em plena maturidade “Volver a los 17”, de cujos versos extraí o fragmento que
intitula este texto. Mais que justo reconhecimento (e homenagem), é porto
seguro para a travessia necessária, para alimentar nossas almas...
A despeito da censura criminosa imposta pelas
ditaduras sanguinárias das décadas de 1960, 1970 e 1980, a juventude
desassossegada pôde desfrutar da genialidade e coragem de cantores,
compositores, atores, dramaturgos, maestros e arranjadores que ousaram desafiar
os carrascos que posavam de ‘salvadores da pátria’. Ora pelas ondas do rádio ou
pelo curso da Vida, que, como a História, não tem amos nem senhores; nem lacaios
ou serviçais.
A vantagem de viver em fronteiras de largos
horizontes, como a Corumbá cosmopolita de então, foi ter podido desfrutar,
ainda que com muita discrição e prudência, da genial criação desses seres
iluminados que a Vida generosamente nos propiciou. A humilde hospedaria com que
meus Pais proveram nossa sobrevivência e formação, sem dúvida, foi um
emblemático local de sucessivos encontros fortuitos com pessoas que de hóspedes
casuais se tornariam Amigas para o resto de nossas Vidas.
Entre elas, Estela Martínez, jovem artista
plástica chilena, que, impressionada pela história de meu Irmão Mohamed, pintou
uma tela em sua homenagem, mas que precisou fugir de seu país para permanecer
viva; o querido e agora saudoso Jorge Ocampo Claros, estudante-convênio de
Pedagogia no Centro Pedagógico de Corumbá (UEMT), com quem trocávamos fitas de
músicas e livros ‘proibidos’; o sempre lembrado João Batista (sem a letra ‘p’)
Figueiredo, curiosamente homônimo do general-presidente que viria a suceder
Ernesto Geisel a partir de 1979, hippie
e ex-membro do movimento estudantil do Rio e cuja linda Companheira (Leila, Mãe
de Brisa e de Índia) era Amiga de Cláudia Lessin Rodrigues, uma das mais
antigas vítimas de feminicídio no Brasil; Denise Abranches, ex-estudante de
História e cineasta nos Estados Unidos, que se refugiou em 1968 para não ser eliminada
por participar da resistência ao regime no Rio; a farmacêutica Maria da Graça
Leão (Mãe do Sidney, da Savana e da Manuela), que trocou Alfenas por Corumbá e
que foi Companheira do cantor e compositor Sidney Rezende, até se mudar para
Cáceres (Mato Grosso); o saudoso Leodevar Rodrigues Jardim, ex-estudante de
Agronomia em São Paulo que, para sobreviver, foi trabalhar na Codrasa (Ladário)
como almoxarife e depois como cozinheiro, e por meio de quem fiz Amizade
(dessas com letra maiúscula) com o querido e saudoso Doutor Márcio Toufic
Baruki, bem como com o Tarcísio Nozé e a Guta, sua jovem Companheira,
apresentados por ele.
Obviamente, em Corumbá os jovens radialistas Juvenal
Ávila de Oliveira, Edson Moraes (na época assinava com a preposição ‘de’ antes
do Moraes, até porque o nome completo é Edson Henrique Figueiredo de Moraes) e Augusto
Alexandrino dos Santos (o querido ‘Malah’, que se eternizou em junho de 2013,
em Campo Grande) ousavam caminhar no fio da navalha e, nos estúdios das
emissoras Difusora e Clube (só AM), davam verdadeiras aulas de cultura popular
e até de contra cultura, que no Brasil foi representada pelo genial movimento
da Tropicália. Importante frisar que Juvenal inovou quando assumiu a direção
musical da Rádio Difusora Mato-grossense S/A, ao registrar, além do intérprete,
a autoria da composição, o gênero e o selo fonográfico, despertando, assim, no
ouvinte o interesse pela história da Música Popular Brasileira e demais gêneros
musicais – isso sem falarmos da excelente seleção musical, digna da radiofonia
nacional de vanguarda.
Nessa época, as duas únicas emissoras de rádio de
Corumbá tocavam, além do entulho da indústria fonográfica (chamado de ‘sucessos’,
por meio do velho esquema do ‘jabá’), as pérolas da Música Popular Brasileira e
da música latino-americana (na grande maioria regravadas por Elis Regina,
Simone, Milton Nascimento, Chico Buarque, Gal Costa, Maria Bethânia, Fátima
Guedes – irmã do saudoso Beto Guedes –, Vanusa e Cláudia, com sua inesquecível “Não
chore por mim, Argentina”, um tributo à Evita Perón, uma espécie de mártir do
Povo Argentino).
Ao lado de “Gracias a la Vida”, também de Violeta
Parra – eternizada no Brasil na voz de Elis –, “Volver a los 17” – e que no
Brasil a belíssima interpretação de Milton e Chico se encontra na memória e no
coração dos jovens de então – é composição que constitui o cerne do cancioneiro
libertário de nossa América Latina. Este subcontinente que resiste, na medida
do possível, incólume às investidas torpes de estúpidos fantoches do império
fétido, ávido por nossas riquezas desde os malditos tempos coloniais.
Tanto uma como outra composição permanece atual
nestes tempos sombrios. Porém, o mais triste é que, como nunca, queridos
Companheiros e Companheiras com quem há pouco, inclusive, continuávamos a
empreender pelas transformações tão necessárias, dão a impressão de se haverem
cansado da luta, indo na contramão da História. Explico: neste momento de
frente contra o fascismo, de unidade pela defesa do Estado de Direito – ou, melhor,
do Estado Democrático de Direito, como consta da Constituição Cidadã –, é
preciso ter generosidade e grandeza para não cairmos em ciladas e fazermos o
jogo dos arremedos de fascistas encastelados.
“Gracias a la Vida / que me ha dado tanto / me dio el
corazón / que agita su marco / cuando miro el fruto / del cerebro humano / cuando
miro al bueno / tan lejos del malo…” Pois é. Precisamos não perder a
sensibilidade para saber distinguir as pessoas boas, tão distantes das más. Não
esqueçamos, contudo, de que “ao mau só o carinho o torna puro e sincero”...
Ahmad
Schabib Hany
sábado, 4 de dezembro de 2021
quarta-feira, 1 de dezembro de 2021
ADILSON LOBO, ETERNAMENTE IRREVERENTE
ADILSON
LOBO, ETERNAMENTE IRREVERENTE
“Nem gato, nem rato: Lobo é o
candidato!” Esse era o mote da campanha idealizada por ele mesmo. Homem de
rádio e da estrada por décadas a fio, Adilson Lobo encerrou sua jornada com a
mesma discrição com que viveu.
Meu querido Amigo-Irmão-Companheiro-Camarada Edson
Moraes tem a virtude de ligar em momentos que nos chamam para a realidade, para
a grandeza deste Planeta, desta Humanidade, deste Povo Brasileiro (usando e
abusando das maiúsculas, merecidamente). Nesta terça-feira, quando ligou,
estava debruçado sobre uma pesquisa interessantíssima de um novo Mestre,
pós-graduado em nossa UFMS, oriundo de Moçambique (seu nome não vem ao caso,
até porque não tenho autorização para esse tipo de informação, que a
coordenação do Mestrado em Educação, se entender conveniente, pode fazer). Mas,
nos poucos minutos que pôde dedicar à sua ligação comigo, me colocou a par de
muita coisa -
a que neste momento me cabe compartilhar, muito triste, é a da eternização, no
ano passado, do querido radialista e cidadão do mundo Adilson Lobo, irreverente
e sempre bem-humorado, até com a própria desgraça...
Adilson Lobo era Irmão do grande radialista que
desde 1980 se encontra em Cuiabá, o Ademir Lobo, e também do sempre candidato a
prefeito Antônio Lobo pelo PSB, advogado, funcionário do Ministério do Trabalho, que
decidiu se mudar de Corumbá assim que se aposentou, há alguns anos. Adilson,
que foi Companheiro de minha querida Amiga e Colega de Ginásio Alzira, tinha um
Neto que era colega de minha Caçulinha, no Colégio Objetivo, o que sempre nos
permitia reencontrarmos, mas isso era antes da pandemia.
Como eram três os irmão Lobo na radiofonia
corumbaense dos fins dos anos 1960, Ademir e seu vozeirão peculiar eram os mais
notados, cabendo aos dois outros irmãos o papel secundário, de produtor e de
contato comercial. Mas quando, por algum motivo relevante, Ademir não podia
estar no ar, os dois se revezavam para segurar a audiência. O fato é que
Adilson era, com sua irreverência, um genial criador de ‘slogans’ que em tempos
de conectividade de hoje teriam viralizado. Pena que foram outros os tempos
dele.
Um de meus encontros derradeiros com Adilson Lobo
foi no início do ano letivo de 2020, pouco antes da pandemia impor a mudança de
nossas rotinas. Ele me contara que estava decidido a lançar sua candidatura a
prefeito de Corumbá, e, irreverente como sempre, anunciou seu ‘slogan’ (mote de
campanha): “Nem gato, nem rato: Lobo é o candidato!” Foi uma gargalhada
geral...
Pelo que fiquei sabendo, ele não teve tempo de
participar do processo eleitoral, embora tivesse registrado a chapa completa
por um desses partidos novos, sem grande expressão - o
que pouco interessava a ele, pois o que queria, mesmo, é ‘causar’, provocar.
Próprio de sua personalidade, ele era a irreverência em pessoa. Acredito que
nesse encontro, na saída dos alunos da escola, a saudosa Professora Terezinha,
que já foi candidata a prefeita em 1992, estava entre as pessoas que o ouviram
anunciar seu ‘slogan’. Chegou a me pedir ‘algumas ideias’ para seu programa de
governo, que, segundo os dirigentes de seu partido em Corumbá, registrariam em
cartório, como uma vez o também falecido ex-prefeito e candidato algumas vezes,
empresário Ruy Waldo Albanese, fizera em 1992.
A pandemia, aliás, lhe tirou o chão, pois estava
por assumir um horário alternativo na FM Pantanal, segundo me dissera, e andou
trocando ideias comigo com o intuito de fazer um ‘espelho’ (na verdade, um
projeto-piloto). Com a pandemia, seu projeto radiofônico ficou para a posteridade...
Uma pena, porque ele era incansável e genial, teria sido um momento de
descontração no horário em que as rádios perdem audiência para as novelas da tarde/noite.
Triste coincidência, mas ele e o querido e saudoso Padre Pasquale Forin se
eternizaram no mesmo período. Provavelmente, estejam se dedicando a algum
projeto de comunicação na outra dimensão, eis que tarimba não há de faltar...
Pois é. Adilson Lobo, cuja voz acalentou sonhos na
radiofonia da Corumbá cosmopolita, se silenciou sem que tivéssemos tido a
oportunidade de transmitir à sua querida Família nossa solidariedade. Até
sempre, querido Amigo, e que em alguma dimensão possa tornar realidade tão
bonito projeto (o do programa de rádio, até porque o outro, da candidatura, não
tive o prazer de conhecer)!
Ahmad
Schabib Hany
terça-feira, 23 de novembro de 2021
DEZ ANOS SEM HELÔ
DEZ
ANOS SEM HELÔ
Parece que foi ontem. Ela se
tornou eterna, e sempre terna. Sua gargalhada contagiante, seu olhar crítico e
cúmplice (no melhor sentido), seus critérios sábios, suas ideias geniais. A
humanidade passará mais dois mil anos para encontrar alguém como Helô, a
incansável revolucionária do amor, da genialidade e do respeito pelo ser
humano, do âmago da humildade... Helô Urt, sempre na memória e no coração!
Heloísa Helena da Costa Urt. Eternamente jovem,
irreverente, incansável e trabalhadora como poucos. Passados dez anos (que
parece ontem!) de sua súbita eternização, Helô é unanimidade: cultura,
solidariedade, abnegação, atitude, sinceridade e companheirismo - tudo
isso e muito mais, sem ser piegas, coisa que ela mais detestava...
Desde tenra idade, Helô rompeu paradigmas: nascida
e criada em uma família de valores sólidos e tradicionais, um lar tipicamente
árabe, em que o rigor e os costumes têm um valor imensurável, a eterna e terna
lutadora de grandes causas veio para causar,
na fala dos jovens de hoje. Sem papas na língua, desarmava o mais eloquente
argumentador por meio de perguntas simples, e por isso sábias.
Espontânea, lógica e profundamente irreverente;
ora sensível, ora rigorosa; generosa e abnegada o tempo todo. Trocou a
estabilidade de uma vida confortável e previsível pela incessante procura de
novos tempos para os sem voz e sem vez. Corajosa, não temia a cara feia de
nenhum ‘grandão’. Ao contrário, desafiava os mais arrogantes e prepotentes de
seu tempo.
A fala afiada e imprevisível tinha sim causa e
propósito: de raciocínio rápido e ideias próprias, Helô dava a mão e todo o
apoio possível e impossível a quem de fato precisasse - e
nunca errou quando dizia que não confiava em determinadas pessoas. Como pessoa
de alma boa, seu critério era justo e sábio, azar daquele que não inspirasse
confiança para ela.
Palestina pantaneira, nasceu no início da segunda
metade do século XX. Num tempo em que mulher nascia com destino marcado desde o
dia do nascimento. Com ela, isso jamais funcionou: sem se desgastar em
discussões estéreis, cada passo, calculado, que ela dava tinha razão, tinha causa.
Sem muito esforço, mas com muita tenacidade, Helô soube conquistar, um a um,
todos aqueles com os quais conviveu.so
Personalidade forte, ideias claras, propósitos
generosos. Os sessenta anos vividos com intensidade pareceram voar diante do
horizonte largo e intrincado que encontrou diante de si. Mas como uma lutadora
de grandes causas nunca lutou sozinha: sempre em grande e sincera companhia,
fez-se cercar de mulheres e homens dignos e valorosos.
Se pensarmos bem, tudo a que ela se dedicou com
pioneirismo (cultura popular, meio ambiente, ciência, artes, letras, educação,
política transformadora etc) até hoje vive colhendo o que ela semeou, trinta,
vinte anos atrás. Viola de cocho, cururu, siriri, São João, carnaval popular,
defesa do Rio Paraguai, Assentamentos, Codrasa, direitos das trabalhadoras e
trabalhadores humildes (não só garis como os da coleta de lixo e do lixão),
organização dos artistas em seus respectivos segmentos, promoção de eventos em
todas as áreas, inovação e criatividade. Tudo isso sem vaidade ou egoísmo.
Com todo o respeito pelos que a sucederam na
gestão da Cultura, mas depois que ela se eternizou nunca houve inovação, apenas
continuidade daquilo que ela, com pioneirismo e muita determinação, já havia ousado
tentar. É uma mulher à frente do seu tempo, e verdadeira cidadã do mundo (como
provou nas diversas viagens que fez como mochileira à América Latina e à
Europa). Mas nunca revelou isso, porque não gostava de ostentação nem ‘viralatice’
-
detestava o sabujismo das elites pelo esnobismo ocidental, como que fossem os
donos da civilização (descendente do milenar Povo Palestino e nascida no
coração do Pantanal e da América do Sul, ela sabia que a cultura, como a história,
não têm amos nem lacaios, apenas passageiros efêmeros).
Desafiara
os burocratas, vencera os serviçais, destituíra os trava-portas, promovera os
humildes, projetara os sinceros, reconhecera os leais, valorizara os
guerreiros, ajudara os transformadores, fortalecera os trabalhadores. Atuou
como se fosse imortal (e é, como prova a história), mas com a urgência de quem
tinha que partir precocemente...
Querida Helô, seguimos com Você, como guia travessa e desconcertante que desafia os medíocres e ensimesmados inebriados com seu próprio narcisismo, de sua insignificância atrevida, que Você tanto combateu. Sábia, Você saiu de cena para não ter que ver ineptos e mentecaptos atentando contra a grandeza e a soberania do Povo Brasileiro, que Você tanto amou e por quem Você dedicou seus melhores dias e toda a generosa e inatacável inteligência. Sempre na memória e no coração!
Ahmad
Schabib Hany
domingo, 21 de novembro de 2021
JGP, UM JOVEM CINQUENTÃO...
JGP,
UM JOVEM CINQUENTÃO...
Inaugurado em 1971, mesmo ano
da famigerada Lei 5.692, o Centro Educacional Julia Gonçalves Passarinho
celebra seu Jubileu de Ouro ainda mais jovem e conectado com as novas
tecnologias, apesar dos tempos sombrios que teimam impor à juventude
desassossegada.
A criação do Centro Educacional Julia Gonçalves
Passarinho, em 1970, fez parte do conjunto de obras para Corumbá com que o último
governador eleito durante a vigência do regime de 1964, Pedro Pedrossian,
reconheceu sua vitória sobre a UDN graças à votação do eleitorado corumbaense.
Além de uma escola moderna e de grande porte, a Cidade Branca fora contemplada
com a moderna adutora (estação de captação de água que muitos chamam de ‘ponte’)
e a criação do Instituto Superior de Pedagogia de Corumbá, que deu origem ao
atual Campus do Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Eram, sem dúvida, tempos cruentos. Sob a batuta da
linha-dura, o regime de 1964 tinha no comando o general Emílio Garrastazu Médici,
que sucedera o marechal Arthur da Costa e Silva em 1969, de cujo gabinete
ministerial resgatara o coronel paraense Jarbas Passarinho, antes do Trabalho e
depois da Educação e Cultura -
a mãe foi escolhida patronesse do novo educandário em reconhecimento aos inúmeros
favores daquele ministro oriundo da caserna. Na época, homenagens a pessoas
vivas eram permitidas e não havia qualquer questionamento de caráter ético.
O general Golbery do Couto e Silva, um dos
ideólogos de 1964, tinha sido apeado com o marechal Humberto de Alencar
Castello Branco por serem considerados muito brandos com os adversários
trabalhistas, rotulados pela máquina de propaganda do regime de ‘corruptos’ e
‘subversivos’. Só que o governador Pedro Pedrossian, egresso do PSD de
Juscelino Kubitschek de Oliveira (o popular JK), era tido como ‘subversivo’ por
ter sido apoiado por trabalhistas e até socialistas e comunistas contra Lúdio
Martins Coelho em 1965, tendo empreendido uma vitória acachapante sobre os
representantes regionais da UDN e, por extensão, do novo regime.
No processo de endurecimento do regime, diversas
leis foram outorgadas, em nome da segurança nacional. Na Educação, além de
instrumentos cerceadores da liberdade como os decretos-leis 228 (intervinha na estrutura
da representação estudantil) e 477 (impunha punições às atividades estudantis),
foram editadas, mediante o famigerado Acordo MEC-Usaid, a Lei da Reforma
Universitária (Lei nº 5.540/1968), que acabava com uma série de conquistas
históricas -
entre elas a autonomia universitária -,
e a Lei do Ensino Profissionalizante (Lei nº 5.692/1971), que acabou com
disciplinas humanistas, como Filosofia, Sociologia e História, além de dar uma
formação mais técnica e nada crítica ao ensino médio.
Nesse contexto de endurecimento político e de
fechamento institucional é que o Centro Educacional Julia Gonçalves Passarinho
foi ofertado para a população de um dos centros urbanos mais politizados e
organizados espontaneamente desde fins do século XIX. Até então, as maiores
escolas de ensino básico em Corumbá eram o Santa Teresa, Genic, Dom Bosco,
Maria Leite e Industrial Dr. João Leite de Barros (entre privados e públicos).
E a demanda por mais escolas que oferecessem ensino básico era crescente na
Corumbá cosmopolita do início da década de 1970.
A primeira diretora do Centro Educacional, como
era carinhosamente chamado, foi a Professora Edy Assis de Barros, inclusive
membro efetivo da pioneira Comissão de Implantação do ensino superior, e
responsável pelo oferecimento do curso de História no Instituto Superior de
Pedagogia de Corumbá (depois Centro Pedagógico de Corumbá, um dos campi da
recém-criada Universidade Estadual de Mato Grosso, também por Pedrossian). Mais
tarde, diretora do Centro Universitário de Corumbá e pró-reitora de Pesquisa e
Extensão da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, gestão do saudoso
Professor Jair Madureira.
Nos primeiros dias de 1974, ainda na gestão da
Professora Edy, meu saudoso Pai fez minha matrícula no Centro Educacional. Era
a primeira turma do colegial, constituída por apenas 18 alunos, em sua maioria
oriundos do Ginásio Industrial Dr. João Leite de Barros (sediado num modesto
prédio no terreno que hoje abriga a Escola Estadual Dr. Gabriel Vandoni de
Barros). Lá fiz Amigos para toda a Vida: João de Souza Alvarez, Juvenal Ávila
de Oliveira, Benedito Jesus Silva da Cruz, Bernadete da Cruz Benites, Soely
Ivacquia de Oliveira, Reginaldo Rugero da Silva, Johonie Midon de Mello, Julio
Ábrego, Manoel Guerrero, Sérvulo Benedito, Luiz Carlos dos Santos, José
Virgílio de Moraes, Apolo Andrade, Leci Souza, Sulamita Fernandes, Maria
Bernal, Mari Lobo, Gisela Bluma, Joana Lara, Jadielson Araújo e Iara Torres, entre
outros não menos queridos e sempre lembrados (mas cujos sobrenomes não tenho).
Além de nosso aprendizado com excelência, graças à
dedicação e generosidade de todos os Professores, sem exceção, a afirmação
cidadã, não só nas atividades do processo de ensino e aprendizagem, mas em
experiências extracurriculares como a do ‘jornalzinho’ que tinha a pretensão de
ser interescolar num tempo em que sonhar com isso era objeto de punição
prevista em decreto-lei (o 477). Mas “O Clarim Estudantil”, de vida efêmera,
foi uma escola dentro da escola: foi um laboratório de cidadania e de
protagonismo que alicerçou concepções, práticas e, sobretudo, critérios e
valores para toda a Vida. E aqui cabe um agradecimento público e eterno para
estas pessoas muito queridas: Professora Terezinha da Cruz Benites (que, como
grande Mestra e Mãe, confiou em jovens bem intencionados ávidos de novas
experiências dentro do projeto do jornal), Professor Octaviano Gonçalves da
Silveira Junior (que depositou toda a sua credibilidade e experiência num
projeto ousado que serviu para fortalecer o caráter e a formação dos jovens
nele envolvidos), Professor Augusto Alexandrino dos Santos (o querido Malah,
que compartilhou sua inquietude e seu talento de cartunista e artista gráfico
para enriquecer a experiência coletiva focada no jornal) e Seu Aristarco (o querido
‘Seu’ Ari, que nunca negou apoio, mesmo fora de horário e nos fins de semana,
ora levando, ora trazendo o farto material gráfico depositado em uma das
dependências do Centro Educacional, que cuidava como compartimento de sua própria
casa).
Obviamente, a Professora Maria Auxiliadora Maia,
que até pouco antes de sua eternização, em 2014, foi uma Amiga presente,
exerceu muita influência na minha opção pela licenciatura em História por ter
incentivado minha visão crítica na interpretação da chamada ‘história oficial’.
Por seu turno, o Professor Dilermando Luiz Ferra, igualmente Amigo que a Vida
me presenteou, esteve próximo de mim até poucas semanas antes de sua
eternização, em 1994, e, muito sincero, me deu conselhos muito caros que os
levo para a Vida (ele era um dos colaboradores do combativo Diário de Corumbá sob a direção do
saudoso e querido Márcio Nunes Pereira, e sempre estávamos trocando opiniões
acerca do cotidiano corumbaense). O mesmo acontecia com os queridos Professores
Octaviano, Malah, Esli, Kaoru, Finocchio e Joaquim, muito diálogo e
compartilhamento de inquietações, próprias daqueles tempos.
Docentes inesquecíveis do período 1974-1976,
alguns não mais entre nós e muitos deles se tornaram Amigos: Professora Maria
Auxiliadora Maia (História, OSPB e EMC), Professor Octaviano Gonçalves da
Silveira Junior (Português e Literatura), Professor Altevir Alberton (Geografia),
Professor José Finocchio (Educação Física), Professor Kaoru (Educação Física),
Professor Esli (Educação Física), Professora Elza Maia (EMC e OSPB), Professor
Augusto Alexandrino dos Santos Malah (Desenho Geométrico), Professor Sérgio
Freire (Matemática e Física), Professora Mariza Mauro (Química), Professora
Tânia Souza (Física), Professora Luciene Kassar (Biologia), Professor Domingos
Sávio de Souza (Biologia), Professora Marilza Cavassa (Programa de Saúde),
Professora Selma dos Santos (Programa de Saúde), Professora Roma Román Áñez
(Inglês), Professora Ivone Carretoni (História), Professor Antônio Brites
(Matemática), Professor João Luiz Gonçalves (Física e Matemática), Professor
João Carretoni (Química), Professor Joaquim dos Santos (Química), Professor
Reginaldo Faleiros (Química), Professor Maurício Pellegrini (Biologia),
Professora Georgina Benítez (Matemática), Professora Regina Abukalil Capucci
(Inglês), Professor Nivaldo Ferreira (Desenho Geométrico), Professor
Alexandrino dos Santos Mauro (Português), Professor Dilermando Luiz Ferra
(Noções de Contabilidade e Escrita Fiscal), Professor Eudes Marinho de Sá
(Noções de Administração), Professor Alcides dos Santos Mauro (Noções de Administração),
Professora Edy Assis de Barros (diretora), Professora Terezinha da Cruz Benites
(diretora), Professor João Quintilio Ribeiro (diretor).
Funcionários excepcionais, em todos os setores
(fiscais de alunos, secretaria, cantina, limpeza e na portaria), como ‘Seu’
Aristarco (o lendário ‘Seu’ Ari, querido Amigo, que se eternizou há pouco mais
de um ano, mas que tive a felicidade de encontrar por três vezes antes da
pandemia, fazendo um lanche onde ele mais gostava), Dona Maria, ‘Seu’ Brandão,
‘Seu’ Preza e Dona Eunice. Todos na memória e no coração. Meticuloso, “O Clarim
Estudantil” tinha uma relação com os nomes de todos os funcionários de todos os
turnos e setores, bem como dos Professores do JGP. Lamentavelmente, os arquivos
foram consumidos pela ação do tempo. Mas fica nossa eterna gratidão a todos
eles, verdadeiros Amigos e Companheiros de uma epopeia que jamais esqueceremos.
Uma pena, mesmo, não ter sido possível estar, no
dia 13, na confraternização dos ex-alunos do JGP, organizada com muito penhor
pelo ex-colega e hoje Professor Padilha, de Educação Física. Além da querida
Amiga de então, Mari Lobo, a Amiga que conheci já nos tempos de universidade,
Iara Torres, me havia alertado para o evento, mas outros compromissos, de ordem familiar,
me impediram participar desse encontro inesquecível. Espero, com sinceridade,
que seja feita outra confraternização, quando, creio, teremos a oportunidade de
estreitar nossos abraços e compartilhar nossas emoções.
Ahmad
Schabib Hany
sexta-feira, 19 de novembro de 2021
EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, PRIORIDADE INADIÁVEL
EDUCAÇÃO
PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, PRIORIDADE INADIÁVEL
Neste Dia da Consciência Negra,
em tempos sombrios de inspiração fascista (e por isso racista), é fundamental
resgatar a Educação para as Relações Étnico-raciais, prevista em lei mas descumprida
acintosamente desde o golpe de 2016.
O Dia da Consciência Negra é, antes de tudo,
oportunidade para celebrar, sim, o triunfo do movimento negro sobre as ruínas
da sociedade escravocrata que erigiu um país cheio de contradições, a despeito
de seu Povo (com letra maiúscula) generoso, determinado, alegre e
incansavelmente transformador. Desde meados da década de 1990, estados e
municípios brasileiros reverenciam o dia 20 de novembro, em vez de 13 de maio,
quando a história oficial consignou como o Dia da Lei Áurea, minimizando o
papel dos líderes abolicionistas e a luta do povo escravizado por sua liberdade
e autodeterminação.
Fruto da luta incessante de grandes paradigmas da
igualdade racial desde os tempos de Zumbi dos Palmares e de Esperança Garcia (a
primeira advogada negra), importantes conquistas foram consolidadas, sobretudo
ao longo das últimas décadas, entre elas a política de cotas raciais e a
obrigatoriedade da oferta das disciplinas História e Cultura da África e
Educação para as Relações Étnico-Raciais. Porém, todas as políticas de reparação
e igualdade racial foram abandonadas desde o golpe de 2016 (aquele em que
Michel Temer, com o sinal verde de Joe Biden, se mancomunou com o ex-deputado Eduardo
Cunha para depor Dilma Rousseff da Presidência e a corja da Leva Jeito tramou
para a prisão arbitrária de Luiz Inácio Lula da Silva a fim de tirá-lo das
eleições de 2018, e que deu no que deu: um inepto desequilibrado atentando
contra o Brasil).
Estabelecida por leis federais de 2003 e 2009, as
referidas disciplinas são, de longe, os melhores instrumentos de desconstrução
do chamado racismo estrutural e instrumento de formação das novas gerações,
libertas de toda sorte de preconceitos e condutas do tempo da casa-grande e da
senzala. Foram resultado de muito estudo de cidadãs que se dedicaram por
décadas, como a Professora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, uma das
pioneiras dessa iniciativa. Lamentavelmente, muitos doutores e mestres da
academia não se aperceberam da importância dessa estratégia para a formação das
novas gerações (não só de professores, mas, sobretudo, de cidadãos libertos do
atraso).
Nestes tempos sombrios em que hordas fascistas - e
racistas, obviamente -
atentam contra o Estado Democrático de Direito e todas as emblemáticas
conquistas das últimas décadas, mais que nunca é necessário resgatar as
disciplinas mencionadas e pô-las em prática, oferecê-las não só nas
licenciaturas, como estabelece a legislação, mas também no ensino médio. É para
fortalecer a formação não racista e em favor da diversidade étnica e cultural
que faz do Brasil uma potência em processo de afirmação.
Hipocrisia às favas, é passada da hora de o Brasil
se reencontrar com sua História e se propor a acabar com o racismo - base
das elites que se tornaram endinheiradas, mas não necessariamente ‘civilizadas’,
eis que não abandonaram sua ‘santa’ ignorância -,
que vitima cínica e acintosamente afrodescendentes e originários sem despertar
qualquer sentimento sincero de caridade ou comiseração de fundamentalistas
neopentecostais que saíram dos porões do atraso para ressuscitar uma nova
inquisição em pleno século XXI. É, aliás, o que se vê na postura cínica e
provocadora do sinistro da ‘Inducassão’ do ser que atrasa a nação: foi até a
Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para ofender e ameaçar aqueles que
têm coragem de desmentir o tal cristão de araque, em vez de demonstrar
qualificação e dizer que irá apurar as denúncias.
Enquanto pseudopatriotas e pseudocristãos torram
os cofres públicos sem qualquer critério republicano (é como se o dinheiro
público a eles pertencesse e eles tivessem carta-branca, ou cheque em branco,
para malversar ao sabor da ocasião), milhões de brasileiros entram para a
indigência, para a fome e a miséria, quando o Brasil desde 2010 saíra do mapa
da pobreza e servia de exemplo para o mundo. Pior: quando se trata de racismo,
como nunca a violência sistemática contra afrodescendentes e originários se
torna corriqueira (basta ver as estatísticas vergonhosas de 2019 e 2020). E, se
falarmos em políticas ambientais e de ciência e tecnologia, pior ainda - foi
flagrada na sexta-feira, dia 19, a má-fé do gestor federal, que propositalmente
protelou a divulgação dos dados do desmatamento dos últimos 12 meses, retardados
para não coincidir com a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças
Climáticas de Glasgow, Escócia.
Com o resgate da política proativa e afirmativa
dos anos de ouro do início do milênio, o Brasil então estará reencontrando-se
com sua vocação natural, ser a potência de paz, da concórdia, da justiça
social. Obviamente, para isso será necessário apear os monstrengos que
infelicitam a nação, a começar pelo falso messias. Não é sem tempo virar a
página infestada de ódio, perversidade, má-fé e, sobretudo, fascismo, puro
fascismo. Lembro-me, como se fosse hoje, o saudoso Professor Euro Nunes
Varanis, em 1972, com seu lindo pensamento (cuja autoria nunca vi em livro, ou
hoje Google, algum, portanto, de sua lavra): “O ódio não destrói o ódio. Só o
amor destrói o ódio. Seja abençoado o sândalo que destrói o ódio.”
Ahmad
Schabib Hany