domingo, 21 de novembro de 2021

JGP, UM JOVEM CINQUENTÃO...

JGP, UM JOVEM CINQUENTÃO...

Inaugurado em 1971, mesmo ano da famigerada Lei 5.692, o Centro Educacional Julia Gonçalves Passarinho celebra seu Jubileu de Ouro ainda mais jovem e conectado com as novas tecnologias, apesar dos tempos sombrios que teimam impor à juventude desassossegada.

A criação do Centro Educacional Julia Gonçalves Passarinho, em 1970, fez parte do conjunto de obras para Corumbá com que o último governador eleito durante a vigência do regime de 1964, Pedro Pedrossian, reconheceu sua vitória sobre a UDN graças à votação do eleitorado corumbaense. Além de uma escola moderna e de grande porte, a Cidade Branca fora contemplada com a moderna adutora (estação de captação de água que muitos chamam de ‘ponte’) e a criação do Instituto Superior de Pedagogia de Corumbá, que deu origem ao atual Campus do Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Eram, sem dúvida, tempos cruentos. Sob a batuta da linha-dura, o regime de 1964 tinha no comando o general Emílio Garrastazu Médici, que sucedera o marechal Arthur da Costa e Silva em 1969, de cujo gabinete ministerial resgatara o coronel paraense Jarbas Passarinho, antes do Trabalho e depois da Educação e Cultura - a mãe foi escolhida patronesse do novo educandário em reconhecimento aos inúmeros favores daquele ministro oriundo da caserna. Na época, homenagens a pessoas vivas eram permitidas e não havia qualquer questionamento de caráter ético.

O general Golbery do Couto e Silva, um dos ideólogos de 1964, tinha sido apeado com o marechal Humberto de Alencar Castello Branco por serem considerados muito brandos com os adversários trabalhistas, rotulados pela máquina de propaganda do regime de ‘corruptos’ e ‘subversivos’. Só que o governador Pedro Pedrossian, egresso do PSD de Juscelino Kubitschek de Oliveira (o popular JK), era tido como ‘subversivo’ por ter sido apoiado por trabalhistas e até socialistas e comunistas contra Lúdio Martins Coelho em 1965, tendo empreendido uma vitória acachapante sobre os representantes regionais da UDN e, por extensão, do novo regime.

No processo de endurecimento do regime, diversas leis foram outorgadas, em nome da segurança nacional. Na Educação, além de instrumentos cerceadores da liberdade como os decretos-leis 228 (intervinha na estrutura da representação estudantil) e 477 (impunha punições às atividades estudantis), foram editadas, mediante o famigerado Acordo MEC-Usaid, a Lei da Reforma Universitária (Lei nº 5.540/1968), que acabava com uma série de conquistas históricas - entre elas a autonomia universitária -, e a Lei do Ensino Profissionalizante (Lei nº 5.692/1971), que acabou com disciplinas humanistas, como Filosofia, Sociologia e História, além de dar uma formação mais técnica e nada crítica ao ensino médio.

Nesse contexto de endurecimento político e de fechamento institucional é que o Centro Educacional Julia Gonçalves Passarinho foi ofertado para a população de um dos centros urbanos mais politizados e organizados espontaneamente desde fins do século XIX. Até então, as maiores escolas de ensino básico em Corumbá eram o Santa Teresa, Genic, Dom Bosco, Maria Leite e Industrial Dr. João Leite de Barros (entre privados e públicos). E a demanda por mais escolas que oferecessem ensino básico era crescente na Corumbá cosmopolita do início da década de 1970.

A primeira diretora do Centro Educacional, como era carinhosamente chamado, foi a Professora Edy Assis de Barros, inclusive membro efetivo da pioneira Comissão de Implantação do ensino superior, e responsável pelo oferecimento do curso de História no Instituto Superior de Pedagogia de Corumbá (depois Centro Pedagógico de Corumbá, um dos campi da recém-criada Universidade Estadual de Mato Grosso, também por Pedrossian). Mais tarde, diretora do Centro Universitário de Corumbá e pró-reitora de Pesquisa e Extensão da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, gestão do saudoso Professor Jair Madureira.

Nos primeiros dias de 1974, ainda na gestão da Professora Edy, meu saudoso Pai fez minha matrícula no Centro Educacional. Era a primeira turma do colegial, constituída por apenas 18 alunos, em sua maioria oriundos do Ginásio Industrial Dr. João Leite de Barros (sediado num modesto prédio no terreno que hoje abriga a Escola Estadual Dr. Gabriel Vandoni de Barros). Lá fiz Amigos para toda a Vida: João de Souza Alvarez, Juvenal Ávila de Oliveira, Benedito Jesus Silva da Cruz, Bernadete da Cruz Benites, Soely Ivacquia de Oliveira, Reginaldo Rugero da Silva, Johonie Midon de Mello, Julio Ábrego, Manoel Guerrero, Sérvulo Benedito, Luiz Carlos dos Santos, José Virgílio de Moraes, Apolo Andrade, Leci Souza, Sulamita Fernandes, Maria Bernal, Mari Lobo, Gisela Bluma, Joana Lara, Jadielson Araújo e Iara Torres, entre outros não menos queridos e sempre lembrados (mas cujos sobrenomes não tenho).

Além de nosso aprendizado com excelência, graças à dedicação e generosidade de todos os Professores, sem exceção, a afirmação cidadã, não só nas atividades do processo de ensino e aprendizagem, mas em experiências extracurriculares como a do ‘jornalzinho’ que tinha a pretensão de ser interescolar num tempo em que sonhar com isso era objeto de punição prevista em decreto-lei (o 477). Mas “O Clarim Estudantil”, de vida efêmera, foi uma escola dentro da escola: foi um laboratório de cidadania e de protagonismo que alicerçou concepções, práticas e, sobretudo, critérios e valores para toda a Vida. E aqui cabe um agradecimento público e eterno para estas pessoas muito queridas: Professora Terezinha da Cruz Benites (que, como grande Mestra e Mãe, confiou em jovens bem intencionados ávidos de novas experiências dentro do projeto do jornal), Professor Octaviano Gonçalves da Silveira Junior (que depositou toda a sua credibilidade e experiência num projeto ousado que serviu para fortalecer o caráter e a formação dos jovens nele envolvidos), Professor Augusto Alexandrino dos Santos (o querido Malah, que compartilhou sua inquietude e seu talento de cartunista e artista gráfico para enriquecer a experiência coletiva focada no jornal) e Seu Aristarco (o querido ‘Seu’ Ari, que nunca negou apoio, mesmo fora de horário e nos fins de semana, ora levando, ora trazendo o farto material gráfico depositado em uma das dependências do Centro Educacional, que cuidava como compartimento de sua própria casa).

Obviamente, a Professora Maria Auxiliadora Maia, que até pouco antes de sua eternização, em 2014, foi uma Amiga presente, exerceu muita influência na minha opção pela licenciatura em História por ter incentivado minha visão crítica na interpretação da chamada ‘história oficial’. Por seu turno, o Professor Dilermando Luiz Ferra, igualmente Amigo que a Vida me presenteou, esteve próximo de mim até poucas semanas antes de sua eternização, em 1994, e, muito sincero, me deu conselhos muito caros que os levo para a Vida (ele era um dos colaboradores do combativo Diário de Corumbá sob a direção do saudoso e querido Márcio Nunes Pereira, e sempre estávamos trocando opiniões acerca do cotidiano corumbaense). O mesmo acontecia com os queridos Professores Octaviano, Malah, Esli, Kaoru, Finocchio e Joaquim, muito diálogo e compartilhamento de inquietações, próprias daqueles tempos.

Docentes inesquecíveis do período 1974-1976, alguns não mais entre nós e muitos deles se tornaram Amigos: Professora Maria Auxiliadora Maia (História, OSPB e EMC), Professor Octaviano Gonçalves da Silveira Junior (Português e Literatura), Professor Altevir Alberton (Geografia), Professor José Finocchio (Educação Física), Professor Kaoru (Educação Física), Professor Esli (Educação Física), Professora Elza Maia (EMC e OSPB), Professor Augusto Alexandrino dos Santos Malah (Desenho Geométrico), Professor Sérgio Freire (Matemática e Física), Professora Mariza Mauro (Química), Professora Tânia Souza (Física), Professora Luciene Kassar (Biologia), Professor Domingos Sávio de Souza (Biologia), Professora Marilza Cavassa (Programa de Saúde), Professora Selma dos Santos (Programa de Saúde), Professora Roma Román Áñez (Inglês), Professora Ivone Carretoni (História), Professor Antônio Brites (Matemática), Professor João Luiz Gonçalves (Física e Matemática), Professor João Carretoni (Química), Professor Joaquim dos Santos (Química), Professor Reginaldo Faleiros (Química), Professor Maurício Pellegrini (Biologia), Professora Georgina Benítez (Matemática), Professora Regina Abukalil Capucci (Inglês), Professor Nivaldo Ferreira (Desenho Geométrico), Professor Alexandrino dos Santos Mauro (Português), Professor Dilermando Luiz Ferra (Noções de Contabilidade e Escrita Fiscal), Professor Eudes Marinho de Sá (Noções de Administração), Professor Alcides dos Santos Mauro (Noções de Administração), Professora Edy Assis de Barros (diretora), Professora Terezinha da Cruz Benites (diretora), Professor João Quintilio Ribeiro (diretor).

Funcionários excepcionais, em todos os setores (fiscais de alunos, secretaria, cantina, limpeza e na portaria), como ‘Seu’ Aristarco (o lendário ‘Seu’ Ari, querido Amigo, que se eternizou há pouco mais de um ano, mas que tive a felicidade de encontrar por três vezes antes da pandemia, fazendo um lanche onde ele mais gostava), Dona Maria, ‘Seu’ Brandão, ‘Seu’ Preza e Dona Eunice. Todos na memória e no coração. Meticuloso, “O Clarim Estudantil” tinha uma relação com os nomes de todos os funcionários de todos os turnos e setores, bem como dos Professores do JGP. Lamentavelmente, os arquivos foram consumidos pela ação do tempo. Mas fica nossa eterna gratidão a todos eles, verdadeiros Amigos e Companheiros de uma epopeia que jamais esqueceremos.

Uma pena, mesmo, não ter sido possível estar, no dia 13, na confraternização dos ex-alunos do JGP, organizada com muito penhor pelo ex-colega e hoje Professor Padilha, de Educação Física. Além da querida Amiga de então, Mari Lobo, a Amiga que conheci já nos tempos de universidade, Iara Torres, me havia alertado para o evento, mas outros compromissos, de ordem familiar, me impediram participar desse encontro inesquecível. Espero, com sinceridade, que seja feita outra confraternização, quando, creio, teremos a oportunidade de estreitar nossos abraços e compartilhar nossas emoções.

Ahmad Schabib Hany

2 comentários:

Unknown disse...

Boa noite Schabib! Quanto tempo se passou... Éramos jovens sonhadores, cheios de ideais e idéias mirabolantes. Não sei se vc se lembra de mim, meu nome é Candida Maria Ferreira, sempre declamava, nos eventos da escola. Atuo na área de Direito há 35 anos, antes fiz até o 6º de semestre de Psicologia na UFMS, antes de me mudar para o interior paulista. Mas vc me fez voltar no tempo com essa bela homenagem aos nossos mestres e amigos. Grande abraço!

O caminho se faz ao caminhar disse...

Bom dia, Candida! Sim, é claro que me lembro (e não pude citá-la por não ter seu nome completo, pois Você era de uma turma mais nova). Não tenho certeza, mas me parece que Você era da turma da Mari Lobo e Gisela Bluma, não, ou seria da Iara Torres e do saudoso Bexiga (Irmão da Jadilza Araújo, que hoje é Jornalista e assistente social)? No CEUC, quando esteve cursando semestres de Psicologia (antes de ir embora de Corumbá), Você foi da turma do Juvenal Ávila de Oliveira (o genro da querida Professora Terezinha da Cruz Benites, meu Amigo e contemporâneo do Colegial)? Nessa época eu morava em Campo Grande, onde fazia História na antiga FUCMT (hoje UCDB), mas retornei em fins de 1984 como correspondente de um dos jornalões de Campo Grande, experiência frustrante, pois, além de censurar o material da gente, pagava muito mal e não dava qualquer infraestrutura (precisávamos usar a cabine pública de telex, pois naquele tempo não havia fax nem internet).Por favor, envie-me seu correio eletrônico para o schabib2021@gmail.com, pois o deste blog está 'travado' há algum tempo. Aguardo mais notícias suas... Grande abraço!