Filme rodado em Campo Grande ganha crítica do escritor Luiz Taques
Do portal de cultura ENSAIO GERAL (Campo Grande, MS), disponível em: <http://ensaiogeral.com.br/noticias/criticas/filme_rodado_em_campo_grande_ganha_critica_do_escritor_luiz_taques>.
Edilson Silva e Maria Eny: atores que interpretam os irmãos Wagner e Luana.
PARA UMA JOVEM CINEASTA
Por Luiz Taques
O título do filme, “De tanto olhar o céu gastei meus olhos”, de Nathália Tereza, é poético.
E o roteiro não deixa de ser um soco artístico brasileiro, seco e direto, na fuça daquele espectador dissimulado, ao abordar com maestria um tema espinhoso: a separação dos pais.
Sim, sim, sim: casais se separam todos os dias.
Então, para escapar dessa aparente banalidade cotidiana, ela resolveu se aprofundar um pouco mais no assunto e falar do sumiço duradouro do pai.
Do seu abandono.
Ao entrar nessa delicada situação, que, na vida real, atinge milhões de crianças e adolescentes país e mundo afora, a jovem cineasta recorreu à ficção. Jogou-se nela de corpo e alma. Jogou-se, como se estivesse pulando para nadar, para nadar contra a correnteza, bem lá no talvegue do caudaloso rio Paraguai, em pleno Pantanal de Corumbá. Para realizar tal proeza, não era apenas necessário saber nadar. Era preciso não perder a noção de como estava nadando e qual rumo tomaria, para não correr o risco de se atrapalhar, perder a linha imaginária do rio, bater braços e pernas em vão, afogar-se e aí afundar.
Em “De tanto olhar o céu gastei meus olhos”, o pai afasta-se da esposa e dos filhos Luana e Wagner. Os motivos não são revelados. Subentende-se que o pai já estava em outra, constituíra nova família. O filme o mostra morando numa casa confortável – os filhos e a ex, em apartamento de residencial modesto.
A filha Luana já é mãe. É mãe solteira. O seu menino dormindo no colchão, no colchão estendido no chão do quarto. No mesmo quarto em que Luana e Wagner dormem. Os dois dormem em beliche – Wagner, na parte de cima. Wagner trabalha como mototaxista.
Certo dia, Luana recebe carta do pai, buscando reaproximação.
Wagner fica tentado a se encontrar com o pai; Luana, não pensa nessa possibilidade.
Os diálogos do filme giram mais em torno de Wagner e de Luana.
É Luana quem fala “é claro que não; você está doido a mãe ver uma coisa dessa”, quando diz ao irmão que não iria mostrar à mãe a carta que recebeu do pai.
Ao personagem Wagner, coube assegurar que o pai jamais pagou pensão alimentícia.
Não se vê, no filme, reclamação da mãe quanto a isso – tampouco, a versão do ex-marido. Luana é inflexível: não acredita nas boas intenções do pai.
Nathália Tereza abordou um lado da história.
Do seu script, porém, não saiu algo rasteiro, vingativo.
Pelo contrário: mostrou, em “De tanto olhar o céu gastei meus olhos”, o drama da separação, pela ótica da família que se sentira mais prejudicada. Família a qual, ao término do filme, a gente se junta e da qual se torna cúmplice, para acarinhar Luana e Wagner. Principalmente, compreender a carência afetiva paterna de Wagner que, a certa altura do filme, diz: – Não tenho lembrança nenhuma dele.
“De tanto olhar o céu gastei meus olhos” foi rodado em 2017.
No entanto, quase que por acaso, ontem é que tomei conhecimento do filme, ao acessar o site Porta Curtas.
Foi uma pena que, somente agora, eu tenha descoberto esse interessante filme. Mas, como arte de boa qualidade de modo algum perde a validade, a obra de Nathália Tereza continua mais atual do que nunca.
O abraço do pai ausente na cintura do filho que o diga.
Ainda que esse abraço tenha ocorrido na garupa de uma moto.
O olhar do filho nas mãos entrelaçadas do pai reconforta.
Isso é cinema.
Emociona.
E o roteiro não deixa de ser um soco artístico brasileiro, seco e direto, na fuça daquele espectador dissimulado, ao abordar com maestria um tema espinhoso: a separação dos pais.
Sim, sim, sim: casais se separam todos os dias.
Então, para escapar dessa aparente banalidade cotidiana, ela resolveu se aprofundar um pouco mais no assunto e falar do sumiço duradouro do pai.
Do seu abandono.
Ao entrar nessa delicada situação, que, na vida real, atinge milhões de crianças e adolescentes país e mundo afora, a jovem cineasta recorreu à ficção. Jogou-se nela de corpo e alma. Jogou-se, como se estivesse pulando para nadar, para nadar contra a correnteza, bem lá no talvegue do caudaloso rio Paraguai, em pleno Pantanal de Corumbá. Para realizar tal proeza, não era apenas necessário saber nadar. Era preciso não perder a noção de como estava nadando e qual rumo tomaria, para não correr o risco de se atrapalhar, perder a linha imaginária do rio, bater braços e pernas em vão, afogar-se e aí afundar.
Em “De tanto olhar o céu gastei meus olhos”, o pai afasta-se da esposa e dos filhos Luana e Wagner. Os motivos não são revelados. Subentende-se que o pai já estava em outra, constituíra nova família. O filme o mostra morando numa casa confortável – os filhos e a ex, em apartamento de residencial modesto.
A filha Luana já é mãe. É mãe solteira. O seu menino dormindo no colchão, no colchão estendido no chão do quarto. No mesmo quarto em que Luana e Wagner dormem. Os dois dormem em beliche – Wagner, na parte de cima. Wagner trabalha como mototaxista.
Certo dia, Luana recebe carta do pai, buscando reaproximação.
Wagner fica tentado a se encontrar com o pai; Luana, não pensa nessa possibilidade.
Os diálogos do filme giram mais em torno de Wagner e de Luana.
É Luana quem fala “é claro que não; você está doido a mãe ver uma coisa dessa”, quando diz ao irmão que não iria mostrar à mãe a carta que recebeu do pai.
Ao personagem Wagner, coube assegurar que o pai jamais pagou pensão alimentícia.
Não se vê, no filme, reclamação da mãe quanto a isso – tampouco, a versão do ex-marido. Luana é inflexível: não acredita nas boas intenções do pai.
Nathália Tereza abordou um lado da história.
Do seu script, porém, não saiu algo rasteiro, vingativo.
Pelo contrário: mostrou, em “De tanto olhar o céu gastei meus olhos”, o drama da separação, pela ótica da família que se sentira mais prejudicada. Família a qual, ao término do filme, a gente se junta e da qual se torna cúmplice, para acarinhar Luana e Wagner. Principalmente, compreender a carência afetiva paterna de Wagner que, a certa altura do filme, diz: – Não tenho lembrança nenhuma dele.
“De tanto olhar o céu gastei meus olhos” foi rodado em 2017.
No entanto, quase que por acaso, ontem é que tomei conhecimento do filme, ao acessar o site Porta Curtas.
Foi uma pena que, somente agora, eu tenha descoberto esse interessante filme. Mas, como arte de boa qualidade de modo algum perde a validade, a obra de Nathália Tereza continua mais atual do que nunca.
O abraço do pai ausente na cintura do filho que o diga.
Ainda que esse abraço tenha ocorrido na garupa de uma moto.
O olhar do filho nas mãos entrelaçadas do pai reconforta.
Isso é cinema.
Emociona.
Luiz Taques é escritor. Autor, entre outros livros, da novela “MULAS” (editora Kan/ 2019). Nasceu em Corumbá, mas mora em Londrina, PR.
SERVIÇO
Diretora: Nathália Tereza.
Elenco: Edilson Silva, Maria Eny.
Duração: 25 min.
Local de Produção: Campo Grande, MS.
Cor: Colorido.
Produção: Dora Amorim, Nathália Tereza, Thaís Vidal.
Fotografia: Eduardo Azevedo.
Roteiro: Nathália Tereza.
Edição: Nathália Tereza.
Som Direto: Lucas Maffini.
Direção de Arte: Maíra Espíndola.
Edição de som: Tiago Belo.
Direção de produção: Ana Paula Málaga.
Produção Executiva: Dora Amorim e Thaís Vida.
Elenco: Edilson Silva, Maria Eny.
Duração: 25 min.
Local de Produção: Campo Grande, MS.
Cor: Colorido.
Produção: Dora Amorim, Nathália Tereza, Thaís Vidal.
Fotografia: Eduardo Azevedo.
Roteiro: Nathália Tereza.
Edição: Nathália Tereza.
Som Direto: Lucas Maffini.
Direção de Arte: Maíra Espíndola.
Edição de som: Tiago Belo.
Direção de produção: Ana Paula Málaga.
Produção Executiva: Dora Amorim e Thaís Vida.
O filme pode ser assistido pelo endereço eletrônico: http://portacurtas.org.br/filme/?name=de_tanto_olhar_o_ceu_gastei_meus_olhos
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