A origem de São Cosme, São Damião e Doun
A Arábia, ao contrário da rançosa propaganda cruzadista e sionista, é berço de importantes tradições que o Hemisfério Sul consolidou por meio do sincretismo religioso. São Cosme e São Damião eram dois irmãos de uma aldeia árabe que foram cursar medicina na Síria sob o império romano, cuidando de crianças e adultos de graça, até serem presos, torturados e mortos por ordem de Diocleciano, um imperador romano igual a Herodes, Nero e (toc, toc, toc!) Trump e Netanyahu, de triste memória. Não há registro de possível terceiro irmão que não chegara à adolescência, Doun, mas é bem provável que possa se tratar de legado das religiões de matrizes africanos.
Graças ao meu dileto Amigo-Irmão de cinco décadas Juvenal Ávila de Oliveira -- kardecista que desde os anos 1970 tem me ensinado muito, ao lado do também Amigo-Irmão João de Souza Alvarez, há uns 20 anos evangélico neopentecostal não fanático --, soube que, além dos irmãos Cosme e Damião, há um terceiro, Doun, que não chegara à adolescência.
Qual a origem deles? Egeia, Arábia. Foram estudar medicina na Síria sob o jugo romano. Quando retornaram à sua região, dedicaram-se a tratar das crianças, suas mães e demais adultos sem condições de recorrer a médicos remunerados. Diocleciano, o imperador romano de então, ao saber das ações de caridade dos jovens médicos cristãos, deu ordens de prendê-los e, sob tortura, exigir deles a conversão à religião imperial, que não aceitaram, tendo sido torturados até a morte.
A tradição cristã se refere a Cosme e Damião como irmãos não necessariamente gêmeos, e sem aludir a possível terceiro irmão que não atingiu a adolescência, Doun. Mas pode se tratar de legado das religiões de matrizes africanos, tanto à tradição de serem gêmeos como de terem um terceiro irmão. Herança colonial, o jugo europeu também perseguiu as religiões de matriz africano na América, Ásia, África e Oceania, tanto que o sincretismo religioso a que a história se refere foi criatividade das pessoas escravizadas, por meio de cujo comércio nefasto o ocidente promoveu a acumulação capitalista de triste memória.
Aliás, nos poucos anos em que vivemos no Líbano -- terra de nosso saudoso Pai e de nossos saudosos Avós maternos, tanto pelo Hany de nosso Avô Yussef como Ascimani de nossa Avó Guadalupe --, pudemos constatar que a generosidade árabe se materializa com os fartos e deliciosos pratos, em especial por meio de doces paradisíacos, únicos na face da terra, como baklawa, knef, basbousa, Muhalbiyah, halawi, lokum, malabi, torta de damasco, bolo árabe, chifres de gazela e raha, para falar de alguns, de dar água na boca.
Além da abundância de pratos salgados, muitos deles conhecidos no Brasil, por outro lado, a música e a dança são expressões da hospitalidade das diferentes nações árabes. Meu sábio Pai dizia que povo que sabe fazer comidas e doces não pratica atrocidades, prefere cantar e dançar para esquecer as tristezas. É o caso do dabke, dança comum em toda a Arábia milenar, com a qual, por dias, soem comemorar um aniversário, um casamento, um reencontro.
E a literatura, então? Não são poucos os autores de emblemáticas obras que, com genialidade singular, têm ilustrado o imaginário da humanidade, sobretudo da infância. Vamos para além de As Mil e Uma Noites -- traduzido de forma mal-intencionada desde o século XVIII e, sobretudo, o pós-guerra de 1945 --, as centenas de fábulas de diversos autores deixados no anonimato no ocidente, ou os mais próximos contemporâneos, como Gibran Khalil Gibran, Ahmad Chawqi, Ghassan Kanafani, Mahmoud Darwish, Nadia Tueni, Muhammad Chukri, Gamal El Guitani, Naguib Mahfuz e Muhammad Al-Aidi.
Não faço -- e não farei -- apologia a qualquer império, inclusive o árabe, pois desde tenra infância, por meio de meus saudosos Pais, aprendemos a entender que a História não tem amos, senhores ou "donos". Com o decorrer dos tempos, a perspectiva dialética da História fundamentou essa compreensão, em que os meus Irmãos mais velhos também foram determinantes. E isso foi possível pelo fato de Seu Schabib, meu Pai, ser um humanista forjado na academia árabe em que a fonte era o inesgotável legado árabe de seu iluminismo, praticamente um milênio anterior ao ocidental.
Porém, a intolerância europeia (o que inclui os turcos, cujo domínio sob o islã é responsável por atroz atraso histórico-cultural da Arábia, ao ponto de entregá-la aos demais colonizadores europeus para literalmente saquearem e apagarem sua contribuição para a construção de valores civilizacionais) fez a proeza, com a colaboração do sionismo, de fazer desaparecer todo o inegável legado, a ponto de o árabe ter se tornado sinônimo de atraso, fanatismo e, mais recentemente, terrorismo.
Contudo, não há mentira que dure eternamente. Um dia a verdade aparece. Se antes somente quem tivesse acesso à leitura mais aprofundada das ciências humanas e sociais conhecesse e, mais que isso, compreendesse a profundidade do legado árabe para o progresso da humanidade, hoje com as imagens em tempo real proporcionadas pela rede mundial de computadores -- a temida internet por conta das "big techs" cujos donos são os maiores aliados do império em decadência -- podemos saber quem são os verdadeiros terroristas.
Nem Macondo, nem Sucupira: é Burácom o que inspira. Feliz São Cosme e São Damião (e Doun)! Parabéns, população infantil do Brasil, que pode celebrar um ofertório real e inocente, lamentavelmente já demonizado pelos sionistas e seus aliados!
Ahmad Schabib Hany
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