Menestrel
da Cidadania
O Senhor Balbino G. de Oliveira, como
assina seu trabalho digno e original, é referência cidadã para as pessoas que
têm sensibilidade e apreciam as letras, sobretudo por sua inesgotável
generosidade.
Tive a honra de conhecer o Senhor
Balbino Gonçalves de Oliveira nos idos de 1970,
quando eu era secundarista, aluno do Centro Educacional Julia Gonçalves
Passarinho e, ao lado dos queridos Amigos que conservo até nossos dias João de
Souza Alvarez, Juvenal Ávila de Oliveira e Benedito Jesus Silva da Cruz,
começava a descortinar a minha realidade imediata em companhia idônea e
aprazível.
Seu Balbino, então já um empresário
do ramo de tintas e vidros bastante conhecido e de grande idoneidade, recebera
no escritório da Casa Nossa Senhora Aparecida o Amigo Jota Alvarez -- assim
assinava como repórter fotográfico, à época auxiliar do saudoso fotógrafo
Jadiel Araújo, o querido Jadi de várias epopeias (além do icônico e
irreverente aceno ao então ditador Emílio Garrastazu Médici no Aeroporto
Internacional de Corumbá, em abril de 1972) --,
que em nome do Jadiel estava ali para acertar os detalhes de uma cobertura
fotográfica de um evento vinculado à loja de tintas.
Nessa época, ainda longe dos livros
que produziu nas décadas subsequentes, em antologias e autorais, Seu Balbino,
por meio de seus versos gentis e reflexivos, levava mensagens ao corumbaense e
ladarense para manter-se distante do álcool e demais vícios e, sobretudo,
valorizar a Vida. Os que, como jovens ou adultos, viveram as décadas de 1970 e
1980 se lembrarão dos versos, alguns até irreverentes, outros bem humorados,
sobre a importância da sobriedade ao longo de nossa existência terrena.
Talvez Seu Balbino não saiba, mas ele
inspirou pelo menos três entidades a fazer o mesmo, ainda naquela época: a
Associação Comercial de Corumbá, cujo Presidente, o saudoso Senhor Benedito
Jorge Boabaid, e Vice-Presidente, o também saudoso Senhor Jorge José Katurchi,
deram início às memoráveis campanhas, em toda a cidade, de valorização da Vida
e da natureza (inclusive a emblemática campanha de combate à caça no Pantanal,
ainda antes da aprovação da lei federal que proibiu essa atividade desportiva);
o Lions Clube de Corumbá, de cuja diretoria Seu Jorge também participava
(acredito que naquela época ele era presidente, o saudoso Doutor Cássio Leite
de Barros seu vice-presidente e o também e saudoso Professor Sérgio Freire,
secretário), levou mensagens murais aos mais diversos rincões das duas cidades
pantaneiras; e a Primeira Igreja Batista de Corumbá, cujo principal líder então
era o saudoso Pastor Cosmo Gomes de Souza, incansável mensageiro de Amor, Luz e
Vida, que também recorreu aos muros da região para levar mensagens bíblicas
anteriores ao Ano Internacional da Bíblia, senão me engano, 1978, que coincide
com o Ano do Bicentenário de Corumbá.
A humildade e simplicidade com que
Seu Balbino sempre se relacionou e, assim, encarou a sua generosa e inspiradora
arte, a levar a concórdia e o Amor ao próximo é o que vem caracterizando sua
obra de alcance planetário. Não são poucos os que enviam desde o exterior,
mensagens de congratulações ao decano dos versos gentis e instigantes que
vicejam pelos mais diversos segmentos sociais de Corumbá, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Brasil e, enfim, de toda a Terra. Não são poucos os corumbaenses
e ladarenses que ao vê-lo ou ver suas obras, se regozijam com gratidão, pois em
seus versos está perenizado o comportamento pantaneiro, de bem acolher, bem
relacionar e, sobretudo, bem viver.
Poucos meses antes de sofrer o acidente
que tirou o saudoso Professor Salomão Baruki de nosso convívio, no início da
primeira década deste século (depois da célebre participação na fundação do
CENPER, ao lado do saudoso Padre Ernesto Saksida e de Seu Jorge Katurchi, seus
contemporâneos na igualmente emblemática União dos Ex-alunos de Dom Bosco, da
rua Cuiabá, nos anos 1950), precisamente no lançamento de seu oitavo livro
autoral, na Casa de Cultura Luiz de Albuquerque (o glorioso ILA que criara como
secretário de Estado de Educação de Cultura, em 1977, derradeiro governo de
Mato Grosso uno), ele me questionara sobre a capacidade de mobilização do
Senhor Balbino.
Sábio, o Professor Salomão sabia a
resposta, mas fez questão de me inquirir, bem ao estilo dos catedráticos das
universidades clássicas que acabaram defenestradas durante os anos de chumbo
que se espalharam por toda a América do Sul nas décadas de 1960 e 1970. Ao
final de um memorável diálogo de pelo menos uma hora, concordamos que o Senhor
Balbino G. de Oliveira é quem melhor representa a cultura popular no campo da
poesia, como verdadeiro cronista de seu tempo, como Menestrel da Cidadania, por
enfatizar o que cada personagem de sua poesia e de seu tempo tem de melhor,
sobretudo quando a maledicência e hipocrisia reinantes na sociedade tendem a
subtrair qualidades e impingir defeitos a quem quer que seja, independentemente
de seu rol, de seu status, na sociedade contemporânea.
Generosidade tamanha, Seu Balbino não
só patrocinou duas antologias dentro da entidade que ele e o saudoso Doutor
Volmar Valter Rien, primeiro vice-presidente da Associação dos Poetas e
Escritores de Corumbá (APEC), criaram com muito denodo em 2002 e que aos poucos
foi se ofuscando inexplicavelmente. Isso, aliás, coincide com o inexorável
processo de desorganização social de nossa cidade e estado (para não dizer do
Brasil), quando as ideias fascistas voltam a tomar conta do imaginário popular,
seduzindo os mais suscetíveis a esse tipo de visão de mundo estapafúrdia.
Discreta e delicadamente, Seu
Balbino, como cristão convicto, fez opção por permanecer na cordata condição de
poeta solitário, embora sua personalidade generosa o instigasse a conclamar
para novas jornadas poéticas coletivas, feito plêiade, eis que a sua vocação de
Menestrel da Cidadania o impele a desafios da dimensão de seu compromisso com a
população que testemunhou seu crescimento como cidadão, patriarca, empresário
e, sobretudo, porta-voz da generosidade sem limite de um povo que, além de
acolher com hospitalidade e candura, sabe reconhecer aquele cujos versos têm o
dom da concórdia, da virtude e do Amor sem fim, o mesmo que alimenta com a sua
querida Companheira de Vida e de luta, a igualmente querida Dona Lineise de
Oliveira, Mãe de seus Filhos e Parceira incondicional de seu sagrado Ofício, de
sua iluminada Arte e de sua infinita Fé na Vida, na humanidade e no Supremo
Criador, que sempre louvou ao final de cada poesia.
Mais que mera testemunha, tenho a
honra de privar de uma Amizade com letra maiúscula, a qual muito me ensinou,
muito me inspirou e, sobretudo, muito me alimentou a alma e o caráter, pois
esse é o papel e o dom de Seu Balbino, o Menestrel que a Cidadania reconheceu
como seu porta-voz, seu cronista, sua iluminura. Em respeito ao generoso legado
de humilde operário das letras, é hora que o público corumbaense e ladarense dê
o carinho merecido a este jovem octogenário cuja poética de bom seguidor de
Cristo está a perenizar a benevolência e a abnegação reinantes no coração do
Pantanal e da América do Sul, do Sol e do sal...
Obrigado, Seu Balbino, pela humilde
generosidade com que sempre vem produzindo e refletindo a iluminada essência e
singela aparência de um povo nem sempre compreendido e respeitado pelos tantos
desatinados que se sentem donos de seus destinos. Obrigado, Dona Lineise, pela
sabedoria e abnegação com que desde sempre vem acompanhando o Menestrel da
Cidadania, de modo igualmente discreto e cheio de comiseração.
Ahmad Schabib Hany
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