domingo, 23 de junho de 2024

PEPE MUJICA, DOUTOR HONORIS CAUSA PELA UFABC



Pepe Mujica, esposa e ex-ministro da Educação com o reitor da UFABC e comitiva


Pepe Mujica, Doutor Honoris Causa pela UFABC

A iniciativa teve como mentor o Professor Doutor Helvio Rech, ex-assessor do então vice-governador Egon Krakhecke, titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, autor do projeto original do Festival América do Sul em 2003.

Temos a honra de, em primeira mão, compartilhar com o/a leitor/a que o ex-presidente uruguaio José Alberto Mujica Cordano -- estadista Pepe Mujica, detentor de um patrimônio moral comparado ao de Nelson Mandela e Mahatma Gandhi -- acaba de ser agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do ABC (São Bernardo/SP). Por unanimidade, dia 4 de junho, o Conselho Universitário da UFABC aprovou a honraria, cuja iniciativa é do Professor Helvio Rech, docente da Universidade Federal dos Pampas (Bagé), articulado a colegas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), universidades localizadas próximas à fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai e a Argentina.

É a terceira universidade brasileira a agraciar Pepe Mujica. A primeira foi a UNIPAMPA, em que o Professor Helvio Rech trabalha, seguida da UFPel, cujos colegas também estiveram nas articulações para a concessão dessa honraria ao estadista uruguaio. Para Rech, trata-se de um reconhecimento oportuno e merecido, pois, além de ter atuado na integração da América Latina, Mujica se empenhou no resgate do papel da educação, em especial da universidade pública, na construção de uma sociedade inclusive e transformadora.

Pepe Mujica foi duas vezes presidente de seu país e recebe a homenagem aos 78 anos não apenas pelas políticas educacionais e científicas implementadas em seus mandatos, mas, sobretudo, pela referência como humanista e promotor da integração dos países em desenvolvimento, a partir da América Latina. O avanço alcançado em suas duas gestões presidenciais na educação e ciência e tecnologia tornou o Uruguai um exemplo de nação conectada à vanguarda mundial, além de ser importante parceiro do Brasil até hoje.

Inspirado nas iniciativas educacionais de Pepe Mujica, o Professor Helvio Rech desenvolve pioneiro projeto de âmbito nacional focado na integração de todas as nações com as quais o Brasil tem fronteira. Para o docente, é grande a expectativa do estadista uruguaio, cujo ex-ministro da área e a esposa, muito engajada na temática educacional e tecnocientífica, têm acompanhado os estudos preliminares. Além das universidades citadas, há parcerias com outras federais, como também de universidades de países vizinhos.

Helvio Rech quando aluno de Agronomia na UFMS de Dourados foi vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (década de 1990), tendo sido destacado pós-graduando, tanto no mestrado como no doutorado, do Instituto de Energia e Eletricidade (IEE), da Universidade de São Paulo (USP). Nesse meio tempo foi incansável assessor de Egon Krakhecke, ex-vice-governador, secretário de Meio Ambiente, de Planejamento e depois de Meio Ambiente, Cultura e Turismo no segundo mandato de Zeca do PT, e em todas essas atribuições Rech foi assessor de confiança do ex-vice-governador.

Em dezembro de 2003, final do primeiro ano do segundo governo petista de Mato Grosso do Sul, Helvio Rech, então assessor do secretário de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, realizou seminário participativo com mais de trinta produtores culturais, aristas plásticos, apreciadores de música popular regional, brasileira e latino-americana, compositores, poetas, contistas, escritores, bibliófilos, ativistas culturais, amantes do cine-arte, artistas plásticos, cronistas literários, dramaturgos, professores, pesquisadores arte-educadores, jornalistas e intelectuais. Nessa dinâmica foi construído o projeto original do Festival América do Sul, cuja primeira edição foi realizada em 2004, em Corumbá.

Vinte e um anos depois, em Bagé/RS, o Professor Helvio Rech se dedica à construção de outro projeto em que a integração dos povos latino-americanos está em pauta. Ainda em processo de negociação com diferentes parceiros, o projeto inovador -- e transformador -- pretende ser paradigma de um novo processo integrador participativo, em que o cidadão da localidade seja efetivo protagonista da construção de novas relações interculturais e interpessoais, à luz do legado de Pepe Mujica, por isso homenageado em vida como Doutor Honoris Causa pela UFABC, com a participação de docentes da UNIPAMPA E UFPel.

Nós, que conhecemos a capacidade intelectual, criadora, mobilizadora e transformadora de Helvio Rech, que testemunhamos significativos projetos dinamizadores da participação cidadã nos oito anos em que assessorou Egon Krakhecke nos dois governos petistas que transformaram o cotidiano corumbaense (e sul-mato-grossense), sentimo-nos honrados ao divulgar o que é possível, em primeira mão, de um processo efetivamente transformador das realidades fronteiriças no sentido da integração plena e proativa da América Latina.

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 21 de junho de 2024

ENCONTRO EM PUERTO QUIJARRO É NOTICIADO EM PORTAL PALESTINO

الجمعية العربية الفلسطينية البرازيلية تشارك في إحياء ذكرى تأسيس مدينة "بويرتو كيهارو - Puerto Quijarro" البوليفية

بوابة الهدف الإخبارية - البرازيل

شاركت الجمعية الفلسطينية البرازيلية ممثلة برئيسها منذر صفا وأعضاء الوفد جليله صفا وغانم عبد الجواد وناصر أحمد وأحمد شبيب في فعاليات إحياء ذكرى تأسيس مدينة "بويرتو كيهارو - Puerto Quijarro" البوليفية بحضور شعبي ورسمي لافت حيث كان من بين الحضور من الجانب البوليفي وزيرة الحكومة "ماريا نيله برادا" و"ماريو اغيليرا سيربيانا" نائب رئيس محافظة سانتا كروز ورئيس بلدية ورئيس المجلس المحلي "لويس شامبي".

وأكدت وزيرة الحكومة "ماريا نيله برادا" في كلمة لها أثناء الحفل على إستمرار دعم بوليفيا حكومة وشعبًا للشعب الفلسطيني وحقوقه الوطنية العادلة والثابتة وقيام الدولة الفلسطينية المستقلة، وأكدت على استمرار دعمهم  لوقف المجازر التي تمارس من قبل الكيان الصهيوني ضد الشعب الفلسطيني ومحاسبتهم في المحاكم الدولية.

وفي ذات السياق قامت الجمعية العربية الفلسطينية البرازيلية بتسليم درع الشرف والكوفية الفلسطينية لوزيرة الحكومة البوليفية وذلك تقديراً لدور وموقف بوليفيا الثابت في دعم القضية الفلسطينية وحقوق شعبنا العادلة في استعادة أرضه وكافة حقوقه.

 

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quarta-feira, 19 de junho de 2024

MINISTRA DA PRESIDÊNCIA RECEBE SOCIEDADE PALESTINA DE CORUMBÁ



Ministra da Presidência da Bolívia recebe Sociedade Palestina de Corumbá

Representando o Presidente Luis Arce, a Ministra María Nela Prada, da Presidência, esteve no aniversário de Puerto Quijarro, e recebeu delegação da Sociedade Palestina em Corumbá.

Em visita oficial a Puerto Quijarro, que dia 18 de junho completou 84 anos de fundação, a Ministra María Nela Prada Tejada, da Presidência da Bolívia, recebeu delegação local da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira, além de membros do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino Jadallah Safa, um dos mais antigos do Brasil, fundado em Corumbá, em novembro de 1987.

O Presidente Munther Suleiman, acompanhado de diretores da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira em Corumbá -- Nasser Ahmad, Jalila Safa e Ghanem Abdel Jawad -- e de diversos membros do mais antigo Comitê de Solidariedade da Região Centro-Oeste, entregou uma réplica do Mapa Oficial da Palestina entalhada em madeira à Ministra da Presidência, María Nela Prada, além de uma hata palestina, símbolo da resistência daquele milenar povo árabe à ocupação, saque e massacre de seu patrimônio cultural, histórico e econômico cometidos pelo Estado sionista desde a sua criação, sem a devida consulta à população originária.

María Nela Prada Tejada fez questão de ler a mensagem gravada na singela mas sincera lembrança como reconhecimento pela postura do Presidente Luis Arce, cujo governo foi o primeiro a romper relações diplomáticas com o Estado agressor, sendo um exemplo para o concerto das nações. A Ministra María Nela Prada, de improviso, reiterou o compromisso do governo do Presidente Lucho Arce e do arco de alianças que governa o vizinho país. “É uma questão de honra estarmos ao lado dos povos que lutam por sua soberania, por sua emancipação, por sua liberdade, e a luta do Povo Palestino é a nossa luta, e sempre será.”

Por meio do Cônsul do Estado Plurinacional da Bolívia em Corumbá, Licenciado Simons William Durán Blacutt, diversas entidades da sociedade civil e autoridades corumbaenses e ladarenses foram convidadas pelo Alcaíde Leonardo Luis Chambi, de Puerto Quijarro, para participar da visita oficial do Presidente Luis Arce, que por questões de governo não pôde realizar a viagem à fronteira com o Brasil, mas, além de enviar a mais importante ministra do gabinete presidencial, fez questão de fazer, por telefone, uma saudação ao público presente no ato comemorativo do aniversário da primeira estação ferroviária boliviana fronteiriça com o Brasil durante as obras da Comissão Mista Ferroviária.

A Ministra María Nela Prada, primeira mulher a exercer o mais importante ministério em toda a história da Bolívia, salientou o compromisso do governo do Estado Plurinacional da Bolívia com toda a região Oriental. Anunciou, na oportunidade, a parceria com o governo autônomo do Departamento de Santa Cruz e com o governo autônomo do município de Puerto Quijarro, que em obras representa a entrega de hospital de média complexidade para toda a região, construção de oito unidades escolares para o município, construção de mercado público para abastecer o consumo de hortifrútis, inauguração de 100 casas populares, entrega de abatedouro público com a devida fiscalização sanitária e construção de vila olímpica para o incentivo de práticas desportivas à juventude local

Ao final da solenidade, a Ministra María Nela Prada fez questão de participar do desfile cívico-militar, ao lado da delegação da Sociedade Palestina e também de representantes de organizações populares bolivianas, como Associação de Mulheres Originárias Barlolina Sisa, Central Operária Departamental, Pacto de Unidade dos Povos Originários, Grêmio dos varejistas de hortifrutigranjeiro, entre outras entidades. O Presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores foram saudados por ela como exemplo a serem seguidos. E no momento da despedida reiterou ao representante do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino: “A paz mundial começa na Palestina, e passa incondicionalmente por La Paz, com o apoio efetivo da Bolívia e de seu bravo povo, conhecedor da luta pela emancipação e defesa de sua soberania nacional e popular.”

Ahmad Schabib Hany

sábado, 15 de junho de 2024

ATÉ SEMPRE, PROFESSORA VERA ABRÃO!


 Até sempre, Professora Vera Abrão!

Companheira do saudoso Professor José Carlos Abrão, a Professora Vera Lúcia Santos Abrão, também pioneira do então Centro Pedagógico de Corumbá, eternizou-se no dia 14 de junho, 14 meses depois de seu Companheiro de Vida e de Ofício.

Mais que Companheira de Vida e de Ofício do saudoso Professor José Carlos Abrão, pioneiro na docência e pesquisa no extinto Centro Pedagógico de Corumbá, a Professora Vera Lúcia Santos Abrão fez da disciplina de Geografia uma ciência com a qual não apenas combateu o obscurantismo e a desigualdade na sociedade, mas ajudou a construir sólidas carreiras docentes e de pesquisa em diversas instituições, localidades e classes sociais.

Ao se eternizar, a 14 de junho, 14 meses depois de seu Companheiro de Vida, luta e ofício, a Professora Vera Abrão entra para o Memorial dos Pioneiros da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) -- criada no segundo governo do Presidente Lula --, em distinção ao legado de incansável Docente e Pesquisadora da Ciência Geográfica no então Centro Universitário de Dourados da UFMS, onde trabalhou na implantação do curso de Geografia e pelo livre acesso a obras proibidas pelo regime obscurantista de 1964.

Esse reconhecimento consta, acompanhado de relatos da generosidade e empenho em diversos episódios, do e-book Sob a proteção das deusas Clio, Gaia, Atena e Psiquê: a Faculdade de Ciências Humanas da UFGD em narrativas, obra de 2023 organizada pelos Professores Marisa de Fátima Lomba de Farias e Conrado Neves Sathler, em várias páginas, sobretudo nas de números 85, 96, 97, 98, 99 e 101.

“No processo de democratização da sociedade brasileira, a Geografia se fez crítica e a professora Vera Santos Abrão tem registro assegurado na memória e nesse Memorial. Pelas suas mãos chegaram as leituras, vindas dos muitos lançamentos editoriais do período; as ‘teorias novas’ podendo ser debatidas na transição do regime militar e o texto traduzido (em cópia datilografada), ‘A geografia, serve, antes de mais nada, para fazer a guerra’, se faria leitura obrigatória em 1986 (...)” Professora Silvana de Abreu, 1993, em sua dissertação de Mestrado “Uma análise da noção de espaço e sociedade do professor de Geografia do 1º grau: formação, discurso e prática”, pela UFMS, citada na referida obra coordenada pelos Professores Marisa de Fátima Lomba de Farias e Conrado Neves Sathler, na página 101.

Depois de aposentados da UFMS, os Professores José e Vera se mudaram para Ribeirão Preto, sua cidade-natal, onde trabalharam em algumas universidades particulares, antes de se mudar para a capital paulista, onde se eternizaram depois de enfrentar as doenças que os abateram impiedosamente. Do período em que, em Ribeirão Preto, foi docente do Centro Universitário Barão de Mauá, o seu então orientando na pesquisa para o trabalho de conclusão de curso de graduação, hoje Professor Mestre Luís Guilherme Maturano, fez importante registro na introdução de sua dissertação de mestrado, “O conceito de Paisagem no ensino de Geografia: reflexão acerca dos Currículos”, pela USP de Ribeirão Preto, em 2019:

Apesar das comparações dicotômicas entre ciência geográfica e geografia escolar, compreendemos por meio da experiência ao longo da profissão docente que existe um caminho amplo no campo da investigação que possam analisá-las. Nesse sentido, esta dissertação procura apresentar aspectos históricos da Geografia acadêmica e escolar. / O desejo de desenvolver tal temática já foi, de um jeito ou de outro, iniciado e averiguado na elaboração do trabalho de conclusão de curso (Licenciatura Plena em Geografia), intitulado ‘O processo de produção da ciência geográfica: análise teórico-metodológica’, sob a orientação da Professora Mestre Vera Lúcia Santos Abrão, apresentado em sessão pública, no ano de 2OO9, no Centro Universitário ‘Barão de Mauá’.”

Vera Lúcia e José Carlos Abrão chegaram no início da década de 1970 a Corumbá para dar aula no recém-criado Instituto Superior de Pedagogia, mais tarde transformado em Centro Pedagógico de Corumbá, uma das unidades descentralizadas da Universidade Estadual de Mato Grosso (CPC/UEMT). Ela geógrafa e ele pedagogo, ambos formados pela Universidade de São Paulo (USP), em seu campus de Ribeirão Preto, nos tensos anos de repressão e de perseguição a quem ousasse utilizar autores e obras consideradas ‘subversivas’.

Ao lado de outras e outros colegas -- entre eles Gilberto Luiz Alves, Valmir Batista Corrêa, Masao Uetanabaro, Lúcia Salsa Corrêa, Kati Eliana Caetano, Gisela Angelina Levatti, José Luiz Finocchio, Wilson Ferreira de Mello, Carlos Alberto Patusco, José Carlos Françolin, Leonides Justiniano e Octaviano Gonçalves da Silveira Jr. --, trazidos em sua maioria pelo Médio e Professor Salomão Baruki, à época vice-reitor da UEMT e diretor do CPC, Vera e José Abrão se dedicaram a construir as grades curriculares de todas as graduações com base nas da USP, bem como a elevar o nível das ementas, sempre tendo como referência as universidades de vanguarda do País, a despeito da ‘caça às bruxas’ existente então.

Em uma época em que UEMT não dispunha sequer de plano de cargos e carreiras, em razão da precocidade da instituição e dos tempos cruentos vividos no País, os Professores Vera e José Carlos Abrão não deixaram de aprimorar seus conhecimentos e, mesmo tendo que bancar os custos de sua pós-graduação na USP (a uma distância de mais de mil quilômetros entre Corumbá e São Paulo), o fizeram sem pedir afastamento remunerado à instituição, concentrando as aulas em vindas periódicas a Corumbá, além de trazer obras de autores de ponta para a biblioteca do CPC no afã de elevar o nível de formação de seus alunos.

Nesse contexto, o casal Abrão participou de pesquisas bibliográficas e de campo pioneiras e da criação da publicação acadêmica Dimensão, cuja logomarca e capa de vanguarda foram concebidas pelo Arquiteto e Professor José Sebastião Candia, até hoje procurada como referência para uma série de citações de pesquisa em diferentes campos da ciência. Além disso, empreenderam esforços para a criação de espaços para grupos de estudo, tal como o Centro de Estudos Históricos Ricardo Franco, em parceria com os compadres Lúcia e Valmir Corrêa.

Lembro-me da atenção dos ‘Professores de fora’, quando, em 1973, ainda aluno ginasiano a frequentar a biblioteca do CPC, sob o zeloso cuidado da querida Aidê Varela, então aluna de Pedagogia e que mais tarde passou no concurso do Banco do Brasil e acabou deixando o CPC. À procura de livros que descrevessem o Renascimento ocidental, os Professores José e Vera Abrão nos auxiliaram até encontrarmos o volume 1 de “História da Civilização Ocidental”, de Edward Mc. Neil Burns, cuja pesquisa foi possível graças ao assessoramento qualificado do gentil casal de docentes.

Onze anos depois, quando vim a Corumbá para participar e cobrir para o extinto Jornal da Manhã (e enviar material para um amigo do jornalão que existe até hoje) a realização do VI Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão (SEPE) da UFMS, tive a honra e o prazer de reencontrar diversos Professores que haviam solicitado remoção a outros campi, entre eles o casal Abrão. Nessa época, o Professor Arnaldo Sakamoto se debruçava sobre a grade curricular do curso de Geografia, previsto para ser oferecido pelo CEUC em 1985.

Antes de concluir, agradeço com penhor à querida Professora Kati Eliana Caetano, sempre atenta aos Amigos e ex-colegas com quem conviveu e trabalhou em Corumbá, responsável pela triste, mas necessária informação. Aliás, a Professora Kati só não pôde ter sido minha Professora de Linguística no curso de Letras por estar em licença-maternidade quando do nascimento da querida Mariana, sua Filha mais velha, nascida em Corumbá.

Até sempre, Professora Vera Abrão! Seu legado, sua alegria de viver e desafiar os grotões da ditadura militar e, sobretudo, de se dedicar à construção de uma Geografia libertária e uma sociedade melhor, discretamente ao lado de seu eterno Companheiro de Vida, Ofício e luta, Professor José Abrão, palpitam vivos e intensos na mente e nos corações dos que tiveram a felicidade e o privilégio de conviver e compartilhar de sua generosa práxis.

Ahmad Schabib Hany

QUINZE ANOS DE SAUDADE DA PEREGRINA DE DOCE OLHAR


 
Quinze anos de saudade da Peregrina de doce olhar

Neste 15 de junho completam-se 15 anos de saudade infinita da Peregrina de doce olhar. Uma ausência doída e eterna, em que o tempo apenas atenua o que é impossível de apagar. Em sua homenagem, republico a homenagem feita há cinco anos.

Dona Yoya, em seus dez anos de eternidade

15 de junho de 2009, seis horas e cinquenta minutos, em um dos apartamentos do hospital da Unimed de Campo Grande. Dona Yoya, nossa Mãe -- progenitora de nada menos que nove filhos vivos: seis mulheres e três homens --, dá seu último suspiro sobre o leito em que permaneceu por aproximadamente uma semana, da mesma forma como viveu, estoica e discretamente. Uma mulher que não se valeu de sua prole para justificar qualquer acovardamento: ao contrário, soube lutar com toda a dignidade e coragem, até para despertar entre seus filhos a altivez com que pautou sua Vida.

A Irmã que a assistiu diuturnamente, por ser médica e bastante resiliente, disse que esboçara um discreto sorriso, num misto de gratidão e alívio. Talvez fosse o seu modo de se despedir e ao mesmo tempo induzir estímulo para continuar a luta. Tanto para Dona Yoya como para Seu Schabib, nosso Pai, a Vida foi um chamado à resistência, à luta, não para abocanhar vantagens ou conquistas fáceis, mas para, com dignidade e ética, assumir grandes causas sem abandonar as obrigações de Pais responsáveis (desses com letra maiúscula).

Nascida em 11 de março de 1926, em plena Amazônia boliviana (San Joaquín de las Aguas Dulces, no Departamento de Beni), Wadia Al Hany Ascimani, desde tenra idade chamda de Yoya (tida por segunda mãe de seus Irmãos), era a segunda filha nascida viva de dez filhos do casal constituído pelo dentista libanês Youssef Al Hany e a jovem senhora Guadalupe Ascimani de Hany, boliviana de Pai libanês. Além do gosto pela costura e o cuidado com a Família, Dona Yoya herdara da Mãe o autodidatismo, pois, com as limitações impostas às mulheres no início do século XX, ler e escrever em casa era exigência mínima que se fazia às mulheres emancipadas.

Dona Guadalupe Ascimani de Hany, nossa saudosa Avó (com letra maiúscula), viveu intensamente o século XX em todas as suas profundas transformações. Não sem propósito, costumava advertir as filhas menores, que não tiveram sorte com seus respectivos companheiros -- como foi o caso da Tia Nena, May Teresa Hany de Paz, falecida há um ano e meio, a despeito de sua formação em odontologia, igual ao nosso Avô Youssef Al Hany, num tempo em que ser dentista na Bolívia profunda implicava em salvar vidas tal qual médico de campanha. Leitora de clássicos da literatura universal, Dona Guadalupe questionava as filhas por não terem sabido escolher bem seu pretendente: como eu, nascida e criada em um povoado com menos de cinco mil habitantes, pude me casar com um Doutor jovem, bonito e culto, enquanto vocês, com todos os estudos e currículo, só encontraram seres medíocres, sem qualquer atributo e destituídos de companheirismo?

Além da saúde física e psicológica para criar, educar e formar nove filhos em condições adversas, Dona Yoya tirou de seu âmago uma capacidade de resistência que se forjou numa luta interminável desde 1960, ano em que enfrentou praticamente sozinha, uma crise econômica sem precedentes na Bolívia da Revolução de Abril de 1952, quando já estava casada e com três filhos nascidos e um por nascer (dois meninos e duas meninas). Como nosso Pai era perseguido por sua atuação no jornalismo político e na intelectualidade de Cochabamba, nossa Mãe ousou desafiar milícias xenófobas que ameaçavam mulheres sozinhas em nome de um bizarro patriotismo, coisa que em nossos dias aflorou em território deste país-continente, em que o ódio toma conta da racionalidade e a violência sem precedentes toma conta de nosso cotidiano desesperador.

Primeiro no Líbano, para onde partimos de trem e depois de barco no início da década de 1960 em oito irmãos (a caçula nascera no Líbano dois anos depois) com nossos Pais, terra-natal do hoje saudoso Seu Schabib, mas que por razões de sobrevivência precisou se deslocar para a África a fim de cobrir jornalisticamente os movimentos de emancipação da Argélia, Líbia e Sudão (além do Egito, então República Árabe Unida, liderada pelo saudoso líder pan-arabista Gamal Abdel Nasser). Assim como na Bolívia de Victor Paz Estenssoro, no Líbano de Fuad Chehab (sob influência de Camile Chamoun) Dona Yoya soube fazer frente às investidas dos gendarmes que tentavam intimidar seu Companheiro e sua Família: além de ter granjeado a amizade de familiares que só conheceu quando foi para a terra dos ancestrais de seu Pai e do Pai de sua Mãe, os familiares de seu cônjuge fizeram de tudo para que permanecêssemos lá, mas a acuidade política de Seu Schabib já detectava a guerra civil fratricida que viria a eclodir uma década depois para destruir o país.

A escolha de Corumbá, no coração da América do Sul não foi casual: tratava-se de lutar pela sobrevivência num novo país, mas sem perder os vínculos com a Bolívia, em cujo território não só se encontravam vivos os Pais de Dona Yoya mas também a conclusão dos estudos dos filhos mais velhos. No entanto, o ciclo militar da história política da Bolívia (1964-1982), em que sucessivos golpes ensanguentaram o povo boliviano, acabou provocando uma tragédia familiar, que foi a morte aos 25 anos, em circunstâncias não elucidadas, de nosso Irmão mais velho, Mohamed Schabib Hany. De todas as adversidades enfrentadas em Vida, essa por certo foi a mais traumática e irreparável, razão pela qual toda a nossa Família tem “nojo e ódio à ditadura” (nas sábias palavras de Ulysses Guimarães).

A maturidade precoce e uma sabedoria inesgotável fizeram de nossa Mãe a discreta guerreira, determinada em seus generosos propósitos e ao mesmo tempo uma solidária companheira em todos os momentos de sua prole, que a partir de meados da década de 1980 dá início à segunda geração, com a chegada do(a)s neto(a)s ao longo de duas décadas: Igor, Luana, Janen, Hanen, Neder, Pedro, Dunia, Omar e Sofia. Não pôde conhecer a caçulinha dos netos e os primogênitos dos bisnetos, o Nícolas e a Iara (Filhos de Igor e Fernanda), mas cujo legado por certo guiará todos os descendentes como fonte inspiradora de caráter inatacável, temperado na incansável lide de emigrantes peregrinos que cruzaram oceanos, percorreram continentes, abriram horizontes e semearam generosos ideais.

Com Dona Yoya e Seu Schabib é que aprendemos desde tenra idade que a humanidade é uma só, e que para o mundo se tornar melhor nós precisamos ser melhor desde nosso interior. Mais que um exemplo concreto, eis uma razão de ser, sobretudo nestes nada generosos tempos. Mas que os levaremos sempre conosco, como as gratas recordações de sua presença em nossas vidas...

Ahmad Schabib Hany

segunda-feira, 10 de junho de 2024

DONA GEORGETA MIRHAN, NA MEMÓRIA E NO CORAÇÃO

Dona Georgeta Mirhan, na memória e no coração

Mãe do Professor Lejeune Mirhan, Senhora Georgeta Mirhan se eterniza em Campinas, com um legado de luta, determinação e muito amor.

Por meio de mensagem do querido Amigo Mário Fonseca soube da eternização da Senhora Georgeta Mirhan, Mãe do querido Amigo, Sociólogo e Professor Lejeune Mirhan, ocorrido nesta segunda-feira, dia 10, em Campinas, onde ela também residia há algumas décadas. Ela nasceu e morou em Corumbá até a década de 1980, quando foi morar no interior de São Paulo com o Filho, então docente da Universidade Metodista de Piracicaba.

Pessoa de bem com a Vida, incansável lutadora, cujos olhos brilhantes exprimiam a alegria de lutar e viver, a despeito das adversidades vividas por uma cidadã à frente de seu tempo e que com determinação e muito amor cuidou exemplarmente de uma Família cujos Filhos nela se inspiraram e cedo foram à luta não só para sobreviver condignamente, como para conquistar uma sociedade mais justa e fraterna. Filha, como o próprio Professor Lejeune revela em sua pesquisa ainda inédita, de imigrantes surianes chegados a Corumbá no início do século XX, foi testemunha da saga desenvolvimentista empreendida pelos descendentes dessa minoria étnica síria em Corumbá, com os primeiros arranha-céus do estado de Mato Grosso uno, entre fins da década de 1950 e os anos 1960, como o IOSA, Anache e Sírio-libanês (e a Galeria Pantanal).

Tive a felicidade de frequentar, ao lado dos Amigos Juvenal Ávila de Oliveira (radialista e diretor musical da Rádio Difusora Mato-grossense S/A, hoje psicólogo aposentado) e Jota Alvarez (repórter fotográfico, mais tarde o pioneiro Professor João de Souza Alvarez, do curso CEFAM, de formação de Magistério), o Geta’s Lanches, de sua propriedade, à época concorrida lanchonete da Galeria Pantanal, movimentado centro comercial comparado aos shoppings que uma década depois foram construídos nas capitais e metrópoles pelo Brasil todo.

Dona Georgeta Mirhan era Prima do Advogado e Promotor de Justiça José Mirrha, primeiro candidato a senador do Partido dos Trabalhadores (PT) em Mato Grosso do Sul, em 1982. E pelo que nos contava o saudoso e querido Seu Jorge José Katurchi, Amigo de infância do Doutor José Mirrha (a quem ele e os demais contemporâneos, como o saudoso Armando Anache, chamavam de ‘Zé Borracha’), a Família Mirrha (ou Mirhan, varia na grafia, mas é a mesma Família) sempre se caracterizou pela generosidade e busca incansável da Justiça Social, desde a chegada das 13 Famílias da etnia surianes, da Síria, a Corumbá cosmopolita do início do século XX.

Em 2016, quando gentilmente o Professor Lejeune Mirhan veio a Corumbá fazer palestra memorável aos alunos do Curso de História sobre geopolítica e as ameaças à democracia no Brasil e América Latina, tive a alegria de partilhar de momento inesquecível com a Família do Professor Lejeune, e a hoje saudosa Dona Georgeta era uma das integrantes da comitiva, que periodicamente visitava Corumbá, a cidade que a viu nascer e empreender importantes iniciativas com as quais assegurou o sustento digno de seus Filhos e lhes serviu de inspiração para forjar seu caráter e sua consciência social engajada.

Dona Georgeta se eterniza convicta de seu dever cumprido com louvor, ao lado de seus Filhos, lutadores quanto ela, e Netos que saberão preservar os valores humanistas tão caros e disseminados ao longo de uma existência generosa, dignificante e valorosa, em que as adversidades próprias de quem não desiste de lutar e amar a Vida são um estímulo para seguir sempre em frente, com muito amor pelo seu semelhante. Obrigado, Dona Georgeta, por ter-nos dado o privilégio de testemunhar, ainda que de modo breve, sua jornada vitoriosa, e por ter formado cidadãos dignos de sua ascendência como o Professor Lejeune, inspirado em seu caráter e dignidade! A senhora estará sempre em nossas mentes e corações, como estrela a indicar o caminho do porvir, da redenção da humanidade!

Ahmad Schabib Hany

sábado, 8 de junho de 2024

TRIBUTO A MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES

Tributo a Maria da Conceição Tavares

Economista e referência de ativismo político na luta contra o regime de 1964, a Professora Maria da Conceição Tavares deixou Portugal e adotou o Brasil, por cujo povo lutou e empreendeu os maiores projetos na CEPAL, no BNDES e até na Câmara Federal.

Neste 8 de junho a humanidade fica mais pobre, muito mais pobre. Maria da Conceição de Almeida Tavares, que em 1954 se exilou no Brasil para se livrar do jugo salazarista de um Portugal sufocado pela repressão e obscurantismo fascista, se eternizou, aos 94 anos, depois de se dedicar por setenta anos, com paixão e muito conhecimento, à causa do povo brasileiro. Docente da pós-graduação da Universidade de Campinas, teve entre seus alunos José Serra e Dilma Rousseff, por quem ela declarou seu voto em 2010. Se em 1986, sua fala emocionada de apoio ao Plano Cruzado ecoou em todos lares pela televisão, em 1994, praticamente aos mesmos ex-alunos, repreendera e condenara pelo achatamento salarial do Plano Real, declarando-se não só decepcionada, mas enraivecida, o que a motivava a continuar lutando.

Tanto que naquele ano se elegeu deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores, em um emblemático mandato encerrado em 1999. A contundência de sua fala entrou para a História pela autenticidade com que empreendeu a defesa da soberania popular, da economia distributiva e da política com viés popular. São célebres as ‘puxadas de orelha’ a seus ex-alunos que se bandearam para o neoliberalismo, como esta, no programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, em 1995: “Uma economia que precisa dizer que primeiro precisa estabilizar, depois crescer e depois distribuir é uma falácia. Tem sido uma falácia. Nem estabiliza, cresce aos solavancos e não distribui. Esta é a história da economia brasileira desde o pós-guerra. Ou não é? E ver os meus queridos amigos, que junto comigo lutaram durante anos, dizendo que isto não era correto, que tinha que se fazer ao mesmo tempo estabilização, crescimento e distribuição. É uma de minhas maiores dores. É dor, mas é também raiva. Portanto, energia! Para continuar a lutar pela justiça social. Se você não luta, você não é um economista sério, é um tecnocrata!”

Formada em Matemática pela Universidade de Lisboa, seu diploma foi convalidado durante o período em que trabalhou como técnica do órgão antecessor ao INCRA, o Instituto Nacional de Imigração e Colonização, no governo de Juscelino Kubitschek, de 1954 a 1960, tendo sido convidada, depois de ter concluído sua graduação em Economia na antiga Universidade do Brasil (hoje UFRJ) para integrar a equipe do Brasil da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL). Ao participar da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), foi estabelecendo relações com as maiores referências progressistas no Brasil, como Celso Furtado, Caio Prado Jr. e Ignácio Rangel, aos quais declarava lealdade.

Celso Furtado, que como ministro do Planejamento de Kubitschek e João Goulart, criara não só a Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), mas o programa de desenvolvimento do Brasil, abandonado pelo regime de 1964, foi um estudioso que com a assistência de Conceição Tavares estruturou muitas estratégias futuras, muitas delas não interrompidas pelos militares que tomaram de assalto os destinos da nação. Mas, perspicaz e bem fundamentada, em 1972, desenvolve estudos, no âmbito da CEPAL, que conseguem provar que seria possível empreender uma política desenvolvimentista sem estrangular a solvência do tesouro brasileiro, como Delfim Neto e Reis Velloso, no governo de Emílio Garrastazu Médici, acabam fazendo, o chamado ‘milagre econômico’.

Conceição Tavares atribuía a Ignácio Rangel sua acuidade nas questões orçamentárias da área privada. Segundo ela, Rangel lhe chamara a atenção que economistas progressistas não se interessavam pelas questões orçamentárias da área financeira empresarial e, por isso, só ficavam no discurso. Ela, então, passou a se especializar nesta temática, tendo um legado vastíssimo, cujos seguidores hoje são referência em questões da dívida pública e da capacidade de endividamento do país. Como pioneira do questionamento do que na época se denominava ‘dívida externa’, seus estudos traçaram novos horizontes ainda no tempo em que, voluntariamente, assessorava o Doutor Ulysses Guimarães na presidência do PMDB, do qual ela era das personalidades notáveis.

Vinculada à equipe de economistas da CEPAL, na companhia de Celso Furtado, foi para o Chile quando o regime de 1964 pendeu para a linha dura, no processo de fascistização da política oficial. Nesse período deu aula na Universidade de Santiago até quando Augusto Pinochet deu golpe contra Salvador Allende, em setembro de 1973. Em seguida foi para o México, onde deu aula na Universidade Nacional Autônoma do México, mas afastou-se por um tempo da CEPAL para realizar uma pós-graduação na Universidade de Sorbonne, em Paris. Quando tentou desembarcar no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, em 1974, foi sequestrada por grupos paramilitares que ainda atuavam no país, tendo sido necessária a intervenção de Severo Gomes, então ministro da Indústria e Comércio, e de Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda, junto ao general Ernesto Geisel, o que assegurou sua integridade.

Assim como Ulysses Guimarães, o Presidente Lula tem em Maria da Conceição Tavares uma referência ímpar nas questões econômicas de interesse nacional, sobretudo na afirmação da soberania, desde os tempos das devassas do FMI (Fundo Monetário Internacional) nas contas públicas nacionais. Ao lado de diversas personalidades brasileiras e mundiais (entre elas a presidenta do Banco dos BRICS Dilma Rousseff), Lula manifestou sua tristeza com a sua eternização, enfatizando seu legado de sete décadas em favor do povo brasileiro. O governo português também enviou condolências à Família de Conceição Tavares, residente no Rio de Janeiro.

Minha geração conheceu Maria da Conceição Tavares em sua incansável luta pela defesa dos ganhos salariais, aquilo que para ela era mais caro no contexto do desenvolvimento e da estabilidade econômica (no caso da inflação). Mesmo não tendo sido integrante da equipe que assessorava o ministro Dilson Funaro, da Fazenda, em 1986, na preparação do Plano Cruzado, ela explicou as razões de sua emoção ante a defesa daquele pacote anti-inflacionário que acabou destruído pela sabotagem e pressão dos grandes empresários de todos os setores da economia. Uma Brasileira (maiúscula, por favor!) por opção e lealdade incondicional, diferentemente dos ‘patriotas’ de meia pataca que vivem a angariar seus ‘dividendos’ usando as informações privilegiadas. O que, aliás, vem rondando o gabinete de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central nomeado pelo inominável, e que o deputado Lindbergh Faria denunciou na tribuna da Câmara Federal para que seja aberta uma investigação e esclarecidas as suspeitas.

Às novas gerações fica o repto: não foi por acaso que uma cidadã do mundo e à frente de seu tempo, como Conceição Tavares, precisou sair de Portugal sob a ditadura de António Salazar para fazer tanto pelo povo de sua nova pátria. Obrigado, Professora Maria da Conceição Tavares, por seu legado, sua lealdade e, sobretudo, sua contundente atuação em defesa do maior patrimônio do Brasil, o Povo Brasileiro, tão ignorado e enganado de novo, a partir de 2016, quando em nome de ‘patriotismo’ de cartas marcadas ‘órfãos’ e ‘viúvos’ da ditadura tentaram introduzir no Brasil a mesma doutrina fascista que a fez vir para a sua nova pátria em 1954.

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 7 de junho de 2024

Tudo que importa para o mundo multipolar em debate no Fórum de São Petersburgo


quinta-feira, 6 de junho de 2024

AO VIVO: INFORMES DE GREVE DAS/OS PROFESSORAS/ES DO PARANÁ - 05/06/24


IMPRESSIONANTE ASSEMBLEIA DAS PROFESSORAS E PROFESSORES DO PARANÁ CONTRA A "VENDA" DAS ESCOLAS ESTADUAIS E POSTERIORMENTE AS UNIVERSIDADES ESTADUAIS PELO RATINHO JUNIOR

quarta-feira, 5 de junho de 2024

‘O BRAZIL NÃO CONHECE O BRASIL’

‘O Brazil não conhece o Brasil’

Célebre composição de Maurício Tapajós e Aldir Blanc e eternizada na voz imortal da eterna e terna Elis Regina, “Querellas do Brasil” continua contemporânea, quarenta e seis anos depois.

Elis Regina, embaixadora da Música Popular Brasileira entre as décadas de 1960 e 1980, quando teve interrompida a sua Vida de forma trágica, cantou verdadeiros hinos (e, claro, reptos às nossas elites emboloradas), contemporâneos até hoje, quarenta e seis anos depois. Entre os vários com os quais generosamente nos advertiu, divertiu e embalou nossos sonhos e esperanças juvenis, temos o eternamente contemporâneo “Querellas do Brasil”, de Maurício Tapajós e Aldir Blanc (que mais tarde, em parceria com o igualmente icônico João Bosco, nos presentearia com “O bêbado e o equilibrista”, hino à liberdade e à democracia, sempre na voz ímpar da eterna e terna Elis Regina).

Estávamos no primeiro semestre de 1978, e graças ao Amigo Juvenal Ávila de Oliveira os ouvintes da cosmopolita Corumbá da década de 1970 eram agraciados com a qualidade fonográfica da benfazeja e irreverente MPB das utopias e alegorias. Acabara de ingressar ao curso de Letras do saudoso CPC/UEMT (o extinto Centro Pedagógico de Corumbá da Universidade Estadual de Mato Grosso) e compartilhava com saudosos Amigos como Jorge Ocampo Claros (eternizado em fins de abril de 2021 na Bolívia de nossos cantos e encantos) essas e outras canções, entre elas de Benjo Cruz, Mercedes Sosa e Horacio Guarany, por meio das democráticas fitas cassete de áudio.

“Querellas do Brasil” está mais contemporânea que nunca: “O Brazil não conhece o Brasil / O Brazil não merece o Brasil / Do Brasil S.O.S. ao Brasil.” Em pleno século XXI, um golpe cínico com cara de ‘patriota’ canalha e, não satisfeitos, uma guinada ao fascismo mais miserável possível, com o panaca-títere banda suja inominável. E agora seus vermes plantados nas instituições, sobretudo, na Câmara Federal, Senado da República e Banco do Brasil, todos maledicentes. É pouco, ou, caro/a leitor/a, quer mais? Ah, sim! A mídia corporativa, agora encabeçada pelo Estadão, em cínico conchavo com a Globo, a Folha e o espólio da Abril. Serviram ao golpe de 1964, ao de 2016, tentaram em 2023 (e se deram mal!), mas não desistem, pois seu DNA de escorpião teima, querem a qualquer custo apear Lula, ou ao menos transformá-lo em ‘rainha da Inglaterra’.

O Brazil não conhece o Brasil / O Brasil nunca foi ao Brazil / Tapir, jabuti / Liana, alamanda, ali, alaúde / Piau, ururau, aki, ataúde / Piá-carioca, porecramecrã / Jobim akarore, Jobim-açu / Uô, uô, uô // Pererê, camará, tororó, olerê / Piriri, ratatá, karatê, olará / Pererê, camará, tororó, olerê / Piriri, ratatá, karatê, olará / / O Brazil não merece o Brasil / O Brazil tá matando o Brasil // Jereba, saci / Caandrades, cunhãs, ariranha, aranha / Sertões, Guimarães, bachianas, águas / Imarionaíma, ariraribóia / Na aura das mãos de Jobim-açu / Uô, uô, uô // Jererê, sarará, cururu, olerê / Blá-blá-blá, bafafá, sururu, olará / Jererê, sarará, cururu, olerê // Blá-blá-blá, bafafá, sururu, olará // Do Brasil, SOS ao Brasil / Do Brasil, SOS ao Brasil / Do Brasil, SOS ao Brasil // Tinhorão, urutu, sucuri / Ujobim, sabiá, bem-te-vi / Cabuçu, Cordovil, Cachambi, olerê / Madureira, Olaria e Bangu, olará / Cascadura, Água Santa, Acari, olerê / Ipanema e Nova Iguaçu, olará // Do Brasil, SOS ao Brasil / Do Brasil, SOS ao Brasil.

E providencialmente os queridos Amigos Alle Yunes e Armando Lacerda, em momentos diferentes, me fazem chegar a constatação disso tudo. Na revista NovaFase, por sinal bem impressa em papel couchê de fazer inveja à Abril dos melhores anos, gentilmente entregue pelo querido Alle Yunes, temos a constatação que o que aqui empresários e burocratas desinformados chamam de RILA para paranaenses, catarinenses e gaúchos isso é, numa paródia ao Canal do Panamá, o que eles orgulhosamente bradam como ‘Canal do Paraná’, do Atlântico ao Pacífico, na Região Sul do Brasil, usando o atual presidente Santiago Peña, do Paraguai, como ‘barriga de aluguel’, até porque o Paraguai é um país, como a Bolívia, mediterrâneo, isto é, sem saída aos oceanos Atlântico ou Pacífico. O querido Armando, por sua vez, afronta corajosamente o establishment campo-grandense quando demonstra que deixar ruir a real e histórica comunicação rodoferroviária Bauru - Santa Cruz de la Sierra – Iquique é mais que ignorar a própria gênese de Mato Grosso do Sul e de sua capital, Campo Grande, que graças ao trem se tornou minimamente citadina [porque, desculpem-me Amigos campo-grandenses, mas a velha currutela de passagem de potros e bezerros, como revelou o querido Amigo Sérgio Cruz em suas diferentes pesquisas, a NovaCap nunca, nunca foi cosmopolita!]. Em outras palavras, esses senhores, mais uma vez motivados pela ousadia e distantes do real, do histórico, do concreto, insistem em dar não tiro no pé, mas na própria cabeça ao desperdiçar o que já existe para ligar o nada a lugar nenhum.

Herança da [mal]ditadura, Mato Grosso do Sul tem em toda a sua estrutura de Estado uns ‘luas pretas’ que, além de desconhecer a História do Brasil e de Mato Grosso [a mesma que de Mato Grosso do Sul antes de 1º de janeiro de 1979], teimam reinventar a ‘roda’ [ou, melhor, a história], como que eles tivessem neurônios suficientes para uma proeza dessas, e nós, reles mortais que habitamos esta unidade da federação desde antes do regime de 1964, precisamos ter que fingir que acreditamos em suas pieguices cínicas e inverossímeis. O que dizer, então, quando a comarca de Corumbá faz seu sesquicentenário e a assessoria de comunicação do Poder Judiciário estadual deixa saírem pérolas como ‘Vila Mariana’ por Vila Maria, Cáceres (antes, São Luiz de Cáceres) e, pior, conseguiram errar o nome de nascimento do Barão de Vila Maria, Joaquim Eugênio Gomes da Silva, o Nheco, fundador da fazenda Firme e da Nhecolândia, filho de padre nascido na Fazenda Jacobina e enviado para esta região de fronteira para fundar sua propriedade, segundo o saudoso escritor e memorialista, o querido Amigo Augusto César Proença, seu tetraneto, em “Pantanal -- Gente, tradição e história”, publicado pela Editora UFMS em 1993.

Um velho Amigo historiador há décadas vem colecionando as, digamos, ‘derrapadas’ dessa gente que caiu de paraquedas no sul de Mato Grosso, pouco antes da criação do estado de Campo Grande, como consta dos jornais de então. E só mudou o nome pela rejeição total e imediata da maioria dos moradores do território sul-mato-grossense. Pegou tão mal, que o então porta-voz do ditador de plantão Ernesto Geisel, à noitinha do mesmo dia em que foi anunciado mais esse casuísmo para que a Arena, partido de sustentação do regime, ganhasse três senadores e cinco de seis deputados federais situacionistas -- em 11 de outubro de 1977 --, esclareceu, bastante atrapalhado, que o nome seria objeto de debate no dia seguinte com toda a bancada federal do estado de Mato Grosso.

Ainda que não morra de amores pelo sinistro e sanguinário Filinto Müller, homem forte de duas ditaduras -- do Estado Novo e do regime de 1964 -- e que curiosamente faleceu em acidente aéreo no dia de seu aniversário de 73 anos, véspera da sucessão do facínora que governou com mão de ferro e que dispendeu fortuna para aparentar uma popularidade artificial, à moda fascista, de triste memória, Emílio Garrastazu Médici, graças a ele Mato Grosso ‘demorara’ a ser esquartejado.

A saída de cena do cuiabano mais poderoso da história não só atrapalhou a linha-dura, que perdeu o trono, como desarticulou o projeto de fascistização institucional em curso. Mais ainda, sem ele, Mato Grosso foi retalhado, acintosa e despudoradamente. José Fragelli, corumbaense que contou com o apoio de Müller para ser o primeiro governador indicado, esqueceu-se dos laços históricos que sempre uniram Corumbá a Cuiabá, e foi conivente com esse projeto de criação de cabides de emprego em Campo Grande e depauperação paulatina do Pantanal e, sobretudo, Corumbá de todas as esperanças e culturas.

Mas façamos justiça, pois Fragelli, quando aderiu, por vingança pessoal contra Pedrossian, é verdade, ao PMDB dos Irmãos Plínio e Wilson Barbosa Martins e de Ulysses Guimarães, resgatou sua dignidade histórica na presidência do Senado da República (ao apoiar as articulações de Ulysses na improvisada e trágica sucessão de Figueiredo a José Sarney em 15 de março de 1985) e, em âmbito estadual, ao apoiar incondicionalmente a ação popular contra a entrega, chamada de ‘privatização’, da Urucum Mineração à Vale, em curioso leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, pelo Banco Vetor, de triste memória. Esses fatos tornam Fragelli um valoroso e digno homem público, a despeito de suas derrapadas durante o tempo em que apoiou e se beneficiou do regime de 1964, à exceção da criação da Metamat, ao final de sua gestão como governador, para dar à sua cidade-natal o direito de uso legítimo de concessão de lavra da maior reserva de manganês e a segunda de ferro.

Mas Mato Grosso do Sul acabou virando claque dos delírios nem sempre bem intencionados de Pedro Pedrossian e suas obras faraônicas [daí porque ‘faraó de Miranda’]. Depois de guindado ao Palácio Alencastro [após a gestão Fragelli mudado para o Paiaguás], graças à votação de DNA trabalhista de Corumbá em 1965, Pedrossian pagou com ingratidão à sua alardeada ‘menina dos olhos’ (à que o então deputado oposicionista Cecílio de Jesus Gaeta chamou de ‘remelenta’, pois ficara ao léu sob suas promessas). E a pior delas não foi o descumprimento de promessas não realizadas, mas a negociata cínica e acintosa da venda da Urucum Mineração nos derradeiros dias de seu segundo mandato em MS, contra a qual, aliás, os Deputados (maiúsculas, por favor!) Armando Anache e Marilene Coimbra, de sua base parlamentar, se manifestaram e sofreram retaliação (Anache, que seria indicado para o Tribunal de Contas do Estado, foi desconvidado, e Marilene Coimbra, também histórica pedrossianista por conta do marido, Albino Coimbra Filho, acabou como Anache no ostracismo político, e não reeleitos).

Quantos empregos de alto nível Corumbá perdeu nesse ato lesivo aos interesses do Estado brasileiro? Centenas, além da perda de competitividade da saudosa UMSA, pioneira nas vendas aos países da ‘cortina de ferro’ e da ‘rota da seda’, Europa oriental e China, para fazermos justiça com a maior estatal da história de Corumbá, contra a qual politiquinhos de meia pataca, então em voga, se insurgiram, e hoje estão no ostracismo da história.

Ahmad Schabib Hany