Tarda mas não falha
Desde os mais remotos tempos
coloniais, a impunidade dos pretensos ‘filhos da pátria’ é o verdadeiro
incentivo da criminalidade encravada no DNA das elites recalcadas.
Instrumentalizaram todos os artifícios para incriminar, criminalizar, o maior
estadista do século XXI, mas a farsa se dissolveu como suspiro em copo d’água.
O que, afinal, move as elites caducas desta
América Latina de tanto sofrimento e saques intermináveis?
Inveja? Vocação para a traição? Entreguismo
compulsivo? Ganância? Parasitismo? Complexo de inferioridade? Soberba? A
certeza da impunidade?
A história demonstra de modo eloquente a total falta
de razoabilidade, prudência, no comportamento serviçal e doentio das e dos
‘filhos da pátria’ desde os mais remotos tempos coloniais: de origem
parasitária, lumpesinato em sua essência, as elites latino-americanas têm suas
patas sujas do sangue honrado e leal dos povos originários e dos povos
africanos escravizados, que constituem a maioria da população.
Desde sempre, protegidos pelo manto nefasto da
impunidade: obtido pela troca de favores mal havida e contaminada pela corte
feudal que se enriqueceu por meio do mercantilismo, sem ter saído de seu
universo medievalista, destituído de lei, ética e sensatez. Isso, aliás,
facilitou a chegada dos ‘novos ricos’, chegados tempos depois, mas que
reproduziram sem qualquer pudor o respeito essa ilógica relação de exploração e
opressão.
O assassinato, no Equador, de um dos oito
candidatos à presidência, expõe a insensatez e ausência de princípios de
humanidade e democracia dessas elites. Fernando Villavicencio estava em quarto
lugar nas pesquisas pré-eleitorais, liderada por Luisa González, que é correligionária
do ex-presidente perseguido Rafael Correa. A eleição foi antecipada em um ano e
meio pelo golpismo do banqueiro e atual ocupante da presidência, Guillermo Lazo,
cuja vitória foi obtida por meios duvidosos e, incapaz de governar
democraticamente, teve seu mandato encurtado, mas que teima em colocar um dos
seus, a despeito da rejeição explícita do povo equatoriano.
Tal qual Peru e Bolívia, o Equador tem uma imensa
maioria de origem Quéchua (povos originários de ascendência incaica) e riquezas
naturais incomensuráveis. Não é país pobre, mas a distribuição de renda é
vergonhosa, pois desde os tempos coloniais as elites serviçais oprimem seu povo
e se entregam ao parasitismo entreguista das ex-metrópoles coloniais (atuais
potências ocidentais). Confesso não esconder a vergonha de ver famílias de
imigrantes árabes vivendo em condições nababescas, pirateando o futuro daquele
país, tratado igual ao valoroso povo palestino pelo estado sionista de Israel.
Ao contrário da hospitalidade do povo andino e
amazônico, os criminosos instalados no Equador no século XX, muitos de origem
árabe e europeia, teimam em fazer do país terra de ninguém, onde a pirataria
campeia solta e as quadrilhas internacionais o tornaram um paraíso de todas as
formas de tráfico (armas, drogas, pessoas e científico, pois há o banco
genético amazônico). Assim como o Peru, governado por uma fantoche de
interesses transnacionais, o Equador paga caro por suas reservas naturais, além
de importantes destinos de turismo e universidades centenárias de grande
trajetória histórica.
O desmonte do Estado equatoriano e de suas
políticas sociais inclusivas desenvolvidas no período de governo de Rafael
Correa -- daí porque a sua correligionária hoje é a favorita nas eleições para
mandato-tampão -- foi fator determinante para o aumento da miséria, da
violência e das atividades criminosas ligadas ao narcotráfico transnacional.
Pelo menos a partir de 1998, quando reascenderam as escaramuças de uma guerra
interminável com o Peru pelo controle da região de Cenepa (ou Twinza), que se
arrasta desde 1928, o aumento da corrupção das forças de segurança serve de
biombo para o fortalecimento de quem é pago para dar segurança ao país andino.
Pouco mais de dez anos atrás, Rafael Correa,
professor universitário com sensibilidade social, inspirado nas transformações
promovidas no Brasil pelo Presidente Lula e na Bolívia por Evo Morales, fazia
um governo de grande inclusão social, interrompida pelo traidor
ex-vice-presidente Lenin Moreno quando eleito em sua sucessão, que por trinta
moedas se vendeu para o império (não esqueçamos de que estava refugiado na
embaixada equatoriana em Londres Edward Snowden, jornalista sueco que
desmascarou os Estados Unidos com sua rede de espionagem atentando contra a
soberania nacional de todos os países do Planeta).
Esse trágico atentado à democracia e ao convívio
político compromete todo o cenário das democracias latino-americanas. A ousadia
com que organizações criminosas ligadas ao parasitismo econômico e social
acende o sinal de alerta de todas as nações do continente. Tanto a Argentina,
cuja vice-presidenta Cristina Kirchner, meses atrás, escapou de um atentado a
bala, quanto o Brasil no início deste ano, encontram-se enfrentando o pior tipo
de político, porque, além de fascista, sem qualquer respeito pelo convívio
democrático e social, é ligado ao crime organizado, como milicianos,
garimpeiros e madeireiros.
No caso brasileiro, esse comportamento se revelou
entre 2013 e 2022, tendo atingido seu mais cínico ápice em 8 de janeiro deste
ano, quando da vergonhosa intentona fascista, de triste e vergonhosa memória. Mas
a tradicional impunidade caiu por terra: como ensina a sabedoria popular, a
justiça tarda mas não falha, independentemente da patente dos réus e dos cargos
dos golpistas: um a um, estão a pagar pelos seus crimes contra o Estado de
Direito, a soberania nacional, popular e tecnocientífica. Pairam até hoje
dúvidas em relação a dois acidentes aéreos, que mataram respectivamente o então
candidato Eduardo Campos (PSB) e o ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal
Federal (STF), crítico da turma da Leva Jeito, que acintosamente comemorou “We
trust in Fux”.
De um lado, a ‘cançeira’ (com cedilha, como
grafavam seus cartazes) das madames que, sem qualquer pudor e sensatez, saíram
às ruas nas maiores metrópoles deste país de dimensões continentais para se
mostrar, entre um gole e outro dos mais caros champanhes importados,
‘cançadas’, ou melhor, indignadas, com as conquistas sociais do povo
brasileiro, que então podia viajar de avião, comprar o que quisesse nos
mercados e portais do e-comerce,
estudar os cursos universitários que quisesse nas universidades que melhor lhe
aprouvesse e, sobretudo, a Lei das Empregadas Domésticas, que sepultou de vez a
senzala no cotidiano da residência daquelas madames que não saem das rodinhas
da casa grande mas que se ‘esquecem’ de que todo e qualquer trabalhador ou
trabalhadora brasileira tem seus direitos assegurados em lei.
De outro, os viúvos e órfãos da (mal)ditadura,
que, com implantação da Comissão da Verdade, por ato do governo da Presidenta
Dilma Rousseff, viram seus ‘heróis’ de meia pataca serem desmascarados por atos
de tortura, de lesa-humanidade, uma série de atos e atentados sistemáticos
contra a Vida e os valores civilizatórios construídos ao longo de milênios
pelas sociedades humanas. Feito pavio de pólvora, pronto para explodir, espectro
do obscurantismo que ceifou Vidas, hoje estão associados a milicianos que
tomaram de assalto os moradores das periferias das metrópoles (e, por tabela,
garimpeiros, traficantes de drogas, armas e pessoas, matadores de aluguel,
madeireiros, grileiros e similares), ao lado de ‘cristãos’ sionistas que, em
vez de pôr em prática o ensinamento de Jesus Cristo, disseminam a intolerância,
a mentira e o ódio com o maior cinismo por meio de milícias digitais.
Não era preciso ter passado pelo que passamos:
retrocessos abissais nas políticas públicas construídas ao longo de décadas,
desmonte do Estado, ‘empoderamento’ das milícias e dos falsos patriotas,
fardados ou não, endividamento bilionário para saciar o apetite das corporações
financeiras e parasitárias mundo afora. Todos perdemos com essas aventuras.
Como hoje, quando é velado um candidato a presidente do Equador, todos os
democratas do mundo perdem muito, inclusive a sua razão de ser.
Ao contrário da ‘lógica’ perversa dos cretinos que
tomaram de assalto os destinos das nações latino-americanas até há pouco tempo,
de que “aos amigos tudo, aos inimigos os rigores da lei”, a Justiça tarda, mas
não falha.
Ahmad
Schabib Hany
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