Violência juvenil: mudança de atitude, empatia, acolhimento e Audiência Pública
Depois da tragédia da escola de São Paulo em que a Professora Beth perdeu a Vida, adolescente em Corumbá protagoniza agressão armada contra colega, em frente da escola e diante do público.
A agressão cometida por adolescente de 15 anos na frente de uma escola de Corumbá ou o atentado cometido por uma criança em escola de São Paulo é o sinal de alerta que as novas gerações estão a nos emitir. Sem demora e qualquer procrastinação, cabe a todos nós, de todas as idades, profissões, filosofias ou religiões e, sobretudo, preferências de time de futebol, partido político ou ‘ídolo’ (sou fã incondicional, mas não fanático, da saudosa Leila Diniz) para começar a fazer uma necessária autocrítica e mudarmos de comportamento em relação às novas gerações, que vem sendo vítimas de traficantes, exploradores e pedófilos (os ‘tios’ da internet, que com poucos reais roubam a inocência de nossa infância, que deveríamos acolher, amar e proteger SEM SEGUNDA INTENÇÃO).
Ao ler e reler as reportagens sobre esses tristes episódios, me coloquei no lugar das Mães e dos Pais dessas e daquele adolescente, como no lugar das Professoras e Professores dos respectivos educandários, cada um com a sua própria realidade. Longe de pretender criminalizar o comportamento dos jovens, acirrado pela cultura do ódio disseminada nos últimos quatro anos de incentivo ao uso de armas e à louvação do mais forte, mas mudarmos de atitude para encarar a violência de imediato, de frente e com sinceridade, acolhimento e empatia é tarefa de todos nós, inclusive os mais velhos, já fora da escola e do ‘deus’ mercado.
A mudança de atitude, como sociedade, se resume a isto: acolhimento, amor, proteção, respeito e empatia. Em outras palavras, a mudança da rotina escolar, em que a hora da acolhida seja feita em todas as séries, tanto no ensino fundamental como no médio. As pessoas, sejam crianças ou adolescentes, muitas vezes chegam à escola contrariadas com o que lhes acontece dentro de casa e precisam se sentir acolhidas, protegidas, respeitadas e amadas no ambiente escolar. Esse era o segredo da Educação do Padre Ernesto Saksida, que adaptou o Método Salesiano de Educação à realidade brasileira.
Por outro lado, como não se trata de um fato isolado -- mas um pipocar de episódios sem maiores repercussões que vêm se avolumando sem que as autoridades municipais façam ideia --, é hora de que todos os setores da sociedade promovam debates, reflexões com sinceridade e compromisso, de modo a ser promovida com brevidade Audiência Pública para pactuar um compromisso efetivo em que consigamos mudar a conduta da infância e da juventude local. Isso, aliás, significa a construção de um plano intersetorial em que ações, projetos, programas e políticas sejam implementadas em todas as instituições de nossa cidade (e, por tabela, nosso estado e, se possível, nosso país).
(Faço parênteses: O/a leitor/a acredita que toda essa violência não tem conexão, relação direta, com toda a virulência generalizada em que, de posse de uma arma, o ‘cidadão de bem’ resolve como melhor entender e agir, em arrepio à lei e aos sagrados valores civilizatórios construídos nos últimos milênios? Não esqueçamos que sociedade que ignora sua infância, sua juventude e seus idosos está condenada a seu extermínio, sua dissolução no contexto civilizatório.)
Diferentemente da postura daqueles senhores que estiveram nos últimos quatro anos fazendo tudo, menos governar um país de dimensões continentais em que os problemas, superlativos, foram ignorados e hoje somos todos vitimados pela avalanche igual às enxurradas decorrentes do negacionismo irresponsável que não permitiu a execução de obras preventivas que nos poupassem do agravamento de tudo à nossa volta.
O desmonte de políticas públicas, sobretudo na Educação, Cultura, Esportes, Assistência Social, Alimentação Escolar, Saúde (inclusive mental), dos Direitos Humanos, da Criança e do Adolescente, das Mulheres, dos Idosos, das Pessoas com Deficiências, dos Povos Originários, dos Afrodescendentes, de Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Igualdade Racial etc, levou nosso ensino a uma situação de vulnerabilidade, a despeito do esforço hercúleo dos e das trabalhadoras da Educação.
Ao contrário da narrativa e da prática dos negacionistas que diziam que governavam sem governar, mas cometendo ilicitudes e disseminando mentiras em série durante pelo menos quatro anos, é preciso que comecemos a reconstruir toda a infraestrutura social desmontada sem dó nem piedade. Não se trata de um trabalho mecânico, mas empático e profundamente acolhedor, respeitoso e afetuoso. Cada Vida salva e acolhida será um fator de soerguimento de nossa sociedade, vitimada pelas hordas fascistas que deixaram seu ódio e sua índole destrutiva nos segmentos mais suscetíveis a esse discurso perigoso, porque excludente e perverso.
O Brasil é um país-continente fecundo em todas as áreas, sobretudo a Educação: Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Dermeval Saviani e Jorge Luís Mazzeo Mariano (o querido jovem Professor Doutor que a Vida me presenteou como Amigo e Orientador no Mestrado em Educação da UFMS, e que hoje se encontra lutando pela Vida) são alguns dos grandes brasileiros que deram seus melhores dias para o generoso projeto que toda vez que está em implantação um golpe interrompe o Estado Democrático de Direito e as políticas em fase de implantação. Foi assim em 1953 (Getúlio foi levado ao suicídio em 1954, depois do início da tramitação do projeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação), em março de 1964 (dois anos depois de sancionada a Lei Federal nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961) e em maio de 2016 (um ano depois da Educação ter sido priorizada no segundo mandato da Presidenta Dilma cuja consigna era “Brasil, Pátria Educadora” e que diversas implementações estavam em curso, inclusive a Base Nacional Comum Curricular, a BNCC, depois atropelada durante o desgoverno do ‘brimo’ golpista).
As instituições são uma abstração. São as pessoas, em equipe, as que se transformam e transformam sua realidade imediata. “Um mais um é sempre mais que dois”, assim nos ensinou o incansável Beto Guedes, do alto de seus 70 anos de Vida e 50 anos de composições inspiradoras e transformadoras. De forma lúdica, prazerosa e com empatia e proteção, acolhamos as nossas crianças, adolescentes e jovens. Lembremo-nos de que crianças e jovens nunca foram problemas, mas solução para nossa sociedade decrépita e truculenta. Vamos nos transformar e transformar nossa sociedade para que as próximas gerações possam ter um porvir generoso e alvissareiro, como nós um dia recebemos de nossos ancestrais.
Finalmente, concluo este despretensioso e modesto texto reiterando minha gratidão ao querido Professor Jorge Luís Mazzeo Mariano e sua querida Companheira Elaine Gomes Ferro que têm dedicado sua Vida com generosidade para estudar as Histórias e Memórias da Educação, sobretudo na feminização da Educação, quando me convenceu a atentar para a afrofeminização da Educação em Mato Grosso do Sul. Além de competentíssimos pesquisadores e docentes universitários, o Professor Jorge Luís e a Professora Elaine são seres humanos sensíveis às condições sociais e cidadãos à frente de seu tempo.
Ahmad Schabib Hany
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