Novidade
requentada
No debate dos presidenciáveis na Band,
Lula demonstrou humildade e parcimônia, mesmo com as ofensas insidiosas de
todos os candidatos presentes, sobretudo de Ciro, cada vez mais à direita (de
fazer Brizola revirar no túmulo), e da dupla nem tão sertaneja Simone e Soraia,
amiguinhas do inominável entre 2018 e 2020 (e ainda aliadas dos aliados dele).
Não é de surpreender que os mesmos
que endeusaram aquele juiz de primeira instância de Curitiba -- lembram-se
dele? -- e foram às ruas pedir o impeachment de Dilma (a primeira mulher eleita
e reeleita para a Presidência da República) e em seguida comemorar a prisão de
Lula em abril de 2018 (ano da eleição do inominável) sejam os mesmos a se
apresentar como novidade. A velha política sempre utilizou o ‘novo’, tanto é
que tem até um partido com esse nome, mas cuja prática se remete ao século XIX,
tempo do liberalismo econômico, quando os direitos sociais, trabalhistas,
coletivos e difusos ainda não haviam sido consignados no arcabouço jurídico das
nações chamadas ‘civilizadas’.
No estado em que nasceu o ‘sertanejo
universitário’, a dupla Simone e Soraia não pode se declarar novidade. A
primeira, ungida de uma ‘terceira via’ que não decola, e a segunda, trazida de
última hora para substituir Luciano Bivar e não deixar o juizeco sair candidato,
a pedido de alguém. Ambas, no entanto, estiveram granjeando votos para o
inominável em 2018 e participaram de sua bancada conservadora. Em embates
decisivos, as duas votaram com o (des)governo, hoje em processo de dissolução,
e agora tentam requentar, digo, maquiar, sua postura antipovo, segundo
estratégia de marqueteiros ‘feministas’ e muito ‘sensíveis’ à temática social,
como a fome, a exclusão social e o desemprego. Haja estômago!
A despeito de todos os seus méritos,
a senadora Simone Tebet -- filha de Ramez Tebet, ex-arenista, ex-deputado
estadual constituinte, ex-vice-governador, ex-governador, ex-senador, ex-presidente
do Senado e ex-ministro da Justiça --, ela tenta esconder o fato de ter sido
vice-governadora de André Puccinelli, integrante da bancada ruralista (e em seu
estado, Mato Grosso do Sul, interlocutora dos invasores de terras indígenas: seu
marido, um obscuro deputado estadual, foi importante membro da CPI que tentou
criminalizar o CIMI, Conselho Indigenista Missionário, órgão da CNBB voltado
para a defesa dos direitos dos povos originários), tendo votado a favor de
todas as medidas que retiraram direitos dos trabalhadores desde que Michel
Temer instituiu uma série de medidas antipopulares e antinacionais.
O saudoso Doutor Ulysses Guimarães,
democrata a toda prova e apreciador do velho e bom debate, costumava dizer que
não há política sem um bom ringue -- referindo-se às estratégias habituais nos
debates, ele que nos embates da primeira eleição presidencial foi uma das
maiores vítimas, por conta dos desmandos de seu ‘correligionário’ forçado, o
então presidente José Sarney, um dos patrocinadores do Centrão durante a
Assembleia Nacional Constituinte (por meio de seu aliado, Roberto Cardoso
Alves, Robertão, que entrou para a história com seu bordão ‘é dando que se
recebe’), e adversário declarado do Senhor Diretas, a ponto de ter sido
flagrado articulando a candidatura natimorta de Sílvio Santos para dar uma
rasteira no candidato da famiglia Marinho, Fernando Collor de Mello.
E, voltando ao contexto atual, não é
preciso ser analista político para ver a arena armada, tipo ‘todos contra Lula’,
no debate promovido pela Band (em parceria com a Folha de S.Paulo, TV Cultura e UOL), domingo, 28 de agosto. O
primeiro golpe de desmoralização contra o ex-presidente partiu de ninguém menos
que do inominável, que, como guri borrado, já adentrou ao estúdio fazendo suas estripulias
de miliciano de carteirinha: primeiro, que não iria apertar a mão de um ‘ladrão’,
logo ele que antes de findar seu (des)governo já se blindou todo, decretando ‘sigilo
de 100 anos’ a suas contas cabeludas, e, depois, recorrendo a seus subordinados
do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), de modo a deixar seu atabalhoado
trocador de canivete ‘longe’ do estadista que inseriu o Brasil na sexta economia
do planeta.
Mais uma vez, em persuasiva mostra de
generosidade e maturidade política, o candidato que presidiu o País por dois
mandatos e deixou o cargo com os mais elevados índices de aprovação confirmou sua
vocação republicana e seu inarredável compromisso com a sociedade brasileira.
Foi sua generosidade que, na primeira provocação do inominável, o fez esboçar
um sorriso e preferiu se dirigir ao público telespectador para falar sobre as
medidas de combate à corrupção implantadas em seu governo. Sem ódio, rancor,
mágoa ou recalque, na segunda provocação, quando foi chamado de ‘presidiário’
(esqueceu-se o ‘impoluto’ que ele mesmo ficou encarcerado na caserna por
atitudes nada ortodoxas, análogas às de terrorismo), Lula preferiu lembrar o
público que ele havia deixado as reservas do Tesouro Nacional em um patamar
inédito na história do Brasil, além de não baixar qualquer decreto para manter
em sigilo de 100 anos as contas de seu governo.
Enfim, Lula, do alto de sua
maturidade, entende que o jogo democrático não seja um conflito cruento, em que
se jogue ‘tudo ou nada’. Não foi ao debate para procurar mais brilho que seus
adversários, jamais inimigos. Disse isso claramente a Ciro Gomes quando respondeu
a uma pergunta capciosa. Com o desprendimento de quem está de bem com a Vida,
foi quase paternal com seu ex-ministro da Integração Regional (isso no tempo em
que Ciro era PPS, pois nisso Ciro também se parece ao inominável: troca de
esposa e de partido como quem troca de camisa), um mau indício de estabilidade
pessoal. Veremos se, em caso de um segundo turno, de qual lado estarão todos
esses candidatos ‘novos’, o que não será possível é estar ‘em cima do muro’...
Ahmad
Schabib Hany
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