25
anos sem Márcio Nunes Pereira
O Jornalista Márcio Nunes Pereira,
como a adivinhar que seu tempo na Terra era diminuto, fez de seu Ofício um
tributo à Cidadania, à Liberdade e, sobretudo, ao Jornalismo combativo e
libertário.
Neste 2 de agosto transcorrem os 25
anos sem a combatividade e a irreverência do jovial e incansável Jornalista
Márcio Nunes Pereira. Depois de lutar sofregamente contra um câncer traiçoeiro,
ele se eternizou numa tarde ensolarada de domingo -- uma semana antes do dia
dos pais, ele que tanto amava o Paulinho, seu unigênito, fruto de seu amor com
sua única Companheira de Vida, Dona Margareth Matas Pereira. Mesmo impedido de
ir à redação do Diário de Corumbá, a
três quadras de sua residência, ele acompanhava atentamente as edições de sua
razão de ser, com a mesma importância e dignidade, aliás, com que amava a
Família.
Era o ano de 1997. Ocaso do segundo
milênio, limiar do terceiro. A sociedade civil, em todo o mundo, despertava
para o grito uníssono de que a globalização não passava de uma fraude dos
herdeiros dos saqueadores que se locupletaram com a cobiça chamada de ‘civilização’,
mas que nunca passou de eufemismo, de nome bonito, para a odienta colonização,
a mesma que escravizou, que esquartejou, que despojou, que espoliou, que
explorou e que dizimou as verdadeiras civilizações existentes além da Europa. O
Fórum Social Mundial, com a sua consigna “Um outro mundo é possível”, passava a
reunir os movimentos sociais em todo o mundo, e as primeiras edições foram
realizadas no Brasil.
Naquele mesmo ano, Paulo Freire,
Herbert de Souza e Darcy Ribeiro se eternizaram. Até parece que esses grandes
brasileiros, inclusive Márcio Pereira, sacrificaram suas Vidas a fim de
assegurar uma transição, uma revolução pacífica, para uma sociedade mais justa,
liberta e verdadeiramente democrática. Não demorou muito, no ano seguinte à sua
eternização, Mato Grosso do Sul deu uma guinada e, para surpresa dos mais
antenados, o governador eleito em 1998 era o até então deputado estadual Zeca
do PT. E por pouco o Advogado Carmelino Rezende, ex-presidente da OAB e grande
articulador, não se elege senador da República. Foram oito anos de governo
popular que abriram caminho neste estado, herança maldita do regime de 1964,
para o início de políticas públicas sociais que mudaram a face do Brasil
perante o mundo até 2016, quando o golpe travestido de impeachment depôs a
primeira mulher eleita e reeleita presidente do Brasil.
Márcio Nunes Pereira tinha o
Jornalismo em seu DNA, pois o Pai, dono de um texto apurado e que a vida toda
exercera o sagrado Ofício como assalariado em diversos jornais do então Mato
Grosso uno, ao final da Vida decidira não mais escrever o que agradava aos seus
patrões, inclusive os membros da UDN (União Democrática Nacional), que em
Corumbá detinham o controle da linha editorial do até então mais antigo e
conservador diário em circulação, O
Momento, para fundar o Diário de
Corumbá, “matutino noticioso e independente”, em 1969. As crônicas
elegantes de ‘Tia Fifina’, por anos a principal atração das edições do jornal,
eram dele, do saudoso Jornalista Carlos Paulo Pereira, fundador e primeiro
diretor do emblemático diário da Rua Antônio João, no centro, ao lado da
Torrefação e Moagem de Café São Paulo.
Em sua breve existência, de apenas 42
anos, Márcio não só era caracterizado pelo faro apurado de repórter incansável,
combatividade, irreverência e coragem, muita coragem, mas um coração do tamanho
dele, com sua estatura de atleta de basquete. Desde os tempos de jovem rebelde,
quando acompanhou o então jovem cunhado Roberto Hernandes, Jornalista e
radialista que também marcou época não só em Corumbá como em Campo Grande por
décadas a fio. Antes de assumir a direção do Diário de Corumbá, em 1984, Márcio foi sócio de Roberto Hernandes
no A Gazeta, sediado num prédio
solene (e centenário) situado à rua Sete de Setembro, quase esquina com a Treze
de Junho, em frente do escritório de advocacia do saudoso Advogado Joilce
Viegas de Araújo, grande Amigo e defensor incansável do querido e saudoso
Márcio Nunes Pereira.
Nestes 25 anos de saudades, muitas
transformações tecnológicas foram processadas no meio jornalístico da região,
estado, país e Planeta, mas a alma, a essência do Ofício, é o ser humano, o
Jornalista, cujo caráter e formação são fundamentais e fazem a diferença -- é
nesse sentido este tributo a um profissional de rara sensibilidade e faro
jornalístico que faz falta, sobretudo como Amigo, Humano, Cidadão e
Profissional. Como ele fez estampar como consigna abaixo da logomarca (título)
do Diário de Corumbá, “Um jornal se
mede pelas verdades que diz”.
Ahmad
Schabib Hany
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