terça-feira, 2 de agosto de 2022

25 ANOS SEM MÁRCIO NUNES PEREIRA

25 anos sem Márcio Nunes Pereira

O Jornalista Márcio Nunes Pereira, como a adivinhar que seu tempo na Terra era diminuto, fez de seu Ofício um tributo à Cidadania, à Liberdade e, sobretudo, ao Jornalismo combativo e libertário.

Neste 2 de agosto transcorrem os 25 anos sem a combatividade e a irreverência do jovial e incansável Jornalista Márcio Nunes Pereira. Depois de lutar sofregamente contra um câncer traiçoeiro, ele se eternizou numa tarde ensolarada de domingo -- uma semana antes do dia dos pais, ele que tanto amava o Paulinho, seu unigênito, fruto de seu amor com sua única Companheira de Vida, Dona Margareth Matas Pereira. Mesmo impedido de ir à redação do Diário de Corumbá, a três quadras de sua residência, ele acompanhava atentamente as edições de sua razão de ser, com a mesma importância e dignidade, aliás, com que amava a Família.

Era o ano de 1997. Ocaso do segundo milênio, limiar do terceiro. A sociedade civil, em todo o mundo, despertava para o grito uníssono de que a globalização não passava de uma fraude dos herdeiros dos saqueadores que se locupletaram com a cobiça chamada de ‘civilização’, mas que nunca passou de eufemismo, de nome bonito, para a odienta colonização, a mesma que escravizou, que esquartejou, que despojou, que espoliou, que explorou e que dizimou as verdadeiras civilizações existentes além da Europa. O Fórum Social Mundial, com a sua consigna “Um outro mundo é possível”, passava a reunir os movimentos sociais em todo o mundo, e as primeiras edições foram realizadas no Brasil.

Naquele mesmo ano, Paulo Freire, Herbert de Souza e Darcy Ribeiro se eternizaram. Até parece que esses grandes brasileiros, inclusive Márcio Pereira, sacrificaram suas Vidas a fim de assegurar uma transição, uma revolução pacífica, para uma sociedade mais justa, liberta e verdadeiramente democrática. Não demorou muito, no ano seguinte à sua eternização, Mato Grosso do Sul deu uma guinada e, para surpresa dos mais antenados, o governador eleito em 1998 era o até então deputado estadual Zeca do PT. E por pouco o Advogado Carmelino Rezende, ex-presidente da OAB e grande articulador, não se elege senador da República. Foram oito anos de governo popular que abriram caminho neste estado, herança maldita do regime de 1964, para o início de políticas públicas sociais que mudaram a face do Brasil perante o mundo até 2016, quando o golpe travestido de impeachment depôs a primeira mulher eleita e reeleita presidente do Brasil.

Márcio Nunes Pereira tinha o Jornalismo em seu DNA, pois o Pai, dono de um texto apurado e que a vida toda exercera o sagrado Ofício como assalariado em diversos jornais do então Mato Grosso uno, ao final da Vida decidira não mais escrever o que agradava aos seus patrões, inclusive os membros da UDN (União Democrática Nacional), que em Corumbá detinham o controle da linha editorial do até então mais antigo e conservador diário em circulação, O Momento, para fundar o Diário de Corumbá, “matutino noticioso e independente”, em 1969. As crônicas elegantes de ‘Tia Fifina’, por anos a principal atração das edições do jornal, eram dele, do saudoso Jornalista Carlos Paulo Pereira, fundador e primeiro diretor do emblemático diário da Rua Antônio João, no centro, ao lado da Torrefação e Moagem de Café São Paulo.

Em sua breve existência, de apenas 42 anos, Márcio não só era caracterizado pelo faro apurado de repórter incansável, combatividade, irreverência e coragem, muita coragem, mas um coração do tamanho dele, com sua estatura de atleta de basquete. Desde os tempos de jovem rebelde, quando acompanhou o então jovem cunhado Roberto Hernandes, Jornalista e radialista que também marcou época não só em Corumbá como em Campo Grande por décadas a fio. Antes de assumir a direção do Diário de Corumbá, em 1984, Márcio foi sócio de Roberto Hernandes no A Gazeta, sediado num prédio solene (e centenário) situado à rua Sete de Setembro, quase esquina com a Treze de Junho, em frente do escritório de advocacia do saudoso Advogado Joilce Viegas de Araújo, grande Amigo e defensor incansável do querido e saudoso Márcio Nunes Pereira.

Nestes 25 anos de saudades, muitas transformações tecnológicas foram processadas no meio jornalístico da região, estado, país e Planeta, mas a alma, a essência do Ofício, é o ser humano, o Jornalista, cujo caráter e formação são fundamentais e fazem a diferença -- é nesse sentido este tributo a um profissional de rara sensibilidade e faro jornalístico que faz falta, sobretudo como Amigo, Humano, Cidadão e Profissional. Como ele fez estampar como consigna abaixo da logomarca (título) do Diário de Corumbá, “Um jornal se mede pelas verdades que diz”.

Ahmad Schabib Hany

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