domingo, 1 de maio de 2022

PRIMEIRO DE MAIO EMBLEMÁTICO

Primeiro de Maio emblemático

Apesar das poucas mobilizações no Dia do Trabalhador, o Primeiro de Maio de 2022 tem caráter emblemático: de um lado, a ascensão das forças políticas proletárias no Hemisfério Sul e, do outro, a reafirmação do nazifascismo nas ex-metrópoles coloniais, que teimam em nos colonizar no rastro da globalização.

Por si só, 2022 é recheado de paradigmas. Bicentenário da Independência e constituição do Império do Brasil; centenário da Semana de Arte Moderna, importante marco de afirmação das diversas identidades deste país multifacético; cem anos do Movimento Tenentista, quando o jovem oficialato brasileiro se opôs à política ‘café com leite’ das oligarquias, que se julgavam proprietárias do país desde o golpe de 15 de novembro de 1889 (e que criou as condições para a Coluna Prestes, entre 1924 e 1928, atravessar todo o território nacional); um século da fundação do Partido Comunista do Brasil (PCB), em 1962 redefinido Brasileiro, quando da cisão com os correligionários do PCdoB, o primeiro partido político de âmbito nacional, pois todos os partidos que representavam as elites políticas eram regionais até 1945, fim do período ditatorial getulista.

O Primeiro de Maio, homenagem aos Mártires de Chicago de 1886 e cuja celebração foi permitida no Brasil só depois da Constituinte de 1945 (como toda manifestação proletária até então, era duramente reprimida pelas forças policiais), sempre foi encarado como ‘comunista’ pelas forças conservadoras. E não é diferente neste 2022, quando as forças do atraso, que ganharam fôlego a partir das mobilizações golpistas de 2013 (sob pretexto dos aumentos das passagens no eixo Rio -- São Paulo, início do ardil reacionário para criminalizar governos petistas, que desde 2003 ganharam democrática e livremente todas as eleições até 2014), abriram a caixa de Pandora e tomaram de assalto os destinos da nação.

Incapazes de conquistar pela via democrática eleitoral o maior cargo eletivo nacional, o da Presidência da República, esses covardes fascistas travestidos de patriotas de meia pataca sempre recorreram aos mais cínicos ardis, não diferentemente de hoje. A bem da verdade, jamais foram patriotas, sempre serviçais de interesses inconfessáveis: desde os tempos da colonização, seu papel subalterno para atender a tacanhos interesses dos saqueadores das riquezas nacionais, razão pela qual até hoje se sentem no direito de dispor dos recursos nacionais por serem, em sua gênese, vocacionados ao espólio e à dilapidação do patrimônio público, como se o erário lhes pertencesse.

Alguém, em sã consciência, é capaz de acreditar que aquele desmiolado galgaria ao mais importante cargo da República senão houvesse o conluio de Sérgio Moro e a corja da ‘Leva Jeito’? Além de ser uma vergonha nacional, repreendida pela Comissão de Direitos Humanos da ONU em Genebra, a farsa cometida por juizecos e promotorecos medíocres de primeira instância, useiros e vezeiros das prerrogativas constitucionais conquistadas pela grande mobilização popular que consignou na Carta de 1989 autonomia e afirmação do Ministério Público, atentou contra o Estado Democrático de Direito e infligiu uma perda abissal ao erário e às empresas nacionais de ponta, que desde a década de 1980 competem em nível de igualdade com as maiores corporações transnacionais, caso da Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, OAS, A. Gaspar, Mendes Júnior e Afonseca, além da Petrobrás e suas subsidiárias, cujo patrimônio mobiliário (convertido em ações) foi amealhado em conluio com autoridades dos Estados Unidos sem prévia autorização dos órgãos competentes do Poder Executivo do primeiro escalão.

A incompetência dos fascistas, ineptos para o exercício do poder desde sempre por puro despreparo, e a deslealdade constante de seu DNA (iguais ao escorpião, não conseguem corresponder com lealdade a seus aliados), hoje expressiva maioria da população não suporta mais seu modo entreguista de governar, com prioridade aos amos e senhores. Neste contexto de volta iminente à normalidade, as classes trabalhadoras deste país se mobilizam para a defesa e o resgate das conquistas históricas covardemente revogadas pelas hordas golpistas, incluindo o ‘brimo’ Temer e seus aliados aecistas (de Aécio, o garoto mimado que ao perder as eleições de 2014 surtou com crise de abstinência de poder ‘y otras cositas más’).

No Hemisfério Sul as forças políticas proletárias são as que retomam a iniciativa de reescrever a História, a exemplo de países como Bolívia, Peru e Chile. É claro que a cadela (com todo o respeito pelos caninos e caninas) fascista não deixa de tentar dar seu golpe, até por viver como parasitas, auferindo o maldito dinheiro do tráfico, de laranjas, das contravenções e das corporações transnacionais, a financiar os atentados criminosos. E no Hemisfério Norte, sobretudo nas antigas metrópoles coloniais, as forças fascistas retomam fôlego por conta do parasitismo desavergonhado da obtusa ‘classe mé(r)dia’, que como pêndulo oportunista vai à procura do que lhe for mais conveniente e fácil.

É hora das mais diferentes categorias profissionais, organizadas e conscientes de seu papel histórico, retomarem as lutas, sem medo da cara feia dos feitores de plantão. Não é demais lembrar que eles, os feitores, costumam amarelar ante a determinação dos trabalhadores, como no memorável ato de 1934 na Praça da Sé, em São Paulo, que entrou para a História como ‘revoada dos galinhas verdes’. Fascista não é gente, é hiena (com o devido pedido de desculpas à espécie) purulenta e abominável, quer seja no Hemisfério Sul ou no Hemisfério Norte.

Em Corumbá, em 2018, por meio de uma emblemática articulação histórica e graças à generosidade do querido e saudoso Amigo-Companheiro-Irmão-Camarada Andrés Corrales Menacho, que fez a interlocução com os representantes regionais da Central Operária Boliviana (COB), a Federação de Mulheres Bartolina Sisa, a Confederação de Docentes Urbanos e Rurais da Bolívia, a Associação dos Povos Originários do Oriente Boliviano, e os movimentos populares congêneres, foi realizado o primeiro ato internacional pelo Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, na divisa dos dois países, em Arroyo Concepción, quando a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e demais entidades congêneres marcaram uma importante fase das relações entre as organizações de trabalhadores latino-americanas, implementadas por nosso Amigo-Companheiro-Irmão-Camarada Aníbal Carlos Monzón por meio das reuniões interativas do Encontro / Encuentro durante todo o 2020.

Ouso lembrar o querido Amigo Senhor Jorge José Katurchi, devoto também de São Jorge, do alto de seus 95 anos, que recorda com nostalgia a saudação de sua conterrânea Eva Perón à classe trabalhadora no ano em que ele, jovem adulto, foi à Argentina e assistiu à memorável manifestação. Como não possuo a memória fotográfica de Seu Jorge, tomo a liberdade de adaptá-la ao contexto brasileiro: “Cabe à classe trabalhadora a iniciativa das transformações em prol de uma vida mais digna, justa e progressista, sempre organizados em suas entidades de classe. Porque o progresso de uma nação depende da saúde e da qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras.”

Ahmad Schabib Hany

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