Primeiro
de Maio emblemático
Apesar das poucas mobilizações no
Dia do Trabalhador, o Primeiro de Maio de 2022 tem caráter emblemático: de um
lado, a ascensão das forças políticas proletárias no Hemisfério Sul e, do
outro, a reafirmação do nazifascismo nas ex-metrópoles coloniais, que teimam em
nos colonizar no rastro da globalização.
Por si só, 2022 é recheado de paradigmas.
Bicentenário da Independência e constituição do Império do Brasil; centenário
da Semana de Arte Moderna, importante marco de afirmação das diversas
identidades deste país multifacético; cem anos do Movimento Tenentista, quando
o jovem oficialato brasileiro se opôs à política ‘café com leite’ das
oligarquias, que se julgavam proprietárias do país desde o golpe de 15 de
novembro de 1889 (e que criou as condições para a Coluna Prestes, entre 1924 e
1928, atravessar todo o território nacional); um século da fundação do Partido
Comunista do Brasil (PCB), em 1962 redefinido Brasileiro, quando da cisão com os correligionários do PCdoB, o
primeiro partido político de âmbito nacional, pois todos os partidos que
representavam as elites políticas eram regionais até 1945, fim do período
ditatorial getulista.
O Primeiro de Maio, homenagem aos Mártires de
Chicago de 1886 e cuja celebração foi permitida no Brasil só depois da
Constituinte de 1945 (como toda manifestação proletária até então, era
duramente reprimida pelas forças policiais), sempre foi encarado como ‘comunista’
pelas forças conservadoras. E não é diferente neste 2022, quando as forças do
atraso, que ganharam fôlego a partir das mobilizações golpistas de 2013 (sob
pretexto dos aumentos das passagens no eixo Rio -- São Paulo, início do ardil
reacionário para criminalizar governos petistas, que desde 2003 ganharam
democrática e livremente todas as eleições até 2014), abriram a caixa de
Pandora e tomaram de assalto os destinos da nação.
Incapazes de conquistar pela via democrática
eleitoral o maior cargo eletivo nacional, o da Presidência da República, esses
covardes fascistas travestidos de patriotas de meia pataca sempre recorreram
aos mais cínicos ardis, não diferentemente de hoje. A bem da verdade, jamais
foram patriotas, sempre serviçais de interesses inconfessáveis: desde os tempos
da colonização, seu papel subalterno para atender a tacanhos interesses dos
saqueadores das riquezas nacionais, razão pela qual até hoje se sentem no
direito de dispor dos recursos nacionais por serem, em sua gênese, vocacionados
ao espólio e à dilapidação do patrimônio público, como se o erário lhes
pertencesse.
Alguém, em sã consciência, é capaz de acreditar
que aquele desmiolado galgaria ao mais importante cargo da República senão
houvesse o conluio de Sérgio Moro e a corja da ‘Leva Jeito’? Além de ser uma
vergonha nacional, repreendida pela Comissão de Direitos Humanos da ONU em
Genebra, a farsa cometida por juizecos e promotorecos medíocres de primeira
instância, useiros e vezeiros das prerrogativas constitucionais conquistadas
pela grande mobilização popular que consignou na Carta de 1989 autonomia e
afirmação do Ministério Público, atentou contra o Estado Democrático de Direito
e infligiu uma perda abissal ao erário e às empresas nacionais de ponta, que
desde a década de 1980 competem em nível de igualdade com as maiores corporações
transnacionais, caso da Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, OAS, A. Gaspar,
Mendes Júnior e Afonseca, além da Petrobrás e suas subsidiárias, cujo
patrimônio mobiliário (convertido em ações) foi amealhado em conluio com
autoridades dos Estados Unidos sem prévia autorização dos órgãos competentes do
Poder Executivo do primeiro escalão.
A incompetência dos fascistas, ineptos para o
exercício do poder desde sempre por puro despreparo, e a deslealdade constante
de seu DNA (iguais ao escorpião, não conseguem corresponder com lealdade a seus
aliados), hoje expressiva maioria da população não suporta mais seu modo
entreguista de governar, com prioridade aos amos e senhores. Neste contexto de
volta iminente à normalidade, as classes trabalhadoras deste país se mobilizam
para a defesa e o resgate das conquistas históricas covardemente revogadas
pelas hordas golpistas, incluindo o ‘brimo’ Temer e seus aliados aecistas (de
Aécio, o garoto mimado que ao perder as eleições de 2014 surtou com crise de
abstinência de poder ‘y otras cositas más’).
No Hemisfério Sul as forças políticas proletárias são
as que retomam a iniciativa de reescrever a História, a exemplo de países como Bolívia,
Peru e Chile. É claro que a cadela (com todo o respeito pelos caninos e
caninas) fascista não deixa de tentar dar seu golpe, até por viver como
parasitas, auferindo o maldito dinheiro do tráfico, de laranjas, das
contravenções e das corporações transnacionais, a financiar os atentados criminosos.
E no Hemisfério Norte, sobretudo nas antigas metrópoles coloniais, as forças
fascistas retomam fôlego por conta do parasitismo desavergonhado da obtusa ‘classe
mé(r)dia’, que como pêndulo oportunista vai à procura do que lhe for mais
conveniente e fácil.
É hora das mais diferentes categorias
profissionais, organizadas e conscientes de seu papel histórico, retomarem as
lutas, sem medo da cara feia dos feitores de plantão. Não é demais lembrar que
eles, os feitores, costumam amarelar ante a determinação dos trabalhadores,
como no memorável ato de 1934 na Praça da Sé, em São Paulo, que entrou para a História
como ‘revoada dos galinhas verdes’. Fascista não é gente, é hiena (com o devido
pedido de desculpas à espécie) purulenta e abominável, quer seja no Hemisfério
Sul ou no Hemisfério Norte.
Em Corumbá, em 2018, por meio de uma emblemática
articulação histórica e graças à generosidade do querido e saudoso Amigo-Companheiro-Irmão-Camarada
Andrés Corrales Menacho, que fez a interlocução com os representantes regionais
da Central Operária Boliviana (COB), a Federação de Mulheres Bartolina Sisa, a
Confederação de Docentes Urbanos e Rurais da Bolívia, a Associação dos Povos
Originários do Oriente Boliviano, e os movimentos populares congêneres, foi
realizado o primeiro ato internacional pelo Dia do Trabalhador e da
Trabalhadora, na divisa dos dois países, em Arroyo Concepción, quando a Central
Única dos Trabalhadores (CUT) e demais entidades congêneres marcaram uma
importante fase das relações entre as organizações de trabalhadores
latino-americanas, implementadas por nosso Amigo-Companheiro-Irmão-Camarada
Aníbal Carlos Monzón por meio das reuniões interativas do Encontro / Encuentro durante
todo o 2020.
Ouso lembrar o querido Amigo Senhor Jorge José
Katurchi, devoto também de São Jorge, do alto de seus 95 anos, que recorda com
nostalgia a saudação de sua conterrânea Eva Perón à classe trabalhadora no ano
em que ele, jovem adulto, foi à Argentina e assistiu à memorável manifestação.
Como não possuo a memória fotográfica de Seu Jorge, tomo a liberdade de adaptá-la
ao contexto brasileiro: “Cabe à classe trabalhadora a iniciativa das
transformações em prol de uma vida mais digna, justa e progressista, sempre
organizados em suas entidades de classe. Porque o progresso de uma nação
depende da saúde e da qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras.”
Ahmad
Schabib Hany
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