sexta-feira, 29 de outubro de 2021

ATÉ QUANDO?

ATÉ QUANDO?

Deputado medíocre xinga Arcebispo de Aparecida, o Papa e a CNBB usando a imunidade parlamentar. Até quando tolerar as hordas neofascistas que usam o Estado de Direito para promover ofensas, ódio, intolerância e barbárie?

Desde que a lata de lixo da História foi aberta por falsos democratas e de cujo chorume saíram verdadeiros espectros fétidos de selvageria, barbárie e obscurantismo, todo dia temos exibições contrárias aos valores civilizatórios e ao Estado Democrático de Direito. Um péssimo exemplo para afoitos e velhacos que se deixam influenciar por tamanhas demonstrações de tudo que não presta.

Dia 14 último, o deputado (sic) Frederico D’Ávila (PSL-SP) - valendo-se da imunidade conquistada pelos democratas que mandaram a ditadura para onde merecia ir e fizeram constar da Carta Constitucional a garantia do exercício parlamentar como prerrogativa dos representantes do povo - foi à tribuna da Assembleia Legislativa de São Paulo para xingar o Papa Francisco, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida, com termos que ferem o decoro parlamentar, como ‘safados’, ‘vagabundos’ e ‘pedófilos’.

Neofascista destemperado, um parlamentar obscuro, valeu-se do mandato para proferir impropérios aos representantes da Igreja Católica que não pensam como as hordas que diuturnamente atentam contra a Democracia, a saúde e a Vida da população. Em vez de contra-argumentar de forma educada e inteligente (aliás, atributos que fascistas nunca tiveram, como a História prova) sobre a fala de Dom Orlando Brandes - ao observar que “pátria amada não pode ser pátria armada” -, o porta-voz das hordas fascistas defecou pela boca. Ignorou, no entanto, que o regimento interno da Assembleia Legislativa exige decoro, compostura, gesto que é passível de sanção regimental.

Sem exceção, todos os fascistas eleitos no rastro do ódio e da fraude de 2018 não têm qualificação alguma para desempenhar com dignidade e mérito a representação parlamentar. Pelo simples fato de seu despreparo consuetudinário (e até hereditário), pela óbvia razão de que na obtusa concepção fascista não há prerrogativa parlamentar - o fascismo preconiza um Estado totalitário, centralizado num Poder Executivo único e hipertrofiado, em que Judiciário e Legislativo não passam de tentáculos atrofiados da figura teocrática do ‘predestinado’ ditador.

A Igreja Católica, sobretudo desde o pontificado do Papa João XXIII, mediante a opção preferencial pelos pobres e, na América Latina, a Teologia da Libertação, deu sua indiscutível contribuição para o reconhecimento das lutas dos trabalhadores. No Brasil, a CNBB desenvolveu um protagonismo extraordinário na resistência à ditadura e no rico processo de construção do Estado Democrático de Direito (durante a elaboração da Constituição de 1988). Além disso, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento Popular de Saúde (MOPS), Movimento Educação de Base (MEB), Pastoral da Criança, Pastoral Carcerária, entre tantos outros movimentos, pastorais e conselhos mantidos pela Igreja Católica no Brasil e América Latina, são balizadores de iniciativas históricas no enfrentamento às mazelas sociais no País e todo o subcontinente sul-americano.

Não por acaso, Dom Mauro Morelli e Dom Geraldo Majella Agnelo (um dos ‘papabili’) e os saudosos Dom Hélder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Ivo Lorscheiter, Dom Aloísio Lorscheider, Dom Lucas Moreira Neves (um dos cotadíssimos ‘papabili’), Dom Avelar Brandão Vilela, Dom Pedro Casaldáliga e outros arcebispos e bispos não menos importantes têm um legado gravado na memória do Povo Brasileiro por sua solidariedade e generosidade. Eis, na verdade, a razão de tanta inveja e raiva dos mercadores da fé com sua ‘teologia da prosperidade’ (sic) e de seus comparsas fascistas, como o nefasto parlamentar paulista que, na falta de argumentos, xinga a honra de pessoas íntegras como o Papa Francisco, Dom Orlando Brandes e os membros da CNBB.

O medíocre parlamentar seguiu, obviamente, o seu líder, useiro e vezeiro de agredir, ofender e depois amarelar, como se nada tivesse feito. Como no fim de semana anterior à votação do relatório final da CPI da Pandemia, quando mentiu escandalosamente ao dizer que autoridades sanitárias da Inglaterra teriam revelado que a vacina provoca AIDS (peremptoriamente desmentido por cientistas do Reino Unido e de diversos países do mundo). O uso sistemático da mentira, para eles, é uma estratégia, modo de naturalizar e corroer as bases do Estado de Direito. Mas é preciso dar um basta contundente. Urge uma tomada firme de atitude, com o rigor de uma repreenda à altura dos propósitos nefastos desses meliantes, destituídos de qualquer empatia, dignidade e, sobretudo, cordura. Passou do tempo dessa repreenda, eloquente e definitiva.

Nunca é demais recordar a lição dada pelo movimento operário aos ancestrais desses fétidos seres, os integralistas, na Praça da Sé, em São Paulo, a 7 de outubro de 1935. O histórico fato ficou conhecido como Batalha da Sé (ou simplesmente Revoada dos Galinhas Verdes). Membros da Ação Integralista de Plínio Salgado, de inspiração fascista, em seus ternos auriverdes que lembram um canalha que virou ‘empresário’ graças aos empréstimos feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no primeiro governo de Dilma Rousseff, tomaram uma surra dos operários de São Paulo que abandonaram a praça e devem estar correndo até hoje, 87 anos depois.

Graças ao corajoso gesto dos operários do início do século XX, que não só abortaram a gênese perversa dessas hordas nas primeiras décadas do século passado e, sobretudo, se doaram generosamente para a conquista dos direitos consignados no arcabouço jurídico nacional, tanto no âmbito da legislação trabalhista como nos direitos sociais e coletivos desde então. Diverso e combativo, o movimento operário foi base firme e forte para o desenvolvimento dos movimentos sociais pós-guerra fria.

Enquanto os canalhas fascistas, neofascistas e farscistas (de fascistas farsantes, feito camaleões, ora servem à direita, outras vezes, se fingem de esquerda) fazem o serviço sujo dos interesses inconfessáveis das elites parasitas, os movimentos sociais constroem o alicerce da nova sociedade que clama por vir à luz, com sensibilidade social, cultural, ecológica, étnica, de gênero e, sobretudo, compromisso com a Vida, este bem inalienável que ninguém, absolutamente ninguém, pode amealhá-lo sob qualquer pretexto.

Ahmad Schabib Hany

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