SEU
JORGE KATURCHI, O JOVEM DE 95 ANOS
Do alto de seus 95 anos de
muito trabalho, convicções sólidas, conquistas, alegrias, tristezas e perdas
pessoais, o Patriarca da Família Katurchi nos ensina a conexão com a realidade.
Neste dia 11 celebra seu aniversário com muita lucidez e sensibilidade.
O Senhor Jorge José Katurchi celebra no mesmo dia
da divisão de Mato Grosso e criação de Mato Grosso do Sul seus 95 anos, com
lucidez invejável e sensibilidade incontida. Ele costuma se justificar a todo
interlocutor que o flagra com os olhos marejados: “Desculpe meu jeito, mas é
que sou chorão mesmo...”
Seu Jorge aportou em Corumbá aos 5 anos de idade, na
companhia de Dona Amelia Abraham Katurchi, sua saudosa Mãe, e Dona Rosa Maria
Katurchi, sua Irmã mais velha, ao encontro de Seu José Katurchi, o Pai, que se
instalara no à época próspero entreposto comercial que ligava a América do Sul
ao Mundo já com a célebre grife Casa
Katurchi, que chegou aos 90 anos de atividades ininterruptas no coração do
quadrilátero central de Corumbá, e cujo encerramento ocorreu no mesmo ano em
que o saudoso Mário Márcio Maldonado Katurchi, o filho do meio, se eternizou.
Cidadão a toda prova, apaixonado por Corumbá desde
tenra juventude: depois de ter feito o serviço militar em sua terra, a
Argentina, onde recebera propostas tentadoras, irrecusáveis, para permanecer
por lá, estava convencido de que há, sim, paraíso na Terra, e para lá teria que
retornar. E foi logo premiado com sua cara metade, a querida e saudosa Dona
Anna Thereza de Copacabana Rondon Maldonado Katurchi, Companheira de Vida, de
sonhos e de luta, Mãe de seus três Filhos -
José Eduardo, Mário Márcio e a Doutora Tereza Cristina - e parceira
incondicional em suas iniciativas cidadãs, que se eternizou em 2017.
Aluno do Colégio Salesiano de Santa Teresa, Seu
Jorge foi contemporâneo de diversos homens públicos, de diferentes posições
políticas e ideológicas: os saudosos Armando Anache, Eldo Delvizio, Walmir
Provenzano, Ney Philbois e José Mirha, entre tantos não menos importantes e
igualmente Amigos. Interessante é que, apelidado de Perón por causa da simpatia
pelo caudilho argentino (ainda que no Brasil fosse declarado apoiador da UDN do
Brigadeiro Eduardo Gomes), Seu Jorge nunca discriminou amizades de todo o
gradiente político, de dentro e fora do Brasil.
Ele conta que, recém-casado, encontrava-se em
Cáceres, terra-natal de Dona Anna Thereza, quando encontrou o Doutor José
Mirha, seu velho contemporâneo de Santa Teresa. Não pensou duas vezes para
chamá-lo pelo apelido, “Zé Borracha”. Baixinho, o velho Amigo pediu para que
guardasse o apelido, pois em Cáceres ele era Promotor de Justiça. Nada que
tivesse abalado a velha Amizade que atravessou décadas e que toda vez que o
Doutor José Mirha estava de férias aproveitava de visitá-lo e dar boas
gargalhadas.
Quando o regime de 1964 se abateu sobre a vida
nacional, o Promotor José Mirha e outros simpatizantes da esquerda da época se
viram em apuros. Diplomaticamente, bem ao seu estilo discreto mas efetivo, Seu
Jorge encontrou interlocutores que ouviram as oportunas ponderações dele em
defesa dessas pessoas de bem, punidas apenas por terem ideais diferentes dos
novos detentores do poder. Foi também o que aconteceu com o emblemático
advogado, Doutor Amorésio de Oliveira, quando esteve detido por algum tempo
assim que a ‘redentora’ foi instalada no país.
Seu Jorge sempre soube lidar com polidez e
gentileza as diferenças. Lembra com riqueza de detalhes do inesquecível
Professor Fragoso, de Matemática. Amigo de sua Família, não deixava de
frequentar a casa de Seu José e Dona Amélia. Irmão do lendário dirigente
comunista Apolônio de Carvalho, o Professor Fragoso era muito culto e
respeitador das ideias liberais de Seu Jorge, tanto que nunca o convidou a
qualquer reunião ou atividade de sua organização. Como com os anteriores, em
1964 ofereceu ajuda para poupá-lo de maiores constrangimentos.
Amigo do engenheiro Pedro Pedrossian desde os
tempos em que trabalhara na Noroeste do Brasil e periodicamente visitava sua
residência, Seu Jorge também tinha relações de Amizade com a Família do Doutor
Wilson Barbosa Martins, cassado pelo regime de 1964, e que diversas vezes
visitou ao longo de sua Vida, antes e depois do período em que teve seus
direitos políticos cassados. Tanto com Pedrossian como com o Doutor Wilson
soube manter uma relação de respeito e, sobretudo, de defesa dos interesses de
Corumbá, tanto que toda vez em que a cidade era objeto de alguma obra ou questão,
recebia emissário do governo para ouvir seu parecer.
Quando o Pacto Pela Cidadania foi constituído, em
1994 (final do governo derradeiro de Pedro Pedrossian), Seu Jorge Katurchi
desempenhou um papel estratégico na articulação com as autoridades do estado. A
pedido de Dom José Alves da Costa e do Padre Pasquale Forin, Seu Jorge se incumbiu
dos contatos preliminares, o mesmo tendo feito quando do agendamento da
caravana do Pacto em Campo Grande, já no último governo do Doutor Wilson
Barbosa Martins, cuja secretária particular era a Dona Neusa Chacha, esposa do
Professor João Jorge Chacha, ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul, primo de Seu Jorge. Humilde e discreto, manteve os contatos com
prudência e zelo, mas em Campo Grande foi centro das atenções na longa agenda
cumprida na capital.
Da mesma forma, quando o governador José Orcírio
Miranda dos Santos, o Zeca do PT, exerceu seus dois mandatos, Seu Jorge recebia
com primazia determinadas informações de interesse da região, em especial de
Corumbá. Entre as inúmeras, de cujas reivindicações foi porta-voz, o
financiamento da construção do Cristo Rei do Pantanal, por Dona Izulina Gomes
Xavier. Como o Pacto Pela Cidadania é um espaço público e não tem personalidade
jurídica constituída (CNPJ), o presidente do Lions Clube de Corumbá, o saudoso
Carlos Alberto Machado, foi o gestor dos recursos enviados pelo estado. Porém e
lamentavelmente, da placa não consta o nome de Seu Jorge, incansável e maior
articulador dessa iniciativa.
Mas como presidente desse mesmo clube de serviços,
uma década antes, e tendo como seu secretário o saudoso Professor Sérgio
Freire, Seu Jorge Katurchi foi contemplado com um diploma que é um verdadeiro
prêmio de reconhecimento internacional: o de “Presidente Cem por Cento”, obtido
num certame entre todos os Lions sediados em países de língua portuguesa, fato
que muito o lisonjeia. Como democrata, compartilha a honra ao mérito com todos
os membros de sua diretoria, cujos nomes não esquece. Uma memória privilegiada.
Aliás, u’a memória fotográfica, do alto de seus 95
anos, celebrados no mês em que a Constituição Federal de 1988 foi promulgada
(dia 5) e que hoje chega aos 33 anos; que o memorável democrata que dirigiu a
Assembleia Constituinte, Doutor Ulysses Guimarães, fazia aniversário (dia 6);
que o grande estadista brasileiro do século XXI, Luiz Inácio Lula da Silva, faz
aniversário (dia 6); que o nosso saudoso Amigo, o Padre Ernesto Sassida,
comemorava seu aniversário, no Dia dos Professores e Professoras (dia 15),
neste País-continente que tem na Educação o passaporte para a emancipação de
seu laborioso Povo hospitaleiro, que acolheu sua Família de imigrantes, como a
minha Família, cujo saudoso e querido Patriarca, Mahoma Hossen Schabib, também
celebrava seu aniversário (dia 1º).
Com a habilidade de um diplomata e a argúcia de um
político veterano, Seu Jorge tem sido um baluarte das grandes causas de Corumbá
e do Pantanal. No entanto, costuma agir com discrição, razão pela qual tem sido
vítima de uma invisibilidade injusta. Não que ele precise de holofotes, mas
perante a história e o domínio público as louváveis iniciativas por ele
protagonizadas têm que ser registradas e reconhecidas. Lembrando que sem ter
sido, ao longo de sua Vida, detentor de cargo público. É justo e necessário que
isso seja feito. Afinal, trata-se de um jovem de 95 anos, e com muita conexão
com a realidade.
Parabéns, Seu Jorge Katurchi! Vida longa e muita
saúde, que, como nunca, precisamos de sua lucidez e cosmopolitismo para assegurar
um porvir alvissareiro para as gerações futuras de corumbaenses e ladarenses,
natos ou por opção (como o Senhor), ávidos por horizontes largos e majestosos
como o Rio Paraguai, mais uma vítima da usura, cobiça e insensatez sem limites.
Ahmad
Schabib Hany
2 comentários:
Prezado amigo Schabib,
Ao término da leitura de seu maravilhoso texto, meus olhos fizeram água.
O amigo descreveu, com a elegância de suas letras, uma trajetória de honradez e ética que sempre caracterizou a vida do nosso pai, Jorge José Katurchi, e que é a nossa maior herança.
Muito, muito obrigada.
Abraços para o amigo e toda a sua querida família.
Estimada Doutora Tereza,
É uma honra privar da Amizade sincera e vibrante do grande Amigo que é Seu Jorge Katurchi (e de sua querida Família), de modo que receber mensagem da Filha que é o amálgama de um Amor emblemático e perene do Casal, que não só se completou como multiplicou a generosidade e a retidão de caráter, é um alento nestes sombrios e mesquinhos tempos.
Tomei a liberdade de dizer, dias atrás, a Seu Jorge que precisamos nos cuidar para comemorarmos os seus 100 anos, uma festa digna de um Cidadão à frente de seu tempo. Sua lucidez, conexão com a realidade e vontade de viver são o segredo de sua juventude vigorosa e salutar.
Nossa Família, sobretudo as Crianças, são seus fãs, ao extremo de chamá-lo de "Você" com a maior desenvoltura, tamanha a Amizade entre eles. Isso me entusiasma e me conforta: o entusiasmo é por conta dessa verdade; o conforto se deve à imprevisibilidade destes angustiantes momentos vividos no País, cujo Povo laborioso e hospitaleiro é a maior vítima.
A nossa esperança são as pessoas que, como Seu Jorge, têm a capacidade transformadora e a eterna chama juvenil que não cessa jamais na certeza de colher as conquistas merecidas.
Grande abraço a toda a sua querida Família!
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