“SI DE TUS
ESTUDIOS ÉSE ES EL FRUTO...”
É de causar, no mínimo, perplexidade
a desfaçatez com que o atual titular da Presidência exerce o mandato e avilta
as mais comezinhas regras impostas pela liturgia do mais alto cargo da
República.
De origem grega, o
termo energúmeno, segundo o mestre Houaiss, começou por se referir a
pessoa possessa ou possuída pelo demônio, mas com o tempo passou
a designar indivíduo que, exaltado, grita e gesticula excessivamente e,
em sentido figurado, pode ser sinônimo de indivíduo desprezível, que não
merece confiança, boçal, ignorante.
Eis que o até
pouco tempo obscuro deputado federal que poderia ser descrito por tais
atributos agora nos traz a (sic) contribuição vernacular ao insultar o
falecido educador Paulo Freire, reconhecido mundialmente por seu legado em
favor do processo civilizatório, tanto que hoje é institucionalmente Patrono da
Educação do Brasil, por meio da Lei Federal nº 12.612/2012. Lei se cumpre ou se
revoga, mas não se transgride, sob pena de se prevaricar, o que é crime.
O episódio ocorre
mal terminou de repercutir, em escala global, o estapafúrdio epíteto conferido
pelo atual inquilino do Palácio do Planalto à graciosa e admirável adolescente
sueca Greta Thunberg, de “pirralha”, durante as atividades da Conferência sobre
o Clima em Madri, Espanha (que, aliás, deveria ter sido sediada pelo Brasil, em
Salvador, Bahia, mas acabou transferida para Santiago, Chile, por decisão do então
presidente eleito, que desde sempre demonstrou ojeriza pelos temas de interesse
da humanidade, como o ambiental).
Cada qual entra, ou
não, para a História como decorrência de seus atos, ou, pior, pela ausência
deles. Jamais se esperou que alguém entrasse, como Jair Bolsonaro, pela porta
dos fundos, por causa das trapalhadas homéricas, dignas de compor uma antologia
digna dos tempos de Jeca Tatu ou de Stanislaw Ponte Preta, ambos de saudosa
memória. Não é demais lembrar o saudoso Dias Gomes e seu Odorico Paraguaçu, de O
bem-amado, que se estivesse vivo faria com que finalmente o Brasil
viesse a aquinhoar um merecido Nobel de
Literatura, baseado nas diatribes do morador de Vivendas da Barra que se mudou
de bala, digo, mala e bolsa, perdão, cuia (será que ele usa?) para o Planalto.
Sabe-se que, com
honrosas exceções, o distinto e os/as milhões de assemelhados/as não são lá
muito afeitos/as à leitura -- de mais de cinco linhas, bem entendido --, de modo
que os/as pouparei de fatos em que esse brasileiro que dignificou a humanidade
e a cristandade (ele não era comunista, ele era profundamente católico, tanto é
que deixou de trabalhar numa universidade dos Estados Unidos para atuar numa
instituição inter-religiosa vinculada à Organização das Nações Unidas).
Vejo, contudo,
necessário lembrar que a liturgia do cargo exige um comportamento à altura,
além do que não é de bom alvitre ofender a memória, isto é, insultar um morto,
sobretudo porque ele não pode se defender -- ou, como diria meu querido amigo
religioso, “o Papai do Céu pode não gostar e aí Ele manda alguém puxar sua
perna, ou alguma punição mais adequada à gravidade do insulto”... Do jeito que
o Jair é fujão (basta nos lembrarmos dos poucos debates de que participou e que
amarelava o tempo todo), vai ficar todo borrado...
O fato é que,
gostando ou não, ele vai ter que agir de acordo com a legislação e o cerimonial
para sair ileso e “bonito na foto” na embrulhada em que se meteu. Está provado
que governar não é moleza, mas se usar um pouco de, digamos, malemolência,
conseguirá ir até o último dia de seu mandato constitucional, ainda que sua
popularidade não esteja lá muito “católica” -- por conta da agenda impopular e
antinacional que escolheu sem ter sido sincero com o eleitorado.
Para concluir, vou
me reportar às geniais lições que meu saudoso Pai vivia a nos dar, geralmente por
meio de episódios que ele vivenciara ao longo de uma Vida repleta de epopeias e
graças a um olhar crítico que não deixava escapar nada. Esta é do tempo em que,
recém-chegado do Líbano, viveu na Amazônia boliviana, onde os mais aquinhoados enviavam
seus filhos à Europa para voltarem, anos depois, “doutores”. Ao chegar de avião,
diante da população, o bem alinhado recém-formado dirige-se aos pais e ao
público com um verso um tanto extravagante que concluía mais ou menos assim: "Lá está a lua, cá estão as estrelas, e eu a admirar na rua, aiaiai que belas, aiaiai que belas...”
No mesmo instante irrompe o pai visivelmente contrariado, que rouba a cena e
entra para a história: “Se de teus estudos esse é o fruto, aiaiai que bruto,
aiaiai que bruto...”
Será que os/as
eleitores/as votaram no (sic) “mito” para vê-lo debochar de adolescentes,
ofender líderes indígenas e profanar a memória de grandes personalidades? Isso
pode explicar a queda vertiginosa de seus índices de popularidade, que nem “intervenção”
reverte...
Ahmad Schabib Hany
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