ATÉ SEMPRE, SEU
REINALDO!
Por meio de dois Amigos
queridos -- Augusto Bruno Antelo e o Jornalista Adolfo Rondon Gamarra --, somente
no domingo, dia 15 de dezembro, fiquei sabendo da eternização de um Amigo muito
especial, o Senhor Reinaldo Antônio de Campos, também conhecido pelo apelido de
“Bolacha”. Um perfeito pantaneiro: senhor de estatura avantajada, comedido, de sinceridade
estonteante, fala mansa, pouca conversa (só com quem tinha muita amizade). Por
isso, eu me sentia privilegiado, pois parávamos longamente para trocar ideias, principalmente
sobre a política atual.
Foi dos Amigos
herdados de meu saudoso e querido Pai, para quem nas décadas de 1970 e 1980 fornecia
carne bovina destinada à hospedaria da família, que acolhia estudantes, pequenos
comerciantes bolivianos e, sobretudo, mochileiros dos quatro cantos do planeta.
Além da higiene e da qualidade excepcional de seus produtos, Seu Reinaldo entregava
pontualmente e na quantidade certa o que era combinado, inclusive no período da
sabotagem ao Plano Cruzado, em que filas eram formadas em todos os açougues e
casas de carne do Brasil. O famoso “Açougue Progresso” acabou suprindo a “Casa
de Carne Santa Maria”, do igualmente querido e saudoso Senhor José Aires de
Moura (eternizado há um ano), durante o período em que deixou de abater gado bovino.
Mas foi nos
últimos dois anos que nossas conversas passaram a ser mais demoradas e
interessantes. Ao saber que o Seu Reinaldo tinha participado das pesquisas
pioneiras do Projeto Radam Brasil, na década de 1960, tomei a liberdade de lhe
fazer algumas perguntas para um trabalho que precisava realizar. Prontamente me
atendeu, tendo-me fornecido dados preciosíssimos, tamanha sua conexão com os
pesquisadores belgas e alemães com quem tinha trabalhado. Revelando certo
domínio do francês, contou detalhes das viagens e dos procedimentos realizados
pelos cientistas responsáveis pelas pesquisas pioneiras do Pantanal Mato-grossense.
Segundo ele, se
não fosse o único filho homem em uma família numerosa, teria ido à Europa aprimorar
seus conhecimentos como auxiliar de pesquisa, tamanha a confiança que despertara
entre os membros dessa expedição científica, anterior à existência das
universidades públicas no antigo estado de Mato Grosso. Surpreendeu-me o grau
de interesse pelo regime hídrico e outras questões ambientais, o que ficara
consignado na troca de correspondência, que no último ano se dedicou a
destruir, pois estava profundamente decepcionado com o País, no tocante à
política ambiental e, sobretudo, sobre a perseguição política ao ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, de quem, para minha surpresa, se declarou
simpatizante -- “e não por acaso, mas por tudo que fez para a defesa da
soberania e do desenvolvimento equilibrado das regiões esquecidas, como o Centro-Oeste,
o Norte e o Nordeste”.
Em nossa
derradeira conversa, quando Lula já havia saído da cela de Curitiba, ele não
escondia seu entusiasmo: queria ver o líder das pesquisas de intenção de votos
de 2018 mobilizando o povo em defesa do pré-sal, da Amazônia, do Pantanal e,
principalmente, da Base de Alcântara, no Maranhão, cedida às forças armadas dos
Estados Unidos para um projeto, segundo parlamentares oposicionistas, secreto,
sem o necessário monitoramento pelas forças armadas brasileiras. Na verdade,
2019 foi um ano terrível para ele, e não só pelas perdas pessoais, sobretudo em
sua saúde, já bastante fragilizada por conta do diabetes, que o levou para a hemodiálise.
Profundamente solitário,
ele estava taciturno. Nem a sua “cachaça”, a política, estava sendo saudável
para ele: andava indignado, contrariando, esbravejando todo o tempo, pois não
conseguia acreditar que, em plena democracia, o eleitorado pudesse ter sido tão
manipulável. Bem informado, costumava ler as principais mídias brasileiras até
altas horas da madrugada, sempre com um olhar crítico. Ainda que na solidão,
vivia acompanhado dos clamores de seu povo, com o qual se identificava e depositava
toda a sua fé no progresso soberano deste país-continente, vítima da ganância
das potências hegemônicas e do servilismo de fantoches travestidos de
patriotas.
Até sempre, Seu Reinaldo!
Pena, mesmo, minha sobrinha jornalista não ter chegado a tempo de fazer a
entrevista sobre a qual havíamos combinado para o final deste ano, que acabou
sendo mais curto para o Senhor. Mas seu silêncio é profundamente eloquente...
Ahmad Schabib Hany
Em sua edição de 15 a 21 de dezembro de 2019, o semanário Correio de Corumbá, sob a direção do jovem Alle Yunes Solominy Neto, traz, na página 8, um obituário digno da estatura moral do Senhor Reinaldo de Campos, de autoria do Jornalista Adolfo Rondon. Ao lado o triste registro da eternização do agora saudoso Doutor Iussef Tajher Iunes. irmão dos saudosos Professor Aziz e Doutor Fadel Tajher Iunes. Disponível pelo link: <https://www.correiodecorumba.com.br/pdf/cc2969.pdf>.
Nenhum comentário:
Postar um comentário