DIA DOS DIREITOS
HUMANOS: NADA A COMEMORAR, MUITO PARA LUTAR
Neste 10 de dezembro, quando a
proclamação pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) da Declaração dos
Direitos Humanos faz 71 anos de insistente existência, não há motivos que nos levem
a comemorar. 2019 entra para a História como 1971, 1970, 1968, 1967, 1964,
1939, 1937, 1929...
A História, como a
Vida, não carece de amos e senhores. No entanto, a porção dos/as recalcados/as
da humanidade (e, triste constatação, qual família não tem recalcados/as, isto
é, pessoas ressentidas, como bem ensinou o atualíssimo Sigmund Freud, mais
conhecido como Pai da Psicanálise?) parece ter ficado hegemônica nestes tempos
nada generosos. 2019 é o “termômetro” desta tragédia humana: foram empossados/as
os/as mais bizarros/as presidentes/as, premiês, chanceleres, autoproclamados/as
e assemelhados/as, de fazer inveja a Benito Mussolini, Adolf Hitler, Francisco
Franco, António Salazar, Augusto Pinochet, Hugo Banzer, Rafael Videla, Alfredo
Stroessner, Ariel Sharon, Benjamin Netanyahu, Henry Kissinger, Lyndon Johnson,
Richard Nixon, George Bush (pai e filho), Anwar Sadat e similares.
Não sejamos
hipócritas: o fascismo, em suas mais variadas formas contemporâneas, está
disseminando ódio, intolerância, prepotência, impunidade e barbárie. Quem não
tem um/a vizinho/a, parente próximo/a ou amigo/a de infância que, de repente,
se revela um/a energúmeno/a, cego/a de recalques e tomado/a de ódio? Como
explicar um ato de desvario em que um imbecil que se diz (sic)
“apaixonado” e por isso se dá o “direito” de cravar mais de 30 facadas numa
jovem professora no dia de seu aniversário?
Dá para acreditar em
alguém que nomeia um inimigo declarado dos movimentos negros para presidir uma
fundação criada para empoderar os/as afrodescendentes, cujos/as ancestrais
foram trazidos/as à força como escravos/as e destruídas as suas famílias e
vidas? Como justificar uma sucessão de omissões institucionais que culminaram
com a interrupção de uma vida de intensa atividade de uma jovem trabalhadora da
Educação de volta para casa e na véspera de ser empossada membro titular do
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de sua
cidade, onde ela generosamente deu sincera e anonimamente o melhor de seus
dias?
Não é delírio, é
desvario, loucura... Cazuza, o roqueiro irreverente que não chegou a passar dos
30 anos, já dizia em uma de suas brilhantes composições que “meus inimigos
estão no poder”. Pois é, durante décadas (principalmente entre 1964 e 1985)
essa foi a lógica, mas a explicação era dada por conta de um regime imposto por
meio de armas e carros blindados, em que a Constituição de 1946 tinha sido
rasgada ostensivamente, em nome (toc, toc, toc!) “da moral e dos bons
costumes”. Só que acabou desgovernando para a censura, o pânico, a repressão, a
prisão sem mandado judicial, a tortura, as “operações” com grupos paramilitares
financiadas por empresários/as “patriotas”, os/as desaparecidos/as, os/as
“suicidas”.
Hoje, sem
baionetas ou blindados, recalcados/as de todos os matizes, em sua maioria com
um livro sagrado embaixo do braço, cometem blasfêmias, fornicam nos gabinetes dos
palácios legislativos, incorrem em toda forma de heresias, fazem as tais
“rachadinhas”, participam (ainda não sabemos se por ação ou por omissão) de
execuções de líderes populares, incendiam matas e campos, casas e ocas,
espancam até a morte jovens pobres negros/as das periferias (“por serem do...
diabo!”). Malditos/as, e não mitos, é o que são... Não está distante o dia em
que terão que prestar contas perante a Justiça e a História! Assim como houve o
Tribunal de Nuremberg, há e haverá muitos outros tribunais, libertos dos/as
serviçais do império decadente promovidos/as a “heróis” pela imprensa
oligárquica, aliás, a mesma que mentia durante as ditaduras de Vargas e de
1964.
Por isso, como
homenagem póstuma à trabalhadora da Educação que tombou em sua luta anônima de
décadas ao voltar para casa na véspera de sua posse no CMDCA, em vez de
comemorações, luta e luto, como forma de serem igualmente homenageados/as
todos/as os/as que, por razões não naturais, não chegaram ao final deste ano,
deixando uma lacuna irremovível de saudade, de dor mas de esperança na
humanidade. Até porque a humanidade tem jeito, os/as fantoches é que não
prestam...
Ahmad Schabib Hany
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