segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

OBRIGADO E ATÉ BREVE, DOM FRANCESCO BIASIN!

Obrigado e até breve, Dom Francesco Biasin!

A Administração Apostólica da Diocese de Santa Cruz de Corumbá, sábia e generosamente exercida por Dom Francesco Biasin, entra para a História do Pantanal, da América Latina e da humanidade pelas atitudes de empatia e humildade do Bispo Emérito de Barra do Piraí – Volta Redonda (RJ), em cuja breve estadia de pouco mais de 13 meses doou-se para grandes causas do povo pantaneiro.

Homônimo do Papa Francisco, o Administrador Apostólico nomeado pelo Sumo Pontífice para a Diocese de Santa Cruz de Corumbá por um breve período, Dom Francesco Biasin fez de seu humilde e sábio interinato fonte de oportunidades para os mais diversos setores da população pantaneira. Depois de pouco mais de 13 meses ao lado indistintamente das pessoas de todas as denominações religiosas, e sobretudo dos mais humildes, retorna para a Diocese de Barra do Piraí – Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro.

Conheci-o por acaso, nas dependências do Campus de Corumbá do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul em novembro do ano passado, quando ele foi convidado para audiência pública sobre os incêndios do Pantanal. Ele chegara segundos antes que eu e, como seus passos eram mais pausados que os meus, acabei por alcançá-lo. Cumprimentamo-nos com as mãos, como soem agir as pessoas que não padecem da paranoia pós-pandemia. Entre a portaria e o auditório do IFMS há certa distância, então pusemo-nos a dialogar, simpático e receptivo como é Dom Francesco.

Alguns passos depois, ao perceber seu discreto sotaque, atrevi-me a perguntar se estava há muito tempo em Corumbá. Foi então que, humildemente, se apresentou: estava em Corumbá como administrador apostólico da Diocese desde dezembro de 2023 e previa que em mais um par de meses já estaria retornando a Barra do Piraí, cidade que escolheu morar ao se aposentar. Disse-me admirar a exuberância do Pantanal e da diversidade reinante em Corumbá e Ladário, apesar do calor causticante e incêndios que lhe causam preocupação.

A fala de Dom Francesco na audiência pública, como convidado, foi memorável: agradeceu ao convite, à acolhida pelo povo pantaneiro e o tanto que aprendeu em seu convívio com as populações originárias e tradicionais. Revelou experiências muito interessantes quando foi bispo da Diocese de Barra do Piraí – Volta Redonda, uma região em que os trabalhadores e trabalhadores predominam as estatísticas e a história do pioneirismo da industrialização se confunde com o panorama de desmonte posterior à privatização da emblemática usina siderúrgica. Além disso, o convívio com populações originárias e tradicionais no litoral lhe proporcionou um olhar cristão com muita acuidade.

Ao se dirigir às lideranças femininas de diferentes etnias originárias presentes à audiência, citou uma experiência emblemática: o saber ancestral do povo originário precisa sempre ser levado em conta, coisa que não vem ocorrendo, sobretudo nos meios decisórios dos destinos de cidades, estados e até de nações. Foi quando relacionou com as emergências climáticas e a perda de fonte de alimento de amplas camadas da população humana e das diferentes espécies da fauna nos diferentes continentes. Uma experiência impactante que viveu no Nordeste, precisamente em Pernambuco, foi o aprendizado de uma população originária local que ensinou a população urbana a proteger as nascentes de bacias hidrográficas muito antes de que se falasse de crise hídrica.

Em companhia do Professor Thiago Godoy, seu colaborador na administração da Mitra Diocesana, Dom Francesco contribuiu afirmativamente com o Movimento UFPantanal, tendo gravado desde logo um emblemático vídeo. Nele, Dom Francesco Biasin explica como e por que apoia esta iniciativa da cidadania e, como um missionário de largos horizontes, demonstra qual a dimensão do Pantanal não apenas para quem nasceu e vive nesta região, mas para todo o Brasil e toda a humanidade. Reflexivo e profundo, o jovem octogenário se integrou ao movimento em favor da redenção da ciência e do progresso social com toda a desenvoltura cristã.

Com essa mesma humildade e sabedoria nos revelou uma série de experiências pioneiras da história da humanidade no contexto das universidades criadas na Idade Média, inclusive em sua terra natal, na Itália. Ao abrir, como anfitrião do Movimento UFPantanal, em 9 de dezembro de 2024, a primeira reunião presencial pública em Corumbá, destacou o valor humano do conhecimento e o compromisso da fé com a ciência e o progresso do bem-estar social e planetário. Dom Francesco, nascido próximo a Pádua, na Itália, com sua reflexão pausada, deu ânimo e entusiasmo aos muitos desesperançados presentes ao encontro.

Foi quando anunciou a data da vinda do novo Bispo Diocesano de Corumbá, Monsenhor João Batista de Oliveira, empossado na semana passada. Participou, segundo noticiou o Correio de Corumbá, da cerimônia de posse do Monsenhor João Batista e, com a mesma discrição com que administrou a Diocese em sua breve permanência em Corumbá, por meio de uma missa realizada na Catedral Nossa Senhora da Candelária, dia 24 de fevereiro (uma segunda-feira), se despediu do povo do coração do Pantanal e da América do Sul.

Nas poucas oportunidades -- até porque como gostaria de ter podido compartilhar muitos momentos cidadãos com ele -- que me foi possível falar com Dom Francesco, pude lembrar de experiências cidadãs dos saudosos Dom José Alves da Costa (outro Peregrino cujas pegadas de luz e solidariedade marcaram sua permanência entre nós), Padre Pasquale Forin, Padre Ernesto Saksida, Padre Oswaldo Scotti, bem como do Pastor Antônio Ribeiro de Souza e do Pastor Cosmo Gomes de Souza. Pois é, a terra que testemunhou a pugna de Frei Mariano de Bagnaia, diferentemente da fakenews criada para hostilizá-lo, é a prova eloquente da generosidade e empatia de sacerdotes que dedicam sua existência para a redenção do bioma e das populações hospitaleiras nele abrigadas ao longo da história.

Obrigado, Dom Francesco, pela profícua dedicação e humildade em sua breve mas proativa presença em Corumbá e Ladário! Obrigado, também, por ter-se tornado atuante difusor da pugna incansável pela Universidade Federal do Pantanal! Até breve, Dom Francesco, que seu legado de sabedoria e doação estará representado nas conquistas da cidadania no coração do Pantanal e da América do Sul!

Ahmad Schabib Hany

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