Obrigado
e até breve, Dom Francesco Biasin!
A Administração Apostólica da
Diocese de Santa Cruz de Corumbá, sábia e generosamente exercida por Dom Francesco
Biasin, entra para a História do Pantanal, da América Latina e da humanidade
pelas atitudes de empatia e humildade do Bispo Emérito de Barra do Piraí –
Volta Redonda (RJ), em cuja breve estadia de pouco mais de 13 meses doou-se para grandes
causas do povo pantaneiro.
Homônimo do Papa Francisco, o Administrador
Apostólico nomeado pelo Sumo Pontífice para a Diocese de Santa Cruz de Corumbá
por um breve período, Dom Francesco Biasin fez de seu humilde e sábio
interinato fonte de oportunidades para os mais diversos setores da população
pantaneira. Depois de pouco mais de 13 meses ao lado indistintamente das
pessoas de todas as denominações religiosas, e sobretudo dos mais humildes, retorna
para a Diocese de Barra do Piraí – Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro.
Conheci-o por acaso, nas dependências do Campus de
Corumbá do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul em novembro do ano passado,
quando ele foi convidado para audiência pública sobre os incêndios do Pantanal.
Ele chegara segundos antes que eu e, como seus passos eram mais pausados que os
meus, acabei por alcançá-lo. Cumprimentamo-nos com as mãos, como soem agir as
pessoas que não padecem da paranoia pós-pandemia. Entre a portaria e o
auditório do IFMS há certa distância, então pusemo-nos a dialogar, simpático e
receptivo como é Dom Francesco.
Alguns passos depois, ao perceber seu discreto
sotaque, atrevi-me a perguntar se estava há muito tempo em Corumbá. Foi então
que, humildemente, se apresentou: estava em Corumbá como administrador
apostólico da Diocese desde dezembro de 2023 e previa que em mais um par de meses já
estaria retornando a Barra do Piraí, cidade que escolheu morar ao se aposentar.
Disse-me admirar a exuberância do Pantanal e da diversidade reinante em Corumbá
e Ladário, apesar do calor causticante e incêndios que lhe causam preocupação.
A fala de Dom Francesco na audiência pública, como
convidado, foi memorável: agradeceu ao convite, à acolhida pelo povo pantaneiro
e o tanto que aprendeu em seu convívio com as populações originárias e
tradicionais. Revelou experiências muito interessantes quando foi bispo da
Diocese de Barra do Piraí – Volta Redonda, uma região em que os trabalhadores e
trabalhadores predominam as estatísticas e a história do pioneirismo da
industrialização se confunde com o panorama de desmonte posterior à
privatização da emblemática usina siderúrgica. Além disso, o convívio com
populações originárias e tradicionais no litoral lhe proporcionou um olhar
cristão com muita acuidade.
Ao se dirigir às lideranças femininas de diferentes
etnias originárias presentes à audiência, citou uma experiência emblemática: o
saber ancestral do povo originário precisa sempre ser levado em conta, coisa
que não vem ocorrendo, sobretudo nos meios decisórios dos destinos de cidades,
estados e até de nações. Foi quando relacionou com as emergências climáticas e
a perda de fonte de alimento de amplas camadas da população humana e das
diferentes espécies da fauna nos diferentes continentes. Uma experiência
impactante que viveu no Nordeste, precisamente em Pernambuco, foi o aprendizado
de uma população originária local que ensinou a população urbana a proteger as
nascentes de bacias hidrográficas muito antes de que se falasse de crise
hídrica.
Em companhia do
Professor Thiago Godoy, seu colaborador na administração da Mitra Diocesana,
Dom Francesco contribuiu afirmativamente com o Movimento UFPantanal, tendo
gravado desde logo um emblemático vídeo. Nele, Dom Francesco Biasin explica
como e por que apoia esta iniciativa da cidadania e, como um missionário de
largos horizontes, demonstra qual a dimensão do Pantanal não apenas para quem
nasceu e vive nesta região, mas para todo o Brasil e toda a humanidade.
Reflexivo e profundo, o jovem octogenário se integrou ao movimento em favor da
redenção da ciência e do progresso social com toda a desenvoltura cristã.
Com essa mesma humildade e sabedoria nos revelou
uma série de experiências pioneiras da história da humanidade no contexto das
universidades criadas na Idade Média, inclusive em sua terra natal, na Itália.
Ao abrir, como anfitrião do Movimento UFPantanal, em 9 de dezembro de 2024, a primeira reunião
presencial pública em Corumbá, destacou o valor humano do conhecimento e o
compromisso da fé com a ciência e o progresso do bem-estar social e planetário.
Dom Francesco, nascido próximo a Pádua, na Itália, com sua reflexão pausada,
deu ânimo e entusiasmo aos muitos desesperançados presentes ao encontro.
Foi quando anunciou a
data da vinda do novo Bispo Diocesano de Corumbá, Monsenhor João Batista de
Oliveira, empossado na semana passada. Participou, segundo noticiou o Correio
de Corumbá, da cerimônia de posse do Monsenhor João Batista e, com a mesma
discrição com que administrou a Diocese em sua breve permanência em Corumbá,
por meio de uma missa realizada na Catedral Nossa Senhora da Candelária, dia 24
de fevereiro (uma segunda-feira), se despediu do povo do coração do Pantanal e
da América do Sul.
Nas poucas oportunidades
-- até porque como gostaria de ter podido compartilhar muitos momentos cidadãos
com ele -- que me foi possível falar com Dom Francesco, pude lembrar de
experiências cidadãs dos saudosos Dom José Alves da Costa (outro Peregrino
cujas pegadas de luz e solidariedade marcaram sua permanência entre nós), Padre
Pasquale Forin, Padre Ernesto Saksida, Padre Oswaldo Scotti, bem como do Pastor
Antônio Ribeiro de Souza e do Pastor Cosmo Gomes de Souza. Pois é, a terra que
testemunhou a pugna de Frei Mariano de Bagnaia, diferentemente da fakenews criada para hostilizá-lo, é a prova
eloquente da generosidade e empatia de sacerdotes que dedicam sua existência
para a redenção do bioma e das populações hospitaleiras nele abrigadas ao longo
da história.
Obrigado, Dom Francesco, pela profícua dedicação e
humildade em sua breve mas proativa presença em Corumbá e Ladário! Obrigado,
também, por ter-se tornado atuante difusor da pugna incansável pela
Universidade Federal do Pantanal! Até breve, Dom Francesco, que seu legado de
sabedoria e doação estará representado nas conquistas da cidadania no coração
do Pantanal e da América do Sul!
Ahmad
Schabib Hany
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