Como uma universidade pode mudar o curso da história de uma região
Começo com uma breve história para ilustrar como ações aparentemente localizadas podem gerar transformações profundas em diversas esferas da sociedade, incluindo cultura, economia e meio ambiente. Esse é exatamente o caso da UFPantanal. Um exemplo inspirador é a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), cuja presença impulsionou o desenvolvimento de Dourados e de toda a região ao seu redor. Da mesma forma, a criação da UFPantanal tem o potencial de impactar não apenas Corumbá e Ladário, mas toda a região de fronteira e o Pantanal como um todo.
Em 1995,
um pequeno grupo de 14 lobos foi reintroduzido no Parque Nacional de
Yellowstone, nos Estados Unidos, após mais de 70 anos de ausência devido à caça
e ao extermínio sistemático que os erradicou da região na década de 1920. O que
ninguém poderia prever é que essa reintrodução causaria uma verdadeira
revolução no ecossistema. Os lobos não apenas transformaram profundamente o
ambiente natural, mas também alteraram a geografia do parque, demonstrando o
impacto extraordinário de uma única ação sobre todo um sistema.
Os lobos
estiveram ausentes da região por 70 anos devido à caça e ao extermínio. Durante
essas décadas, o número de cervos cresceu de forma descontrolada, resultando na
devastação de grandes áreas vegetativas do parque. Árvores e arbustos
desapareceram, e a biodiversidade da região foi significativamente reduzida. O
impacto foi tão severo que não apenas o ecossistema sofreu, mas até o curso dos
rios do parque foi alterado devido à erosão acentuada.
Com a
reintrodução dos lobos, mesmo em pequena quantidade, os efeitos são percebidos
quase imediatamente. Os cervos, ao evitar regiões onde poderiam ser presas
simples, permitiram que áreas antes degradadas se regenerassem. As árvores
cresceram novamente, a vegetação rasteira ficou mais densa, e o parque
gradualmente retomou sua vitalidade. Essa regeneração atraiu castores, que
construíram diques e novos habitats de sucesso. Em pouco tempo, lontras, ratos,
patos, peixes, anfíbios e aves reapareceram, criando um ciclo virtuoso de
biodiversidade. Além da redução no número de cervos, os lobos ajudaram a
controlar a população de coiotes, permitindo o retorno de pequenos mamíferos,
como coelhos e camundongos, que, por sua vez, atraíram predadores como corujas,
águias e raposas. Ursos também retornaram à região, atraídos pelo aumento da
oferta de alimentos, como peixes e bagos, disponíveis em ambientes
revitalizados.
As
mudanças foram além. Mais piscinas naturais se formaram, cascatas surgiram, e
todas as mudanças foram ótimas para aquele habitat selvagem. As águas mudaram e
se adaptaram em resposta aos lobos, e a razão foi que a regeneração da floresta
estabilizou os rios, fixando-os em seus cursos. Assim, os lobos não apenas
transformaram o ecossistema do Parque Nacional de Yellowstone, mas também
influenciaram diretamente sua geografia.
Quero usar
essa pequena história para ilustrar como ações aparentemente localizadas podem
desencadear transformações profundas em diferentes esferas da sociedade, como
cultura, economia, meio ambiente e outras. A criação de uma nova
universidade é um exemplo claro de como uma decisão estratégica pode gerar
repercussões amplas e estruturantes. Mais que uma medida para corrigir
desigualdades regionais, esta iniciativa tem o potencial de redefinir a relação
entre conhecimento, inovação e sustentabilidade, tornando-se um motor de
crescimento econômico, um farol de inclusão social e uma resposta eficaz aos
desafios do século XXI. Ao reunir ensino, pesquisa e extensão em um bioma de
importância global como o Pantanal, esta universidade não apenas preencherá
lacunas históricas no acesso à educação de qualidade, mas também promoverá
iniciativas de preservação ambiental, fortalecerá a economia local e promoverá
a integração latino-americana, ampliando seus impactos muito além de sua região
de origem.
Como motor
econômico, a universidade será uma grande empregadora e centro de formação de
profissionais, estimulando a economia local e regional. Sua atuação
influenciará investimentos em setores estratégicos, como turismo sustentável,
biotecnologia e energias renováveis, com impacto direto no desenvolvimento
regional. Projetos de infraestrutura, como a construção de campus universitário
moderno, bibliotecas, laboratórios e espaços culturais, revitalizarão cidades e
regiões adjacentes, promovendo práticas de sustentabilidade e remodelando o
território com uma identidade renovada.
Uma nova
universidade também desempenhará um papel essencial na atração e retenção de
talentos. Professores, pesquisadores e estudantes de diferentes partes do
Brasil e do mundo trarão diversidade intelectual e cultural para a região,
promovendo uma troca de conhecimentos e fortalecendo a posição da região como
um centro de inovação e aprendizado. Além disso, ela se conectará a redes
globais de conhecimento, estabelecendo parcerias internacionais, programas de
mobilidade acadêmica e colaborações científicas que ampliarão a presença do
Brasil no cenário internacional.
Como um
centro de pesquisa e extensão, a universidade estará voltada para os desafios
sociais e ambientais contemporâneos. Ela produzirá evidências robustas para
desenvolver políticas públicas inovadoras e desenvolverá soluções sustentáveis
para problemas como mudanças climáticas, conservação da biodiversidade,
inclusão social e desenvolvimento sustentável. Além disso, será um espaço de
integração entre ciência e sociedade, contribuindo diretamente para o progresso
da região e a qualidade de vida das comunidades locais.
A criação
de uma terceira universidade federal em Mato Grosso do Sul não é apenas uma
necessidade local, mas uma oportunidade de transformar a região do Pantanal em
um modelo de desenvolvimento sustentável e integração global. Esse passo
representará um marco histórico na promoção da igualdade educacional e no
fortalecimento da posição do Brasil como líder em inovação, sustentabilidade e
inclusão social. Unidos, podemos transformar essa visão em realidade e deixar
um legado duradouro para as futuras gerações.
Assim, a
UFPantanal terá um papel fundamental em pelo menos cinco dimensões
estratégicas, consolidando-se como um exemplo de como a educação superior pode
transformar não apenas uma região, mas também contribuir para o progresso de
todo o país, posicionando Mato Grosso do Sul em um patamar de maior igualdade
com outros estados que já colheram os frutos de investimentos robustos na
educação pública.
1.
Um
motor econômico para a região
As
universidades são motores econômicos poderosos, e a UFPantanal não será
diferente. Como grande empregadora e centro de formação profissional, a
universidade estimulará a economia local e regional ao gerar empregos diretos e
indiretos, desde funções acadêmicas até serviços e infraestrutura de apoio.
Além disso, suas parcerias com o setor público e privado impulsionarão
indústrias estratégicas, como turismo sustentável, biotecnologia e energias
renováveis. Exemplo disso pode ser observado em experiências internacionais,
como as universidades de Londres, que contribuíram com bilhões de libras e
dezenas de milhares de empregos para a cidade. Resguardadas as proporções, a
UFPantanal terá impacto semelhante no Pantanal, integrando inovação e
crescimento econômico.
2.
Transformação
urbana e regional
A UFPantanal
será um agente de transformação urbana e regional. Projetos de infraestrutura
como a construção do campus, laboratórios, bibliotecas e espaços culturais e
esportivos revitalizarão Corumbá e cidades vizinhas. Além disso, a universidade
incentivará práticas de sustentabilidade, remodelando o território com uma
identidade cívica renovada e incentivando o uso de espaços abertos à
comunidade. Essa transformação tornará o Pantanal um modelo de convivência
harmoniosa entre o ambiente urbano e o natural.
3.
Atração
e retenção de talentos
A
UFPantanal terá a capacidade de atrair talentos nacionais e internacionais.
Professores, pesquisadores e estudantes vindos de diversas partes do Brasil e
do mundo contribuirão para a diversidade intelectual e cultural da região. Este
movimento trará uma nova dinâmica à vida social e econômica local, incentivando
a troca de conhecimentos e fortalecendo a reputação de Mato Grosso do Sul como
um centro de inovação e aprendizado.
4.
Conexões
e diplomacia internacional
A
UFPantanal será mais que uma universidade local; será um ponto de integração
latino-americana e de construção de relações internacionais. Parcerias com
instituições estrangeiras, programas de mobilidade acadêmica e colaborações
científicas globais ampliarão a presença do Brasil no cenário internacional,
promovendo o Pantanal como patrimônio da humanidade. A universidade será espaço
de “diplomacia suave”, formando lideranças globais e conectando o Pantanal às
principais redes de conhecimento do mundo.
5.
Resposta
aos desafios sociais e ambientais
A
UFPantanal será centro de pesquisa e extensão voltado para enfrentar desafios
sociais e ambientais. Questões como mudanças climáticas, conservação da
biodiversidade, inclusão social e desenvolvimento sustentável estarão no cerne de
suas atividades. A universidade, ao produzir evidências robustas, apoiará
políticas públicas inovadoras e fortalecerá as comunidades locais, promovendo
soluções sustentáveis e duradouras.
A criação
da UFPantanal não é apenas um passo no avanço da educação superior no Brasil,
mas um movimento estratégico para transformar a região do Pantanal em um modelo
de desenvolvimento sustentável e integração global. Unidos, podemos fazer da
UFPantanal um marco histórico e um legado de progresso para as próximas gerações.
Hélvio
Rech
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