quinta-feira, 26 de setembro de 2024

UM ANO DE GENOCÍDIO

Um ano de genocídio

Dia 7 de outubro completa-se o primeiro ano de genocídio com cobertura em tempo real da população de Gaza, que se estendeu à Cisjordânia e a Jerusalém, capital milenar da Palestina. Certos da impunidade, os sionistas agora concentram seus odientos esforços contra a população libanesa e já ameaçam a Síria e o Irã como próximos alvos de seu desvario hegemônico-colonial.

Um ano atrás, em 7 de outubro de 2023, o mundo se deparou com mais um cenário de horrores, atribuído de imediato à resistência palestina, precisamente aos combatentes do Hamas e de seus aliados de outras organizações legítimas, chamadas pelo establishment ocidental (leia-se sionista) de ‘terroristas’. Árabes, dentro e fora dos territórios tomados pelos sionistas desde 1947, comemoravam a retaliação do Hamas, que havia burlado toda a parafernália tecnológica conhecida como ‘Domo de Ferro’, até então tida como invicta.

Mantida em absoluto sigilo, a operação ‘Tempestade Al-Aqsa’ consistiu em transpor as muralhas e todo o aparato tecnológico de última geração de um dos maiores e mais corruptos exércitos do planeta, numa afronta à propaganda sionista, de que seria intransponível e inviolável o território usurpado pelos sionistas, a maior parte à revelia da própria ONU que criou esse mostrengo em 1947 e lhe deu reconhecimento como Estado em 1948, mesmo sem ter sido criado o Estado remanescente da Palestina. As ‘armas’ usadas pelos combatentes foram parapente comum, que levou dezenas de guerrilheiros para o ‘outro lado’ das muralhas e, no interior do território contíguo ao de Gaza, fazer o maior número de reféns nas unidades militares instaladas na região, pois eles estavam em um feriado judaico, o ‘Yom Kipur’.

No entanto, as forças sionistas de dentro e fora do território palestino usurpado desde 1947 criaram um cenário de horrores para desviar o foco do vexame histórico sofrido para um grupo de combatentes corajosos mas precariamente armados. Assim, partiram para uma operação desesperada de assassinar com requintes de crueldade seus cidadãos para atribuir a autoria aos guerrilheiros, fato denunciado por autênticos Jornalistas em diversos meios independentes em todo o mundo. O desmentido fez os aliados dos sionistas balançar em seu apoio incondicional ao ente sionista, e tomar mais cuidado com o atual dirigente, um inominável ultradireitista que exala enxofre por onde vai.

Como em 2001, no terrível atentado às Torres Gêmeas, usaram todas as mídias de que dispõem para atribuir à Resistência Palestina o verdadeiro terror praticado contra seus próprios nacionais. E não é primeira vez que essa tática é utilizada pelas chamadas Forças de Defesa [quando na verdade são forças de terrorismo e agressão qualificada, com DNA nazifascista] do Estado sionista: em 2000/2005, durante a invasão ao Líbano, quando as forças da Resistência Libanesa Hezbollah repeliram exemplarmente as forças sionistas, imagens de horror com as mesmas características circularam pelo mundo afora a fim de impingir aos combatentes libaneses essa prática terrorista.

Orquestrados, os líderes políticos do ocidente, uníssona e levianamente, se apressaram a sancionar palestinos, libaneses, sírios, iranianos e iemenitas (os hutis, isto é, militantes do Ansar Allah, seguidores de Hussein Badreddin Al-Houthi, morto pelo exército do Iêmen em 2004). Desde outubro de 2023, ser árabe ou ser solidário à legítima luta do heroico Povo Palestino é objeto de retaliação e de campanhas difamatórias. Até profissionais de longa trajetória, como o Jornalista José Arbex e o Jornalista Breno Altman (de ascendência judaica), já se viram às voltas com acusações de ‘antissemitismo’ e similares, por pura retaliação, para intimidá-los.

Desqualificar profissionais sérios e comprometidos com a ética jornalística é a mais reles das táticas do nazifascismo desde os tempos de seus ídolos inomináveis nos conturbados anos que antecederam a eclosão da Segunda Guerra Mundial, no chamado período entre guerras, de 1918 a 1939. Eles aprimoraram o modus operandi, mas o propósito funesto é o mesmo, de modo a criminalizar, a anular, a dar morte civil a quem ousa atrapalhar seus nada honestos interesses. Durante as ditaduras militares fascistoides da segunda metade do século XX essas mesmas estratagemas foram reeditados sordidamente e não só a dignidade de pessoas de reputação ilibada como a sua própria vida foram ceifadas vil e cinicamente.

Em nome de uma cínica e sórdida ‘defesa’, com contornos inegáveis de guerra de terra arrasada, nos moldes da praticada pelos generais de Hitler e Mussolini antes e durante a Segunda Guerra Mundial, o carniceiro da Palestina (porque Gaza, Cisjordânia e Jerusalém são hoje e serão sempre a Palestina milenar) já matou mais de 137 mil de seres humanos indefesos e inofensivos -- bebês, crianças, adolescentes, mulheres, idosos e mutilados --, além de mais de dez mil desaparecidos, de ter mutilado e ferido sem qualquer lampejo de compaixão dezenas de milhares de palestino e destruído hospitais, escolas, centros de refugiados, mesquitas e igrejas, ambulâncias, depósitos de material de primeiros socorros e sem poupar a infraestrutura urbana (reservatórios de água potável, usinas termelétricas a diesel, redes de telecomunicação e internet, mais urgentes em momentos álgidos como o genocídio).

Em franca decadência, os países autoproclamados ‘democráticos’ -- neocoloniais, na verdade, eis que para estancar sua decadência explícita vivem a cobiçar as reservas de recursos minerais e genéticos de países do Hemisfério Sul --, sem qualquer discrição, comedimento ou comiseração, mostraram sua mais nefasta face e hipotecaram total apoio ao genocídio cometido mais uma vez contra o povo palestino, desta vez na Faixa de Gaza (41km de largura e 10km de comprimento), onde dois milhões e duzentos mil habitantes vivem em uma área equivalente a um quarto da cidade de São Paulo.

O apoio acintoso do governo dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia estimulou o governo sionista a expandir suas agressões ao território do Líbano nas últimas semanas. Iniciadas com explosões simultâneas de dispositivos eletrônicos ‘envenenados’ do tipo ‘pagers’ e ‘walkie-talkies’, nos dias 17 e 18 de setembro, incursões de aviões militares com mísseis aterrorizaram a população civil em bairros residenciais de Beirute e outras cidades do Líbano. A utilização de dispositivos eletrônicos, usados pela população em larga escala, como armas de guerra viola a Convenção de Genebra, uma das mais elementares para demarcar os limites das ações militares em conflagrações bélicas.

Além das 30 vítimas fatais e mais de quatro mil feridos na primeira semana, por causa das explosões de dispositivos eletrônicos e incursões aéreas em regiões densamente povoadas, informações do Ministério da Saúde do Líbano dão conta de que até metade da semana derradeira de setembro são quase seiscentos mortos (mais de 50 crianças e quase 100 mulheres), pelo menos dois brasileiros adolescentes, e mais de dois mil feridos, muitos em estado grave e com a intensificação dos ataques aéreos ficou impraticável o traslado de feridos com maior gravidade a centros médicos mais completos.

O gabinete ministerial do Carniceiro de Gaza -- ou melhor, Carniceiro da Palestina -- já deixou patente sua decisão de dar continuidade ao projeto de colonização total da Arábia a começar pela região próxima ao território usurpado da Palestina em 1987: Líbano, Síria [Iraque está colonizado pelo ocidente desde 2005], Iêmen e, quando for possível, o Irã [tido como a joia da coroa pelos sionistas, sobretudo depois do triunfo da Revolução Islâmica em 1978], que, aliás, nunca esconderam seus nada generosos propósitos ao se estabelecerem à força na Palestina milenar, desde fins da década de 1890.

No momento em que faço este texto, a incansável Jornalista (e jovem promessa) Nathalia Urban, do Portal de Notícias 247, se eterniza depois de tentar resistir ao politraumatismo que a acometera ao sofrer uma queda nas imediações de Edimburgo, capital da Escócia. Sua trágica partida ocorre no momento em que iniciava nova fase em sua Vida, com planos para a maternidade e com intensa felicidade. Perda irreparável não só para o Jornalismo autêntico, mas para a resistência ao fascismo, para a Causa Palestina, para a Unidade Latino-americana e, sobretudo, para a humanidade, tamanha a qualidade humana dessa profissional que se tornou membro de todas as famílias dos que se informavam por meio de seu marcante modo de analisar e interpretar a complexa realidade.

E na véspera do primeiro ano desta que é a maior tragédia da Nakba para a população da Palestina em diáspora desde 1948, dentro e fora dos territórios milenares, o transcurso de mais um aniversário de nascimento, o primeiro desde sua eternização em 22 de outubro de 2023, do querido e saudoso Amigo Jadallah Safa. Com ele, na década de 1980, fizemos importantes atos que entraram para a história de Corumbá como da Resistência Palestina: ciclo de debates em escolas públicas e privadas sobre o chamado Mundo Árabe e Palestina; I Mostra da Cultura Árabe-Palestina, Casa de Cultura Luiz de Albuquerque, importante parceria entre a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, por meio da Biblioteca Pública Estadual Dr. Gabriel Vandoni de Barros, gerida pela Professora Elenir Machado de Mello (querida Lena), que levou mais de dois meses para ser organizada e outros três de visitação, entre julho e setembro de 1987; e a criação do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino Jadallah Suleiman Safa [homenagem à sua memória], em 27 de novembro de 1987, no auditório do Centro Universitário de Corumbá, com a participação do saudoso Doutor Roberto Moaccar Orro, Secretário de Estado de Justiça; da saudosa Jornalista Margarida Gomes Marques, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul; da Jornalista Maria Helena Brancher, do Grupo de Apoio aos Povos Indígenas (GAIN-MS); do Professor Valmir Batista Corrêa, representando a Diretora Gisela Levatti Alexandre; o Doutor Lécio Gomes de Souza, o Poeta Rubens de Castro e a Professora Elenir Machado de Mello, pela Casa de Cultura Luiz de Albuquerque, além dos Companheiros Maurício Lopo Vieira e Manoel do Carmo Vitório, da Unidade Regional do Trabalho. Camarada Jadallah, sempre presente!

Ahmad Schabib Hany

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