quarta-feira, 22 de maio de 2024

NA RESISTÊNCIA E NA VIDA

Na resistência e na Vida

Os queridos Amigos Valmir Corrêa e Rubén Darío resistem bravamente às vicissitudes da Vida, e por eles há uma grande corrente de vibrações positivas, preces e orações das mais diferentes denominações religiosas. Nossa sincera e intensa torcida pela Vida desses queridos Amigos-Irmãos.

Esta semana foi de muita perplexidade, ansiedade e esperança, muita esperança. Feliz e graciosamente, Amigos de diferentes denominações religiosas em diversas cidades e países se mobilizaram para intensificar a corrente de vibrações positivas, preces e orações pela saúde de dois Amigos (com letra maiúscula) que se confundem com a História e a Cultura de nossa Corumbá cosmopolita. O Professor Valmir Batista Corrêa, pesquisador da História Regional que sistematizou com pioneirismo em nosso glorioso CEUC (hoje CPAN/UFMS) e iniciou a luta pelo tombamento do patrimônio histórico-arquitetônico regional, e o Artista Plástico Rubén Darío Román Áñez, cujo talento multidisciplinar não só produziu telas em diferentes técnicas de excelência como escreveu poemas e textos arrebatadores, além de música de excelente qualidade e peças teatrais memoráveis.

Corumbá tem essa característica, de cosmopolitismo e pioneirismo. No início da década de 1970, o recém-formado bacharel e licenciado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Valmir Corrêa veio de mudança com sua Companheira de Vida e de Ofício Professora Lúcia Salsa Corrêa para literalmente fazer História: não apenas sistematizaram o processo de pesquisa da História Regional como contribuíram para que o curso de licenciatura, dos primeiros a serem oferecidos pelo então Instituto Superior de Pedagogia de Corumbá (depois Centro Pedagógico de Corumbá, vinculado à Universidade Estadual de Mato Grosso, UEMT), tivesse uma grade curricular do mesmo nível que centros situados no chamado eixo Rio - São Paulo. Não se limitaram a apenas estudar, mas a lutar por uma série de questões fundamentais, como a conservação do patrimônio histórico e arquitetônico do Casario do Porto e de seu entorno e a valorização de um conjunto de tradições culturais, como o siriri, o cururu e o São João, por meio de sua melhor Aluna e Amiga, a saudosa Professora Eunice Ajala Rocha, cuja dissertação de mestrado, sob a co-orientação do casal Corrêa, é pioneira na pesquisa e valorização dessas manifestações populares tradicionais.

Essa mesma Corumbá cosmopolita tem outro protagonista igualmente gigante e pioneiro em diversas áreas das artes. O então jovem Artista Plástico Rubén Darío Román Áñez, cujo Pai, o saudoso e querido Señor Rubén Darío Román Vaca (ex-chefe da Estação Ferroviária da Bolívia em Corumbá), escolhera Corumbá como asilo político por conta da perseguição aos simpatizantes e dirigentes do Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR) durante o ciclo de ditaduras militares na Bolívia. Não sei como Rubén Darío conhecera meu saudoso Irmão Mohamed, por meio de quem tive, ainda garoto, o privilégio de conviver com Rubén Darío, que além de talentoso Artista Plástico, é poeta, escritor e dramaturgo. Como o meu Irmão se eternizou em 1974, não pude continuar naquela época a ver Rubén Darío, mas por meio de meu saudoso Pai, que recorria a ele para as traduções de inúmeros artigos seus ao português, sempre estava em contato, bastante breves, mas frequentes.

Conheci o Professor Valmir em 1975, creio que no mês de junho, quando o procurei por causa de uma enquete que precisávamos realizar sobre a opinião do jovem corumbaense e ladarense sobre a divisão de Mato Grosso. Precisávamos que alguém fizesse uma crítica ao nosso questionário, e o saudoso Professor Octaviano Gonçalves da Silveira Junior, nosso orientador no jornal estudantil que tentamos implantar na Escola Estadual Julia Gonçalves Passarinho, nos indicou o Professor Valmir, no então Centro Pedagógico de Corumbá. [Para o leitor ficar sabendo, mais de 85% dos entrevistados foram contrários à divisão do estado.] Foi como nossa Amizade (dessas com letra maiúscula) começou, pois logo depois estivemos juntos em sua incompreendida luta pela preservação de verdadeiros expoentes do apogeu arquitetônico de Corumbá, como a sede da antiga Intendência Municipal, o imponente prédio do Cine Santa Cruz e o prédio da Rádio Difusora Mato-grossense S/A, acintosamente demolidos. Ele, de início, me disse que o nome dele é Valmir, Professor é o ofício, e que o chamasse pelo nome -- isso permitiu que nossa Amizade fosse sincera e que lhe desse minha opinião, que nem sempre era compatível com a dele.

Nosso reencontro com Rubén Darío foi quando o Irmão Ruberth e eu fomos selecionados como estagiários da extinta TELEMAT, sob a gerência do Senhor Getúlio Antônio Pereira, e integrávamos uma equipe de cinco universitários para a tarefa prioritária de preparar e depois realizar uma pesquisa de campo sobre linhas telefônicas do subdistrito de Corumbá (portanto, Corumbá e Ladário), uma experiência memorável que repeti em Campo Grande com universitários da capital. Durante o tempo em que estagiamos, ora o Ruberth visitava a casa de meus Pais, ora eu visitava a casa dos Pais dele, e nessas idas e vindas acabei reencontrando Rubén Darío, minha querida Professora Roma e, obviamente, Don Rubén Darío e Señora Daisy Áñez de Román. Creio que desde então não mais nos perdemos de vista, nem quando foi morar em Curitiba por alguns anos: em sua passagem por Campo Grande, ele dera uma longa entrevista aos Jornalistas Edson Moraes e Margarida Galeano, do Jornal da Cidade original, cuja edição, aliás, até bem pouco tempo eu tinha em meio à minha ‘hemeroteca’ que os cupins fizeram orgia.

No tempo em que tive a honra de trabalhar num projeto dirigido pelo saudoso Seu Mário Corrêa Albernaz, chefe de gabinete do Deputado Sérgio Cruz, estive diversas vezes em Corumbá, quando o Professor Valmir foi titular da Secretaria Municipal de Educação e Cultura e, ao mesmo tempo, Juvenal Ávila de Oliveira assessor de Imprensa da Prefeitura Municipal. Era administração de Armando Anache, indicado pelo PDS, e que depois saiu para ser candidato a deputado estadual, em 1982. Quando retornei a Corumbá, em 1984, como correspondente de um jornalão, o Professor Valmir e o saudoso Jornalista Márcio Nunes Pereira foram dos que me franquearam acesso a diversas fontes, e no caso do Valmir ao acervo da Câmara, com a devida autorização dos responsáveis pelo arquivo. Ele foi vereador entre 1983 e 1993, tendo sido autor da primeira lei municipal de tombamento do Casario do Porto e Entorno, da lei de implantação do Espanhol como língua estrangeira (na época, sob a vigência da Lei Federal nº 5.692/1971, só o Inglês era admissível), da lei de declaração de utilidade pública da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira de Corumbá e da Sociedade Beneficente Muçulmana de Corumbá e da lei de criação do Dia Municipal de Solidariedade ao Povo Palestino em 29 de novembro.

Nessa época, Rubén Darío estava abrindo com os Irmãos o emblemático ‘La Esquina de Don Quijote’, memorável espaço de cultura e lazer na confluência da General Rondon e Major Gama, pioneiro em excelência artística, qualidade dos serviços e socialização e entretenimento. Era ponto obrigatório para quem visitava a cidade e estava à procura de boas referências, até porque com o primeiro governo democrático, o do Doutor Wilson Barbosa Martins, o turismo no Pantanal começava a receber fomento e infraestrutura. Foi quando Rubén Darío fez um projeto de festival latino-americano sediado em Corumbá e o entregou ao então presidente da Fundação de Cultura, recém-criada, o saudoso Advogado José Otávio Guizo, grande amante da cultura popular latino-americana e das tradições pantaneiras, sobretudo corumbaenses. No governo de Marcelo Miranda, o Amigo-Camarada Cândido Alberto da Fonseca foi diretor-executivo por pouco tempo, e para ele Rubén Darío endereçou uma versão aperfeiçoada, no mesmo sentido.

Quando a querida Elenir Machado de Mello foi bibliotecária responsável pela Biblioteca Pública Estadual Dr. Gabriel Vandoni de Barros e, com o fundamental apoio do querido e saudoso Camarada Jadallah Safa, de Yahya Mohamad Omar e de Najeh Mustafa, presidente à época da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira, realizou-se a Primeira Mostra da Cultura Árabe-Palestina de Corumbá (que durou três meses, dentro do espaço da biblioteca), Valmir e a Professora Lúcia foram imprescindíveis para articular o apoio do secretário de Cultura, Humberto Espíndola, e primeiro escalão, tendo ganhado relevância estadual, mas por conta da demissão do presidente da Fundação de Cultura, o projeto acabou ficando apenas em Corumbá. Nesse mesmo ano, em novembro, Valmir deu relevante apoio para a realização do evento de fundação do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino Jadallah Safa, para o qual vieram prestigiar o saudoso Doutor Roberto Orro, então titular da Secretaria de Estado de Justiça, acompanhado das Jornalistas Margarida Gomes Marques e Maria Helena Brancher, respectivamente presidente do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso do Sul e representante do Grupo de Apoio ao Índio (GAIN/MS).

Foi precisamente na luta pela valorização do patrimônio histórico e cultural que Valmir e Rubén Darío estiveram juntos, tanto na Primeira Semana da Cultura, em setembro de 1991, como nas discussões preliminares de preparação do Festival de Corumbá, quando o saudoso Professor Fausto Matto Grosso Pereira foi pró-reitor de Assuntos Comunitários da UFMS e deu prioridade a esse projeto, esboçado durante sua participação na disputa para reitor da mais antiga universidade pública do estado. Realizado em duas oportunidades, em 1994 e 1996, o Festival de Corumbá foi uma avant première do que viria a ser, em suas primeiras edições, o Festival América do Sul, construído coletivamente sob a genial coordenação do Professor Hélvio Rech, então assessor do vice-governador Egon Krackeke, titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, em 2003.

Hoje esses dois Amigos encontram-se em outra batalha, a pela Vida, depois de acometidos por problemas cardíacos e cardiovasculares, um em Campo Grande e o outro em Corumbá. São alvissareiras as notícias sobre o estado de saúde deles. E conclamamos os Amigos e as pessoas de fé que sabem o verdadeiro sentido de caridade para que se somem na corrente de preces, orações e vibrações positivas para sua pronta recuperação. Todos agradecemos pela produção incansável do Valmir e do Rubén Darío, sobretudo a coletividade sul-mato-grossense, e em especial a História e a Cultura, para as quais vêm dedicando sua Vida.

Ahmad Schabib Hany 

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