Na
resistência e na Vida
Os queridos Amigos Valmir
Corrêa e Rubén Darío resistem bravamente às vicissitudes da Vida, e por eles há
uma grande corrente de vibrações positivas, preces e orações das mais
diferentes denominações religiosas. Nossa sincera e intensa torcida pela Vida desses
queridos Amigos-Irmãos.
Esta semana foi de muita perplexidade, ansiedade e
esperança, muita esperança. Feliz e graciosamente, Amigos de diferentes
denominações religiosas em diversas cidades e países se mobilizaram para
intensificar a corrente de vibrações positivas, preces e orações pela saúde de dois
Amigos (com letra maiúscula) que se confundem com a História e a Cultura de nossa Corumbá
cosmopolita. O Professor Valmir Batista Corrêa, pesquisador da História
Regional que sistematizou com pioneirismo em nosso glorioso CEUC (hoje CPAN/UFMS)
e iniciou a luta pelo tombamento do patrimônio histórico-arquitetônico regional,
e o Artista Plástico Rubén Darío Román Áñez, cujo talento multidisciplinar não
só produziu telas em diferentes técnicas de excelência como escreveu poemas e
textos arrebatadores, além de música de excelente qualidade e peças teatrais
memoráveis.
Corumbá tem essa
característica, de cosmopolitismo e pioneirismo. No início da década de 1970, o recém-formado bacharel e licenciado em História pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Valmir Corrêa veio de mudança com sua Companheira de Vida e de Ofício
Professora Lúcia Salsa Corrêa para literalmente fazer História: não apenas sistematizaram
o processo de pesquisa da História Regional como contribuíram para que o curso
de licenciatura, dos primeiros a serem oferecidos pelo então Instituto Superior
de Pedagogia de Corumbá (depois Centro Pedagógico de Corumbá, vinculado à
Universidade Estadual de Mato Grosso, UEMT), tivesse uma grade curricular do
mesmo nível que centros situados no chamado eixo Rio - São Paulo. Não se
limitaram a apenas estudar, mas a lutar por uma série de questões fundamentais,
como a conservação do patrimônio histórico e arquitetônico do Casario do Porto
e de seu entorno e a valorização de um conjunto de tradições culturais, como o
siriri, o cururu e o São João, por meio de sua melhor Aluna e Amiga, a saudosa
Professora Eunice Ajala Rocha, cuja dissertação de mestrado, sob a co-orientação
do casal Corrêa, é pioneira na pesquisa e valorização dessas manifestações
populares tradicionais.
Essa mesma Corumbá
cosmopolita tem outro protagonista igualmente gigante e pioneiro em diversas
áreas das artes. O então jovem Artista Plástico Rubén Darío Román Áñez, cujo
Pai, o saudoso e querido Señor Rubén Darío Román Vaca (ex-chefe da Estação
Ferroviária da Bolívia em Corumbá), escolhera Corumbá como asilo político por
conta da perseguição aos simpatizantes e dirigentes do Movimiento Nacionalista
Revolucionario (MNR) durante o ciclo de ditaduras militares na Bolívia. Não sei
como Rubén Darío conhecera meu saudoso Irmão Mohamed, por meio de quem tive,
ainda garoto, o privilégio de conviver com Rubén Darío, que além de talentoso
Artista Plástico, é poeta, escritor e dramaturgo. Como o meu Irmão se eternizou
em 1974, não pude continuar naquela época a ver Rubén Darío, mas por meio de
meu saudoso Pai, que recorria a ele para as traduções de inúmeros artigos seus
ao português, sempre estava em contato, bastante breves, mas frequentes.
Conheci o Professor
Valmir em 1975, creio que no mês de junho, quando o procurei por causa de uma enquete
que precisávamos realizar sobre a opinião do jovem corumbaense e ladarense
sobre a divisão de Mato Grosso. Precisávamos que alguém fizesse uma crítica ao
nosso questionário, e o saudoso Professor Octaviano Gonçalves da Silveira
Junior, nosso orientador no jornal estudantil que tentamos implantar na Escola
Estadual Julia Gonçalves Passarinho, nos indicou o Professor Valmir, no então
Centro Pedagógico de Corumbá. [Para o leitor ficar sabendo, mais de 85% dos
entrevistados foram contrários à divisão do estado.] Foi como nossa Amizade
(dessas com letra maiúscula) começou, pois logo depois estivemos juntos em sua
incompreendida luta pela preservação de verdadeiros expoentes do apogeu
arquitetônico de Corumbá, como a sede da antiga Intendência Municipal, o
imponente prédio do Cine Santa Cruz e o prédio da Rádio Difusora Mato-grossense
S/A, acintosamente demolidos. Ele, de início, me disse que o nome dele é
Valmir, Professor é o ofício, e que o chamasse pelo nome -- isso permitiu que
nossa Amizade fosse sincera e que lhe desse minha opinião, que nem sempre era
compatível com a dele.
Nosso reencontro com
Rubén Darío foi quando o Irmão Ruberth e eu fomos selecionados como estagiários
da extinta TELEMAT, sob a gerência do Senhor Getúlio Antônio Pereira, e integrávamos
uma equipe de cinco universitários para a tarefa prioritária de preparar e
depois realizar uma pesquisa de campo sobre linhas telefônicas do subdistrito
de Corumbá (portanto, Corumbá e Ladário), uma experiência memorável que repeti
em Campo Grande com universitários da capital. Durante o tempo em que
estagiamos, ora o Ruberth visitava a casa de meus Pais, ora eu visitava a casa
dos Pais dele, e nessas idas e vindas acabei reencontrando Rubén Darío, minha
querida Professora Roma e, obviamente, Don Rubén Darío e Señora Daisy Áñez de
Román. Creio que desde então não mais nos perdemos de vista, nem quando foi
morar em Curitiba por alguns anos: em sua passagem por Campo Grande, ele dera
uma longa entrevista aos Jornalistas Edson Moraes e Margarida Galeano, do Jornal da
Cidade original, cuja edição,
aliás, até bem pouco tempo eu tinha em meio à minha ‘hemeroteca’ que os cupins
fizeram orgia.
No tempo em que tive a
honra de trabalhar num projeto dirigido pelo saudoso Seu Mário Corrêa Albernaz,
chefe de gabinete do Deputado Sérgio Cruz, estive diversas vezes em Corumbá,
quando o Professor Valmir foi titular da Secretaria Municipal de Educação e
Cultura e, ao mesmo tempo, Juvenal Ávila de Oliveira assessor de Imprensa da
Prefeitura Municipal. Era administração de Armando Anache, indicado pelo PDS, e
que depois saiu para ser candidato a deputado estadual, em 1982. Quando
retornei a Corumbá, em 1984, como correspondente de um jornalão, o Professor
Valmir e o saudoso Jornalista Márcio Nunes Pereira foram dos que me franquearam
acesso a diversas fontes, e no caso do Valmir ao acervo da Câmara, com a devida
autorização dos responsáveis pelo arquivo. Ele foi vereador entre 1983 e 1993,
tendo sido autor da primeira lei municipal de tombamento do Casario do Porto e
Entorno, da lei de implantação do Espanhol como língua estrangeira (na época,
sob a vigência da Lei Federal nº 5.692/1971, só o Inglês era admissível), da lei de declaração de utilidade pública
da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira de Corumbá e da Sociedade Beneficente
Muçulmana de Corumbá e da lei de criação do Dia Municipal de Solidariedade ao
Povo Palestino em 29 de novembro.
Nessa época, Rubén Darío
estava abrindo com os Irmãos o emblemático ‘La Esquina de Don Quijote’,
memorável espaço de cultura e lazer na confluência da General Rondon e Major
Gama, pioneiro em excelência artística, qualidade dos serviços e socialização e
entretenimento. Era ponto obrigatório para quem visitava a cidade e estava à
procura de boas referências, até porque com o primeiro governo democrático, o
do Doutor Wilson Barbosa Martins, o turismo no Pantanal começava a receber
fomento e infraestrutura. Foi quando Rubén Darío fez um projeto de festival
latino-americano sediado em Corumbá e o entregou ao então presidente da
Fundação de Cultura, recém-criada, o saudoso Advogado José Otávio Guizo, grande
amante da cultura popular latino-americana e das tradições pantaneiras, sobretudo
corumbaenses. No governo de Marcelo Miranda, o Amigo-Camarada Cândido Alberto
da Fonseca foi diretor-executivo por pouco tempo, e para ele Rubén Darío
endereçou uma versão aperfeiçoada, no mesmo sentido.
Quando a querida Elenir
Machado de Mello foi bibliotecária responsável pela Biblioteca Pública Estadual
Dr. Gabriel Vandoni de Barros e, com o fundamental apoio do querido e saudoso
Camarada Jadallah Safa, de Yahya Mohamad Omar e de Najeh Mustafa, presidente à
época da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira, realizou-se a Primeira Mostra da
Cultura Árabe-Palestina de Corumbá (que durou três meses, dentro do espaço da
biblioteca), Valmir e a Professora Lúcia foram imprescindíveis para articular o
apoio do secretário de Cultura, Humberto Espíndola, e primeiro escalão, tendo ganhado
relevância estadual, mas por conta da demissão do presidente da Fundação de
Cultura, o projeto acabou ficando apenas em Corumbá. Nesse mesmo ano, em
novembro, Valmir deu relevante apoio para a realização do evento de fundação do
Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino Jadallah Safa, para o
qual vieram prestigiar o saudoso Doutor Roberto Orro, então titular da
Secretaria de Estado de Justiça, acompanhado das Jornalistas Margarida Gomes
Marques e Maria Helena Brancher, respectivamente presidente do Sindicato dos
Jornalistas de Mato Grosso do Sul e representante do Grupo de Apoio ao Índio
(GAIN/MS).
Foi precisamente na luta pela valorização do
patrimônio histórico e cultural que Valmir e Rubén Darío estiveram juntos,
tanto na Primeira Semana da Cultura, em setembro de 1991, como nas discussões
preliminares de preparação do Festival de Corumbá, quando o saudoso Professor
Fausto Matto Grosso Pereira foi pró-reitor de Assuntos Comunitários da UFMS e
deu prioridade a esse projeto, esboçado durante sua participação na disputa
para reitor da mais antiga universidade pública do estado. Realizado em duas
oportunidades, em 1994 e 1996, o Festival de Corumbá foi uma avant première
do que viria a ser, em suas primeiras edições, o Festival América do Sul,
construído coletivamente sob a genial coordenação do Professor Hélvio Rech,
então assessor do vice-governador Egon Krackeke, titular da Secretaria de
Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, em 2003.
Hoje esses dois Amigos encontram-se em outra
batalha, a pela Vida, depois de acometidos por problemas cardíacos e
cardiovasculares, um em Campo Grande e o outro em Corumbá. São alvissareiras as
notícias sobre o estado de saúde deles. E conclamamos os Amigos e as pessoas de
fé que sabem o verdadeiro sentido de caridade para que se somem na corrente de
preces, orações e vibrações positivas para sua pronta recuperação. Todos
agradecemos pela produção incansável do Valmir e do Rubén Darío, sobretudo a
coletividade sul-mato-grossense, e em especial a História e a Cultura, para as
quais vêm dedicando sua Vida.
Ahmad Schabib Hany
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