terça-feira, 28 de maio de 2024

50 ANOS SEM RAMDA LARAMA

50 anos sem Ramda Larama

Admar Assaf Amaral, o singular jornalista, radialista e cronista social Ramda Larama, se eternizou em 3 de junho de 1974, mas sua memória permanece incólume meio século depois.

A notícia sobre a eternização do comunicador Ramda Larama, como era conhecido o jornalista, radialista e cronista social Admar Assaf Amaral, calara a irrequieta e palpitante Corumbá, cujo cosmopolitismo ainda era pulsante e reverberava pelos quatro cantos do gigante Mato Grosso, ainda não esquartejado pelo regime de 1964, na ânsia de esticar os seus dias por meio de meia dúzia de parlamentares situacionistas da nova unidade.

Já dissera o saudoso Repórter de faro ímpar e grande Jornalista Luiz Gonzaga Bezerra que antes de aportar à Corumbá de seus grandes desafios, nos anos do Consórcio Corumbaense de Comunicação e da Folha da Tarde, ouvira a imponente voz de Jota Aguilar em Cáceres quando fazia uma reportagem na cidade-irmã de Corumbá, pelas ondas da Rádio Difusora Mato-grossense, uma das razões para ter escolhido a Cidade Branca.

E foi nas ondas da Pioneira, a mais antiga emissora de rádio do sul de Mato Grosso, que o já renomado jornalista e cronista social Ramda Larama fez a sua carreira de sucesso na radiofonia. Muitos o conhecem por sua coluna Um encontro com Ramda Larama, em O Momento da década de 1970, mas duas décadas antes já luzia seu modo singular de narrar o cotidiano da elite corumbaense no decano da imprensa mato-grossense, a Tribuna, fechado na semana do golpe de 1964 pelos vínculos trabalhistas de parte dos diretores.

Ao lado do Poeta e Professor Clio Proença, apresentara Os brotos comandam, na Rádio Difusora Mato-grossense, que além de revelar novos talentos para a interpretação musical servia para ‘garimpar’ colegas, como a professora de balé e dança contemporânea Sônia Ruas, Mãe da incansável Márcia Rolon, com quem passou a apresentar o programa. E fez o mesmo com a Professora Marluci Brasil, sempre com Clio Proença e suas crônicas únicas, em Janela Aberta para a Cidade, programa de maior audiência na história da radiofonia, na mesma emissora, até se eternizar, 50 anos atrás.

Recentemente, o Jornalista Edson Moraes, ao lado dos igualmente renomados Radialistas Gino Rondon e Admir Lobo -- todos eles revelados nos anos 1970 --, anunciou um projeto de resgate de Janela Aberta para a Cidade, em que contará com a participação das Professoras Marluci Brasil e Sônia Ruas. Será uma merecidíssima homenagem ao grande radialista Ramda Larama em seu cinquentenário de eternização.

Reproduzo, para concluir, a homenagem feita no O Momento a propósito do primeiro ano da eternização de Admar Amaral, resgatada pelo Historiador e Professor Waldson Corrêa Diniz em sua tese de doutorado na USP (Universidade de São Paulo), “Los hermanos bolivianos: representações nos jornais corumbaenses (1938-1999)”, defendida em 2014, cujo foco é como os bolivianos são apresentados nos jornais de Corumbá no período de 61 anos do século XX, uma obra imperdível para quem se interessa por Jornalismo, História e Fronteira:

A Ramda Larama

Exatamente um há ano despedia-se de nós ADMAR AMARAL, nosso querido RAMDA LARAMA. Era o chamado da morte.

Que a gente nunca entende. E sempre faz sofrer, que só se consola um pouco se a gente busca a fé, pra dizer-nos que nada passa, que o bem permanece, que a vida continua, não sabemos de que forma, mas continua.

E por uma dessas coincidências que estranham a gente, o dia amanheceu hoje com a mesma tristeza, o mesmo vestido cinzento, um pranto mal velado... como no ano que passou.

Como se a natureza entendesse das coisas da gente, entendesse da ausência, de saudade e de aniversário de coisas doloridas.

Admar Amaral, um nome, uma lembrança, uma prece, um apelo, uma presença ainda... Na memória de todos os que souberam conhecê-lo e ler a beleza e a profundidade de seu coração sensível a todas as coisas belas.

Pra quem sabe valorizar o sentido das coisas e ler os acontecimentos, Admar Amaral foi um exemplo.

Sua palavra amiga, sua dedicação à imprensa, seu amor pela arte e por tudo o que envolvia Corumbá, num ano de ausência não podem ser esquecidos...

E daqui enviamos nossas homenagens póstumas a Admar Amaral, nossa mensagem de carinho, nossa palavra, agradecimento, transmitidas pela voz da saudade...

Admar Amaral, Ramda Larama, nosso amigo. Na forma em que você vive ou na fé, ou na lembrança, ou na arte que difundiu entre nós, hoje como ontem recebeu uma lágrima como presente.

[O Momento, 5 de junho de 1975. Em “Los hermanos bolivianos: representações nos jornais corumbaenses (1938-1999)”, páginas 58 e 59, nota de rodapé 143, tese de Doutorado do Professor Waldson Luciano Corrêa Diniz, em História Econômica pela USP, 2015.]

Matutino fundado em 1944 por udenistas (entre eles o advogado e pecuarista Cássio Leite de Barros), O Momento integrou o Consórcio Corumbaense de Comunicação, idealizado pelo advogado e pecuarista José Feliciano Baptista Neto, que foi sócio e diretor da Folha da Tarde, vespertino fundado em 1956 por pessedistas (entre eles o médico e professor Salomão Baruki), e da Rádio Difusora Mato-grossense até a dissolução do consórcio, que teve como principal avalista Filinto Müller até sua morte, em julho de 1973 (além do Correio de Corumbá, semanário dirigido pelo professor Walmir Coelho, que o adquirira do fundador, advogado e deputado federal Vicente Bezerra Neto, trabalhista, sócio também do Tribuna, fechado após o golpe de 1964). Na época da publicação desta homenagem, o diretor de O Momento era Nelson Dias de Rosa, o célebre cronista social Naudiley, cuja coluna Naudiley e seus Satélites, sempre na última página do matutino, durante décadas narrou o cotidiano da elite corumbaense e ladarense, em substituição à de Ramda Larama.

Ahmad Schabib Hany

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