50
anos sem Ramda Larama
Admar Assaf Amaral, o singular jornalista,
radialista e cronista social Ramda Larama, se eternizou em 3 de junho de 1974,
mas sua memória permanece incólume meio século depois.
A notícia sobre a eternização do comunicador Ramda
Larama, como era conhecido o jornalista, radialista e cronista social Admar
Assaf Amaral, calara a irrequieta e palpitante Corumbá, cujo cosmopolitismo
ainda era pulsante e reverberava pelos quatro cantos do gigante Mato Grosso,
ainda não esquartejado pelo regime de 1964, na ânsia de esticar os seus dias
por meio de meia dúzia de parlamentares situacionistas da nova unidade.
Já dissera o saudoso Repórter de faro ímpar e grande
Jornalista Luiz Gonzaga Bezerra que antes de aportar à Corumbá de seus grandes
desafios, nos anos do Consórcio Corumbaense de Comunicação e da Folha
da Tarde, ouvira a imponente voz de Jota Aguilar em Cáceres quando fazia uma
reportagem na cidade-irmã de Corumbá, pelas ondas da Rádio Difusora
Mato-grossense, uma das razões para ter escolhido a Cidade Branca.
E foi nas ondas da Pioneira, a mais antiga
emissora de rádio do sul de Mato Grosso, que o já renomado jornalista e
cronista social Ramda Larama fez a sua carreira de sucesso na radiofonia. Muitos
o conhecem por sua coluna Um encontro com Ramda Larama, em O Momento
da década de 1970,
mas duas décadas antes já luzia seu modo singular de narrar o cotidiano da
elite corumbaense no decano da imprensa mato-grossense, a Tribuna,
fechado na semana do golpe de 1964 pelos vínculos trabalhistas de parte dos diretores.
Ao lado do Poeta e Professor Clio Proença,
apresentara Os brotos comandam, na Rádio Difusora Mato-grossense, que
além de revelar novos talentos para a interpretação musical servia para ‘garimpar’
colegas, como a professora de balé e dança contemporânea Sônia Ruas, Mãe da
incansável Márcia Rolon, com quem passou a apresentar o programa. E fez o mesmo
com a Professora Marluci Brasil, sempre com Clio Proença e suas crônicas únicas,
em Janela Aberta para a Cidade, programa de maior audiência na história
da radiofonia, na mesma emissora, até se eternizar, 50 anos atrás.
Recentemente, o Jornalista Edson Moraes, ao lado
dos igualmente renomados Radialistas Gino Rondon e Admir Lobo -- todos eles
revelados nos anos 1970 --,
anunciou um projeto de resgate de Janela Aberta para a Cidade, em que
contará com a participação das Professoras Marluci Brasil e Sônia Ruas. Será uma
merecidíssima homenagem ao grande radialista Ramda Larama em seu cinquentenário
de eternização.
Reproduzo, para concluir, a homenagem feita no O
Momento a propósito do primeiro ano da eternização de Admar Amaral,
resgatada pelo Historiador e Professor Waldson Corrêa Diniz em sua tese de
doutorado na USP (Universidade de São Paulo), “Los hermanos bolivianos:
representações nos jornais corumbaenses (1938-1999)”, defendida
em 2014, cujo
foco é como os bolivianos são apresentados nos jornais de Corumbá no período de
61 anos do século XX, uma obra imperdível para quem se interessa por
Jornalismo, História e Fronteira:
A Ramda Larama
Exatamente um há ano despedia-se de nós ADMAR AMARAL,
nosso querido RAMDA LARAMA. Era o chamado da morte.
Que a gente nunca entende. E sempre faz sofrer,
que só se consola um pouco se a gente busca a fé, pra dizer-nos que nada passa,
que o bem permanece, que a vida continua, não sabemos de que forma, mas
continua.
E por uma dessas coincidências que estranham a
gente, o dia amanheceu hoje com a mesma tristeza, o mesmo vestido cinzento, um
pranto mal velado... como no ano que passou.
Como se a natureza entendesse das coisas da gente,
entendesse da ausência, de saudade e de aniversário de coisas doloridas.
Admar Amaral, um nome, uma lembrança, uma prece,
um apelo, uma presença ainda... Na memória de todos os que souberam conhecê-lo
e ler a beleza e a profundidade de seu coração sensível a todas as coisas
belas.
Pra quem sabe valorizar o sentido das coisas e ler
os acontecimentos, Admar Amaral foi um exemplo.
Sua palavra amiga, sua dedicação à imprensa, seu
amor pela arte e por tudo o que envolvia Corumbá, num ano de ausência não podem
ser esquecidos...
E daqui enviamos nossas homenagens póstumas a
Admar Amaral, nossa mensagem de carinho, nossa palavra, agradecimento,
transmitidas pela voz da saudade...
Admar Amaral, Ramda Larama, nosso amigo. Na forma
em que você vive ou na fé, ou na lembrança, ou na arte que difundiu entre nós,
hoje como ontem recebeu uma lágrima como presente.
[O Momento, 5 de junho de 1975. Em “Los
hermanos bolivianos: representações nos jornais corumbaenses (1938-1999)”, páginas 58
e 59, nota de rodapé 143, tese de Doutorado do Professor Waldson Luciano Corrêa
Diniz, em História Econômica pela USP, 2015.]
Matutino fundado em 1944 por udenistas (entre eles
o advogado e pecuarista Cássio Leite de Barros), O Momento integrou o Consórcio
Corumbaense de Comunicação, idealizado pelo advogado e pecuarista José Feliciano
Baptista Neto, que foi sócio e diretor da Folha da Tarde, vespertino
fundado em 1956 por pessedistas (entre eles o médico e professor Salomão Baruki), e da Rádio
Difusora Mato-grossense até a dissolução do consórcio, que teve como principal
avalista Filinto Müller até sua morte, em julho de 1973 (além do Correio de
Corumbá, semanário dirigido pelo professor Walmir Coelho, que o adquirira
do fundador, advogado e deputado federal Vicente Bezerra Neto, trabalhista,
sócio também do Tribuna, fechado após o golpe de 1964). Na época
da publicação desta homenagem, o diretor de O Momento era Nelson Dias de
Rosa, o célebre cronista social Naudiley, cuja coluna Naudiley e seus
Satélites, sempre na última página do matutino, durante décadas narrou o
cotidiano da elite corumbaense e ladarense, em substituição à de Ramda Larama.
Ahmad
Schabib Hany
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