‘Logo
Ali’
Jovem Escritora (além de
fonoaudióloga e Professora),
a corumbaense Anna Lucia Almeida Dichoff homenageia em livro memorável o
querido Ale Seher, com a participação das vozes e tradução de Salim Haqzan e
Omar Faris.
Genial, sensível, talentoso, eloquente, solidário,
generoso e, sobretudo, envolvente na criação e narrativa. Um surpreendente e inimaginável
livro-homenagem ao querido Amigo Ale Seher, o imigrante sírio que se tornou
corumbaense, flamenguista. É assim com que Anna Lucia Almeida Dichoff nos
acolhe em seu universo leve, cheio de empatia, a nos convidar a um mundo de
amor, esperança e graça.
Percebe-se sua alma leve e livre a planar sobre tamanhas
adversidades, além da distância que separa a Síria, terra de Ale e de sua
Família, do Brasil, este país-continente que soube acolher e proporcionar um
porvir generoso a ele e a todos os seus. Captou com ludicidade e maestria o
espírito peregrino desse imigrante que desde a juventude escolheu o Brasil -- e
dentro do Brasil nossa Corumbá cosmopolita -- para sobreviver, viver e semear
sonhos regados a suor e lágrimas, como nas fábulas árabes que líamos em nossa
infância.
Deu a impressão de que estivéssemos a interagir
com alguma obra do generoso e genial Gibran Khalil Gibran ou com o brasileiro
mais árabe e sensível, Malba Tahan (o imortal de ‘O homem que calculava’ e
muitas obras mágicas que encantaram a nossa juventude), que como Professor, embora apaixonado pelo
universo árabe, jamais pôde ter viajado para lá, até porque seus derradeiros
anos foram em plenos anos de chumbo. Que a generosa e dadivosa Anna Lúcia
possa, sim, conhecer ‘in loco’ [êta expressãozinha embolorada!] não apenas a
Síria de Ale Seher, como o Líbano de Gibran Khalil Gibran, a Palestina de
Ghassan Kanafani, o Egito de Ahmad Shawki, enfim, a Arábia mágica e diversa e
encantadora.
Não dá para fazer destaques, extrair parte do
livro sem incorrer no indelicado terreno da expropriação: o livro (como o
homenageado) é todo mágico, cuja
integralidade não pode ser vilipendiada por aventuras destituídas de
sensibilidade, empatia. Melhor interagir com a autora, sem intermediação, sem
intervenção. Como em uma relação de Amizade, não há como recorrer a frações,
fricções, sem perder a pureza, o encanto, desse depoimento revelador e
cativante. Depois de duas ou três audições, não há como não se levantar e
vibrar: bravo, bravo, bravo!
‘Logo Ali’ é livro ilustrado por Ju Candia
tecnologicamente impactante: nas vozes de Salim Haqzan e Omar Faris, que
colaboraram também na tradução do depoimento-composição de Ale Seher, imigrante
sírio por anos proprietário da ‘Casa Tartous’, à rua Delamare, ao lado da não
menos emblemática ‘Casa Estrela’ [depois ‘Imobiliária Perfil’] do saudoso e
querido Amigo Soubhi Issa Ahmad, que entrou para a história por causa de uma
brincadeira de mau gosto de outro imigrante, o ‘Turco Loiro’, mas que a Vida o
protegeu por ter sido o lar do cordial e memorável Vereador Edu Rocha, poucos
meses antes de sua execução a queima-roupa, a primeira casa a ser visitada pelo
jovem mascate e seu atrevido diálogo inocentemente escrito em árabe.
O talento da autora já me havia sido comentado
pelo querido e saudoso Augusto César Proença em um de nossos encontros
derradeiros, quando se declarou seu fã desde sempre. Anos depois, o querido
Amigo Armando Arruda Lacerda (que tive a honra de conhecer e desde logo privar
de sua Amizade na mesma oportunidade, em que a Sociedade dos Amigos da Cultura
preparava a Primeira Semana da Cultura, em setembro de 1991, portanto, há mais
de três décadas), no
primeiro grito de socorro pelo ILA -- ‘Abra seu coração para a cultura: adote o
ILA’ --, que de novo precisa de um impulso solidário para evitar que se torne
mausoléu das inúmeras peças e volumes de seu riquíssimo acervo, se é que ainda existe.
Foi assim como conheci essa conterrânea, também
colega de ofício (Professora, ela com letra maiúscula!), embora não tenha tido a honra de vê-la
pessoalmente. Mais um presente que devo ao querido Armando Lacerda e ao saudoso
Augusto César, sem os quais a Primeira Semana da Cultura, de 1991, teria sido
bem menos impactante, a despeito da participação de Amigas generosas como
Nicole Kubrusly, Sidnéia Tobias, Mara Leslie do Amaral, Maria Helena de
Andrade, Marlene Peninha Mourão, Heloísa Helena da Costa Urt, bem como de
igualmente generosos Amigos como Rubén Darío Román Áñez, Augusto Alexandrino
dos Santos Malah, Jorapimo, Lincoln Gomes, Carlos Augusto Canavarros, Luiz
Carlos Rocha, Arturo Castedo Ardaya, Valmir Batista Corrêa, Lamartine
Figueiredo Costa, Lécio Gomes de Souza, Salomão Baruki, Fadah Scaff Gattass, Farid
Yunes Solominy, Joel de Souza, Jonas Luna de Lima, Arnaldo Gomes da Costa,
Márcio Nunes Pereira, Armando Amorim Anache, José Carlos Cataldi, Cecílio de
Jesus Gaeta, Adelson Martins Navarro, Airton Pereira, Armando Anache, Pedro
Paulo de Barros Lima, Walmir Coelho, Mário Sérgio de Abreu, Jota Carneiro, Ziad
Ibrahim e Antar Mohamed.
Foi um avant première de espaços públicos memoráveis e longevos,
como o Pacto pela Cidadania (Movimento Viva Corumbá), a Ação da Cidadania contra
a Fome e pela Vida e o Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de
Corumbá e Ladário (atual Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa),
como bem percebeu Lacerda, que logo me apresentou à Comissão Organizadora da
Segunda Semana Social Brasileira local. Aliás, ele, Lacerda, e Ernesto Cuellar
tiveram papel digno de reconhecimento histórico, ao lado de Dona Fabiana Costa,
Professora Mariléia Ribeiro, Suzete dos Santos, Angélica Anache, Luz Marina
Cavalcanti da Silva, Edenir de Paulo, Cristiane Sant’Anna de Oliveira, Noemi
Feitosa, Fátima Garcia e todo o pessoal da agência local do Banco do Brasil,
José Eduardo Katurchi, Seu Jorge José Katurchi, Seu Cláudio Dichoff, Seu
Mohamad Abdallah, Najeh Mustafa, Alexandre Gonçalves dos Santos, Padre Antônio
Müller, Padre Ernesto Saksida, Dom José Alves da Costa, Padre Pasquale Forin,
Padre Emilio Mena, Pastor Marcelo Moura, Pastor Fernando Sabra Caminada, Pastor
Antônio Ribeiro de Souza, Pastor Cosmo Gomes de Souza, Irmã Antônia Brioschi e
Irmã Zenaide Britto.
Como discordar do Amigo
Ale Seher -- e, por tabela, de Anna Lúcia Almeida Dichoff e, é claro!, do
querido e saudoso Amigo e Companheiro Jorge José Katurchi, o argentino mais
corumbaense da História, que também merece um livro com suas geniais
observações --, Corumbá, sem dúvida, é o Paraíso na Terra! Além do
cosmopolitismo que fecunda de modo efetivo nosso cotidiano, a fecundidade de
talentosos e generosos escritores, poetas, músicos, dramaturgos e artistas
plásticos, entre outros, nos incentiva a renovar nossa esperança por novo
porvir, em que crianças e adolescentes desconheçam a fome, miséria,
discriminação, exclusão, intolerância e recalque. É com a ludicidade e a literatura
(graças à tecnologia, como arte em suas diversas formas de expressão) que construiremos um novo Renascimento -- ou Renascença,
aliás, nome de uma ‘lojínia’ popular de Seu Amouri, gentil imigrante libanês
Amigo de meu Avô materno que para os clientes, Seu Amorim ou Don Amurín, no coração
da Feira Boliviana, onde meu saudoso Pai também se estabeleceu em meados da
década de 1960.
Como o/a
generoso/a leitor/a preferir, Renascimento ou Renascença. É do que estamos
precisando. A cultura é o fomento da cidadania. A cultura é porta-voz do Amor,
esse que foi destacado pelo homenageado da, permita-me, querida Anna Lucia. E é
com autoras e autores com esse grau de generosidade e iluminura que
conquistaremos essa sociedade pela qual nossos ancestrais, em todos os
quadrantes do Planeta, lutaram, mas sem armas: com livros, letras, sensibilidade,
empatia, solidariedade, humanismo.
Obrigado,
Anna Lucia, por nos dar esperança! Como bem disse o saudoso Poeta Manoel de
Barros, certa vez, em certa obra: “A minhoca areja a terra; o poeta a linguagem.”
Vamos, pois, arejar nossos horizontes, com as letras, as artes, a cultura e,
sobretudo, o amor, essas quatro letras que desde nossas mais tenras idades nos
nutrem de civilidade, valores humanistas e, obviamente, sentimentos nobres. Com
Ale Seher, na companhia das vozes de Salim Haqzan e Omar Faris, Anna Lucia
Almeida Dichoff mais uma vez [pois, pelo que pude ler há pouco, ela também é
autora de “Uma bailarina no Pantanal”, “Renê, o aprendiz pantaneiro”, “Olhinhos
brilhando”, “Ele, o guardião da natureza”, “Minha Avó de 100 anos” e “Meu Avô de uma
perna só”, todos publicados pela Letraria E-ditora] faz jus ao seu segundo
nome, Lucia (sem acento), a nos iluminar a
alma e o horizonte, e assim nos resgatar a esperança e, sobretudo, a infância,
esse grande presente que nos clama por tempos generosos, hoje e sempre.
Ahmad
Schabib Hany
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