quinta-feira, 30 de maio de 2024

Especial: Centenário de Jânio Quadros no #ProgramaDiferente


CENTENÁRIO DE JÂNIO DA SILVA QUADROS - PROGRAMA DIFERENTE - TV FAP

1 de ago. de 2017

No ano do centenário do nascimento de Jânio Quadros (que renunciou à Presidência da República em 25 de agosto de 1961), com o presidente Michel Temer denunciado por corrupção e exatamente um ano após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o que será que nos aguarda em 2017 o mês que é tradicionalmente marcado por acontecimentos trágicos e mudanças radicais que causam alvoroço entre os mais supersticiosos? O suicídio de Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954; a renúncia de Jânio Quadros; a morte de Juscelino Kubitschek em 22 de agosto de 1976; a renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon em 9 de agosto de 1974; a morte de Miguel Arraes em 13 de agosto de 2005 e do seu neto Eduardo Campos nove anos depois, na mesma data, em 13 de agosto de 2014; e o impeachment de Dilma Rousseff em 31 de agosto de 2016 são alguns dos acontecimentos emblemáticos da política no oitavo mês do ano. Para abrir o mês de agosto, este especial do #ProgramaDiferente se concentra no centenário de Jânio da Silva Quadros, nascido em Campo Grande, no então estado de Mato Grosso e atual capital do Mato Grosso do Sul, em 25 de janeiro de 2017. Vereador de São Paulo, deputado estadual, prefeito duas vezes, governador e presidente por menos de oito meses, de 31 de janeiro a 25 de agosto de 1961, Jânio ainda hoje é um dos personagens mais singulares e controvertidos da política brasileira. É perturbador de tão atual. Assista.

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Música1 músicas

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A Minha Renúncia

CARNAVAL

Carnaval de Graça 1962

Link do vídeo no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=PtB54RCpSDA

(Raríssimo) Globo Repórter - 20 anos da renúncia de Jânio (1981)

terça-feira, 28 de maio de 2024

JOAQUIM PARTIU... (Armando Arruda Lacerda)

Joaquim partiu...

Crônica de Armando Arruda Lacerda em homenagem a Joaquim Eugênio Gomes da Silva Jr., Irmão de Augusto César Proença, eternizado segunda-feira, dia 27 de maio, em Campo Grande.

Que pena, perdemos um inesquecível companheiro de toda a vida.

Desde 1961, meninos no 1º ano B do Colégio de Dona Natércia, Professora Carolina, trilhamos juntos caminhos parecidos.

Velhos, nos reencontramos nos escritos e na poesia...

Os meus, garranchentos feitos cipó de arraia; os dele puros, limpos, hai-kais sintéticos e belíssimos.

Mas era nas caricaturas onde melhor expressava seu gênio, o seu lápis desenhava nossos mais recônditos pensamentos nas linhas de nossa própria face, verdadeiro dom de Deus, esse enxergar coisas.

Seus amigos guardarão, junto com as suas poesias e caricaturas, inesquecíveis momentos em que deixava a timidez de lado e nos brindava com verdadeiros shows ao piano, teclado, sanfona ou em imitações dignas de um Oscar.

Partiu Joaquim, leva com ele muito da beleza e dos segredos que todo menino pantaneiro aprendeu pelos terreiros das velhas fazendas do Pantanal.

Descanse por hora, Joaquim, e depois, vá ajeitando um retirinho, com redes e bancos à sombra de alguma fruteira aí no céu, para que nos reunamos novamente, meninos pantaneiros pela eternidade, felizes onde o tempo e o espaço se curvam e se tocam...

Como lembrança, deixo o último poema que compartilhou, falando das agruras do tratamento a que se submetia:

Raio laser

Estava o fogo contido, preparado em pouco espaço,

Quem dera ter sido fabricado

Como se fabrica um vidro!

Mãos suaves no gatilho: duras pedras explodindo,

Fabrico de cores,

Bem longe das belas flores,

Vaga-lumes vão subindo!

Joaquim Eugênio Gomes da Silva Jr, eternizado hoje, aos 69 anos, em Campo Grande, MS.

Armando Arruda Lacerda

50 ANOS SEM RAMDA LARAMA

50 anos sem Ramda Larama

Admar Assaf Amaral, o singular jornalista, radialista e cronista social Ramda Larama, se eternizou em 3 de junho de 1974, mas sua memória permanece incólume meio século depois.

A notícia sobre a eternização do comunicador Ramda Larama, como era conhecido o jornalista, radialista e cronista social Admar Assaf Amaral, calara a irrequieta e palpitante Corumbá, cujo cosmopolitismo ainda era pulsante e reverberava pelos quatro cantos do gigante Mato Grosso, ainda não esquartejado pelo regime de 1964, na ânsia de esticar os seus dias por meio de meia dúzia de parlamentares situacionistas da nova unidade.

Já dissera o saudoso Repórter de faro ímpar e grande Jornalista Luiz Gonzaga Bezerra que antes de aportar à Corumbá de seus grandes desafios, nos anos do Consórcio Corumbaense de Comunicação e da Folha da Tarde, ouvira a imponente voz de Jota Aguilar em Cáceres quando fazia uma reportagem na cidade-irmã de Corumbá, pelas ondas da Rádio Difusora Mato-grossense, uma das razões para ter escolhido a Cidade Branca.

E foi nas ondas da Pioneira, a mais antiga emissora de rádio do sul de Mato Grosso, que o já renomado jornalista e cronista social Ramda Larama fez a sua carreira de sucesso na radiofonia. Muitos o conhecem por sua coluna Um encontro com Ramda Larama, em O Momento da década de 1970, mas duas décadas antes já luzia seu modo singular de narrar o cotidiano da elite corumbaense no decano da imprensa mato-grossense, a Tribuna, fechado na semana do golpe de 1964 pelos vínculos trabalhistas de parte dos diretores.

Ao lado do Poeta e Professor Clio Proença, apresentara Os brotos comandam, na Rádio Difusora Mato-grossense, que além de revelar novos talentos para a interpretação musical servia para ‘garimpar’ colegas, como a professora de balé e dança contemporânea Sônia Ruas, Mãe da incansável Márcia Rolon, com quem passou a apresentar o programa. E fez o mesmo com a Professora Marluci Brasil, sempre com Clio Proença e suas crônicas únicas, em Janela Aberta para a Cidade, programa de maior audiência na história da radiofonia, na mesma emissora, até se eternizar, 50 anos atrás.

Recentemente, o Jornalista Edson Moraes, ao lado dos igualmente renomados Radialistas Gino Rondon e Admir Lobo -- todos eles revelados nos anos 1970 --, anunciou um projeto de resgate de Janela Aberta para a Cidade, em que contará com a participação das Professoras Marluci Brasil e Sônia Ruas. Será uma merecidíssima homenagem ao grande radialista Ramda Larama em seu cinquentenário de eternização.

Reproduzo, para concluir, a homenagem feita no O Momento a propósito do primeiro ano da eternização de Admar Amaral, resgatada pelo Historiador e Professor Waldson Corrêa Diniz em sua tese de doutorado na USP (Universidade de São Paulo), “Los hermanos bolivianos: representações nos jornais corumbaenses (1938-1999)”, defendida em 2014, cujo foco é como os bolivianos são apresentados nos jornais de Corumbá no período de 61 anos do século XX, uma obra imperdível para quem se interessa por Jornalismo, História e Fronteira:

A Ramda Larama

Exatamente um há ano despedia-se de nós ADMAR AMARAL, nosso querido RAMDA LARAMA. Era o chamado da morte.

Que a gente nunca entende. E sempre faz sofrer, que só se consola um pouco se a gente busca a fé, pra dizer-nos que nada passa, que o bem permanece, que a vida continua, não sabemos de que forma, mas continua.

E por uma dessas coincidências que estranham a gente, o dia amanheceu hoje com a mesma tristeza, o mesmo vestido cinzento, um pranto mal velado... como no ano que passou.

Como se a natureza entendesse das coisas da gente, entendesse da ausência, de saudade e de aniversário de coisas doloridas.

Admar Amaral, um nome, uma lembrança, uma prece, um apelo, uma presença ainda... Na memória de todos os que souberam conhecê-lo e ler a beleza e a profundidade de seu coração sensível a todas as coisas belas.

Pra quem sabe valorizar o sentido das coisas e ler os acontecimentos, Admar Amaral foi um exemplo.

Sua palavra amiga, sua dedicação à imprensa, seu amor pela arte e por tudo o que envolvia Corumbá, num ano de ausência não podem ser esquecidos...

E daqui enviamos nossas homenagens póstumas a Admar Amaral, nossa mensagem de carinho, nossa palavra, agradecimento, transmitidas pela voz da saudade...

Admar Amaral, Ramda Larama, nosso amigo. Na forma em que você vive ou na fé, ou na lembrança, ou na arte que difundiu entre nós, hoje como ontem recebeu uma lágrima como presente.

[O Momento, 5 de junho de 1975. Em “Los hermanos bolivianos: representações nos jornais corumbaenses (1938-1999)”, páginas 58 e 59, nota de rodapé 143, tese de Doutorado do Professor Waldson Luciano Corrêa Diniz, em História Econômica pela USP, 2015.]

Matutino fundado em 1944 por udenistas (entre eles o advogado e pecuarista Cássio Leite de Barros), O Momento integrou o Consórcio Corumbaense de Comunicação, idealizado pelo advogado e pecuarista José Feliciano Baptista Neto, que foi sócio e diretor da Folha da Tarde, vespertino fundado em 1956 por pessedistas (entre eles o médico e professor Salomão Baruki), e da Rádio Difusora Mato-grossense até a dissolução do consórcio, que teve como principal avalista Filinto Müller até sua morte, em julho de 1973 (além do Correio de Corumbá, semanário dirigido pelo professor Walmir Coelho, que o adquirira do fundador, advogado e deputado federal Vicente Bezerra Neto, trabalhista, sócio também do Tribuna, fechado após o golpe de 1964). Na época da publicação desta homenagem, o diretor de O Momento era Nelson Dias de Rosa, o célebre cronista social Naudiley, cuja coluna Naudiley e seus Satélites, sempre na última página do matutino, durante décadas narrou o cotidiano da elite corumbaense e ladarense, em substituição à de Ramda Larama.

Ahmad Schabib Hany

sábado, 25 de maio de 2024

Alegria, Alegria ~ Caetano Veloso e os Beat Boys 1967


A virada de Alegria, Alegria no III Festival de MPB da Record, em 1967, com depoimentos de Nelson Mota e Caetano Veloso.
O nome correto do conjunto de rock que acompanhou Caetano no festival é "Beat Boys", formado por músicos argentinos que moravam no Brasil e participaram da Tropicália, movimento liderado por Caetano e Gilberto Gil.

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Canoeiro Guató: breve registro da história da música em homenagem ao pov...


Compartilhado do canal do Professor Doutor Jorge Eremites de Oliveira. Composição do Professor Doutor e Maestro Sérgio Pereira, com arranjos de Alexander Onça e acompanhamento de Ailton Costa.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Comitê pela Reativação do Trem do Pantanal apresenta objetivos e cria núcleos (Jornalista Nelson Urt)

Comitê de Revitalização da Ferrovia e Reativação do Trem do Pantanal apresenta objetivos e cria núcleos

Artigo do Jornalista Nelson Urt sobre a primeira reunião de rearticulação do Comitê pela Reativação do Trem do Pantanal.

Os primeiros passos para recolocar o Trem do Pantanal nos trilhos começam a ser dados. Vão dizer que é uma utopia. Mas, como disse certa vez Eduardo Galeano, são as utopias que nos fazem caminhar.

Com oito participantes presenciais e mais de 100 online na live, a reunião do Comitê Permanente de Revitalização da Ferrovia em MS e Reativação do Trem do Pantanal e do Cerrado para cargas e passageiros, no dia 21 de maio de 2024, na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SIMTED Corumbá), serviu para apresentar para a população da fronteira o objetivo geral e os objetivos específicos, além de adicionar novos elementos e propostas neste debate que promete ser bastante amplo.

O objetivo geral é a criação do Movimento Estadual pela Volta do Trem aos Trilhos de Mato Grosso do Sul, para transportar cargas e passageiros. Entre os objetivos específicos está inserida a revitalização da Ferrovia e a reativação do trem nos trechos de Três Lagoas e Corumbá até o porto intermodal de Ladário, no ramal de Campo Grande a Ponta Porã, Itahum (Dourados) e Porto Esperança (Corumbá).

Mais: o Comitê está empenhado no fortalecimento da Associação dos Ferroviários Aposentados, Pensionistas Idosos e Anistiados do Pantanal (AFAPIP); na reorganização das associações de moradores dos imóveis históricos das vilas ferroviárias de Mato Grosso do Sul; na criação do Museu de História da Ferrovia em MS; e no apoio à reorganização e reestruturação do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras da Ferrovia de Mato Grosso do Sul.

Na reunião foram criados os Núcleos de Articulação, de Mobilização e de Comunicação, que ao longo da luta poderão receber novos integrantes. Houve o indicativo da data de 13 de Junho (feriado da Retomada em Corumbá e dia de Santo Antônio em Campo Grande), na sede da AFAPIP, em Aquidauana, para a próxima reunião.

Nelson Abnur Urt

Jornalista

quarta-feira, 22 de maio de 2024

NA RESISTÊNCIA E NA VIDA

Na resistência e na Vida

Os queridos Amigos Valmir Corrêa e Rubén Darío resistem bravamente às vicissitudes da Vida, e por eles há uma grande corrente de vibrações positivas, preces e orações das mais diferentes denominações religiosas. Nossa sincera e intensa torcida pela Vida desses queridos Amigos-Irmãos.

Esta semana foi de muita perplexidade, ansiedade e esperança, muita esperança. Feliz e graciosamente, Amigos de diferentes denominações religiosas em diversas cidades e países se mobilizaram para intensificar a corrente de vibrações positivas, preces e orações pela saúde de dois Amigos (com letra maiúscula) que se confundem com a História e a Cultura de nossa Corumbá cosmopolita. O Professor Valmir Batista Corrêa, pesquisador da História Regional que sistematizou com pioneirismo em nosso glorioso CEUC (hoje CPAN/UFMS) e iniciou a luta pelo tombamento do patrimônio histórico-arquitetônico regional, e o Artista Plástico Rubén Darío Román Áñez, cujo talento multidisciplinar não só produziu telas em diferentes técnicas de excelência como escreveu poemas e textos arrebatadores, além de música de excelente qualidade e peças teatrais memoráveis.

Corumbá tem essa característica, de cosmopolitismo e pioneirismo. No início da década de 1970, o recém-formado bacharel e licenciado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Valmir Corrêa veio de mudança com sua Companheira de Vida e de Ofício Professora Lúcia Salsa Corrêa para literalmente fazer História: não apenas sistematizaram o processo de pesquisa da História Regional como contribuíram para que o curso de licenciatura, dos primeiros a serem oferecidos pelo então Instituto Superior de Pedagogia de Corumbá (depois Centro Pedagógico de Corumbá, vinculado à Universidade Estadual de Mato Grosso, UEMT), tivesse uma grade curricular do mesmo nível que centros situados no chamado eixo Rio - São Paulo. Não se limitaram a apenas estudar, mas a lutar por uma série de questões fundamentais, como a conservação do patrimônio histórico e arquitetônico do Casario do Porto e de seu entorno e a valorização de um conjunto de tradições culturais, como o siriri, o cururu e o São João, por meio de sua melhor Aluna e Amiga, a saudosa Professora Eunice Ajala Rocha, cuja dissertação de mestrado, sob a co-orientação do casal Corrêa, é pioneira na pesquisa e valorização dessas manifestações populares tradicionais.

Essa mesma Corumbá cosmopolita tem outro protagonista igualmente gigante e pioneiro em diversas áreas das artes. O então jovem Artista Plástico Rubén Darío Román Áñez, cujo Pai, o saudoso e querido Señor Rubén Darío Román Vaca (ex-chefe da Estação Ferroviária da Bolívia em Corumbá), escolhera Corumbá como asilo político por conta da perseguição aos simpatizantes e dirigentes do Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR) durante o ciclo de ditaduras militares na Bolívia. Não sei como Rubén Darío conhecera meu saudoso Irmão Mohamed, por meio de quem tive, ainda garoto, o privilégio de conviver com Rubén Darío, que além de talentoso Artista Plástico, é poeta, escritor e dramaturgo. Como o meu Irmão se eternizou em 1974, não pude continuar naquela época a ver Rubén Darío, mas por meio de meu saudoso Pai, que recorria a ele para as traduções de inúmeros artigos seus ao português, sempre estava em contato, bastante breves, mas frequentes.

Conheci o Professor Valmir em 1975, creio que no mês de junho, quando o procurei por causa de uma enquete que precisávamos realizar sobre a opinião do jovem corumbaense e ladarense sobre a divisão de Mato Grosso. Precisávamos que alguém fizesse uma crítica ao nosso questionário, e o saudoso Professor Octaviano Gonçalves da Silveira Junior, nosso orientador no jornal estudantil que tentamos implantar na Escola Estadual Julia Gonçalves Passarinho, nos indicou o Professor Valmir, no então Centro Pedagógico de Corumbá. [Para o leitor ficar sabendo, mais de 85% dos entrevistados foram contrários à divisão do estado.] Foi como nossa Amizade (dessas com letra maiúscula) começou, pois logo depois estivemos juntos em sua incompreendida luta pela preservação de verdadeiros expoentes do apogeu arquitetônico de Corumbá, como a sede da antiga Intendência Municipal, o imponente prédio do Cine Santa Cruz e o prédio da Rádio Difusora Mato-grossense S/A, acintosamente demolidos. Ele, de início, me disse que o nome dele é Valmir, Professor é o ofício, e que o chamasse pelo nome -- isso permitiu que nossa Amizade fosse sincera e que lhe desse minha opinião, que nem sempre era compatível com a dele.

Nosso reencontro com Rubén Darío foi quando o Irmão Ruberth e eu fomos selecionados como estagiários da extinta TELEMAT, sob a gerência do Senhor Getúlio Antônio Pereira, e integrávamos uma equipe de cinco universitários para a tarefa prioritária de preparar e depois realizar uma pesquisa de campo sobre linhas telefônicas do subdistrito de Corumbá (portanto, Corumbá e Ladário), uma experiência memorável que repeti em Campo Grande com universitários da capital. Durante o tempo em que estagiamos, ora o Ruberth visitava a casa de meus Pais, ora eu visitava a casa dos Pais dele, e nessas idas e vindas acabei reencontrando Rubén Darío, minha querida Professora Roma e, obviamente, Don Rubén Darío e Señora Daisy Áñez de Román. Creio que desde então não mais nos perdemos de vista, nem quando foi morar em Curitiba por alguns anos: em sua passagem por Campo Grande, ele dera uma longa entrevista aos Jornalistas Edson Moraes e Margarida Galeano, do Jornal da Cidade original, cuja edição, aliás, até bem pouco tempo eu tinha em meio à minha ‘hemeroteca’ que os cupins fizeram orgia.

No tempo em que tive a honra de trabalhar num projeto dirigido pelo saudoso Seu Mário Corrêa Albernaz, chefe de gabinete do Deputado Sérgio Cruz, estive diversas vezes em Corumbá, quando o Professor Valmir foi titular da Secretaria Municipal de Educação e Cultura e, ao mesmo tempo, Juvenal Ávila de Oliveira assessor de Imprensa da Prefeitura Municipal. Era administração de Armando Anache, indicado pelo PDS, e que depois saiu para ser candidato a deputado estadual, em 1982. Quando retornei a Corumbá, em 1984, como correspondente de um jornalão, o Professor Valmir e o saudoso Jornalista Márcio Nunes Pereira foram dos que me franquearam acesso a diversas fontes, e no caso do Valmir ao acervo da Câmara, com a devida autorização dos responsáveis pelo arquivo. Ele foi vereador entre 1983 e 1993, tendo sido autor da primeira lei municipal de tombamento do Casario do Porto e Entorno, da lei de implantação do Espanhol como língua estrangeira (na época, sob a vigência da Lei Federal nº 5.692/1971, só o Inglês era admissível), da lei de declaração de utilidade pública da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira de Corumbá e da Sociedade Beneficente Muçulmana de Corumbá e da lei de criação do Dia Municipal de Solidariedade ao Povo Palestino em 29 de novembro.

Nessa época, Rubén Darío estava abrindo com os Irmãos o emblemático ‘La Esquina de Don Quijote’, memorável espaço de cultura e lazer na confluência da General Rondon e Major Gama, pioneiro em excelência artística, qualidade dos serviços e socialização e entretenimento. Era ponto obrigatório para quem visitava a cidade e estava à procura de boas referências, até porque com o primeiro governo democrático, o do Doutor Wilson Barbosa Martins, o turismo no Pantanal começava a receber fomento e infraestrutura. Foi quando Rubén Darío fez um projeto de festival latino-americano sediado em Corumbá e o entregou ao então presidente da Fundação de Cultura, recém-criada, o saudoso Advogado José Otávio Guizo, grande amante da cultura popular latino-americana e das tradições pantaneiras, sobretudo corumbaenses. No governo de Marcelo Miranda, o Amigo-Camarada Cândido Alberto da Fonseca foi diretor-executivo por pouco tempo, e para ele Rubén Darío endereçou uma versão aperfeiçoada, no mesmo sentido.

Quando a querida Elenir Machado de Mello foi bibliotecária responsável pela Biblioteca Pública Estadual Dr. Gabriel Vandoni de Barros e, com o fundamental apoio do querido e saudoso Camarada Jadallah Safa, de Yahya Mohamad Omar e de Najeh Mustafa, presidente à época da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira, realizou-se a Primeira Mostra da Cultura Árabe-Palestina de Corumbá (que durou três meses, dentro do espaço da biblioteca), Valmir e a Professora Lúcia foram imprescindíveis para articular o apoio do secretário de Cultura, Humberto Espíndola, e primeiro escalão, tendo ganhado relevância estadual, mas por conta da demissão do presidente da Fundação de Cultura, o projeto acabou ficando apenas em Corumbá. Nesse mesmo ano, em novembro, Valmir deu relevante apoio para a realização do evento de fundação do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino Jadallah Safa, para o qual vieram prestigiar o saudoso Doutor Roberto Orro, então titular da Secretaria de Estado de Justiça, acompanhado das Jornalistas Margarida Gomes Marques e Maria Helena Brancher, respectivamente presidente do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso do Sul e representante do Grupo de Apoio ao Índio (GAIN/MS).

Foi precisamente na luta pela valorização do patrimônio histórico e cultural que Valmir e Rubén Darío estiveram juntos, tanto na Primeira Semana da Cultura, em setembro de 1991, como nas discussões preliminares de preparação do Festival de Corumbá, quando o saudoso Professor Fausto Matto Grosso Pereira foi pró-reitor de Assuntos Comunitários da UFMS e deu prioridade a esse projeto, esboçado durante sua participação na disputa para reitor da mais antiga universidade pública do estado. Realizado em duas oportunidades, em 1994 e 1996, o Festival de Corumbá foi uma avant première do que viria a ser, em suas primeiras edições, o Festival América do Sul, construído coletivamente sob a genial coordenação do Professor Hélvio Rech, então assessor do vice-governador Egon Krackeke, titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, em 2003.

Hoje esses dois Amigos encontram-se em outra batalha, a pela Vida, depois de acometidos por problemas cardíacos e cardiovasculares, um em Campo Grande e o outro em Corumbá. São alvissareiras as notícias sobre o estado de saúde deles. E conclamamos os Amigos e as pessoas de fé que sabem o verdadeiro sentido de caridade para que se somem na corrente de preces, orações e vibrações positivas para sua pronta recuperação. Todos agradecemos pela produção incansável do Valmir e do Rubén Darío, sobretudo a coletividade sul-mato-grossense, e em especial a História e a Cultura, para as quais vêm dedicando sua Vida.

Ahmad Schabib Hany 

quinta-feira, 16 de maio de 2024

QUESTÃO DE DIGNIDADE, CONSCIÊNCIA, LEALDADE E EMPATIA

Questão de dignidade, consciência, lealdade e empatia

A tragédia em curso no RS é parte da crise climática decorrente de um modelo de desenvolvimento predador dos tempos coloniais, fruto da cobiça insaciável dos que hoje se alardeiam paladinos da civilização, da democracia e da liberdade. Com que moral?

É inarrável, indescritível, o drama de milhões de gaúchos que de repente se viram frágeis e impotentes ante um flagelo climático decorrente da obsessão pelo lucro acima da Vida, da Natureza e da Ciência. Desde que as etnias mais predadoras do território europeu se apossaram dos destinos de seus conviventes e depois de todos os continentes, tem sido essa a sucessão de tragédias alastradas por toda a humanidade. Não se trata de fatalidade, é crime premeditado pelos abutres do mercado e seus fantoches que têm o cinismo de se passar por paladinos da civilização, da democracia e da liberdade.

Mais que de solidariedade, que é imprescindível e inadiável, o valoroso Povo do Rio Grande do Sul é merecedor de respeito e reconhecimento de sua dignidade, por uma questão de consciência, lealdade e empatia. Altivo, o Povo Gaúcho lutou não só contra os desmandos durante o chamado período ‘imperial’, em que parte da família real portuguesa manteve sua hegemonia a ferro e fogo, perseguindo republicanos, abolicionistas e lutadores pela independência efetiva do Brasil em todos os quadrantes deste território de dimensões continentais. Não esqueçamos da brava gaúcha Anita Garibaldi, uma das protagonistas da revolução popular que em fins do século XIX consolidou a Unificação Italiana.

No século XX, o Rio Grande do Sul foi palco de célebres marcos históricos, como o início da Coluna Prestes, liderada pelo verdadeiro capitão (não como esse covardão que amarela o tempo todo, um inominável) Luiz Carlos Prestes; o levante da Revolução de 1930, sob a liderança de Getúlio Dornelles Vargas, o maior estadista brasileiro no século XX, a despeito de alguns equívocos, como o de dar guarida a camaleões como Filinto Müller, cuiabano de triste memória; a Rede da Legalidade corajosamente empreendida pelo saudoso Leonel de Moura Brizola, que enfrentou o fascismo travestido de patriotada em 1962, quando uns generecos de quepes sujos tentaram impedir a posse constitucional do vice João Belchior Marques Goulart após a renúncia inusitada do mato-grossense Jânio da Silva Quadros, e, sobretudo, as manifestações multitudinárias durante a resistência à ditadura, razão pela qual não por acaso três presidentes do ciclo foram gaúchos: Arthur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, este último, apesar de seus vínculos com o regime de 1964, digno do reconhecimento de estadista.

“Ir passando a boiada, mudando todo o regramento e simplificando as normas ambientais”, lembra-se? É fundamental nos reportar à fala reveladora do vira-latas do inominável para o Meio Ambiente, o tal Ricardo Sales. Durante os quase dois anos e meio de desserviço ao Estado brasileiro, como todo o desgoverno do inominável, puniu fiscais e perseguiu defensores das matas, mananciais e bacias, além de incentivar a ‘exportação’ de madeira de origem ilegal. Foi pego com o bico (porque hiena não tem boca) na botija, por isso seu comparsa não pôde tê-lo mantido, mas conseguiu fazê-lo deputado federal. Ora, nem os mais inocentes acreditariam que quatro anos de desmandos e mais dois e meio de promiscuidade institucional do ‘brimo’ traíra no desmonte da proteção ambiental no País todo são pouco para descompensar o equilíbrio ambiental já fragilizado pelos anos de monocultura de exportação e tudo mais?

Enquanto o bravo e digno Povo Gaúcho trabalhava de sol a sol, alguns parasitas das castas de serviçais se deram ao despeito de jogar para baixo do tapete dos suntuosos palácios de governo, em Porto Alegre como em Brasília (isso ainda no regime de 1964), importantes projetos responsáveis pela proteção da bacia do Taquari [não o daqui, mas o do Rio Grande do Sul] e planos de contensão e drenagem e planos diretores de Porto Alegre. Durante o mandato do digno Governador Pedro Simon e mais recentemente as gestões de Olívio Dutra e Tarso Genro importantes iniciativas foram tomadas, mas interrompidas com a aparição daqueles monstrengos que serviram de fantoches para o golpe de 2016, uma tal de ‘jornalista’ Ana Memélia e seu coleguinha de mesmo naipe Lelé Xixins, nomes que devem ser apagados da história honrada do Rio Grande do Sul.

E o que os xexelentos Memélia e Xixins têm a ver com a tragédia? Como fantoches, lavarão as mãos sujas que têm, não só como péssimos ‘jornalistas’, mas verdadeiros parasitas que serviram de ancoradouro de interesses inconfessáveis ao lado do crápula Eduardo Cunha e todos os canalhas que o secundaram, inclusive o tal Aéreo Never, que com a cara lavada reaparece falando em pacificação do País, depois de ele ter ido de cócoras (ou teria sido de quatro?) à Casa Branca e ao Capitólio, nos Estados Unidos, pedir ajutório para golpear Dilma depois de perder mais uma vez as eleições em 2014.

Com a história não se brinca. Os fatos podem ser jogados na poeira do tempo, mas um dia eles vêm à tona. E reapareceram: no desgoverno do ‘brimo’ temer escariotes, as leis de privatização do saneamento e da energia foram uma das moedas de troca pelo apoio dado por ‘empresários’ canalhas ao golpe. A companhia de saneamento de Porto Alegre, entre outras, foram fatiadas por organizações criminosas transnacionais que não cumpriram as metas estabelecidas anteriormente pelas estatais privatizadas, no tocante aos planos de escoamento e drenagem e de barreiras de contensão aprovados e homologados anterior à farra pós-golpe. Podemos chamar isso de ‘fatalidade’? Nem com a maior cara-de-pau dos capetófilos espalhados por ali e alhures...

MEDIDAS URGENTES

Tempestiva e peremptoriamente, o governo federal vem estruturando diversas frentes de ações, serviços, programas e, agora, políticas regionais de governo para salvar, resgatar, acolher, proteger, socorrer e, inclusive, consolar milhares de cidadãs e cidadãos gaúchos vitimados por esse flagelo climático de proporções nunca antes ocorrido naquele estado. Não por acaso, servidores civis e militares foram designados com o de melhor de seu corpo técnico-operacional para agir com profissionalismo e urgência no socorro às crianças e adolescentes, idosos, pessoas com deficiências e adultos de todas as idades.

Além de hospitais de campanha do Ministério da Saúde, Exército, Marinha e Aeronáutica, e de postos de operação e atendimento de instituições como a Defesa Civil Federal, da Caixa Econômica Federal e de 18 ministérios do Governo Federal, Lula liberou o envio de 5,1 mil reais por família atingida pela tragédia, suspendeu a dívida do estado (RS tem a quarta maior dívida do País), enviou 67 bilhões de reais para várias frentes de ações e criou a Secretaria Extraordinária de Reconstrução do Rio Grande do Sul, cujo titular será o atual titular da Comunicação, o gaúcho Paulo Pimenta, o que não onerará o erário.

Como o governador Eduardo Leite é um ativista convicto da cartilha neoliberal, apesar das constantes escaramuças perpetradas por seus pares homofóbicos de dentro e fora do Rio Grande do Sul, ele tinha que, em plena tragédia humanitária, fazer um manifesto em prol do comércio. Seus apoiadores dizem que era necessário naquele momento dar ‘um alento’ aos empresários do estado, como muitos fizeram no início da pandemia, como ‘governo do mercado’. Primeiro que governo é do povo, que o elege para exercer em seu nome, e mais ninguém. Segundo, parece que os assessores não aprenderam com os rompantes do inominável que votos perdidos são os exatos que faltam para a vitória seguinte. Além de puro amadorismo político, sua defesa ardente foi atacada por aliados e ex-aliados, que, homofóbicos, disseram que tudo isso era por conta de seu governo não ter uma primeira-dama que lhe desse alguns toques durante as entrevistas, numa alusão ao desempenho de Janja Silva, a Companheira de Vida do Presidente Lula.

Imperdoável, contudo, é a fala infeliz de uma autointitulada ‘jornalista’ num canal de tv de Brasília. Como não pretendo dar-lhe notoriedade, tamanha a sua obtusidade, prefiro só mencionar o tamanho da desfaçatez que grassa (ou desgraça) o meio. Com ares de madame da década de 1950, a tal ‘jornalista’ tentava transmitir a solidariedade pelas vítimas da tragédia do Rio Grande do Sul, mais ou menos assim: “Claro, né? Você se põe na posição dessas pessoas que perderam tudo. Roubaram minhas joias no final de 2023. Foi doloridíssimo! Eu fico imaginando quem perdeu tudo: sua casa! Imagina uma pessoa que deu um duro danado para comprar a sua cama, seu fogão, sua geladeira, e não tem mais nada, tudo embaixo d’água!”

Se fecharmos os olhos, parece escrete feita pelo genial Jô Soares, mas, para desgraça nossa, é a trágica realidade. Poderia ser também um deboche à la Maria Antonieta, aquela que, ao saber que o povo clamava por falta de pão, sugeriu que seus súditos comessem brioches... É o que dá tirar da grade curricular disciplinas como História Geral, Filosofia, Sociologia e Antropologia Cultural nos cursos universitários. Aconteceu na nefasta Reforma Universitária do Acordo MEC-USAID, de 1968, sob a batuta do coronel Jarbas Passarinho. Aconteceu, de novo, durante os desgovernos do ‘brimo’ e do inominável. Temer vai levar para a cova ter colocado um canalha no ministério da Educação, cujo nome não cito para não lhe dar visibilidade, até por ter negociado a oferta do curso de Medicina em Corumbá com um grande grupo empresarial do ramo do ensino superior, curso pleiteado em rara unanimidade, inclusive com o Pacto Pela Cidadania, para a Universidade Federal.

Ahmad Schabib Hany

quarta-feira, 8 de maio de 2024

"Logo Ali", livro-homenagem a Ale Seher, pela Escritora e Professora Anna Lucia Almeida Dichoff


https://youtu.be/76DFNMC8smA?si=xCyRpmyFa9g6Su88

Escritora: Anna Lucia Almeida Dichoff

Ilustração: Ju Candia

Vozes/ Tradução

Português - Salim Haqzan

Árabe - Omar Faris

"LOGO ALI", livro-homenagem de Anna Lucia Almeida Dichoff a Ale Seher

‘Logo Ali’

Jovem Escritora (além de fonoaudióloga e Professora), a corumbaense Anna Lucia Almeida Dichoff homenageia em livro memorável o querido Ale Seher, com a participação das vozes e tradução de Salim Haqzan e Omar Faris.

Genial, sensível, talentoso, eloquente, solidário, generoso e, sobretudo, envolvente na criação e narrativa. Um surpreendente e inimaginável livro-homenagem ao querido Amigo Ale Seher, o imigrante sírio que se tornou corumbaense, flamenguista. É assim com que Anna Lucia Almeida Dichoff nos acolhe em seu universo leve, cheio de empatia, a nos convidar a um mundo de amor, esperança e graça.

Percebe-se sua alma leve e livre a planar sobre tamanhas adversidades, além da distância que separa a Síria, terra de Ale e de sua Família, do Brasil, este país-continente que soube acolher e proporcionar um porvir generoso a ele e a todos os seus. Captou com ludicidade e maestria o espírito peregrino desse imigrante que desde a juventude escolheu o Brasil -- e dentro do Brasil nossa Corumbá cosmopolita -- para sobreviver, viver e semear sonhos regados a suor e lágrimas, como nas fábulas árabes que líamos em nossa infância.

Deu a impressão de que estivéssemos a interagir com alguma obra do generoso e genial Gibran Khalil Gibran ou com o brasileiro mais árabe e sensível, Malba Tahan (o imortal de ‘O homem que calculava’ e muitas obras mágicas que encantaram a nossa juventude), que como Professor, embora apaixonado pelo universo árabe, jamais pôde ter viajado para lá, até porque seus derradeiros anos foram em plenos anos de chumbo. Que a generosa e dadivosa Anna Lúcia possa, sim, conhecer ‘in loco’ [êta expressãozinha embolorada!] não apenas a Síria de Ale Seher, como o Líbano de Gibran Khalil Gibran, a Palestina de Ghassan Kanafani, o Egito de Ahmad Shawki, enfim, a Arábia mágica e diversa e encantadora.

Não dá para fazer destaques, extrair parte do livro sem incorrer no indelicado terreno da expropriação: o livro (como o homenageado) é todo mágico, cuja integralidade não pode ser vilipendiada por aventuras destituídas de sensibilidade, empatia. Melhor interagir com a autora, sem intermediação, sem intervenção. Como em uma relação de Amizade, não há como recorrer a frações, fricções, sem perder a pureza, o encanto, desse depoimento revelador e cativante. Depois de duas ou três audições, não há como não se levantar e vibrar: bravo, bravo, bravo!

‘Logo Ali’ é livro ilustrado por Ju Candia tecnologicamente impactante: nas vozes de Salim Haqzan e Omar Faris, que colaboraram também na tradução do depoimento-composição de Ale Seher, imigrante sírio por anos proprietário da ‘Casa Tartous’, à rua Delamare, ao lado da não menos emblemática ‘Casa Estrela’ [depois ‘Imobiliária Perfil’] do saudoso e querido Amigo Soubhi Issa Ahmad, que entrou para a história por causa de uma brincadeira de mau gosto de outro imigrante, o ‘Turco Loiro’, mas que a Vida o protegeu por ter sido o lar do cordial e memorável Vereador Edu Rocha, poucos meses antes de sua execução a queima-roupa, a primeira casa a ser visitada pelo jovem mascate e seu atrevido diálogo inocentemente escrito em árabe.

O talento da autora já me havia sido comentado pelo querido e saudoso Augusto César Proença em um de nossos encontros derradeiros, quando se declarou seu fã desde sempre. Anos depois, o querido Amigo Armando Arruda Lacerda (que tive a honra de conhecer e desde logo privar de sua Amizade na mesma oportunidade, em que a Sociedade dos Amigos da Cultura preparava a Primeira Semana da Cultura, em setembro de 1991, portanto, há mais de três décadas), no primeiro grito de socorro pelo ILA -- ‘Abra seu coração para a cultura: adote o ILA’ --, que de novo precisa de um impulso solidário para evitar que se torne mausoléu das inúmeras peças e volumes de seu riquíssimo acervo, se é que ainda existe.

Foi assim como conheci essa conterrânea, também colega de ofício (Professora, ela com letra maiúscula!), embora não tenha tido a honra de vê-la pessoalmente. Mais um presente que devo ao querido Armando Lacerda e ao saudoso Augusto César, sem os quais a Primeira Semana da Cultura, de 1991, teria sido bem menos impactante, a despeito da participação de Amigas generosas como Nicole Kubrusly, Sidnéia Tobias, Mara Leslie do Amaral, Maria Helena de Andrade, Marlene Peninha Mourão, Heloísa Helena da Costa Urt, bem como de igualmente generosos Amigos como Rubén Darío Román Áñez, Augusto Alexandrino dos Santos Malah, Jorapimo, Lincoln Gomes, Carlos Augusto Canavarros, Luiz Carlos Rocha, Arturo Castedo Ardaya, Valmir Batista Corrêa, Lamartine Figueiredo Costa, Lécio Gomes de Souza, Salomão Baruki, Fadah Scaff Gattass, Farid Yunes Solominy, Joel de Souza, Jonas Luna de Lima, Arnaldo Gomes da Costa, Márcio Nunes Pereira, Armando Amorim Anache, José Carlos Cataldi, Cecílio de Jesus Gaeta, Adelson Martins Navarro, Airton Pereira, Armando Anache, Pedro Paulo de Barros Lima, Walmir Coelho, Mário Sérgio de Abreu, Jota Carneiro, Ziad Ibrahim e Antar Mohamed.

Foi um avant première de espaços públicos memoráveis e longevos, como o Pacto pela Cidadania (Movimento Viva Corumbá), a Ação da Cidadania contra a Fome e pela Vida e o Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário (atual Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa), como bem percebeu Lacerda, que logo me apresentou à Comissão Organizadora da Segunda Semana Social Brasileira local. Aliás, ele, Lacerda, e Ernesto Cuellar tiveram papel digno de reconhecimento histórico, ao lado de Dona Fabiana Costa, Professora Mariléia Ribeiro, Suzete dos Santos, Angélica Anache, Luz Marina Cavalcanti da Silva, Edenir de Paulo, Cristiane Sant’Anna de Oliveira, Noemi Feitosa, Fátima Garcia e todo o pessoal da agência local do Banco do Brasil, José Eduardo Katurchi, Seu Jorge José Katurchi, Seu Cláudio Dichoff, Seu Mohamad Abdallah, Najeh Mustafa, Alexandre Gonçalves dos Santos, Padre Antônio Müller, Padre Ernesto Saksida, Dom José Alves da Costa, Padre Pasquale Forin, Padre Emilio Mena, Pastor Marcelo Moura, Pastor Fernando Sabra Caminada, Pastor Antônio Ribeiro de Souza, Pastor Cosmo Gomes de Souza, Irmã Antônia Brioschi e Irmã Zenaide Britto.

Como discordar do Amigo Ale Seher -- e, por tabela, de Anna Lúcia Almeida Dichoff e, é claro!, do querido e saudoso Amigo e Companheiro Jorge José Katurchi, o argentino mais corumbaense da História, que também merece um livro com suas geniais observações --, Corumbá, sem dúvida, é o Paraíso na Terra! Além do cosmopolitismo que fecunda de modo efetivo nosso cotidiano, a fecundidade de talentosos e generosos escritores, poetas, músicos, dramaturgos e artistas plásticos, entre outros, nos incentiva a renovar nossa esperança por novo porvir, em que crianças e adolescentes desconheçam a fome, miséria, discriminação, exclusão, intolerância e recalque. É com a ludicidade e a literatura (graças à tecnologia, como arte em suas diversas formas de expressão) que construiremos um novo Renascimento -- ou Renascença, aliás, nome de uma ‘lojínia’ popular de Seu Amouri, gentil imigrante libanês Amigo de meu Avô materno que para os clientes, Seu Amorim ou Don Amurín, no coração da Feira Boliviana, onde meu saudoso Pai também se estabeleceu em meados da década de 1960.

Como o/a generoso/a leitor/a preferir, Renascimento ou Renascença. É do que estamos precisando. A cultura é o fomento da cidadania. A cultura é porta-voz do Amor, esse que foi destacado pelo homenageado da, permita-me, querida Anna Lucia. E é com autoras e autores com esse grau de generosidade e iluminura que conquistaremos essa sociedade pela qual nossos ancestrais, em todos os quadrantes do Planeta, lutaram, mas sem armas: com livros, letras, sensibilidade, empatia, solidariedade, humanismo.

Obrigado, Anna Lucia, por nos dar esperança! Como bem disse o saudoso Poeta Manoel de Barros, certa vez, em certa obra: “A minhoca areja a terra; o poeta a linguagem.” Vamos, pois, arejar nossos horizontes, com as letras, as artes, a cultura e, sobretudo, o amor, essas quatro letras que desde nossas mais tenras idades nos nutrem de civilidade, valores humanistas e, obviamente, sentimentos nobres. Com Ale Seher, na companhia das vozes de Salim Haqzan e Omar Faris, Anna Lucia Almeida Dichoff mais uma vez [pois, pelo que pude ler há pouco, ela também é autora de “Uma bailarina no Pantanal”, “Renê, o aprendiz pantaneiro”, “Olhinhos brilhando”, “Ele, o guardião da natureza”, “Minha Avó de 100 anos” e “Meu Avô de uma perna só”, todos publicados pela Letraria E-ditora] faz jus ao seu segundo nome, Lucia (sem acento), a nos iluminar a alma e o horizonte, e assim nos resgatar a esperança e, sobretudo, a infância, esse grande presente que nos clama por tempos generosos, hoje e sempre.

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 2 de maio de 2024

O mestre sala dos mares - Chico Buarque e João Bosco

Elis Regina - "Mestre Sala dos Mares" (Elis Ao Vivo)

MANIFESTAÇÃO INTEMPESTIVA

Manifestação intempestiva

O comandante da Marinha, com a sua manifestação intempestiva, não contribui para o apaziguamento castrense. A volta para os quartéis, em caráter incondicional e efetivo, é indispensável para a manutenção do Estado Democrático de Direito: na história do Brasil não cabe às forças armadas poder moderador nem de tutela.

Que o setor castrense precisa agir com parcimônia e máximo rigor em suas funções e prerrogativas constitucionais, não há a menor dúvida, e isso está fora de qualquer discussão. É a Constituição de 1988 que deixou bastante claro, depois de 21 anos sob autoritarismo, ilegalidades e a penca de arbitrariedades do regime de 1964, desde a prática recorrente e sistemática da tortura até o desaparecimento de corpos de pessoas que não tinham qualquer pendência com o Estado e muito menos com a Justiça.

Aos negacionistas de plantão, adeptos do mantra do revanchismo e da conspiração à torta e direita, não custa lembrar o extenso documento produzido, ainda na década de 1990, pelo relator do STM (Superior Tribunal Militar), jurista Flávio da Cunha Flores Bierrenbach, destacando a inconsistência jurídica e falta fundamentação constitucional das acusações contra cidadãos comprovadamente inocentes que tiveram suas vidas transtornadas sem qualquer razão à luz da legalidade. Bem entendido, isso quando não foram reduzidos a cadáveres, desovados com identidades falsas e laudos forjados por médicos legistas, tão criminosos quanto os executores.

Quando os três Poderes, por meio de seus respectivos titulares, reiteraram de modo eloquente, em 9 de janeiro de 2023, a defesa incondicional do Estado Democrático de Direito consignado na Carta Constitucional promulgada pelo Senhor Diretas, Deputado Ulysses Guimarães, em 6 de outubro de 1988, não pairaram dúvidas de que o papel das instituições castrenses precisava ser recomposto após a virulenta gestão do ex-capitão desatinado desde seus anos juvenis e que por um ardil acabou cacifado para a Presidência da República, a despeito de ser comprovadamente desqualificado para relevante cargo.

Mesmo assim, o atual comandante da Marinha incorreu em manifestação intempestiva ao se imiscuir em tramitação na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados sobre a inclusão de João Cândido Felisberto (cujo epíteto é Almirante Negro ou Mestre-sala dos Mares, na composição de João Bosco e Aldir Blanc eternizada na voz de Elis Regina durante os anos de chumbo). Na verdade, esta é a versão liberada pela censura, pois a primeira versão simplesmente foi vetada em sua totalidade pelos ídolos dos que hoje se reputam paladinos da ‘liberdade de expressão’ (sic):

Faz muito tempo nas águas da Guanabara / O dragão do mar reapareceu / Na figura de um bravo feiticeiro / A quem a história não esqueceu / Conhecido como o Navegante Negro / Tinha a dignidade de um mestre-sala / E ao acenar pelo mar / Na alegria das regatas / Foi saudado no porto / Pelas meninas francesas / Jovens polacas / E por batalhões de mulatas / Rubras cascatas jorravam das costas dos santos / Entre cantos e chibatas / Inundando o coração do pessoal do porão / Que a exemplo do feiticeiro gritava então / Glória aos piratas, às mulatas, às sereias / Glória à farofa, à cachaça, às baleias / Glória a todas as lutas inglórias / Que através de nossa história / Não esquecemos jamais / Salve o Navegante Negro / Que tem por monumento / As pedras pisadas no cais / Mas salve / Salve o Navegante Negro / Que tem por monumento / As pedras pisadas no cais / Mas faz muito tempo...” (João Bosco e Aldir Blanc, 1974, versão interpretada por Elis Regina, com ‘faz muito tempo’ em vez de ‘há muito tempo’ e ‘pelas meninas francesas’ em vez de ‘pelas mocinhas francesas’, na segunda versão de João Bosco e Aldir Blanc.)

Belíssima composição, digna da parceria imortal desses dois gigantes da MPB. Na voz da inesquecível Elis Regina, então, tornou-se um clássico do cancioneiro brasileiro. Isso tudo em pleno período de truculência da (mal)ditadura, nos anos de chumbo. João Cândido Felisberto era vivo e pôde ouvi-la, ainda que sua saúde mental já estivesse fragilizada, em decorrência de tantos atos de injustiça desde 1910, embora tivesse sido anistiado logo depois da revolta, vitoriosa ao reconhecer a ilicitude do castigo, degradante e cruel. Mas o estigma contra o Almirante Negro continua a rondar a sua memória.

Nomeado pelo Presidente Lula no início de seu atual mandato legitimamente conquistado pela vontade da maioria do eleitorado nacional e contra o qual muitos servidores públicos com e sem farda tentaram um golpe em 8 de janeiro, violando grave e acintosamente a disciplina e a hierarquia militar, inclusive oficiais de altas patentes. Nesta semana, o Almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen criticou em nota oficial o projeto de lei que inclui no panteão de heróis e heroínas do Brasil o nome do líder da Revolta da Chibata, João Cândido Felisberto, ocorrida em 1910, contra a tortura e os castigos físicos cometidos por oficiais da Marinha a praças afrodescendentes e pobres, um evidente castigo herdado do tempo da escravidão e que perdurara até aquela ocasião.

Mas por que condenar João Cândido, líder da Revolta da Chibata, de 1910, pela coragem e bravura de enfrentar os desmandos dos governos oligárquicos da Velha República que não haviam banido práticas hediondas, do tempo da escravidão de triste memória, quando a lei que amparava essa prática repulsiva já havia sido revogada?

Por que um comandante de uma das armas se insurgir intempestivamente contra projeto de lei que tramita há anos no Congresso Nacional -- é bom que se diga que o projeto, que iniciou no Senado da República, já tramitou e foi aprovado pelo plenário daquela casa --, quando ele, como membro de um Governo de Reconstrução Nacional, cônscio do papel histórico de assegurar equilíbrio e parcimônia dos setores castrenses, irresponsavelmente atiçados por seres totalitaristas que tentaram de tudo para romper a ordem democrática, mas que felizmente não tiveram competência e discernimento para consumar tal projeto, próprio de fascistas, facínoras, terroristas?

Quem está por trás desse conjunto de ações orquestradas para indispor o frágil equilíbrio duramente construído pelo Presidente Lula para efetivar seu projeto de responsabilidade social, responsabilidade fiscal e responsabilidade política? É nesta última responsabilidade que se sustentam todos os ocupantes de cargos institucionais do Governo Federal, sob a égide da constitucionalidade, dos valores civilizatórios e sobretudo da soberania popular. A soberania -- popular, nacional, tecnológica e alimentar -- é, aliás, a pedra angular em que se fundamenta a estratégia deste Governo de Reconstrução Nacional.

Isso cheira, sim, chantagem, revanchismo, licenciosidade daqueles que apostam no quanto pior melhor. Felizmente o comandante da Marinha tem currículo em que sua trajetória o referenda como militar institucionalista e rigorosamente focado nas atividades-fim de seu ofício. No entanto, essa manifestação intempestiva, provavelmente levada a efeito para atender ao seu público interno, não coaduna com a sua prerrogativa de membro de um governo de pacificação e de apaziguamento de um setor que só não chegou às vias de fato em 8 de janeiro porque diversos atores políticos e militares entraram em cena nos bastidores, inclusive as altas esferas diplomáticas junto à Casa Branca.

Como comandante da Marinha, é sabedor de que desde quando a política entrou na caserna pela porta dos fundos, à sorrelfa, a disciplina e a hierarquia ficaram comprometidas, e por isso ele tem que ser o primeiro a dar o exemplo à tropa e aos vários escalões do oficialato, de modo a assegurar o equilíbrio institucional e desintoxicar o pensamento comum da caserna, impregnado pela ideologia fascista disseminada pelos seguidores do inominável e seu séquito de negacionistas e obscurantistas irresponsáveis.

Não se trata de opção, e muito menos favor: é obrigação, dever histórico. A política que fique no ambiente político. E agir com comedimento e prudência é não dar combustível às labaredas espalhadas pelos quatro cantos do país. Lealdade e consciência com a Nação, com o Estado Democrático de Direito, com a História. Até porque, mesmo que tenha se tratado de um ato de insubordinação aquela revolta liderada por João Cândido Felisberto, naquele período histórico era recorrente que o jovem oficialato de todas as forças fosse às ruas defender nova ordem institucional, pois o ambiente estava todo eivado da lúgubre promiscuidade dos ‘coronéis’ (‘caciques’ políticos regionais, em sua maioria donos de terras que tratavam a coisa pública como extensão de suas propriedades, como se privada fosse) que mancharam de sangue os primórdios da vida republicana.

À exceção de alguns então jovens oficiais rebelados nos idos da década de 1920, como Luiz Carlos Prestes quando um dos líderes da Coluna Prestes (entre 1924 e 1928), a grande maioria dos generais e altos oficiais que participaram do golpe de 1º de abril de 1964 eram ex-integrantes do Movimento Tenentista ou da própria Coluna Prestes. Alguns já fora da caserna, em plena atividade política, como no caso do cuiabano Filinto Strubing Müller, que de aliado de Getúlio Vargas encerrou sua vida pública (e privada, pois morreu em seu aniversário de 73 anos no desastre aéreo de Orly, na França) como homem-forte -- líder da Arena no Congresso Nacional, depois presidente da Arena, do Senado e do Congresso Nacional -- de Garrastazu Médici, um dos mais temidos generais-presidentes do ciclo de 1964, cujo grupo da linha-dura não hesitou em apear o vice de Costa e Silva, o civil Pedro Aleixo, para impor uma junta militar cujo líder era o depois presidente de fato Médici.

Desde o dia em que as urnas mostraram seu repúdio rotundo ao golpismo fascista em 2022, as hordas de hienas que atentam contra o Estado Democrático de Direito, patrimônio do Povo Brasileiro, não são poucas e sequer agem com moderação, como a esgarçar o tecido social e a tênue baliza da garantia constitucional vigente. Não se pratica o ‘patriotismo’ atentando contra os valores democráticos, estes sim sagrados e acima de qualquer dogma ou relicário. Em nome da Democracia, pelo Brasil, é hora de somar na defesa dos valores democráticos consignados na Carta Constitucional de 1988.

Ahmad Schabib Hany