sábado, 13 de janeiro de 2024

A VOLTA DAS OPORTUNIDADES

A volta das oportunidades

A despeito de toda a torcida contra pelas hordas seguidoras do inominável, em menos de 12 meses o Brasil conseguiu estar reinserido no concerto das nações. Porque conspirar e blefar não levam a nenhum lugar. É preciso somar e construir para fazer o povo sorrir, pois quem planta divisão só colhe desunião.

Em menos de 12 meses, o Brasil volta a brilhar no concerto das nações. Brilho com luz própria. Afirmativamente. Porque o reencontro do Brasil com a sua vocação histórica, de potência da paz e da justiça social (conforme constatado nas primeiras duas décadas do terceiro milênio), se concretizou com o reconhecimento pelas mais diferentes potências econômicas, muitas delas rivais entre si.

A estratégia do Presidente Lula, de não alinhar automaticamente o Brasil a nenhuma das áreas de influência dos diferentes grupos ideológicos que disputam a hegemonia do mundo pós-neoliberal (fruto do ‘consenso de Washington’, de 1989, quando o canastrão Ronald Reagan e Margareth Thatcher, tida como ‘dama de ferro’, conchavaram impor ao Planeta uma ‘nova ordem mundial’ depois do fim da ‘guerra fria’. Cínicos, os governos dos países mandões (sobretudo Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia) ignoraram convenções internacionais e cravaram o punhal no peito dos países em crescimento e suas populações.

Foi quando a ‘globalização’ fez a humanidade sofrer sob os desmandos do neocolonialismo e o que eles chamaram de ‘estado mínimo’. Mas que, desmascarada, viu-se que não passou de uma enorme farsa em que, sob o ‘novo’ paradigma, os direitos dos trabalhadores em todo o mundo foram simplesmente surrupiados e as conquistas sociais, como educação e saúde públicas, simplesmente sonegadas. O tal ‘neoliberalismo’, como bem disse o genial Leonel Brizola, era eufemismo (palavra bonita) para um novo modo de colonização, cheia de ardil e muita, muitíssima, farsa.

Entre 1990 e 1999 a sociedade civil sofreu um retrocesso medonho. Acintosamente os ‘donos do mundo’, sempre com seus serviçais prontos para ‘parir’ teorias ao gosto e sabor dos supremacistas de todos os naipes, difundiram duas mentiras levianas: ‘fim da história’, de um efemeramente célebre nipo-estadunidense chamado Yoshihiro Francis Fukuyama, e ‘choque de civilizações’, de um sionista que já partiu desta para a ‘melhor’, Samuel Phillips Huntington. Nem fim da História, nem choque de civilizações, o que move, desde sempre, a História é a luta de classes, gostem ou não os ‘capetalistas’...

Graças à resistência antiglobalitarista empreendida por diversas organizações feministas, sindicais, ambientais, científicas, de povos originários e de gênero e a gênios como Noam Chomsky, Milton Santos, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Ignacy Sachs, Michel Chossudovsky, Josep Fontana, Moniz Bandeira, Herbert de Souza, Dom Mauro Morelli e José Paulo Netto, entre outros, o Fórum Social Mundial foi realizado em Porto Alegre em 2001 sob o lema “Um outro mundo é possível”, em que o empresário Oded Grajew, o jornalista Bernard Cassen e o ativista Chico Whitaker se empenharam em sua realização. Embora esvaziadas, outras edições se realizaram em Porto Alegre e Belém (no Brasil) e em diferentes cidades de outros países até 2018, e com a eleição do inominável e a expansão das ideias fascistas pelo mundo afora temporariamente deixaram de ser realizadas.

O fato concreto é que a ideia motriz de que “um outro mundo é possível”, sem saques e guerras absurdas e uma série de atitudes coletivas de promoção da igualdade e da empatia até a construção de ‘pontes’ que reunifiquem a humanidade.

Reencontro com a História

As hordas peçonhentas que atentaram contra o Estado Democrático de Direito foram desmascaradas e derrotadas em flagrante, a despeito de toda a retaguarda poderosa que estava à espreita para dar o bote. Mais uma vez, a inteligência e a resistência democrática venceram e convenceram. Onde estão os e as ‘patriotas’ de meia pataca?

Estão por aí, onde sempre estiveram, à espreita. Não trabalham, pois são parasitas e outros são os que pensam por elas. Geralmente vêm ‘de fora’, como em 1964 (golpe de Estado monitorado, assessorado e financiado pelos EUA), 1967 (‘acidente aéreo’ que tirou Castelo Branco da liderança militar), 1968 (‘isquemia’ que eliminou a liderança de Costa e Silva), 1971 (articulação das ditaduras fascistas latino-americanas pós-golpe de Celich-Banzer na Bolívia), 1973 (vitória do fascismo latino-americano com Pinochet no Chile), 1974 (aperfeiçoamento da ação repressora articulada com o ‘Plano Condor’ no Cone Sul sob apoio estadunidense), 1977 (agora sob a bandeira dos Direitos Humanos, o império se apossa das bandeiras democráticas na América Latina), 1980 (novo retrocesso do império, com a vitória de Ronald Reagan nos EUA), 1989 (nova onde ‘democrática’ conservadora com a queda do Muro de Berlim e a dissolução do Pacto de Varsóvia), 1990 (neoliberalismo em marcha, com Collor, Menem e Fujimori), 1995 (FHC claudica ante os cânones do neo e da globalização), 2005 (contra-ataque conservador com o avassalador processo de livre construção de uma América Latina soberana), 2013 (a exemplo da ‘primavera árabe’ de 2010, a América Latina é atropelada por guerras híbridas digitais, inclusive o Brasil, com as ‘jornadas de julho de 2013), 2015 (preparação ostensiva do golpe contra a Dilma, com a explícita participação do governo estadunidense via Departamento de Justiça e a ‘Lava Jeito’), 2016 (golpe parlamentar travestido de ‘impeachment’ de Dilma Rousseff) e 2018 (condenação por meio de golpe judicial pela ‘Leva Jeito’ de Lula e, durante a campanha eleitoral, ostensiva intervenção contra Haddad).

Sim. Os deploráveis episódios que nos remeteram ao 8 de janeiro de 2023 precisam ser alvo de uma reflexão sincera e constante. Nunca foram ‘ato isolado e impensado’. Os seus mentores e cultores não só têm os maiores salários deste país, como ganharam muito em todos os golpes que protagonizaram. Insisto e os desafio: não trabalham, são parasitas e falsos moralistas. Durante os desgovernos do ‘brimo’ golpista e do inominável passaram o tempo todo vendo as formas de se locupletar, saqueando o erário com total despudor e acinte.

São os pretensos ‘donos da pátria’, ‘donos da terra’. Desde os tempos da colonização. Ou o generoso leitor acredita que a certeza da impunidade com que promoveram a arruaça foi fruto de sua ingenuidade?

É claro que padecem de uma iluminura intelectual. Seus neurônios são atrofiados, até por conta de sua vocação para servir aos seus amos e senhores sem esboçar qualquer reação. Mas têm total consciência de seus atos de lesa-pátria e lesa-humanidade cometidos com requintes de crueldade, sobretudo contra as populações originárias, tradicionais, quilombolas e de afrodescendentes por este país-continente.

É claro que os ‘paus mandados’, aqueles gaiatos que, como gado marcado, foram ‘salvar’ o Brasil em 8 de janeiro do ano passado, aqueles trouxas foram usados pelos covardes que não assumiram seu papel no roteiro.

Primeiro, porque o inominável sempre foi covarde. Basta ver as matérias da ‘Veja’ da década de 1980, além dos depoimentos de ex-colegas de caserna que o denunciam por ‘amarelar’ toda vez que se pretendeu um ‘Napoleão Patoaparte’, feito a personagem de Walt Disney nas revistas de histórias em quadrinho da décadas de 1970. Além de palerma, o inominável é preguiçoso e muito covarde e nunca assumiu suas alucinações.

Segundo, porque desde que Tancredo Neves cravou de 10 a 0 no espúrio Colégio Eleitoral do maldito regime de 1964, em 15 de janeiro de 1985, os generais Newton Cruz, Octávio Medeiros e Sylvio Frota trabalharam silenciosa e sorrateiramente ‘formando’ quadros para disseminar o golpismo do qual foram peças-chave durante a (mal)ditadura de 1964. Embora não fosse amigo do inominável (até porque este envergonha qualquer fascista autêntico), foi um dos que defenderam a sua não expulsão do Exército em 1987, fato que foi noticiado quando da homenagem ao general golpista Eduardo Vilas-Boas durante a posse do inominável (em janeiro de 2019) e a homenagem póstuma a Newton Cruz (em abril de 2022).

Nossa geração, que foi às ruas pelas liberdades democráticas desde 1977, mobilizou todo o País com as Diretas-Já em 1983/1984 e com Tancredo Presidente em 1984/1985 e se manteve mobilizada entre 1986 e 1988 por causa da Assembleia Nacional Constituinte, não pode se furtar de manter-se mobilizada em defesa do Estado Democrático de Direito que construímos com muito denodo. Entre 1989 e 2023 continuamos a sensibilizar, apoiar e monitorar as iniciativas de avanço no arcabouço jurídico que baliza o Brasil como grande protagonista de uma revolução silenciosa, por meio de políticas públicas sociais, culturais, educacionais, sanitárias, ambientais, econômicas e tecnocientíficas.

Antes de concluir, faço uma reparação: no texto anterior, por problemas involuntários de gravação de arquivo pelo Word, acabei por não deixar explícitos os nomes de Amigas e Amigos que faço questão de fazer constar como cidadãs e cidadãos inspiradores: Adriana Ferraz Santos, Adriana Lara de Souza, Alberto Feiden, Alexandre Belmonte, Álvaro da Silva Martinez, Amaury Gayoso, Amélia Zanella, André Pereira Hernandes, Andressa Santos Rebelo, Antônia Brioschi, Antônio Carlos Leite de Barros, Antônio Divino Monteiro, Antônio Divino Monteiro de Moraes, Arlindo Diniz, Aurélia Brioschi, Balbino Gonçalves de Oliveira, Benedito Rodrigues Brazil, Caren Bozzano Nunes, Celso Ricardo da Silva, Daniela Cristiane Ota, Débora Fernandes Calheiros, Delari Botega, Douglas Teixeira, Elemar Ebeling, Elígia Assad Pereira, Elisa Pinheiro de Freitas, Eunice das Neves Pereira Almeida, Evanildo Tadeu, Fabiana Figueiredo Costa, Fabiano Quadros Rückert, Fernando Sabra Caminada, Giselda de Paula Tedesco, Giliard da Silva Prado, Guto Josman, Helder Filipe Rocha Prior, Hélvio Rech, Iman Ale Hamie, Imaculada da Silva, Isabella Fernanda Ferreira, Ivaneide Terezinha Minozzo, João Bergamasco, João Carlos Pareja Urquidi, José Antônio Assad e Farias, José Antônio de Moura, José Francisco Zito Ferrari, José Raimundo Barros Bahia, Júlio César Mônaco, Laércio Honorato, Lairson Ruy Palermo, Lourival Monteiro de Moraes, Luiz Carlos Vargas, Luiz Carlos Rocha, Marcelo Fernandes, Marco Antonio Candia, Marco Antônio Ribeiro, Marco Aurélio Machado de Oliveira, Margarete Knock Mendonça, Margareth Urt Navarro, Maria da Silva Pereira, Maria Helena Burguês de Andrade, Maria Inêz Arruda, Marilza Pinheiro, Marilza Romero de Aquino, Mário César Fonseca, Mario Luiz Fernandes, Mário Sérgio Lombardi Kassar, Maurício Lopo Vieira, Milton Jaques Zanotto, Mirane Santos Costa, Moacir Lacerda, Nathalia Monseff Junqueira, Nelson Fuzeta Péres, Ney Fuzeta Péres, Obeltran Martins Navarro, Ocimar Santiago, Patrícia Bedotti Péres, Renata Papa de Almeida, Riad Ale Hamie, Ricardo Pareja Urquidi, Rivaldo Venâncio, Roberto Hindi, Rosália de Fátima Pereira Diniz, Sebastião da Silva Martinez, Sérgio da Silva Pereira, Socorro de Maria Pinho, Suzete dos Santos Bezerra, Thiago da Silva Godoy, Vera de Souza, Waldson Luciano Corrêa Diniz, Wanessa Rodrigues Pereira e Zil Ribeiro.

Ahmad Schabib Hany

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