A
volta das oportunidades
A despeito de toda a torcida
contra pelas hordas seguidoras do inominável, em menos de 12 meses o Brasil conseguiu
estar reinserido no concerto das nações. Porque conspirar e blefar não levam a
nenhum lugar. É preciso somar e construir para fazer o povo sorrir, pois quem
planta divisão só colhe desunião.
Em menos de 12 meses, o Brasil volta a brilhar no
concerto das nações. Brilho com luz própria. Afirmativamente. Porque o
reencontro do Brasil com a sua vocação histórica, de potência da paz e da
justiça social (conforme constatado nas primeiras duas décadas do terceiro
milênio), se concretizou com o reconhecimento pelas mais diferentes potências
econômicas, muitas delas rivais entre si.
A estratégia do Presidente Lula, de não alinhar
automaticamente o Brasil a nenhuma das áreas de influência dos diferentes
grupos ideológicos que disputam a hegemonia do mundo pós-neoliberal (fruto do ‘consenso
de Washington’, de 1989, quando o canastrão Ronald Reagan e Margareth Thatcher,
tida como ‘dama de ferro’, conchavaram impor ao Planeta uma ‘nova ordem
mundial’ depois do fim da ‘guerra fria’. Cínicos, os governos dos países
mandões (sobretudo Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia) ignoraram convenções
internacionais e cravaram o punhal no peito dos países em crescimento e suas
populações.
Foi quando a ‘globalização’ fez a humanidade
sofrer sob os desmandos do neocolonialismo e o que eles chamaram de ‘estado
mínimo’. Mas que, desmascarada, viu-se que não passou de uma enorme farsa em
que, sob o ‘novo’ paradigma, os direitos dos trabalhadores em todo o mundo
foram simplesmente surrupiados e as conquistas sociais, como educação e saúde
públicas, simplesmente sonegadas. O tal ‘neoliberalismo’, como bem disse o
genial Leonel Brizola, era eufemismo (palavra bonita) para um novo modo de
colonização, cheia de ardil e muita, muitíssima, farsa.
Entre 1990 e 1999 a sociedade civil sofreu um
retrocesso medonho. Acintosamente os ‘donos do mundo’, sempre com seus
serviçais prontos para ‘parir’ teorias ao gosto e sabor dos supremacistas de
todos os naipes, difundiram duas mentiras levianas: ‘fim da história’, de um
efemeramente célebre nipo-estadunidense chamado Yoshihiro Francis Fukuyama, e ‘choque
de civilizações’, de um sionista que já partiu desta para a ‘melhor’, Samuel
Phillips Huntington. Nem fim da História, nem choque de civilizações, o que
move, desde sempre, a História é a luta de classes, gostem ou não os
‘capetalistas’...
Graças à resistência antiglobalitarista
empreendida por diversas organizações feministas, sindicais, ambientais, científicas,
de povos originários e de gênero e a gênios como Noam Chomsky, Milton Santos,
Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Ignacy Sachs, Michel Chossudovsky, Josep Fontana, Moniz
Bandeira, Herbert de Souza, Dom Mauro Morelli e José Paulo Netto, entre outros,
o Fórum Social Mundial foi realizado em Porto Alegre em 2001 sob o lema “Um
outro mundo é possível”, em que o empresário Oded Grajew, o jornalista Bernard
Cassen e o ativista Chico Whitaker se empenharam em sua realização. Embora
esvaziadas, outras edições se realizaram em Porto Alegre e Belém (no Brasil) e
em diferentes cidades de outros países até 2018, e com a eleição do inominável
e a expansão das ideias fascistas pelo mundo afora temporariamente deixaram de
ser realizadas.
O fato concreto é que a ideia motriz de que “um
outro mundo é possível”, sem saques e guerras absurdas e uma série de atitudes
coletivas de promoção da igualdade e da empatia até a construção de ‘pontes’
que reunifiquem a humanidade.
Reencontro com a História
As hordas peçonhentas que atentaram contra o
Estado Democrático de Direito foram desmascaradas e derrotadas em flagrante, a
despeito de toda a retaguarda poderosa que estava à espreita para dar o bote.
Mais uma vez, a inteligência e a resistência democrática venceram e
convenceram. Onde estão os e as ‘patriotas’ de meia pataca?
Estão
por aí, onde sempre estiveram, à espreita. Não trabalham, pois são parasitas e
outros são os que pensam por elas. Geralmente vêm ‘de fora’, como em 1964 (golpe
de Estado monitorado, assessorado e financiado pelos EUA), 1967 (‘acidente aéreo’ que tirou Castelo
Branco da liderança militar),
1968 (‘isquemia’ que eliminou a liderança de Costa e Silva), 1971 (articulação das
ditaduras fascistas latino-americanas pós-golpe de Celich-Banzer na Bolívia), 1973 (vitória do fascismo
latino-americano com Pinochet no Chile), 1974 (aperfeiçoamento da ação repressora articulada com o ‘Plano
Condor’ no Cone Sul sob apoio estadunidense), 1977 (agora sob a bandeira
dos Direitos Humanos, o império se apossa das bandeiras democráticas na América
Latina), 1980 (novo
retrocesso do império, com a vitória de Ronald Reagan nos EUA), 1989 (nova onde ‘democrática’
conservadora com a queda do Muro de Berlim e a dissolução do Pacto de Varsóvia), 1990 (neoliberalismo em marcha, com Collor, Menem e Fujimori),
1995 (FHC claudica ante os cânones do neo e da globalização), 2005
(contra-ataque conservador com o avassalador processo de livre construção de
uma América Latina soberana),
2013 (a exemplo da ‘primavera árabe’ de 2010, a
América Latina é atropelada por guerras híbridas digitais, inclusive o Brasil,
com as ‘jornadas de julho de 2013), 2015 (preparação ostensiva do golpe contra a Dilma, com a
explícita participação do governo estadunidense via Departamento de Justiça e a
‘Lava Jeito’), 2016 (golpe
parlamentar travestido de ‘impeachment’ de Dilma Rousseff) e 2018 (condenação por meio de
golpe judicial pela ‘Leva Jeito’ de Lula e, durante a campanha eleitoral,
ostensiva intervenção contra Haddad).
Sim. Os deploráveis episódios que nos remeteram ao
8 de janeiro de 2023 precisam ser alvo de uma reflexão sincera e constante.
Nunca foram ‘ato isolado e impensado’. Os seus mentores e cultores não só têm
os maiores salários deste país, como ganharam muito em todos os golpes que
protagonizaram. Insisto e os desafio: não trabalham, são parasitas e falsos
moralistas. Durante os desgovernos do ‘brimo’ golpista e do inominável passaram
o tempo todo vendo as formas de se locupletar, saqueando o erário com total
despudor e acinte.
São os pretensos ‘donos da pátria’, ‘donos da
terra’. Desde os tempos da colonização. Ou o generoso leitor acredita que a
certeza da impunidade com que promoveram a arruaça foi fruto de sua
ingenuidade?
É claro que padecem de uma iluminura intelectual.
Seus neurônios são atrofiados, até por conta de sua vocação para servir aos
seus amos e senhores sem esboçar qualquer reação. Mas têm total consciência de
seus atos de lesa-pátria e lesa-humanidade cometidos com requintes de
crueldade, sobretudo contra as populações originárias, tradicionais,
quilombolas e de afrodescendentes por este país-continente.
É claro que os ‘paus mandados’, aqueles gaiatos
que, como gado marcado, foram ‘salvar’ o Brasil em 8 de janeiro do ano passado,
aqueles trouxas foram usados pelos covardes que não assumiram seu papel no
roteiro.
Primeiro, porque o inominável sempre foi covarde.
Basta ver as matérias da ‘Veja’ da década de 1980, além dos depoimentos de
ex-colegas de caserna que o denunciam por ‘amarelar’ toda vez que se pretendeu
um ‘Napoleão Patoaparte’, feito a personagem de Walt Disney nas revistas de
histórias em quadrinho da décadas de 1970. Além de palerma, o inominável é
preguiçoso e muito covarde e nunca assumiu suas alucinações.
Segundo, porque desde que Tancredo Neves cravou de
10 a 0 no espúrio Colégio Eleitoral do maldito regime de 1964, em 15 de janeiro
de 1985, os generais Newton Cruz, Octávio Medeiros e Sylvio Frota trabalharam
silenciosa e sorrateiramente ‘formando’ quadros para disseminar o golpismo do
qual foram peças-chave durante a (mal)ditadura de 1964. Embora não fosse amigo
do inominável (até porque este envergonha qualquer fascista autêntico), foi um
dos que defenderam a sua não expulsão do Exército em 1987, fato que foi
noticiado quando da homenagem ao general golpista Eduardo Vilas-Boas durante a
posse do inominável (em janeiro de 2019) e a homenagem
póstuma a Newton Cruz (em abril de 2022).
Nossa geração, que foi às ruas pelas liberdades
democráticas desde 1977, mobilizou todo o País com as Diretas-Já em 1983/1984 e
com Tancredo Presidente em 1984/1985 e se manteve mobilizada entre 1986 e 1988
por causa da Assembleia Nacional Constituinte, não pode se furtar de manter-se
mobilizada em defesa do Estado Democrático de Direito que construímos com muito
denodo. Entre 1989 e 2023 continuamos a sensibilizar, apoiar e
monitorar as iniciativas de avanço no arcabouço jurídico que baliza o Brasil
como grande protagonista de uma revolução silenciosa, por meio de políticas
públicas sociais, culturais, educacionais, sanitárias, ambientais, econômicas e
tecnocientíficas.
Antes de concluir, faço uma reparação: no texto
anterior, por problemas involuntários de gravação de arquivo pelo Word, acabei
por não deixar explícitos os nomes de Amigas e Amigos que faço questão de fazer
constar como cidadãs e cidadãos inspiradores: Adriana Ferraz Santos, Adriana
Lara de Souza, Alberto Feiden, Alexandre Belmonte, Álvaro da Silva Martinez,
Amaury Gayoso, Amélia Zanella, André Pereira Hernandes, Andressa Santos Rebelo,
Antônia Brioschi, Antônio Carlos Leite de Barros, Antônio Divino Monteiro,
Antônio Divino Monteiro de Moraes, Arlindo Diniz, Aurélia Brioschi, Balbino
Gonçalves de Oliveira, Benedito Rodrigues Brazil, Caren Bozzano Nunes, Celso
Ricardo da Silva, Daniela Cristiane Ota, Débora Fernandes Calheiros, Delari
Botega, Douglas Teixeira, Elemar Ebeling, Elígia Assad Pereira, Elisa Pinheiro
de Freitas, Eunice das Neves Pereira Almeida, Evanildo Tadeu, Fabiana Figueiredo
Costa, Fabiano Quadros Rückert, Fernando Sabra Caminada, Giselda de Paula
Tedesco, Giliard da Silva Prado, Guto Josman, Helder Filipe Rocha Prior, Hélvio
Rech, Iman Ale Hamie, Imaculada da Silva, Isabella Fernanda Ferreira, Ivaneide
Terezinha Minozzo, João Bergamasco, João Carlos Pareja Urquidi, José Antônio
Assad e Farias, José Antônio de Moura, José Francisco Zito Ferrari, José
Raimundo Barros Bahia, Júlio César Mônaco, Laércio Honorato, Lairson Ruy
Palermo, Lourival Monteiro de Moraes, Luiz Carlos Vargas, Luiz Carlos Rocha,
Marcelo Fernandes, Marco Antonio Candia, Marco Antônio Ribeiro, Marco Aurélio
Machado de Oliveira, Margarete Knock Mendonça, Margareth Urt Navarro, Maria da
Silva Pereira, Maria Helena Burguês de Andrade, Maria Inêz Arruda, Marilza
Pinheiro, Marilza Romero de Aquino, Mário César Fonseca, Mario Luiz Fernandes,
Mário Sérgio Lombardi Kassar, Maurício Lopo Vieira, Milton Jaques Zanotto,
Mirane Santos Costa, Moacir Lacerda, Nathalia Monseff Junqueira, Nelson Fuzeta
Péres, Ney Fuzeta Péres, Obeltran Martins Navarro, Ocimar Santiago, Patrícia
Bedotti Péres, Renata Papa de Almeida, Riad Ale Hamie, Ricardo Pareja Urquidi,
Rivaldo Venâncio, Roberto Hindi, Rosália de Fátima Pereira Diniz, Sebastião da
Silva Martinez, Sérgio da Silva Pereira, Socorro de Maria Pinho, Suzete dos
Santos Bezerra, Thiago da Silva Godoy, Vera de Souza, Waldson Luciano Corrêa
Diniz, Wanessa Rodrigues Pereira e Zil Ribeiro.
Ahmad
Schabib Hany
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