Ora,
‘Pinó-nhas’...
Os desdobramentos da delação
premiada do tenente-coronel Mauro Cid não só tiram o sono dos mais graduados da
caserna como fazem com que o inominável multifacetado apresente agora sua
versão ‘Pinó-nhas’, isto é, enxerto de Pinóquio em Patinhas.
Foi só ser noticiada a homologação da delação
premiada do ex-ajudante de ordens do inominável, ele precisou fazer um remake de sua dramatização de ter que
ser operado às pressas no ‘Hospital Albert Einstein’, em São Paulo.
Mas, qual urgência? Antes nós, reles mortais,
pensávamos que o problema dos intestinos fossem uma questão anatômica. Antes
fosse, parece que é psicótica...
As imagens do que deveria ter sido uma cirurgia de
urgência no aparelho digestivo (mais precisamente nas imediações do intestino, em
que o inominável teria sofrido ferimento quando do atentado em Juiz de Fora em
2018) dão conta de que não há indícios de ter sido realizada uma cirurgia sobre
a região hipoteticamente traumatizada no ano eleitoral.
Como toda farsa, essa não tinha como durar muito:
as cirurgias não trataram do intestino, mas do nariz e de uma hérnia de hiato,
segundo a nova equipe médica que o assistiu desta vez, diferente da fala do
médico que socorreu o então candidato vitimado pelo atentado providencial (toda
vez que participava de um debate entre candidatos, em 2018, perdia
acintosamente adesão junto aos políticos e o ‘ibope’ perante o eleitorado).
Mas, como se isso fosse pouco, o leitor não
imagina como se sentiram as hordas golpistas depois que a descendência do
general Lauro Cid aceitou fazer a delação nos termos da lei e nada mais que
isso (não à moda e ao gosto da ‘Leva Jeito’, de triste memória). Enquanto as
forças de vanguarda dividiam seu tempo para fazer o tempo acontecer, as
redações ligadas ao, no dizer do saudoso Jornalista Paulo Henrique Amorim,
‘partido da imprensa golpista’ (Globo, Abril, Folha e Estado), faziam de tudo
para deixar como está -- porque as famílias Marinho, Civita, Frias e Mesquita
devem um pedido de desculpas à nação, eis que o golpe contra a Dilma e Lula (em
aliança com a peçonha do ‘MBL’, ‘Vem pra rua’ et caterva e a republiqueta de Curitiba) produziu este monstro e o
genocídio que causou.
Esperar que uma personalidade bisonha se torne
acolhedora, solidária e cheia de empatia, seria muita ingenuidade. E, insisto,
é de família. Ou melhor, de casta: além da prole com mesmo DNA, há agregados,
recalcados, renegados, foragidos, indisciplinados, milicianos e similares. E
pelo andar da carruagem, há também um sem número de pastores formados, não em
seminários, mas em cumprimento de penas, em cadeias, que, como o inominável,
muito chegados ao comportamento de ‘Pinó-nhas’, mentir e acumular, por que será?
Não há problema ser conservador. Não é crime ser
‘de direita’. O erro dos que foram atrás de um mentiroso contumaz e acumulador
psicótico foi a opção por um ser totalmente pervertido, perverso e, sobretudo,
malversador. É o conjunto da obra a que literalmente levou este país-continente
a retroceder no tempo, no espaço e na civilidade. Que fique a lição, para que
este mal não se repita, sobretudo em nome do patriotismo e da fé.
Não esqueçamos de que é fundamental ler e
refletir. É a melhor vacina para evitarmos o contágio desse comportamento
pernicioso, muito comum em personalidades arrogantes, os detestáveis ‘donos do
mundo’, ‘donos da verdade’, ‘donos da moral’, ‘donos da pátria’, ou melhor, os
tais ‘messias’ (minúscula, por favor!), porque não é um, mas uma horda.
O letramento, ou o domínio pelo ser humano da
capacidade de decodificação e abstração de símbolos (na verdade, ideogramas,
letras e palavras), transformou a humanidade, de tal sorte que hoje, ainda que
com os recalques recorrentes, é inquestionável seu processo evolutivo.
Em outras palavras, o poder da leitura e a
faculdade de abstração fizeram com que a espécie humana chegasse a uma dimensão
inegável em sua evolução, tamanho o condão de transformação constatado neste
intrincado processo civilizatório.
É verdade que a proporção dos que têm prazer ou,
pelo menos, disciplina -- e por isso se dedicam, ainda com certo sofrimento --
é ínfima, sobretudo diante da restrição material e social a que a imensa
maioria da humanidade, por causa da cobiça, cizânia e ambição de uma minoria tacanha,
foi submetida, sem dó nem piedade.
Também é verdade a milenar constatação de
Tucídides, um dos precursores do estudo da História (o estratego grego que para
superar a punição sofrida pela derrota militar dedicou sua vida a registrar
para a posteridade e de modo analítico a Guerra do Peloponeso, em que a torpe
elite militarista de Esparta imprimiu duros golpes à iluminada elite ateniense,
diferentemente de Heródoto, tido como ‘pai’ da História, mas que fazia
apologias sobre e para seus contemporâneos), que o uso da força pelos cultores
dos embates marciais era também escape para sua ojeriza com a leitura e o
saber, por crerem enfadonhos e inúteis.
É desnecessário dizer que, décadas depois, ao
final da guerra iniciada pelos espartanos e aliados contra a iluminada Atenas e
seu cosmopolitismo (Guerra do Peloponeso), os gregos sucumbiram em um longo
processo de decadência, tendo sido subjugados por sucessivos impérios
militaristas que impuseram ao seu legado de luz e civilidade uma invisibilidade
que quase extingue muitas de suas contribuições (Heráclito de Éfeso, o Pai da
Dialética, só teve a sua obra resgatada pelos árabes durante o apogeu
civilizatório ‘mouro’ a que o ocidente, por meio dos alemães, teve acesso entre
fins do século XVIII e início do século XIX, o que levou Hegel divulgar e Marx
aplicar em sua concepção filosófica da História).
E o que isso tudo, afinal, tem a ver com ‘Pinó-nhas’?
Vamos lá. ‘Pinó-nhas’ é um enxerto de Pinóquio em
Patinhas. Lembremos daquele boneco de madeira criado pelo artesão Gepeto que a
Fada Azul transforma em um menino, que se tornou mentiroso e um tanto
preguiçoso na adaptação animada de Walt Disney, em 1940, da obra imortal de
Carlo Collodi (de 1883), em plena Segunda Guerra Mundial? Um clássico da
literatura que Disney transformou em clássico do cinema. Quanto ao Patinhas,
criado pelo cartunista Carl Barks em 1947, e que Disney também transformou em
bem-sucedido personagem da indústria de entretenimento, conhecemos bem o sovina
que é, sinônimo de ‘pão-duro’, sempre ambicioso, cuja compulsão por acumular
riqueza e chegar ao ápice ao tomar literalmente banho em sua ‘piscina’ de
dinheiro é marcante.
Aos poucos, vamos nos dando conta de que o
inominável não é apenas um mentiroso, mas um acumulador ambicioso e avarento,
que por dinheiro perde a noção. E são os até bem pouco tempo colaboradores mais
próximos os que estão apresentando para o público perplexo o enxerto de
Pinóquio em Patinhas, isto é, ‘Pinó-nhas’.
O inominável, esse ser de poucas luzes e
multifacetado, que se prestou ao papel de fantoche de uma elite igualmente
obtusa e canhestra, não é chegado a ler e refletir: sua pouca inteligência o
priva de lampejos reflexivos, quando muito seus arroubos só o levam a delírios
megalomaníacos e maldades compulsivas.
Por conta dos delírios megalomaníacos, fruto de
uma insólita mente focada na maldade e destituída de qualquer empatia, tem uma
capacidade doentia de mentir, mentir, mentir. Mente tanto, que até ele chega a
acreditar em suas mentiras cabeludas. E, pior, os fatos dos anos recentes permitem
constatar que essa perversidade é hereditária e, pasmem, contagiosa: pessoas
recalcadas são potencialmente contagiáveis nesse convívio promíscuo (ou não nos
lembramos mais de sua confissão de que sentira ‘um clima’ ao ver um grupo de
adolescentes venezuelanas em seu passeio pela periferia de Brasília?).
‘Pinó-nhas’, caro leitor, não é um eufemismo
(como, aliás, gostaria que fosse), mas triste, tristíssima realidade de elites
mal resolvidas desde que a família imperial deixou a corte, em 1889. Como a
República foi um golpe militar de agregados do palácio imperial, as castas (castrenses
e de exploradores de escravizados) se sentiram no direito de impor uma ordem e
um progresso ao sabor de seus nada republicanos conceitos e valores. Mas depois
da promulgação da Constituição Cidadã, em 5 de outubro de 1988 (portanto 35
anos atrás), a História começa a transformar esta bizarra mentalidade.
Ahmad
Schabib Hany
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