A falta
que Matheus faz
Matheus faz falta à Família enlutada,
à Escola Dr. Cássio Leite de Barros e a toda a sociedade corumbaense. Depois
que a Vida nos torna pais/mães, ela passa a ter outro sentido, e são os nossos
Filhos a razão de viver e lutar por um mundo melhor, uma sociedade mais justa.
A trágica eternização do Menino
Matheus Alves de Souza, de 7 anos, ocorrida nesta terça-feira, 12 de setembro,
em nossa Corumbá de todos os encantos e sonhos, causa a todos os que têm a
felicidade de viver neste verdadeiro Paraíso profunda consternação que não há
como fazer algo sem pensar na dor da Família que vive a chorar pela interrupção
da existência alegre, contagiante e alvissareira de uma Criança repleta de
esperança e de Amor no alvorecer da Vida.
Já está sendo sentida a ausência dele
em casa, na escola, na vizinhança, no bairro, enfim, em todo ambiente a que
Matheus levou alegria, entusiasmo, esperança, Amor e Vida. Mais ainda: na
sociedade civil de Corumbá/Ladário e Mato Grosso do Sul. E o mais difícil é
saber que essa ausência não tem fim. Ela cresce com o devir dos dias, das
noites. Cada data, festa, momento de confraternização é motivo de dor, de
saudade.
Matheus, como toda Criança amada,
brincou, pulou, cantarolou, dançou, correu, andou. Enfim, viveu intensamente
sua linda, singular, única Vida. Mais que aprender, soube, a seu modo, ensinar
a toda a sua Família o seu jeito de ser, fazer e compreender a Vida. Porque
cada um é insubstituível, único, especialíssimo.
Não há ser no Planeta que saiba tudo
e que não aprenda com cada Criança com quem convive, seja em casa, na escola,
no trabalho, na comunidade, na rua, numa viagem. Até aquelas pessoas mais
turronas se tornam risonhas e sensíveis quando se deparam com algo
desconcertante, como uma pergunta, uma curiosidade, algo imprevisível trazido
por uma Criança. É um presente que a Vida nos dá.
Não é preciso ser pai/mãe para
compreender a verdadeira dimensão da Vida, dia após dia, no convívio das
queridas e queridos seres que vêm para o Planeta e que nos renovam a esperança,
a motivação e a certeza por um mundo melhor, uma sociedade mais justa. Os
nossos ancestrais nos ensinam que são as Crianças as que nos tornam mais
sinceros, mais sensíveis e, sobretudo, mais generosos e determinados.
Por causa disso, antes de tudo, nossa
sincera solidariedade à Mãe, ao Pai, Tios, Primos e Avós de Matheus; enfim, a
toda a Família, que vive esta dor indescritível e sem fim. Da mesma forma, às
amiguinhas e amiguinhos com quem ele conviveu, tanto na vizinhança como na
escola. Aos Professores e Professoras e demais servidores e servidoras, também,
nosso abraço solidário.
O fato de Matheus ter se eternizado
durante uma fatalidade ocorrida em ambiente escolar torna a Comunidade
educativa ainda mais necessária para o conforto da Família, Amigos e Amigas
dele. Porque será necessário que todos e todas vivam esse luto coletivamente,
solidariamente. É hora de que a superação desse momento de perda, de vazio,
seja fruto de atitudes afetivas espontâneas, intensas e ricas de carinho e
ludicidade.
Porque a Vida se constitui de
pequenos, mas intensos, momentos de tentativas, ensaios, iniciativas de
superação, de atenuação, de transformação. Sem termos a pretensão de apagar as
experiências vividas, precisamos insistir, de modo imperceptível, no ‘passo
seguinte’, ainda que a fragilidade, o abatimento, nos desencoraje, nos
desmotive.
Dói dizer isto, mas nem o tempo, nem
a distância é capaz de atenuar o atroz vazio que toma conta de nossa alma, de
nosso âmago, ao passarmos por experiências traumáticas. E digo isso por ter perdido
um Irmão mais velho quando eu tinha 15 anos, sentimento que 49 anos não
atenuaram, embora tenhamos que aprender a conviver com a dor dessa ausência.
Mas temos que encontrar formas e
meios para encontrar, delicadamente, o momento ideal de darmos o início, mesmo
que o processo seja lento e muitas vezes aparentemente difícil. Basta vermos
experiências que nos antecederam. Outros momentos, outras situações, mas, a
rigor, experiências de perdas únicas, porque somos todos únicos.
Quando a Vida nos torna pai/mãe,
passa a ser maior nosso vínculo à Vida graças aos nossos descendentes, que com
sua sábia inocência renovam a nossa fé na Vida, no futuro e, em especial, na
humanidade. Apesar da cobiça, do desamor, da ambição, da inveja e das
atrocidades cometidas por aqueles que se julgam donos do mundo e melhores que
os outros.
Justamente por conta disso, dessa
inexplicável esperança que as Crianças nos provocam nesse convívio em que, na
verdade, somos nós os aprendizes. Embora elas sequer tenham noção disso e
pensem que somos nós os ‘donos da verdade’, os ‘sabe-tudo’.
Por seu turno, as autoridades
educacionais, em todos os níveis, precisam de imediato dar início à construção
de um protocolo que leve em conta os novos desafios decorrentes dos fenômenos
causados pelas mudanças climáticas. Não há como ignorar o novo contexto que
vivemos por causa do agravamento dos efeitos de aumento de temperatura,
tempestades e questões sísmicas.
Além da necessidade de os
educandários passarem a dispor de protocolos de atuação em situações críticas
(por fatores climáticos e outros em que haja risco de vida) e planos de
evacuação ante flagelos que precisam ser ponderados ante as novas tragédias
vividas em diversas regiões do Brasil e do mundo, é fundamental que
frequentemente em cada unidade educativa, com todos os segmentos da comunidade
escolar, sejam praticadas ações simuladas de proteção coletiva imediata ou de
evacuação (quando for o caso).
Em outras palavras, quando houver
fenômenos climáticos intensos, sejam interrompidas as atividades didáticas em
ambientes que ofereçam riscos iminentes e alunos, professores e servidores
sejam conduzidos de imediato a ambientes mais seguros para a preservação da
integridade física e mental de toda a Comunidade escolar.
Por outro lado, é urgente a realização
de um mutirão de avaliação das condições das estruturas físicas atuais das
dependências de todas as unidades escolares, sejam públicas ou privadas, bem
como a determinação de uso de material mais resistente nas edificações dos
equipamentos públicos voltados para o público, seja na educação, saúde,
assistência social, cultura, desportos e de lazer, com prioridade para as que
abrigarem crianças, adolescentes, gestantes, pessoas com deficiências, idosos e
em situação de algum tipo de vulnerabilidade.
Foi oportuno o cancelamento, pela
Prefeitura Municipal, dos festejos do aniversário de fundação de Corumbá, pois
o clima festivo se foi com a tragédia vivida pela Comunidade escolar, que
costuma ser uma protagonista de comemorações como essa. Em meio à dor pela
perda da Vida de Matheus Alves de Souza, cujo nome precisa ser incluído para
nomear (denominar) um espaço/logradouro voltado para a área da educação, é
inadiável a adoção de medidas como as humildemente ora sugeridas. Não se trata
de ato demagógico, pelo contrário, é uma forma de que a coletividade
corumbaense faça uma necessária reparação póstuma à sua memória e à sua
Família.
Porque reverenciar a memória de um
inocente que em sua breve existência soube ensinar alegria, esperança e Amor,
como fez Matheus, é um gesto de valorizar a Vida e a Cidadania nesta sociedade
tão acometida pela ambição, cobiça, ódio e intolerância. É como humilde e
sinceramente entendo, quando, transcorrem os 41 anos do tristemente célebre
Massacre de Sabra e Chatila, ocorrido em 14, 15 e 16 de setembro de 1982 em
Beirute, pós-invasão do exército de Israel à capital do Líbano, permitindo que
milicianos da Falange Libanesa cometessem assassinatos de crianças,
adolescentes, jovens mulheres e idosos, refugiados palestinos desarmados
(crimes, como anteriores e posteriores, ainda impunes).
Por tudo isso, para nós, Corumbá e
Ladário são um Paraíso na Terra, mas sua hospitaleira e generosa população
humilde e trabalhadora precisa ser, de fato, a maior beneficiária desse
privilégio. Matheus, presente!
Ahmad
Schabib Hany
Nenhum comentário:
Postar um comentário