quinta-feira, 14 de setembro de 2023

A FALTA QUE MATHEUS FAZ

A falta que Matheus faz

Matheus faz falta à Família enlutada, à Escola Dr. Cássio Leite de Barros e a toda a sociedade corumbaense. Depois que a Vida nos torna pais/mães, ela passa a ter outro sentido, e são os nossos Filhos a razão de viver e lutar por um mundo melhor, uma sociedade mais justa.

A trágica eternização do Menino Matheus Alves de Souza, de 7 anos, ocorrida nesta terça-feira, 12 de setembro, em nossa Corumbá de todos os encantos e sonhos, causa a todos os que têm a felicidade de viver neste verdadeiro Paraíso profunda consternação que não há como fazer algo sem pensar na dor da Família que vive a chorar pela interrupção da existência alegre, contagiante e alvissareira de uma Criança repleta de esperança e de Amor no alvorecer da Vida.

Já está sendo sentida a ausência dele em casa, na escola, na vizinhança, no bairro, enfim, em todo ambiente a que Matheus levou alegria, entusiasmo, esperança, Amor e Vida. Mais ainda: na sociedade civil de Corumbá/Ladário e Mato Grosso do Sul. E o mais difícil é saber que essa ausência não tem fim. Ela cresce com o devir dos dias, das noites. Cada data, festa, momento de confraternização é motivo de dor, de saudade.

Matheus, como toda Criança amada, brincou, pulou, cantarolou, dançou, correu, andou. Enfim, viveu intensamente sua linda, singular, única Vida. Mais que aprender, soube, a seu modo, ensinar a toda a sua Família o seu jeito de ser, fazer e compreender a Vida. Porque cada um é insubstituível, único, especialíssimo.

Não há ser no Planeta que saiba tudo e que não aprenda com cada Criança com quem convive, seja em casa, na escola, no trabalho, na comunidade, na rua, numa viagem. Até aquelas pessoas mais turronas se tornam risonhas e sensíveis quando se deparam com algo desconcertante, como uma pergunta, uma curiosidade, algo imprevisível trazido por uma Criança. É um presente que a Vida nos dá.

Não é preciso ser pai/mãe para compreender a verdadeira dimensão da Vida, dia após dia, no convívio das queridas e queridos seres que vêm para o Planeta e que nos renovam a esperança, a motivação e a certeza por um mundo melhor, uma sociedade mais justa. Os nossos ancestrais nos ensinam que são as Crianças as que nos tornam mais sinceros, mais sensíveis e, sobretudo, mais generosos e determinados.

Por causa disso, antes de tudo, nossa sincera solidariedade à Mãe, ao Pai, Tios, Primos e Avós de Matheus; enfim, a toda a Família, que vive esta dor indescritível e sem fim. Da mesma forma, às amiguinhas e amiguinhos com quem ele conviveu, tanto na vizinhança como na escola. Aos Professores e Professoras e demais servidores e servidoras, também, nosso abraço solidário.

O fato de Matheus ter se eternizado durante uma fatalidade ocorrida em ambiente escolar torna a Comunidade educativa ainda mais necessária para o conforto da Família, Amigos e Amigas dele. Porque será necessário que todos e todas vivam esse luto coletivamente, solidariamente. É hora de que a superação desse momento de perda, de vazio, seja fruto de atitudes afetivas espontâneas, intensas e ricas de carinho e ludicidade.

Porque a Vida se constitui de pequenos, mas intensos, momentos de tentativas, ensaios, iniciativas de superação, de atenuação, de transformação. Sem termos a pretensão de apagar as experiências vividas, precisamos insistir, de modo imperceptível, no ‘passo seguinte’, ainda que a fragilidade, o abatimento, nos desencoraje, nos desmotive.

Dói dizer isto, mas nem o tempo, nem a distância é capaz de atenuar o atroz vazio que toma conta de nossa alma, de nosso âmago, ao passarmos por experiências traumáticas. E digo isso por ter perdido um Irmão mais velho quando eu tinha 15 anos, sentimento que 49 anos não atenuaram, embora tenhamos que aprender a conviver com a dor dessa ausência.

Mas temos que encontrar formas e meios para encontrar, delicadamente, o momento ideal de darmos o início, mesmo que o processo seja lento e muitas vezes aparentemente difícil. Basta vermos experiências que nos antecederam. Outros momentos, outras situações, mas, a rigor, experiências de perdas únicas, porque somos todos únicos.

Quando a Vida nos torna pai/mãe, passa a ser maior nosso vínculo à Vida graças aos nossos descendentes, que com sua sábia inocência renovam a nossa fé na Vida, no futuro e, em especial, na humanidade. Apesar da cobiça, do desamor, da ambição, da inveja e das atrocidades cometidas por aqueles que se julgam donos do mundo e melhores que os outros.

Justamente por conta disso, dessa inexplicável esperança que as Crianças nos provocam nesse convívio em que, na verdade, somos nós os aprendizes. Embora elas sequer tenham noção disso e pensem que somos nós os ‘donos da verdade’, os ‘sabe-tudo’.

Por seu turno, as autoridades educacionais, em todos os níveis, precisam de imediato dar início à construção de um protocolo que leve em conta os novos desafios decorrentes dos fenômenos causados pelas mudanças climáticas. Não há como ignorar o novo contexto que vivemos por causa do agravamento dos efeitos de aumento de temperatura, tempestades e questões sísmicas.

Além da necessidade de os educandários passarem a dispor de protocolos de atuação em situações críticas (por fatores climáticos e outros em que haja risco de vida) e planos de evacuação ante flagelos que precisam ser ponderados ante as novas tragédias vividas em diversas regiões do Brasil e do mundo, é fundamental que frequentemente em cada unidade educativa, com todos os segmentos da comunidade escolar, sejam praticadas ações simuladas de proteção coletiva imediata ou de evacuação (quando for o caso).

Em outras palavras, quando houver fenômenos climáticos intensos, sejam interrompidas as atividades didáticas em ambientes que ofereçam riscos iminentes e alunos, professores e servidores sejam conduzidos de imediato a ambientes mais seguros para a preservação da integridade física e mental de toda a Comunidade escolar.

Por outro lado, é urgente a realização de um mutirão de avaliação das condições das estruturas físicas atuais das dependências de todas as unidades escolares, sejam públicas ou privadas, bem como a determinação de uso de material mais resistente nas edificações dos equipamentos públicos voltados para o público, seja na educação, saúde, assistência social, cultura, desportos e de lazer, com prioridade para as que abrigarem crianças, adolescentes, gestantes, pessoas com deficiências, idosos e em situação de algum tipo de vulnerabilidade.

Foi oportuno o cancelamento, pela Prefeitura Municipal, dos festejos do aniversário de fundação de Corumbá, pois o clima festivo se foi com a tragédia vivida pela Comunidade escolar, que costuma ser uma protagonista de comemorações como essa. Em meio à dor pela perda da Vida de Matheus Alves de Souza, cujo nome precisa ser incluído para nomear (denominar) um espaço/logradouro voltado para a área da educação, é inadiável a adoção de medidas como as humildemente ora sugeridas. Não se trata de ato demagógico, pelo contrário, é uma forma de que a coletividade corumbaense faça uma necessária reparação póstuma à sua memória e à sua Família.

Porque reverenciar a memória de um inocente que em sua breve existência soube ensinar alegria, esperança e Amor, como fez Matheus, é um gesto de valorizar a Vida e a Cidadania nesta sociedade tão acometida pela ambição, cobiça, ódio e intolerância. É como humilde e sinceramente entendo, quando, transcorrem os 41 anos do tristemente célebre Massacre de Sabra e Chatila, ocorrido em 14, 15 e 16 de setembro de 1982 em Beirute, pós-invasão do exército de Israel à capital do Líbano, permitindo que milicianos da Falange Libanesa cometessem assassinatos de crianças, adolescentes, jovens mulheres e idosos, refugiados palestinos desarmados (crimes, como anteriores e posteriores, ainda impunes).

Por tudo isso, para nós, Corumbá e Ladário são um Paraíso na Terra, mas sua hospitaleira e generosa população humilde e trabalhadora precisa ser, de fato, a maior beneficiária desse privilégio. Matheus, presente!

Ahmad Schabib Hany

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