Professor
Fausto Matto Grosso presente!
A eternização do incansável
ativista político, democrata, homem público, intelectual e Professor Fausto
Mato Grosso deixa mais pobre nossa frágil sociedade civil. À querida Família,
em especial à sua brava Companheira de Vida, Dra. Maria Augusta Rahe Pereira,
aos Filhos e Netos, nossos profundos sentimentos e solidariedade fraternal, e
ao querido Fausto nossa sincera gratidão.
A eternização, dia 1º de junho, do incansável
democrata, ativista político, homem público, intelectual e Professor Francisco
Fausto Matto Grosso Pereira deixa a frágil sociedade civil muito mais pobre,
mais óbvia. Porque quando um gigante generoso e abnegado articulador político
de sua estatura encerra sua jornada todos nós ficamos menores e mais, muito
mais, pobres.
Como poucos, o Professor Fausto conseguiu reunir
qualidades ímpares ao longo de sua Vida, sem pompa nem circunstância:
disciplinado, estudioso, competente, discreto, comedido, humilde, honesto,
rigoroso, abnegado, incansável, sincero, coerente e, sobretudo, consciente de
seu papel histórico. Integrante da generosa e talentosa geração de 1968, por
formação, sempre preferiu correr o risco de errar coletivamente a acertar
sozinho, quando voto vencido nas renhidas discussões partidárias e associativas
de que participou com desenvoltura e pioneirismo.
Diferentemente da maioria, quase totalidade, dos
agentes políticos do Estado, Fausto foi leal e solidário ao único partido de
sua Vida, o Partidão (o velho PCB, dirigido em sua fase emblemática por Luiz
Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança), se considerarmos o MDB histórico e
seu sucedâneo, o PMDB, como Frente Democrática à qual ele e seus leais e queridos
Camaradas Carmelino de Arruda Rezende e Onofre da Costa Lima Filho se dedicaram
por, no mínimo, duas décadas. Habilidosamente, ensinaram velhos expoentes da
política regional, sem ofendê-los, a praticar coerentemente a democracia
liberal.
Fez jus ao honrado ofício de Professor, mesmo
quando arbitrariamente demitido da ex-UEMT (Universidade Estadual de Mato
Grosso) ao organizar a primeira mobilização de docentes em sua legítima pugna
por direitos, 50 anos atrás (1972). Graduado em Engenharia Civil pela UFPR (Universidade
Federal do Paraná), retornou a Mato Grosso para atuar profissionalmente. Ao
revelar-se exímio calculista, num tempo em que a tecnologia não havia subtraído
o mérito da competência humana nas áridas searas do cálculo e da precisão do
projetista, conquistou meritoriamente sua cadeira no recém-criado curso de
Engenharia Civil de Campo Grande (então Mato Grosso uno).
Ocorre que o competente engenheiro civil, além de
brilhante calculista, era íntegro em suas concepções humanísticas, e não temia
a cara feia dos feitores de outrora. Embora tivesse militado nas hostes do
movimento católico progressista do final dos anos 1960, se propôs a cerrar
fileiras no velho Partidão, cuja história remete às primeiras iniciativas de
organização da classe operária num país, desde a colonização lusitana,
acostumado a tratar as questões sociais como ‘caso de polícia’. O que, aliás,
voltou a não ser novidade nestes tempos sombrios, quando o Partidão celebra 100
anos e nosso querido Camarada discretamente sai de cena.
Como disse o poeta e Jornalista Edson Moraes em seu
comovente tributo ao Professor Fausto, 44 anos depois de conhecê-lo: o querido
e agora saudoso Camarada desde jovem era uma referência para a vanguarda
política brasileira que atuava no sul deste estado conservador. No período em
que esteve coercitivamente afastado de seu ofício docente, dedicou-se à formação
política e ideológica de inúmeras gerações, tendo sido fundador, no âmbito do
Partido, do Centro de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais (CEPES), em sua
efêmera, mas marcante, existência, aos fundos da icônica Livraria Guató, do
grande, querido e saudoso Manoel Sebastião da Costa Lima, o inesquecível Manoel
da Guató.
A primeira geração de calouros universitários de Mato
Grosso do Sul conheceu Professor Fausto no começo de 1979, numa reunião do
Movimento Mato-grossense de Anistia e Direitos Humanos, senão me engano coordenada
pelo saudoso Doutor Ricardo Brandão, na recém-inaugurada sede da OAB/MS (Seccional
de Mato Grosso do Sul da Ordem dos Advogados do Brasil). Semanas antes, o
Doutor Wilson Barbosa Martins, então cassado pelo regime de 1964 e conhecido
até então como “Irmão do Dr. Plínio”, tomara posse na presidência da entidade,
uma das vanguardas pela democratização do Brasil. Naquele ato Fausto
representava a Associação de Engenheiros e Arquitetos de Campo Grande (que
depois passaria a ter abrangência estadual), ao lado de organizações
emblemáticas como a Coordenação Regional da CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil) e a representação estadual da SBPC (Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência).
A conquista da Anistia, a persuasiva campanha
pró-Assembleia Nacional Constituinte e pela revogação de todo o entulho
autoritário (AI-5, decretos 228 e 477, senadores biônicos, eleições indiretas,
fim do bipartidarismo e legalização de todos os partidos anteriores a 1964,
entre outros atos da legislação draconiana vigente à época) eram exaustivamente
reverberadas em todos os espaços políticos de então, sempre sob a coordenação
de Fausto Matto Grosso e o apoio incondicional de Carmelino Rezende e de Onofre
Lima Filho. Obviamente, isso causava uma ciumeira entre muitos dirigentes da
oposição, como o lamentável episódio protagonizado pela Vereadora Nelly Bacha
(em 1983 nomeada a primeira prefeita de Campo Grande), que denunciou uma
conspiração contra ela por não ter tido votos suficientes para eleger-se em
1978.
Isso o tornou um candidato bastante cotado nas
eleições de 1982, quando, ao lado de seu Companheiro de Partido, Advogado
Marcelo Barbosa Martins (Filho do Doutor Plínio), foi eleito vereador da
capital. Ele e Marcelo foram os dois primeiros vereadores do PCB, ainda
proscrito pela legislação arbitrária. Mesmo assim, o mandato dos dois foi
modelo para diversos parlamentares em todo o Brasil. Contraditoriamente, por
terem assumido a legenda do Partidão, os dois não conseguiram se reeleger ou
voltar a se eleger depois, a despeito do reconhecimento de sua competência
técnica, desenvoltura política e, sobretudo, ética parlamentar. Mais uma vez,
referência de conduta, pelos adversários inclusive.
Com a anistia aos demitidos pela antiga UEMT, o
Professor Fausto voltou a assumir a sua cadeira como docente da Engenharia
Civil da agora UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Participou de
importantes movimentos dentro da UFMS e seu ápice foi a nomeação, pelo Reitor
Celso Pierezan, como Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários. Durante o
mandato do Professor Pierezan, o Professor Fausto implantou o memorável
Festival de Corumbá. Foram três edições anuais em que atividades artísticas
muito parecidas em seu formato à atual versão do Festival América do Sul
Pantanal permitiram a consolidação de Corumbá como berço da cultura
sul-mato-grossense. Em seu memorável depoimento para um artigo sobre o
Cinquentenário do CPAN/UFMS, Fausto demonstrou estar realizado com a realização
desse projeto, inspirado no Festival de Ouro Preto, de iniciativa da UFOP (Universidade
Federal de Ouro Preto).
Em decorrência da vitória do então candidato José
Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, no Movimento Muda MS, em 1998, depois
de uma renhida disputa interna no PPS em que o então candidato a Senador
Carmelino Rezende fora derrotado, o Professor Fausto Matto Grosso foi um dos
três secretários de Estado nomeados pelo governador Zeca em 1999. Titular da
Secretaria de Estado de Planejamento e Ciência e Tecnologia, Fausto empreendeu
importantes inovações em sua pasta. Além da adoção de uma política pública de
Ciência e Tecnologia, com o competente apoio da Professora Sônia Jim (sua
Superintendente de Ciência e Tecnologia), desenvolveu o Programa MS 2020,
dentro da metodologia de planejamento estratégico, com diversos cenários. Esse
programa passou a ser replicado em outros estados durante a gestão de Ciro
Gomes no primeiro mandato do Presidente Lula, à frente do Ministério da
Integração Nacional, de cuja secretaria-executiva o saudoso Engenheiro
Frederico Valente era titular, e o Professor Fausto assessor.
Mais que ativista político e homem público de competência
indiscutível e ética política a toda prova, o Professor Fausto Matto Grosso é a
expressão fidedigna do ser humano de elevada formação humanística e rara
sensibilidade social. Trata-se de um cidadão do mundo à frente de seu tempo e
um generoso e incansável Companheiro e Pai cujo legado ético e político honra e
lisonjeia a todos os que tiveram a honra e o privilégio de conviver e
compartilhar com ele, ainda que por efêmeros momentos de sua grande mas
despretensiosa jornada cidadã, na construção do Estado Democrático de Direito e
da consolidação nas três esferas administrativas de efetivas políticas públicas
sociais e de desenvolvimento sustentável, na perspectiva da Agenda 21, que como
poucos soube implementar ao longo de suas atividades profissionais e políticas.
Até sempre, querido Amigo-Camarada Fausto! E
obrigado por imenso legado, e por ter existido, resistido e ter exemplarmente
respeitado e compreendido posições paradoxais, embora pontuais, sobretudo a
partir de 2015, o que em absolutamente nada abalou sua Amizade, que levaremos
para todas as nossas vidas. Nossa gratidão sincera por tantos exemplos de
humildade, perseverança, sinceridade, coerência e dignidade. Sua querida
Família, em especial à sua brava Companheira de Vida, Doutora Maria Augusta Rahe
Pereira, Filhos e Netos, receba nossos profundos sentimentos e sincera
solidariedade, com os votos de muita força neste momento de dor e saudade, da
dimensão de seu ideal por uma nova sociedade, liberta e transformadora para e
pelas gerações vindouras. Professor Fausto Matto Grosso presente!
Ahmad
Schabib Hany
Nenhum comentário:
Postar um comentário