ATÉ
QUANDO?
Deputado medíocre xinga Arcebispo
de Aparecida, o Papa e a CNBB usando a imunidade parlamentar. Até quando
tolerar as hordas neofascistas que usam o Estado de Direito para promover
ofensas, ódio, intolerância e barbárie?
Desde que a lata de lixo da História foi aberta
por falsos democratas e de cujo chorume saíram verdadeiros espectros fétidos de
selvageria, barbárie e obscurantismo, todo dia temos exibições contrárias aos
valores civilizatórios e ao Estado Democrático de Direito. Um péssimo exemplo
para afoitos e velhacos que se deixam influenciar por tamanhas demonstrações de
tudo que não presta.
Dia 14 último, o deputado (sic) Frederico D’Ávila (PSL-SP) -
valendo-se da imunidade conquistada pelos democratas que mandaram a ditadura
para onde merecia ir e fizeram constar da Carta Constitucional a garantia do
exercício parlamentar como prerrogativa dos representantes do povo - foi
à tribuna da Assembleia Legislativa de São Paulo para xingar o Papa Francisco,
a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Dom Orlando Brandes,
Arcebispo de Aparecida, com termos que ferem o decoro parlamentar, como
‘safados’, ‘vagabundos’ e ‘pedófilos’.
Neofascista destemperado, um parlamentar obscuro,
valeu-se do mandato para proferir impropérios aos representantes da Igreja
Católica que não pensam como as hordas que diuturnamente atentam contra a
Democracia, a saúde e a Vida da população. Em vez de contra-argumentar de forma
educada e inteligente (aliás, atributos que fascistas nunca tiveram, como a
História prova) sobre a fala de Dom Orlando Brandes - ao
observar que “pátria amada não pode ser pátria armada” -, o
porta-voz das hordas fascistas defecou pela boca. Ignorou, no entanto, que o
regimento interno da Assembleia Legislativa exige decoro, compostura, gesto que
é passível de sanção regimental.
Sem exceção, todos os fascistas eleitos no rastro
do ódio e da fraude de 2018 não têm qualificação alguma para desempenhar com
dignidade e mérito a representação parlamentar. Pelo simples fato de seu
despreparo consuetudinário (e até hereditário), pela óbvia razão de que na
obtusa concepção fascista não há prerrogativa parlamentar - o
fascismo preconiza um Estado totalitário, centralizado num Poder Executivo
único e hipertrofiado, em que Judiciário e Legislativo não passam de tentáculos
atrofiados da figura teocrática do ‘predestinado’ ditador.
A Igreja Católica, sobretudo desde o pontificado
do Papa João XXIII, mediante a opção preferencial pelos pobres e, na América
Latina, a Teologia da Libertação, deu sua indiscutível contribuição para o
reconhecimento das lutas dos trabalhadores. No Brasil, a CNBB desenvolveu um
protagonismo extraordinário na resistência à ditadura e no rico processo de
construção do Estado Democrático de Direito (durante a elaboração da
Constituição de 1988). Além disso, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI),
Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento Popular de Saúde (MOPS), Movimento
Educação de Base (MEB), Pastoral da Criança, Pastoral Carcerária, entre tantos
outros movimentos, pastorais e conselhos mantidos pela Igreja Católica no
Brasil e América Latina, são balizadores de iniciativas históricas no
enfrentamento às mazelas sociais no País e todo o subcontinente sul-americano.
Não por acaso, Dom Mauro Morelli e Dom Geraldo
Majella Agnelo (um dos ‘papabili’) e os saudosos Dom Hélder Câmara, Dom Paulo
Evaristo Arns, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Ivo Lorscheiter, Dom Aloísio
Lorscheider, Dom Lucas Moreira Neves (um dos cotadíssimos ‘papabili’), Dom
Avelar Brandão Vilela, Dom Pedro Casaldáliga e outros arcebispos e bispos não
menos importantes têm um legado gravado na memória do Povo Brasileiro por sua
solidariedade e generosidade. Eis, na verdade, a razão de tanta inveja e raiva
dos mercadores da fé com sua ‘teologia da prosperidade’ (sic) e de seus comparsas fascistas, como o nefasto parlamentar
paulista que, na falta de argumentos, xinga a honra de pessoas íntegras como o
Papa Francisco, Dom Orlando Brandes e os membros da CNBB.
O medíocre parlamentar seguiu, obviamente, o seu
líder, useiro e vezeiro de agredir, ofender e depois amarelar, como se nada
tivesse feito. Como no fim de semana anterior à votação do relatório final da
CPI da Pandemia, quando mentiu escandalosamente ao dizer que autoridades
sanitárias da Inglaterra teriam revelado que a vacina provoca AIDS
(peremptoriamente desmentido por cientistas do Reino Unido e de diversos países
do mundo). O uso sistemático da mentira, para eles, é uma estratégia, modo de
naturalizar e corroer as bases do Estado de Direito. Mas é preciso dar um basta
contundente. Urge uma tomada firme de atitude, com o rigor de uma repreenda à
altura dos propósitos nefastos desses meliantes, destituídos de qualquer
empatia, dignidade e, sobretudo, cordura. Passou do tempo dessa repreenda,
eloquente e definitiva.
Nunca é demais recordar a lição dada pelo
movimento operário aos ancestrais desses fétidos seres, os integralistas, na Praça
da Sé, em São Paulo, a 7 de outubro de 1935. O histórico fato ficou conhecido
como Batalha da Sé (ou simplesmente Revoada dos Galinhas Verdes). Membros da
Ação Integralista de Plínio Salgado, de inspiração fascista, em seus ternos
auriverdes que lembram um canalha que virou ‘empresário’ graças aos empréstimos
feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no
primeiro governo de Dilma Rousseff, tomaram uma surra dos operários de São
Paulo que abandonaram a praça e devem estar correndo até hoje, 87 anos depois.
Graças ao corajoso gesto dos operários do início
do século XX, que não só abortaram a gênese perversa dessas hordas nas
primeiras décadas do século passado e, sobretudo, se doaram generosamente para
a conquista dos direitos consignados no arcabouço jurídico nacional, tanto no
âmbito da legislação trabalhista como nos direitos sociais e coletivos desde
então. Diverso e combativo, o movimento operário foi base firme e forte para o
desenvolvimento dos movimentos sociais pós-guerra fria.
Enquanto os canalhas fascistas, neofascistas e farscistas (de fascistas farsantes,
feito camaleões, ora servem à direita, outras vezes, se fingem de esquerda)
fazem o serviço sujo dos interesses inconfessáveis das elites parasitas, os
movimentos sociais constroem o alicerce da nova sociedade que clama por vir à
luz, com sensibilidade social, cultural, ecológica, étnica, de gênero e,
sobretudo, compromisso com a Vida, este bem inalienável que ninguém,
absolutamente ninguém, pode amealhá-lo sob qualquer pretexto.
Ahmad
Schabib Hany