QUEM, AFINAL, É O “PRINCIPAL TERRORISTA”?
Na
fala em que arrogantemente anuncia o recuo na investida beligerante contra o
Irã, o (Pato) Donald Trump justifica o assassinato do general iraniano Qasem
Solaimeni com um discurso patrioteiro, de que “era preciso eliminar o principal
terrorista”...
Num tempo não tão distante, em que Hollywood ainda
não era refém do lobby sionista e o genial Marlon Brando podia estrelar
premiadíssimos filmes, lembro-me ter assistido a uma lendária produção em
tecnicolor da década de 1960 em que um imperador romano (não me lembro qual, pois era bem criança) adentrava a uma das majestosas salas do palácio
imperial acompanhado de um séquito de generais ou algo parecido, quando todos
se calavam em reverência ao poderosíssimo ser.
Foi ao que assisti, ao vivo e em cores, na
aguardadíssima fala do nada imponente nem magistral ser que atualmente preside
os Estados Unidos da América, dono de um topete démodé e um semblante de
anormal, isto é, psicopata. Com sua voz de taquara rachada, põe-se a falar,
tentando aparentar estar sendo clemente ou misericordioso, mas a arrogância
imanente lhe salta aos olhos e o trai fragorosamente. Orientado por
assessores/as qualificados/as, foi convencido a recuar, mas treinado para
aparentar estar sendo generoso, estar dando uma oportunidade aos inimigos
“inferiores”, “bárbaros”, e ele como (sic) “civilizado”, do alto de sua
superioridade infinita, a conceder uma chance aos pagãos.
Como bem revelou o seriíssimo analista
internacional mexicano Alejandro Jalife (que fez graduação em Psiquiatria), o
medíocre e imprevisível (Pato) Donald Trump, “é bipolar”, e ele explicou,
didaticamente: “Ele tem momentos de profunda depressão, mas de repente se
torna, como maníaco, imprevisível; verdadeiramente, como se dizia há algum
tempo, ‘maníaco-depressivo’, e isso é um perigo ainda maior quando se é chefe
de uma potência nuclear.” Depois dessa advertência, passei a ver o
“Fanta-laranja” com outros olhos, lembrando-me das recomendações de meu saudoso
e sábio Pai: “Nunca, mas nunca mesmo, contrarie uma pessoa fora de si...”
Aliás, um Amigo desses com letra maiúscula, cujo
nome prefiro não citar, já me havia dito que Trump parece ser um
“extraterrestre” com o nefasto propósito de destruir a Terra. O Professor
Valmir Batista Corrêa, Amigo há algumas décadas, por seu turno, me enviara uma mensagem, lacônica e explícita, advertindo-me quanto à saúde mental
do chefe da maior potência militar do Planeta. Não que eu divergisse ou não
levasse em conta a douta opinião deles, mas entendo que seja preciso insistir,
na tentativa de encontrar um lampejo de racionalidade para podermos dar rumo à
existência dos povos que queremos bem e das pessoas com quem convivemos e
amamos. Chega a ser surreal vermos pessoas que sempre respeitamos mas hoje
vemos como dopadas, ludibriadas, por dementes que manipulam a alma das pessoas,
impunemente.
Mas voltemos ao teor da fala do chefe do império em
franca decadência. Com o maior acinte, afirma que os Estados Unidos não
precisam mais de petróleo importado, pois eles são os “maiores produtores
mundiais” do óleo maldito, que leva desgraça, opressão e morte a todos os povos
onde se encontram as maiores reservas (a Venezuela, o Equador, o México, a
Bolívia e depois do pré-sal o Brasil são exemplos eloquentes disso em nosso
continente). Se isso fosse verdade, por que há dezenas de empresas
estadunidenses no Iraque e na Líbia depois da deposição de governos
nacionalistas, que não davam chance aos abutres americanos? Além do que, dentro
de uma análise histórica, a hegemonia global americana só se mantém se o
establishment estadunidense estiver presente, tomando conta das principais
reservas de petróleo do planeta, como um feitor, até para justificar seu papel
imperial, ou imperialista.
Ato contínuo, Trump refere-se ao general morto por
ordem expressa dele como “o principal terrorista”, aviltando a inteligência das
pessoas minimamente informadas. Sabe disso quem acompanha, pelo menos desde
1979 (quando o xá Reza Pahlevi foi deposto pela Revolução Iraniana liderada
pelo aiatolá Khomeini, então exilado na França), o conflito foi declarado entre
Estados Unidos e Irã. Há exatos 40 anos a maior superpotência mundial foi
vencida pela população persa, cinco anos depois de sofrer a acachapante derrota
do Vietnã, e isso as elites dirigentes estadunidenses não toleram, razão pela
qual, vira e mexe, voltam com o desbotado discurso da “luta contra o
terrorismo”.
Pois, na ânsia de depor o regime de Teerã, os
Estados Unidos patrocinaram a guerra Irã-Iraque entre 1980 e 1988, quando
Saddam Hussein, ditador iraquiano, vira amiguinho do governo do republicano
Ronald Reagan, um canastrão dedo-duro de Hollywood que no auge da guerra-fria
delatou, sem provas, estrelas de primeira grandeza como Charles Chaplin, quem
precisou ir embora para a Inglaterra, a despeito de ter-se naturalizado
estadunidense. Numa verdadeira operação macabra, o dinheiro obtido com a venda
clandestina e superfaturada de armas e munições dos Estados Unidos para o Irã
(cujo material bélico, de última geração, fora obtido pelo xá antes de ser deposto,
e depois das sanções econômicas contra o novo regime iraniano ficaram proibidas
as transações comerciais, inclusive com empresas privadas daquele país) era
desviado para financiar os “contras” da Nicarágua, que também em 1979 passara a
ser governada pelo governo sandinista, depois de derrotar a ditadura de 40 anos
de Anastacio Somoza, mantida pelos americanos, e que a partir de então passou a
eleger pelo voto direto, secreto e democraticamente, os membros dos Poderes
Executivo e Legislativo, mesmo assim o governo estadunidense conspirava (ou melhor,
conspira até hoje) contra eles.
Ao contrário do mito de que os Estados Unidos
apoiam democracias, a história prova que eles não só conspiram contra governos
democráticos (como no Brasil em 1964 e 2016, Chile em 1973, Bolívia em 1964,
1971 e 2019, Paraguai em 2012, Equador em 2018 e Venezuela desde 2002), como
fomentam tiranos/as marionetes de seus interesses, como os “reis” da Arábia
Saudita (o país mais medieval do planeta), Jordânia, Marrocos, Qatar, Omã,
Emirados Árabes Unidos etc, maldita herança do colonialismo britânico e
francês, que ao sair deixaram verdadeiros feitores para manter os interesses
inconfessáveis, quando na cultura árabe nunca houve reinado, com dinastias e
herdeiros. Saddam Hussein e Muammar Gaddafi, ex-colaboradores de diversos governos
americanos e europeus, depuseram reis, mas com o aval de governos do Ocidente
viraram caudilhos perpétuos, enquanto fossem convenientes para os interesses
deles.
Entre 1979 e 1990, grandes empreiteiras
brasileiras, como a Mendes Júnior e a Camargo Corrêa, levaram centenas (senão
alguns milhares) de trabalhadores brasileiros para o Iraque (já governado por
Saddam Hussein), além de ter sido um dos primeiros países árabes a importar
automóveis Passat fabricados no Brasil e carne bovina e de frango dentro de
critérios de abate adotados por eles. Embora a família detentora da maioria das
ações do grupo Globo hoje faça questão de não lembrar, o Banco Roma, do qual o
grupo era sócio, foi sociedade com o Banco do Iraque, estatal e sob as ordens
do governo de Saddam. Até então, os caudilhos árabes não eram (sic)
“terroristas” nem “homens fortes” ou “ditadores”, eram “parceiros”, até porque
era preciso competir com a União Soviética, que exercia uma hegemonia
inquestionável na região.
Como deve ser de conhecimento dos mais jovens, a
partir de 1990 o então presidente George Bush (pai) começa a hostilizar Saddam,
sob pretexto de ele ter “invadido” o Kuwait. Na verdade, o então assessor
especial de segurança e depois secretário de Defesa de Bush filho, Donald
Rumsfeld, visitava Bagdá com bastante frequência e, quando “se cansaram” do
ditador iraquiano, decidiram “puxar o tapete” dele, empurrando-o para uma
guerra contra a dinastia kuwaitiana, com cartas marcadas. Depois, virou o
“inimigo número 1” do Ocidente, não por ser ditador, mas por não ter conseguido
vencer o Irã. Quem puxou (literalmente) a corda da arapuca, ou melhor, da forca,
foi, a pedido do Bush filho, o mesmo Rumsfeld que visitava Bagdá
frequentemente.
Ser serviçal dos Estados Unidos é perigoso: depois
de ter sido usado, feito papel higiênico, é descartado (mas com requintes de
crueldade, basta lembrar da execução filmada do ex-ditador iraquiano, em que o
corpo se solta do pescoço sob risadas de soldados americanos e bajuladores
iraquianos). O mesmo aconteceu com Gaddafi, credor por ter financiado as
campanhas do presidente mais corrupto da história da França, Nicolás Sarkozy, e
do ex-primeiro-ministro da Itália e magnata igualmente corrupto Silvio
Berlusconi, que respiraram aliviados quando a então secretária de Estado de
Barak Obama (aquele que ganhou o Prêmio Nobel da Paz assim que foi eleito, não
ao concluir os dois mandatos), Hilary Clinton, decidiu unilateral e monocraticamente
a sina do ditador, de ser morto por linchamento por populares insuflados pelos
soldados americanos. Tanto Saddam quanto Gaddafi, que sabiam de muita coisa
(devidamente documentada) em caso de um julgamento civilizado, iriam
desmascarar muito “democrata” de araque...
O fato é que depois da “tempestade no deserto”, de
1990 e 2003, em que foram desovados muitos mísseis em fase de obsolescência e
experimentadas armas moderníssimas às custas dos petrodólares árabes, e da (sic)
“primavera árabe” (na verdade bandalheira ocidental), quando Steve Bannon e
seus sequazes experimentaram o uso de fake news em escala intercontinental para
abalar as estruturas de regimes fechados no Oriente Médio (sobretudo Tunísia,
Egito, Marrocos, Iêmen, Líbia e Síria) e criar as condições para colocar seus
fantoches (jamais democratas convictos), toda aquela região passou a viver um
verdadeiro pesadelo social, econômico, político e cultural. Além da crise
humanitária em toda a região, em particular Sudão, Quênia, Líbia, Iêmen e Síria
decorrente da guerra real promovida pelo chamado “Estado Islâmico” (grupo
terrorista formado por mercenários, criado pelo serviço secreto israelense em
conluio com os americanos), contra o qual as forças regulares da Rússia, Síria,
Irã, Iraque e Líbano se articularam, sob a importante orientação estratégica do
general Qasem Solaimeni, que derrotou Trump e Benjamin Netanyahu (premiê que
sofre processo de impeachment em Israel), e que por isso foi assassinado em
visita a outro país e na companhia de autoridades desse país soberano.
Os analistas mais respeitados do mundo são unânimes
em afirmar que Trump deu ordens expressas para matar Solaimeni, para atender
àquilo que sói se chamar de “Estado profundo” da maior potência militar: um
conjunto de interesses geopolíticos, militares, financeiros e religiosos, que
incluem os “falcões” do Pentágono, veteranos da CIA, grandes bancos,
petroleiras, indústrias bélicas, laboratórios farmacêuticos e de agrotóxicos,
mineradoras com tentáculos em todos os quadrantes do planeta, o lobby sionista
e, agora, os evangélicos neopentecostais que são linha auxiliar do chamado
sionismo cristão, responsável pela eleição de Trump em 2016. E o pior é que
esse esquema foi replicado em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil com
Jair Bolsonaro, que faz questão de mostrar que deve lealdade ao seu colega (ou
líder, tamanha a devoção).
Do alto de sua generosa sabedoria, o saudoso Professor
Octaviano Gonçalves da Silveira Junior (somente agora é que fui informado de
que o nome de registro dele é “Octaviano”, com “c”), que foi diretor de colégio
judaico na capital paulista e filho de coronel da Polícia Militar de São Paulo,
reiteradas vezes escreveu esta sentença como exercício de análise sintática,
mas também para nos abrir os horizontes: “Um tolo sempre encontra um mais tolo
que o admira.” À frente de seu tempo, esse querido Professor (com letra
maiúscula, a despeito de nossas diferenças conceituais), 46 anos atrás, em
plena ditadura, já nos chamava a atenção para compreendermos a realidade com
maior sentido crítico e profundidade.
Portanto, neste complexo cenário em que não há
“mocinhos” versus “bandidos” -- e sim jogos de interesses muitas vezes
legítimos e tantas outras inconfessáveis --, não podemos apequenar, isto é,
simplificar, a dura realidade e parecermos torcedores de times de futebol a
levantar bandeiras e repetir refrões desbotados, enquanto espertalhões,
sub-reptícia ou acintosamente, saqueiam o porvir das futuras gerações, a
esperança de nossos/as jovens e os direitos de todos os seres humanos. Charles
Chaplin, em “O grande ditador”, dá uma mensagem atualíssima e oportuna: “Mais
que de máquinas, precisamos de humanidade.”
Ou, como diziam nossos/as ancestrais, “pau que bate
em Chico bate em Francisco”...
PS: Cobertura vergonhosa, da fala de Trump e da
queda do avião ucraniano
Vergonhosa a nossa cada vez mais pobre “grande
imprensa” (“Estadão”, “Globo”, “Folha”, “Abril”). Primeiro cobre com parcimônia
e magnanimidade ímpar a fala bizarra de recuo de Trump, retirando-a do contexto
de beligerância que ele mesmo causou impunemente. Em seguida, passa a “cobrir”
(isto é, a reproduzir ipsis literis) a queda do avião de carreira da
Ucrânia em Teerã, minutos depois de levantar voo, com 167 passageiros/as (entre
os/as quais 87 iranianos/as, a maioria, seguidos/as de 63 canadenses, 10
suecos/as e sete de outras cinco nacionalidades) e nove tripulantes.
Sob a ótica (e interesses) da Casa Branca, antes
mesmo de ter sido iniciada a investigação por peritos, o achômetro dos
bajuladores/as da casa imperial, sem qualquer respeito pelas quase duas
centenas de vidas ceifadas, pauta os/as disseminadores/as de fake news (porque
isso é igual, ou pior, que um fake new quando partido de um profissional), e,
num piscar de olhos, os (sic) “terroristas iranianos” derrubaram o avião
ucraniano.
Então, a Casa Branca já ameaça que “se for
confirmada a queda do avião por míssil iraniano, os EUA responderão à altura”
(detalhe: não havia nenhum passageiro estadunidense).
A propósito, como é que foi mesmo a “cobertura” do
avião iraniano com 290 passageiros/as (66 crianças), atingido por míssil dos
Estados Unidos em julho de 1988? Ah, sim, foi um “erro”, pois a aeronave foi confundida
com um avião militar, como manchetou o portal UOL (da “Folha”) ao resgatar a
notícia de julho de 1988 (Parece até título de estagiário/a, longo e cheio de
preposições...): “Erro dos EUA derrubou com míssil avião do Irã com 66 crianças
em 1988”.
Deu para entender? O sujeito que praticou a ação de
derrubar com míssil é “erro”, substantivo abstrato (“dos EUA” é adjunto
adnominal, que não pratica a ação verbal), e o avião estava com “66 crianças”,
só no resumo da notícia, em letras menores, e no corpo do texto, lá pelo
segundo parágrafo, é que vamos ficar sabendo que o número total de vítimas era
de 290 pessoas. Dois pesos, duas medidas...
Ahmad Schabib Hany
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