sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

QUEM, AFINAL, É O "PRINCIPAL TERRORISTA"?


QUEM, AFINAL, É O “PRINCIPAL TERRORISTA”?

Na fala em que arrogantemente anuncia o recuo na investida beligerante contra o Irã, o (Pato) Donald Trump justifica o assassinato do general iraniano Qasem Solaimeni com um discurso patrioteiro, de que “era preciso eliminar o principal terrorista”...

Num tempo não tão distante, em que Hollywood ainda não era refém do lobby sionista e o genial Marlon Brando podia estrelar premiadíssimos filmes, lembro-me ter assistido a uma lendária produção em tecnicolor da década de 1960 em que um imperador romano (não me lembro qual, pois era bem criança) adentrava a uma das majestosas salas do palácio imperial acompanhado de um séquito de generais ou algo parecido, quando todos se calavam em reverência ao poderosíssimo ser.

Foi ao que assisti, ao vivo e em cores, na aguardadíssima fala do nada imponente nem magistral ser que atualmente preside os Estados Unidos da América, dono de um topete démodé e um semblante de anormal, isto é, psicopata. Com sua voz de taquara rachada, põe-se a falar, tentando aparentar estar sendo clemente ou misericordioso, mas a arrogância imanente lhe salta aos olhos e o trai fragorosamente. Orientado por assessores/as qualificados/as, foi convencido a recuar, mas treinado para aparentar estar sendo generoso, estar dando uma oportunidade aos inimigos “inferiores”, “bárbaros”, e ele como (sic) “civilizado”, do alto de sua superioridade infinita, a conceder uma chance aos pagãos.

Como bem revelou o seriíssimo analista internacional mexicano Alejandro Jalife (que fez graduação em Psiquiatria), o medíocre e imprevisível (Pato) Donald Trump, “é bipolar”, e ele explicou, didaticamente: “Ele tem momentos de profunda depressão, mas de repente se torna, como maníaco, imprevisível; verdadeiramente, como se dizia há algum tempo, ‘maníaco-depressivo’, e isso é um perigo ainda maior quando se é chefe de uma potência nuclear.” Depois dessa advertência, passei a ver o “Fanta-laranja” com outros olhos, lembrando-me das recomendações de meu saudoso e sábio Pai: “Nunca, mas nunca mesmo, contrarie uma pessoa fora de si...”

Aliás, um Amigo desses com letra maiúscula, cujo nome prefiro não citar, já me havia dito que Trump parece ser um “extraterrestre” com o nefasto propósito de destruir a Terra. O Professor Valmir Batista Corrêa, Amigo há algumas décadas, por seu turno, me enviara uma mensagem, lacônica e explícita, advertindo-me quanto à saúde mental do chefe da maior potência militar do Planeta. Não que eu divergisse ou não levasse em conta a douta opinião deles, mas entendo que seja preciso insistir, na tentativa de encontrar um lampejo de racionalidade para podermos dar rumo à existência dos povos que queremos bem e das pessoas com quem convivemos e amamos. Chega a ser surreal vermos pessoas que sempre respeitamos mas hoje vemos como dopadas, ludibriadas, por dementes que manipulam a alma das pessoas, impunemente.

Mas voltemos ao teor da fala do chefe do império em franca decadência. Com o maior acinte, afirma que os Estados Unidos não precisam mais de petróleo importado, pois eles são os “maiores produtores mundiais” do óleo maldito, que leva desgraça, opressão e morte a todos os povos onde se encontram as maiores reservas (a Venezuela, o Equador, o México, a Bolívia e depois do pré-sal o Brasil são exemplos eloquentes disso em nosso continente). Se isso fosse verdade, por que há dezenas de empresas estadunidenses no Iraque e na Líbia depois da deposição de governos nacionalistas, que não davam chance aos abutres americanos? Além do que, dentro de uma análise histórica, a hegemonia global americana só se mantém se o establishment estadunidense estiver presente, tomando conta das principais reservas de petróleo do planeta, como um feitor, até para justificar seu papel imperial, ou imperialista.

Ato contínuo, Trump refere-se ao general morto por ordem expressa dele como “o principal terrorista”, aviltando a inteligência das pessoas minimamente informadas. Sabe disso quem acompanha, pelo menos desde 1979 (quando o xá Reza Pahlevi foi deposto pela Revolução Iraniana liderada pelo aiatolá Khomeini, então exilado na França), o conflito foi declarado entre Estados Unidos e Irã. Há exatos 40 anos a maior superpotência mundial foi vencida pela população persa, cinco anos depois de sofrer a acachapante derrota do Vietnã, e isso as elites dirigentes estadunidenses não toleram, razão pela qual, vira e mexe, voltam com o desbotado discurso da “luta contra o terrorismo”.

Pois, na ânsia de depor o regime de Teerã, os Estados Unidos patrocinaram a guerra Irã-Iraque entre 1980 e 1988, quando Saddam Hussein, ditador iraquiano, vira amiguinho do governo do republicano Ronald Reagan, um canastrão dedo-duro de Hollywood que no auge da guerra-fria delatou, sem provas, estrelas de primeira grandeza como Charles Chaplin, quem precisou ir embora para a Inglaterra, a despeito de ter-se naturalizado estadunidense. Numa verdadeira operação macabra, o dinheiro obtido com a venda clandestina e superfaturada de armas e munições dos Estados Unidos para o Irã (cujo material bélico, de última geração, fora obtido pelo xá antes de ser deposto, e depois das sanções econômicas contra o novo regime iraniano ficaram proibidas as transações comerciais, inclusive com empresas privadas daquele país) era desviado para financiar os “contras” da Nicarágua, que também em 1979 passara a ser governada pelo governo sandinista, depois de derrotar a ditadura de 40 anos de Anastacio Somoza, mantida pelos americanos, e que a partir de então passou a eleger pelo voto direto, secreto e democraticamente, os membros dos Poderes Executivo e Legislativo, mesmo assim o governo estadunidense conspirava (ou melhor, conspira até hoje) contra eles.

Ao contrário do mito de que os Estados Unidos apoiam democracias, a história prova que eles não só conspiram contra governos democráticos (como no Brasil em 1964 e 2016, Chile em 1973, Bolívia em 1964, 1971 e 2019, Paraguai em 2012, Equador em 2018 e Venezuela desde 2002), como fomentam tiranos/as marionetes de seus interesses, como os “reis” da Arábia Saudita (o país mais medieval do planeta), Jordânia, Marrocos, Qatar, Omã, Emirados Árabes Unidos etc, maldita herança do colonialismo britânico e francês, que ao sair deixaram verdadeiros feitores para manter os interesses inconfessáveis, quando na cultura árabe nunca houve reinado, com dinastias e herdeiros. Saddam Hussein e Muammar Gaddafi, ex-colaboradores de diversos governos americanos e europeus, depuseram reis, mas com o aval de governos do Ocidente viraram caudilhos perpétuos, enquanto fossem convenientes para os interesses deles.

Entre 1979 e 1990, grandes empreiteiras brasileiras, como a Mendes Júnior e a Camargo Corrêa, levaram centenas (senão alguns milhares) de trabalhadores brasileiros para o Iraque (já governado por Saddam Hussein), além de ter sido um dos primeiros países árabes a importar automóveis Passat fabricados no Brasil e carne bovina e de frango dentro de critérios de abate adotados por eles. Embora a família detentora da maioria das ações do grupo Globo hoje faça questão de não lembrar, o Banco Roma, do qual o grupo era sócio, foi sociedade com o Banco do Iraque, estatal e sob as ordens do governo de Saddam. Até então, os caudilhos árabes não eram (sic) “terroristas” nem “homens fortes” ou “ditadores”, eram “parceiros”, até porque era preciso competir com a União Soviética, que exercia uma hegemonia inquestionável na região.

Como deve ser de conhecimento dos mais jovens, a partir de 1990 o então presidente George Bush (pai) começa a hostilizar Saddam, sob pretexto de ele ter “invadido” o Kuwait. Na verdade, o então assessor especial de segurança e depois secretário de Defesa de Bush filho, Donald Rumsfeld, visitava Bagdá com bastante frequência e, quando “se cansaram” do ditador iraquiano, decidiram “puxar o tapete” dele, empurrando-o para uma guerra contra a dinastia kuwaitiana, com cartas marcadas. Depois, virou o “inimigo número 1” do Ocidente, não por ser ditador, mas por não ter conseguido vencer o Irã. Quem puxou (literalmente) a corda da arapuca, ou melhor, da forca, foi, a pedido do Bush filho, o mesmo Rumsfeld que visitava Bagdá frequentemente.

Ser serviçal dos Estados Unidos é perigoso: depois de ter sido usado, feito papel higiênico, é descartado (mas com requintes de crueldade, basta lembrar da execução filmada do ex-ditador iraquiano, em que o corpo se solta do pescoço sob risadas de soldados americanos e bajuladores iraquianos). O mesmo aconteceu com Gaddafi, credor por ter financiado as campanhas do presidente mais corrupto da história da França, Nicolás Sarkozy, e do ex-primeiro-ministro da Itália e magnata igualmente corrupto Silvio Berlusconi, que respiraram aliviados quando a então secretária de Estado de Barak Obama (aquele que ganhou o Prêmio Nobel da Paz assim que foi eleito, não ao concluir os dois mandatos), Hilary Clinton, decidiu unilateral e monocraticamente a sina do ditador, de ser morto por linchamento por populares insuflados pelos soldados americanos. Tanto Saddam quanto Gaddafi, que sabiam de muita coisa (devidamente documentada) em caso de um julgamento civilizado, iriam desmascarar muito “democrata” de araque...

O fato é que depois da “tempestade no deserto”, de 1990 e 2003, em que foram desovados muitos mísseis em fase de obsolescência e experimentadas armas moderníssimas às custas dos petrodólares árabes, e da (sic) “primavera árabe” (na verdade bandalheira ocidental), quando Steve Bannon e seus sequazes experimentaram o uso de fake news em escala intercontinental para abalar as estruturas de regimes fechados no Oriente Médio (sobretudo Tunísia, Egito, Marrocos, Iêmen, Líbia e Síria) e criar as condições para colocar seus fantoches (jamais democratas convictos), toda aquela região passou a viver um verdadeiro pesadelo social, econômico, político e cultural. Além da crise humanitária em toda a região, em particular Sudão, Quênia, Líbia, Iêmen e Síria decorrente da guerra real promovida pelo chamado “Estado Islâmico” (grupo terrorista formado por mercenários, criado pelo serviço secreto israelense em conluio com os americanos), contra o qual as forças regulares da Rússia, Síria, Irã, Iraque e Líbano se articularam, sob a importante orientação estratégica do general Qasem Solaimeni, que derrotou Trump e Benjamin Netanyahu (premiê que sofre processo de impeachment em Israel), e que por isso foi assassinado em visita a outro país e na companhia de autoridades desse país soberano.

Os analistas mais respeitados do mundo são unânimes em afirmar que Trump deu ordens expressas para matar Solaimeni, para atender àquilo que sói se chamar de “Estado profundo” da maior potência militar: um conjunto de interesses geopolíticos, militares, financeiros e religiosos, que incluem os “falcões” do Pentágono, veteranos da CIA, grandes bancos, petroleiras, indústrias bélicas, laboratórios farmacêuticos e de agrotóxicos, mineradoras com tentáculos em todos os quadrantes do planeta, o lobby sionista e, agora, os evangélicos neopentecostais que são linha auxiliar do chamado sionismo cristão, responsável pela eleição de Trump em 2016. E o pior é que esse esquema foi replicado em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil com Jair Bolsonaro, que faz questão de mostrar que deve lealdade ao seu colega (ou líder, tamanha a devoção).

Do alto de sua generosa sabedoria, o saudoso Professor Octaviano Gonçalves da Silveira Junior (somente agora é que fui informado de que o nome de registro dele é “Octaviano”, com “c”), que foi diretor de colégio judaico na capital paulista e filho de coronel da Polícia Militar de São Paulo, reiteradas vezes escreveu esta sentença como exercício de análise sintática, mas também para nos abrir os horizontes: “Um tolo sempre encontra um mais tolo que o admira.” À frente de seu tempo, esse querido Professor (com letra maiúscula, a despeito de nossas diferenças conceituais), 46 anos atrás, em plena ditadura, já nos chamava a atenção para compreendermos a realidade com maior sentido crítico e profundidade.

Portanto, neste complexo cenário em que não há “mocinhos” versus “bandidos” -- e sim jogos de interesses muitas vezes legítimos e tantas outras inconfessáveis --, não podemos apequenar, isto é, simplificar, a dura realidade e parecermos torcedores de times de futebol a levantar bandeiras e repetir refrões desbotados, enquanto espertalhões, sub-reptícia ou acintosamente, saqueiam o porvir das futuras gerações, a esperança de nossos/as jovens e os direitos de todos os seres humanos. Charles Chaplin, em “O grande ditador”, dá uma mensagem atualíssima e oportuna: “Mais que de máquinas, precisamos de humanidade.”

Ou, como diziam nossos/as ancestrais, “pau que bate em Chico bate em Francisco”...

PS: Cobertura vergonhosa, da fala de Trump e da queda do avião ucraniano
Vergonhosa a nossa cada vez mais pobre “grande imprensa” (“Estadão”, “Globo”, “Folha”, “Abril”). Primeiro cobre com parcimônia e magnanimidade ímpar a fala bizarra de recuo de Trump, retirando-a do contexto de beligerância que ele mesmo causou impunemente. Em seguida, passa a “cobrir” (isto é, a reproduzir ipsis literis) a queda do avião de carreira da Ucrânia em Teerã, minutos depois de levantar voo, com 167 passageiros/as (entre os/as quais 87 iranianos/as, a maioria, seguidos/as de 63 canadenses, 10 suecos/as e sete de outras cinco nacionalidades) e nove tripulantes.
Sob a ótica (e interesses) da Casa Branca, antes mesmo de ter sido iniciada a investigação por peritos, o achômetro dos bajuladores/as da casa imperial, sem qualquer respeito pelas quase duas centenas de vidas ceifadas, pauta os/as disseminadores/as de fake news (porque isso é igual, ou pior, que um fake new quando partido de um profissional), e, num piscar de olhos, os (sic) “terroristas iranianos” derrubaram o avião ucraniano.
Então, a Casa Branca já ameaça que “se for confirmada a queda do avião por míssil iraniano, os EUA responderão à altura” (detalhe: não havia nenhum passageiro estadunidense).
A propósito, como é que foi mesmo a “cobertura” do avião iraniano com 290 passageiros/as (66 crianças), atingido por míssil dos Estados Unidos em julho de 1988? Ah, sim, foi um “erro”, pois a aeronave foi confundida com um avião militar, como manchetou o portal UOL (da “Folha”) ao resgatar a notícia de julho de 1988 (Parece até título de estagiário/a, longo e cheio de preposições...): “Erro dos EUA derrubou com míssil avião do Irã com 66 crianças em 1988”.
Deu para entender? O sujeito que praticou a ação de derrubar com míssil é “erro”, substantivo abstrato (“dos EUA” é adjunto adnominal, que não pratica a ação verbal), e o avião estava com “66 crianças”, só no resumo da notícia, em letras menores, e no corpo do texto, lá pelo segundo parágrafo, é que vamos ficar sabendo que o número total de vítimas era de 290 pessoas. Dois pesos, duas medidas...

Ahmad Schabib Hany

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