domingo, 18 de março de 2018

MARIELLE ESTÁ AUSENTE. DORCELINA TAMBÉM (Luiz Taques)


Marielle está ausente. Dorcelina, também.

Por Luiz Taques


Dorcelina Folador foi assassinada em outubro de 1999.

Como Marielle Franco, ela não tinha 40 anos de idade; deixara duas meninas órfãs.

Todos os anos, as filhas, hoje crescidas, ocupam as mídias alternativas para lembrar a prematura e indignante morte da mãe.

Repórter popular do MST, Dorcelina se filiara ao PT para se candidatar à prefeitura.

Lá, da longínqua e abandonada Mundo Novo, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, onde morava.

Havia tido paralisia infantil, por isso, puxava de uma das pernas.

Na eleição de 1996, Dorcelina vencera os barões do tráfico e do contrabando que dominavam o pedaço.

Ousara ser honesta: não roubara; não deixara que roubassem.

Foi o bastante para encomendarem a sua morte.

O pistoleiro a matou com seis tiros – dos sete disparados, ele errou um.

Com o impacto do primeiro projétil, o corpo de Dorcelina se movimentara: ela estava numa cadeira de balanço. Foi quando o pistoleiro, que era profissional mas não manjava de física, apertara o gatilho pela segunda vez: sua mira falhara.

Porém, igual aos seus mandantes, era bandido de raciocínio rápido: esperou o corpo se estabilizar, para, só então, efetuar mais cinco disparos. Dorcelina Folador morrera na varanda da sua casa.

No Rio de Janeiro, com a morte encomendada da vereadora do PSOL, Marielle Franco, qual negra ou jovem pobre, oriunda de favela, tentará um mandato popular, para ser porta-voz dos excluídos no parlamento ou no executivo?

Não tentem, viu?

Parece que esse recado já havia sido dado com o assassinato da prefeita de Mundo Novo.
E nós, homens combalidos e do tapinha nas costas, e, tampouco, as Marielles da vida não deram conta disso.

Fica a pergunta: que mulher íntegra e comprometida se atrevera, desde o assassinato da proba e aguerrida Dorcelina Folador, chegar ao poder naquela região sombria de Mato Grosso do Sul?

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