A PROPÓSITO DO DIA INTERNACIONAL
DA MULHER
Feliz Dia
Internacional de Luta da Mulher! Destaco com negrito, versalete e
sublinhado, pois a data a ser celebrada é de luto (pelo massacre das
tecelãs de Nova Iorque, em 1857, pelo “crime” de fazer greve para conquistar
direitos, como jornada de trabalho não superior a 12 horas) e de
luta (graças à coragem das mulheres, sobretudo as das décadas de
1900 a 1970 que, por meio de diferentes correntes políticas e nacionalidades,
conseguiram unir sua voz em todo o mundo e, ao promover o Ano Internacional da
Mulher, em 1975, instituíram essa data). Uma luta, aliás, incessante e crescente
-- não apenas pelos desafios impostos pela evolução da sociedade, mas, sobretudo,
pelas forças do atraso, que voltam a se fortalecer em todos os quadrantes do
planeta --, cuja agenda (ou pauta) precisa ser atualizada diuturnamente por
todas as cidadãs e cidadãos, independentemente do gênero, da opção sexual ou das
concepções políticas, ideológicas, filosóficas ou religiosas.
Como
termômetro, o dignificante empoderamento da mulher é não só mecanismo
democratizante das sociedades em sua mais nobre qualificação humana -- a própria
evolução da sociedade e a consolidação do humanismo só ganhou consistência e
legitimidade com a efetiva afirmação do protagonismo da mulher --, mas elemento
indispensável na construção de valores éticos, libertários e, sobretudo,
solidários. Na História, às mulheres couberam papéis imprescindíveis na
necessária transformação da vida em sociedade, as noções de coletividade e de
liberdade, que vão do corpo à alma, no sentido mais amplo. Daí que a onda de
intolerância retrógrada que vem ganhando espaço no vácuo de uma vassalagem
religiosa obscurantista deve ser enfrentada por meio da luz, da ciência, da
razão, do conhecimento, tal como o foi no Renascimento ocidental corajosamente
protagonizado pelos humanistas de então, muitos dos quais tiveram a sua
profícua vida ceifada precocemente.
Diferentemente
do que diz a mi(r)dia deformadora e desinformante que predomina feito praga em
nossa sociedade, o aumento da violência contra a mulher, seja em casa, no trabalho,
no trânsito ou em outros espaços públicos ou privados, decorre do machismo, ou
melhor, da misoginia meticulosamente alastrada por agentes do atraso
travestidos de paladinos da moral, porta-vozes do obscurantismo medieval que
desaba sobre nossas cabeças e quando menos esperarmos estaremos todos indo para
o cadafalso. A luta de emancipação e empoderamento da mulher é, sim, luta de
todo aquele que, com sinceridade, deseja uma sociedade mais justa, mais
solidária, mais libertária e mais fraterna. Do contrário, as conquistas
duramente consignadas na Constituição Cidadã e hoje ameaçadas acintosamente por
seres bizarros impensantes estarão perdidas, a exemplo dos direitos
trabalhistas, recentemente demonizados como causadores da crise produzida e
alimentada pelos mesmos membros da quadrilha que tomou de assalto os destinos
da nação.
Em nosso
atual contexto, de infindáveis retrocessos e absurdos personagens (nada
originais e totalmente bizarros), como certos sacerdotes fundamentalistas que
se pretendem donos da verdade -- das mais diferentes denominações cristãs,
judaicas, islâmicas e budistas -- que usam a religião para se promover
politicamente, distorcendo seu papel. No Brasil, ligados a Eduardo Cunha (aquele
deputado corrupto que usou e abusou da boa-fé de pessoas bem intencionadas para
fazer das suas, locupletar-se, locupletar seus iguais e, pior, provocar o maior
retrocesso da história do parlamento brasileiro), os tais sacerdotes são, na
verdade, charlatães que usam fé, a religião, para angariar poder e atingir objetivos
inconfessáveis. Não por acaso estão hoje de mãos, pés e rabos presos ao mais retrógrado
dos candidatos à Presidência, aquele que foi expulso de sua corporação por
tentativa de sabotagem no início da redemocratização e que ao longo de sua
pífia trajetória no parlamento absolutamente nada produziu, além de polêmicas
decorrentes de sua incontinência fecal, digo, mental.
Dessa
forma, e com sinceridade, mantive-me no silêncio no dia de ontem por entender
que não via motivo algum para comemorar. Reservadamente, desejei feliz dia de
luta à mulher, mas me dei o direito de divergir de qualquer ato comemorativo,
pois o momento é de luto e luta, muita luta, e não a hipócrita celebração
promovida pelo mercado para vender flores, doces, cosméticos e roupas. A Vida é
muito mais que o culto ao consumo, até por conta do momento em que vivemos.
Como comemorar quando os meliantes da quadrilha que usurpou o poder apearam a
primeira presidenta da República exatamente por ela ser íntegra e honesta para
se acumpliciar com eles? Como comemorar quando a atual ministra que preside a
mais alta corte do Judiciário exerce o seu mandato cada vez mais parecida aos
seus colegas dos outros poderes, todos com o funesto semblante de mortos-vivos,
insensíveis às conquistas democráticas duramente introduzidas no ordenamento
jurídico pátrio?
A História
cobrará, sim, dos obtusos obscurantistas de ocasião, que se valem das fraquezas
e do atraso social em que vivemos, para formar hordas medievalescas
ensandecidas e entorpecer os horizontes alvissareiros que dez anos atrás flamavam
e inflamavam o cotidiano generoso então existente e cuja permanência foi
interrompida pelo ódio, pela intolerância e pela inveja. Sim, porque justiceiros
togados, pastores fundamentalistas, medíocres golpistas e saudosistas da
(mal)ditadura são militantes em muitas bizarrices, sobretudo a inveja, a
intolerância e o ódio.
Contudo,
não podemos deixar de clamar: nefastos, tremei: chegaram as mulheres!
Ahmad Schabib Hany
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