PARA OS DISCÍPULOS DE PÔNCIO
PILATOS
Se
causou alguma surpresa a confirmação da sentença de Sérgio Moro no TRF4, de
Porto Alegre, ontem? Talvez para os que ainda nutrem qualquer ilusão pela
democracia de fachada ora vigente...
Não
foi, aliás, por essa “democracia” que Ulysses Guimarães e anônimos mártires
ofereceram generosamente seus melhores dias e projetos de vida. Nem para
celebrizar um Moro, Gebran Neto ou Temer – nem para que continuem a comer
caviar enquanto a maioria da população brasileira desce a ladeira e retorna à
senzala, sem direitos, sem comida, sem dignidade...
Quem
conhece a história do Brasil, sobretudo a da triste gênese da República, parida
de um golpe em que os desleais “ministros da casa” traíram o imperador bonachão
enquanto a corte se divertia na Ilha Fiscal, sabe que desde a mais pérfida
perseguição a Rui Barbosa (caluniado de “comunista” por ter redigido a versão
final da Lei Áurea e retirado o artigo que previa indenização aos senhores de
escravos) democracia só vale enquanto os interesses das oligarquias
semimedievais não forem ameaçados...
Pois
os discípulos de Pôncio Pilatos fingem não saber que não é Lula o chefe da
quadrilha, mas os mesmos senhores (e seus ancestrais) que patrocinaram os golpes
de 2016, 1964, 1954, 1945, 1937 e 1932 (cinicamente denominada de Revolução
Constitucionalista). Explícita e literalmente: as famílias proprietárias das
grandes empresas de comunicação, grande empreiteiras, grande redes atacadistas
e varejistas. Afinal, desde quando eles corrompem? Desde antes da proclamação
da independência. Não vale? Então, comprovado documentalmente, desde os tempos
do Estado Novo, quando Getúlio Vargas virou refém dessa corja de sonegadores e
que até hoje vivem do dinheiro público, como se deles fosse...
A
bem da verdade, Lula e Dilma também foram ingênuos ao aceitarem um, digamos, “acordo
tácito” com os meliantes que dizem representar essa corja integrada por
descendentes dos membros da corte, senhores de escravos e agregados. Em vez de
desmascará-los por meio de uma rigorosa auditoria e levá-los às barras dos
tribunais, ou, se preferirem, ao “paredón” (que teriam feito um bom trabalho,
sem dozinha...), preferiram “coabitar” com o “pessoal” do Kassab, Temer, Skaff et
carerva (como François Mitterrand na França, quando o até então aguerrido
Partido Socialista Francês, capitulou e se deixou cooptar pelos rentistas de lá)...
E
isso ontem ficou implícito, nas entrelinhas, quando o juiz relator do TRF4 –
mais um descendente de imigrantes libaneses a serviço da casa grande, que não só
estropiou o Direito, mas o pobre vernáculo –, ao ler um relatório que nada de
novo trouxe ao cenário de horrores desde a sórdida trama protagonizada pelo
candidato derrotado que não aceitou a sua derrota, como não assume até hoje seu
sobrenome paterno – afinal, ele é Aécio Neves da Cunha, filho do deputado arenista
Aécio Ferreira da Cunha, de quem inclusive herdou a sordidez –, nem sua falta
de caráter (total falta de hombridade, se ele sabe lá o que isso possa ser...).
Esse
é o contexto de toda essa farsa: o “julgamento” de Lula nada mais é que a
continuidade do golpe que apeou a primeira mulher eleita e reeleita para a
Presidência da República. E não foram os erros os que levaram ao golpe, mas os
acertos: elevação (ainda que mísera, em padrões civilizados) da renda da
verdadeira casta de excluídos que compõe a base da pirâmide social brasileira
(mais de 40 milhões), a afirmação da soberania nacional (consolidação dos
BRICS, afirmação da liderança do Brasil no hemisfério Sul, desenvolvimento
científico e tecnológico sem ter que pedir penico ao sinistro “irmão do norte”)
e, sobretudo, as contínuas derrotas eleitorais aos pretensos “donos” do Brasil,
esses meliantes serviçais do empresariado internacional que posam de “socialdemocratas”
mas que nunca passaram de reles fantoches provincianos e ignorantes, sempre de
cócoras para os gringos...
Ahmad Schabib Hany
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